VACINAS CONTRA A COVID-19: SAIBA TUDO SOBRE OS EFEITOS COLATERAIS,EFICÁCIA E PLANO DE VACINAÇÃO

  

Empresas que desenvolveram vacinas contra a Covid-19 se valorizaram nas Bolsas Foto: BioNTech SE 2020, all rights res / via REUTERS

Empresas que desenvolveram vacinas contra a Covid-19 se valorizaram nas Bolsas Foto: BioNTech SE 2020, all rights res / via REUTERS

Vacina contra Covid — Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo

Vacinas contra a Covid-19: saiba tudo sobre os efeitos colaterais, eficácia e plano de vacinação

Estão em teste no Brasil a CoronaVac e o imunizante de Oxford; o Sputnik V já é aplicado na Rússia e o da Pfizer, no Reino Unido
RIO — O Reino Unido deu na semana passada a largada oficial da muito antecipada vacinação contra a Covid-19 ao começar a imunizar, em caráter emergencial, sua população com o produto da Pfizer/BioNTech. A decisão foi seguida e ampliada por Estados Unidos, Canadá e Arábia Saudita, que também aprovaram o imunizante. Uma segunda vacina, a da chinesa Sinopharm, recebeu aprovação regular nos Emirados Árabes Unidos. O Brasil apresentou este sábado o seu plano nacional de imunização.

No mundo, 14 vacinas chegaram à fase 3, a mais avançada de testes, trazendo esperança em meio à tragédia da pandemia. Seis delas saíram à frente e já apresentam resultados, ainda que não definitivos. Mas há ainda questões fundamentais sobre como as vacinas funcionam e o que esperar para os próximos meses.

 

O GLOBO preparou um manual prático que reúne tudo o que você precisa saber sobre as vacinas contra a Covid-19. Tire suas dúvidas, informe-se e proteja-se contra a pandemia.

Foram consultados para este guia a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) até 2019; Herbert Guedes, professor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em vacinas; a professora de virologia da UFRJ Clarissa Damaso; e a virologista e imunologista Luciana Barros de Arruda, do Instituto de Microbiologia da UFRJ.

As vacinas

Só elas podem interromper a circulação do coronavírus de forma controlada e sustentada

Por que só vacinas podem controlar com eficiência a pandemia?

Porque podem interromper a circulação do coronavírus de forma controlada e sustentada. Mas isso só deverá ocorrer quando uma parcela significativa da população for vacinada. Essa parcela deve ser de cerca de 70% da população, se a eficácia das vacinas for elevada (acima de 90%), explica a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) até 2019.  Com a vacinação em massa da população, será possível controlar a disseminação do coronavírus, pois ele não encontrará hospedeiros, observa o imunologista Herbert Guedes, professor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em vacinas.  

Como funciona uma vacina?

Contra doenças só existe uma coisa melhor do que os remédios que curam. São as vacinas, pois elas impedem que uma pessoa sequer adoeça. Elas copiam a natureza e usam o próprio sistema de defesa humano para nos proteger. Quando uma pessoa é vacinada, seu sistema de defesa é “apresentado” de forma segura a um vírus ou bactéria. Ele passa então a reconhecer o patógeno e produz anticorpos, proteínas dedicadas a combater doenças. Mas os anticorpos são apenas parte da proteção oferecida pela vacina. Ela também estimula células do sistema de defesa a “lembrarem” do vírus e de como devem combatê-lo. Se a pessoa imunizada for exposta ao vírus, ela terá as defesas prontas para debelá-lo antes que uma infecção possa se instalar. O sistema imunológico humano tem células de memória e é por isso que as vacinas funcionam.

Como as vacinas são desenvolvidas?

Vacinas costumam ter longos processos de desenvolvimento e o prazo médio chega a dez anos. Com a pandemia, esse prazo foi comprimido, mas os estágios não foram eliminados. O desenvolvimento começa com testes em culturas de células, depois em animais, para investigar a segurança e os benefícios. Se aprovada, ela segue para ensaios em seres humanos, divididos em três fases. Essas fases são progressivamente maiores e servem para analisar segurança, eficácia e tamanho da dosagem. A fase final é a três, depois da qual, se obtido sucesso, os laboratórios pedem autorização às agências reguladoras dos países. Há uma quarta fase, mas que avalia a vacina já em uso.

Como funciona uma vacina?

Contra doenças só existe uma coisa melhor do que os remédios que curam. São as vacinas, pois elas impedem que uma pessoa sequer adoeça. Elas copiam a natureza e usam o próprio sistema de defesa humano para nos proteger. Quando uma pessoa é vacinada, seu sistema de defesa é “apresentado” de forma segura a um vírus ou bactéria. Ele passa então a reconhecer o patógeno e produz anticorpos, proteínas dedicadas a combater doenças. Mas os anticorpos são apenas parte da proteção oferecida pela vacina. Ela também estimula células do sistema de defesa a “lembrarem” do vírus e de como devem combatê-lo. Se a pessoa imunizada for exposta ao vírus, ela terá as defesas prontas para debelá-lo antes que uma infecção possa se instalar. O sistema imunológico humano tem células de memória e é por isso que as vacinas funcionam.

Como as vacinas são desenvolvidas?

Vacinas costumam ter longos processos de desenvolvimento e o prazo médio chega a dez anos. Com a pandemia, esse prazo foi comprimido, mas os estágios não foram eliminados. O desenvolvimento começa com testes em culturas de células, depois em animais, para investigar a segurança e os benefícios. Se aprovada, ela segue para ensaios em seres humanos, divididos em três fases. Essas fases são progressivamente maiores e servem para analisar segurança, eficácia e tamanho da dosagem. A fase final é a três, depois da qual, se obtido sucesso, os laboratórios pedem autorização às agências reguladoras dos países. Há uma quarta fase, mas que avalia a vacina já em uso.

Por que uma vacina pode estimular o sistema imunológico a produzir defesas com mais eficiência do que a infecção natural?

A resposta imune de uma vacina não é necessariamente igual à de uma infecção natural, observa a professora de virologia da UFRJ Clarissa Damaso. Primeiro, porque as cargas virais (quantidade de vírus) de exposição são diferentes. As rotas de entrada no organismo também. O coronavírus entra pelo sistema respiratório e ativa uma imunidade relativamente fraca. É basicamente o que se chama de imunidade de mucosa, menos potente. Há uma resposta com produção de anticorpos neutralizantes de duração ainda incerta, e nada duradoura. As vacinas também têm adjuvantes (reforços) para estimular o sistema imune. Além disso, na infecção natural, o sistema imunológico é pego desprevenido e sai em desvantagem, pois tem que combater uma infecção que já se instalou. Ele precisa convocar suas forças, um verdadeiro exército de variados tipos de células de defesa, para debelar o vírus invasor. Com a vacina, quando o vírus entra nas vias respiratórias, o organismo tem as armas a postos e o ataca com mais eficiência.

É possível que uma vacina cause a Covid-19?

Não. Nenhuma das vacinas em fase mais avançada de desenvolvimento emprega o vírus Sars-CoV-2 enfraquecido (atenuado), que seria a única possibilidade, ainda que remota, de haver reversão da forma atenuada para a ativa. Desta forma, nenhuma vacina poderá causar a doença, esclarece Herbert Guedes. Que fique claro: ninguém pegará Covid-19 de uma vacina.

As vacinas são contra o coronavírus ou contra a Covid-19? 

A vacina ideal será aquela que prevenir tanto a infecção pelo coronavírus quanto a doença que ele causa, a Covid-19. Mas Clarissa Damaso explica que é provável que as primeiras vacinas impeçam a Covid-19, mas não a infecção, e esse é o foco no momento. A vacina pode conseguir ou não bloquear eficazmente a entrada do vírus nas células, para que elas impeçam a infecção. Mas, de qualquer forma, a Covid-19 será evitada, reduzindo sofrimento e morte. A pessoa é infectada, mas não adoece. E sim, isso já é um enorme ganho.

Isso significa que uma pessoa vacinada poderá continuar a transmitir o coronavírus, caso seja infectada?

É uma possibilidade. Nenhuma das vacinas até agora avaliou a carga viral de todos os imunizados. Os testes das vacinas focaram na avaliação da capacidade do imunizante de evitar que as pessoas adoeçam com a Covid-19. A capacidade de impedir a infecção em seres humanos não está sendo avaliada pela maioria dos testes clínicos porque isso demora e demanda ainda mais esforços. Estamos numa corrida contra o tempo e se impedirmos que as pessoas adoeçam, já será um sucesso, enfatiza Damaso. Por isso, ainda não se sabe se uma pessoa vacinada que seja infectada poderá transmitir o Sars-CoV-2 de forma assintomática.

Tipos de vacina

A melhor vacina é aquela que conseguir eliminar a transmissão do vírus, tiver maior eficácia de proteção e maior alcance na população sem efeito

Quantos tipos de vacina estão em desenvolvimento contra a pandemia?

Há mais de 273 vacinas em desenvolvimento contra a pandemia no mundo, 58 das quais estão em testes clínicos, isto é, com seres humanos. Destas, 14 chegaram à última fase, a de número 3, antes do pedido de autorização de uso. Estão em estudo vários tipos de estratégia ou plataforma para imunizantes. As mais usadas são as de vírus inteiro inativado, as genéticas (RNA e DNA), as de vetor viral e as de proteínas.

Como funciona um imunizante com vírus inativado?

Esse tipo de vacina, como a CoronaVac, por exemplo, é bem conhecido e tem como base um vírus que passou por um tratamento químico (com betapropialactona), que faz com que ele perca sua capacidade de se replicar em nossas células. Por não se replicar, ele é chamado de inativado. Herbert Guedes explica que para fazer a vacina o vírus é isolado de um paciente, propagado através de cultura de células, inativado quimicamente (para perder a capacidade de infectar), filtrado e combinado a um adjuvante (molécula que ajuda a estimular a resposta imune). Clarissa Damaso destaca que o vírus inativado nem consegue invadir nossas células. Portanto, ninguém teria Covid-19 devido à vacina. Porém, suas proteínas ainda são capazes de estimular nosso sistema imunológico. Ele será eficaz em reconhecer e combater o vírus, caso sejamos expostos. É o caso da vacina Salk, contra a pólio, do calendário de vacinação infantil.

E com vetor viral não replicante?

Essa é a plataforma empregada pelas vacinas da AstraZeneca/Universidade de Oxford, da Janssen/J&J e do Instituto Gamaleya (Sputnik V), da Rússia. É uma estratégia ainda inédita em seres humanos. Ela usa um vírus inofensivo para nós como meio de transporte para uma proteína do coronavírus. O vírus transportador é um adenovírus símio, capaz de causar resfriado em macacos, mas geneticamente modificado para não se replicar. Ele carrega a proteína espícula ou S (spike) do Sars-CoV-2. A S é a chave que o coronavírus usa para invadir as células humanas e, por isso, o alvo de várias das vacinas em teste. Guedes diz que, por não se replicar, os adenovírus não propagam uma infecção. Mas eles entram nas células e as fazem produzir a proteína S. Isso faz com que o sistema de defesa crie armas (resposta celular e anticorpos) contra a proteína. Se a pessoa for infectada, o Sars-CoV-2 será atacado.

E os imunizantes de mRNA? 

As vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna são baseadas no uso do RNA mensageiro ou mRNA. É uma nova tecnologia, que oferece a vantagem de ser rápida de produzir. Porém, devido à fragilidade do mRNA, precisa de armazenamento em temperaturas muito baixas, impossíveis de se obter em freezers comuns. A função do mRNA é transportar a mensagem genética para dentro das células. Ele leva o código expresso pelos genes para as estruturas que produzem as proteínas. Damaso ressalta que por todos os dias de nossas vidas, as células fazem milhares de mRNAs, para que possamos produzir as proteínas de que precisamos. Para cada gene, um mRNA diferente. Este tipo de vacina é constituído do mRNA que leva a mensagem do gene da proteína S do Sars-CoV-2 para células. Ela é  produzida e ativa a resposta imune do nosso corpo.

Vacinas de mRNA podem alterar os nossos genes?

De maneira alguma, frisa Damaso. O mRNA não altera o genoma, não causa mutação e nem danos genéticos. É impossível que ele nos modifique.

E os imunizantes com proteínas virais?

Vacinas também podem ser produzidas com proteínas do vírus ou pedaços delas, as subunidades no jargão científico. Há mais de uma forma de desenvolver imunizantes com proteínas específicas do vírus. Em comum, a certeza de que também não podem causar Covid-19 porque não são o coronavírus, mas apenas uma parte dele.

Quantos tipos de vacina estão em desenvolvimento contra a pandemia? 

Há mais de 273 vacinas em desenvolvimento contra a pandemia no mundo, 58 das quais estão em testes clínicos, isto é, com seres humanos. Destas, 14 chegaram à última fase, a de número 3, antes do pedido de autorização de uso. Estão em estudo vários tipos de estratégia ou plataforma para imunizantes. As mais usadas são as de vírus inteiro inativado, as genéticas (RNA e DNA), as de vetor viral e as de proteínas.

 

Como funciona um imunizante com vírus inativado?

Esse tipo de vacina, como a CoronaVac, por exemplo, é bem conhecido e tem como base um vírus que passou por um tratamento químico (com betapropialactona), que faz com que ele perca sua capacidade de se replicar em nossas células. Por não se replicar, ele é chamado de inativado. Herbert Guedes explica que para fazer a vacina o vírus é isolado de um paciente, propagado através de cultura de células, inativado quimicamente (para perder a capacidade de infectar), filtrado e combinado a um adjuvante (molécula que ajuda a estimular a resposta imune). Clarissa Damaso destaca que o vírus inativado nem consegue invadir nossas células. Portanto, ninguém teria Covid-19 devido à vacina. Porém, suas proteínas ainda são capazes de estimular nosso sistema imunológico. Ele será eficaz em reconhecer e combater o vírus, caso sejamos expostos. É o caso da vacina Salk, contra a pólio, do calendário de vacinação infantil.

E com vetor viral não replicante?

Essa é a plataforma empregada pelas vacinas da AstraZeneca/Universidade de Oxford, da Janssen/J&J e do Instituto Gamaleya (Sputnik V), da Rússia. É uma estratégia ainda inédita em seres humanos. Ela usa um vírus inofensivo para nós como meio de transporte para uma proteína do coronavírus. O vírus transportador é um adenovírus símio, capaz de causar resfriado em macacos, mas geneticamente modificado para não se replicar. Ele carrega a proteína espícula ou S (spike) do Sars-CoV-2. A S é a chave que o coronavírus usa para invadir as células humanas e, por isso, o alvo de várias das vacinas em teste. Guedes diz que, por não se replicar, os adenovírus não propagam uma infecção. Mas eles entram nas células e as fazem produzir a proteína S. Isso faz com que o sistema de defesa crie armas (resposta celular e anticorpos) contra a proteína. Se a pessoa for infectada, o Sars-CoV-2 será atacado.

 

E os imunizantes de mRNA? 

As vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna são baseadas no uso do RNA mensageiro ou mRNA. É uma nova tecnologia, que oferece a vantagem de ser rápida de produzir. Porém, devido à fragilidade do mRNA, precisa de armazenamento em temperaturas muito baixas, impossíveis de se obter em freezers comuns. A função do mRNA é transportar a mensagem genética para dentro das células. Ele leva o código expresso pelos genes para as estruturas que produzem as proteínas. Damaso ressalta que por todos os dias de nossas vidas, as células fazem milhares de mRNAs, para que possamos produzir as proteínas de que precisamos. Para cada gene, um mRNA diferente. Este tipo de vacina é constituído do mRNA que leva a mensagem do gene da proteína S do Sars-CoV-2 para células. Ela é  produzida e ativa a resposta imune do nosso corpo.

 

Vacinas de mRNA podem alterar os nossos genes?

De maneira alguma, frisa Damaso. O mRNA não altera o genoma, não causa mutação e nem danos genéticos. É impossível que ele nos modifique.

E os imunizantes com proteínas virais?

Vacinas também podem ser produzidas com proteínas do vírus ou pedaços delas, as subunidades no jargão científico. Há mais de uma forma de desenvolver imunizantes com proteínas específicas do vírus. Em comum, a certeza de que também não podem causar Covid-19 porque não são o coronavírus, mas apenas uma parte dele.

 

Qual a melhor vacina contra a Covid-19?

A que conseguir eliminar a transmissão do vírus, tiver maior eficácia de proteção e maior alcance na população sem efeitos adversos, diz Damaso. Num contexto de pandemia, diferentes estratégias vacinais são bem-vindas, pois aumentam a chance de uma maior imunização da população, enfatiza Guedes.

Segurança e eficácia

Cientistas, autoridades e organizações de saúde pública continuam a coletar dados das vacinas aprovadas para garantir a sua segurança

Como sabemos que uma vacina é segura?

Qualquer vacina licenciada é testada com rigor em múltiplas fases e continua a ser avaliada mesmo após a aprovação. Cientistas, autoridades e organizações de saúde pública continuam a coletar dados das vacinas aprovadas para garantir a sua segurança. A chamada fase 4, de farmacovigilância, é feita depois que a vacina começa a ser usada na população. 

Como a eficácia de uma vacina é demonstrada?

Herbert Guedes explica que, de forma bem geral, a eficácia de uma vacina é demonstrada com a comparação do número de doentes do grupo vacinado em relação ao grupo placebo. Quanto menor o número de doentes no grupo vacinado em relação ao controle, maior é a porcentagem de proteção. Mas isso só pode ser feito nos chamados estudos duplo cego (ninguém sabe quem tomou o quê antes do fim do ensaio), randomizado (escolha aleatória) e multicêntrico (em mais de um lugar). 

Por que é tão importante publicar resultados em revistas científicas?

Porque o trabalho é revisado por cientistas qualificados e independentes do estudo e isso garante a confiabilidade nos dados. E também evita que o responsável pela vacina diga que ela funciona sem apresentar provas. Os cientistas é que analisarão os dados e vão dizer se concordam ou não com as conclusões dos laboratórios.

Uma vez que uma vacina recebe aprovação para uso emergencial, ela continuará a ser testada?

Sim. Mas haverá desafios. Os testes prosseguem, como explicado, depois da aprovação emergencial, e especialistas discutem se é ético manter os grupos controle, não vacinados, mesmo após a vacina ficar disponível. Outra complicação é a dificuldade de se encontrar voluntários e assim analisar a segurança e a duração da proteção.


Vacinas no Brasil

País está em desvantagem porque sequer tem um plano de imunização definindo

Quantas vacinas estão em teste no Brasil?

Quatro. São as vacinas da Sinovac/Instituto Butantan (CoronaVac), da AstraZeneca/Universidade de Oxford, da Pfizer/BioNTech e da Janssen/J&J.

Qual o papel da Anvisa?

A Anvisa é a agência regulatória brasileira de saúde, o órgão encarregado de aprovar o uso de uma vacina, seja a licença regular ou para uso emergencial. É a empresa desenvolvedora e não os estados que devem solicitar, após a comprovação da eficácia e segurança da vacina, o registro. 

O que é necessário para que uma vacina seja registrada?

É um processo detalhado de avaliação em que a Anvisa pode pedir mais dados e novos testes. Normalmente, pode levar anos antes que o registro de comercialização seja obtido. Com a pandemia, no entanto, esse tempo tende a ser reduzido.

Quantas vacinas estão em teste no Brasil?

Quatro. São as vacinas da Sinovac/Instituto Butantan (CoronaVac), da AstraZeneca/Universidade de Oxford, da Pfizer/BioNTech e da Janssen/J&J.

Qual o papel da Anvisa?

A Anvisa é a agência regulatória brasileira de saúde, o órgão encarregado de aprovar o uso de uma vacina, seja a licença regular ou para uso emergencial. É a empresa desenvolvedora e não os estados que devem solicitar, após a comprovação da eficácia e segurança da vacina, o registro. 

O que é necessário para que uma vacina seja registrada?

É um processo detalhado de avaliação em que a Anvisa pode pedir mais dados e novos testes. Normalmente, pode levar anos antes que o registro de comercialização seja obtido. Com a pandemia, no entanto, esse tempo tende a ser reduzido.

O que é preciso para que uma vacina seja aprovada no Brasil?

A empresa desenvolvedora deve enviar à Anvisa documentos técnicos e regulatórios com dados de segurança, eficácia e qualidade da vacina.

O que é aprovação emergencial?

É a autorização para uso e tempo limitados de vacinas em parcelas específicas da população, devido à urgência da pandemia. Mas não há garantia que a aprovação será estendida, caso o imunizante não tenha segurança e eficácia assegurados pelo prosseguimento dos testes. A autorização de emergência não interrompe os estudos.

O Brasil está atrasado na corrida pela vacinação?

Sim. O país está em desvantagem porque entregou somente ontem (sábado, dia 12 de dezembro) o seu plano nacional de imunização. Nele, o governo assegurou a vacinação em 2021 por meio de três acordos: Fiocruz/Astrazeneca, com 100,4 milhões de doses até julho; Covax Facility, com 42,5 milhões de doses, além da negociação de 70 milhões de doses da Pfizer.

Os estados também estão fazendo acordos?

Sim. O estado de São Paulo é o único com data anunciada de início da imunização (25 de janeiro), utilizando a vacina CoronaVac, mas ainda faltam etapas para sua aprovação pela Anvisa. Em outras unidades federativas, as negociações estão menos avançadas. O Paraná, por exemplo, trata com a Rússia para ter a Sputnik V, do Instituto Gamaleya.

Existem mecanismos para autorização sem avaliação da Anvisa?

A chamada Lei Covid prevê que os desenvolvedores de vacinas possam pedir uma licença em caráter emergencial para imunizantes já aprovados em outros países. A Anvisa tem então 72 horas para responder ao pedido, caso contrário a vacina será automaticamente aprovada.

Por que o Brasil não desenvolve sua própria vacina?

Há grupos de pesquisa brasileira desenvolvendo estudos pré-clínicos, mas, sem um investimento maciço, ainda que os imunizantes nacionais sejam promissores, jamais sairão dessa fase. O Brasil é um grande fabricante de vacinas, mas jamais desenvolveu um imunizante nacional, apenas copia o que é criado fora. Luciana Arruda diz que o Brasil tem cientistas, mas não dispõe de infraestrutura, sequer tem técnicos suficientes e laboratórios adequados para tanto.

Que grupos devem receber a vacina primeiro pelo plano de vacinação?

A primeira fase do plano contemplará trabalhadores de saúde, idosos acima de 75 anos, idosos com mais de 60 anos que estejam em asilos e população indígena.

Se não me enquadro em nenhum dos grupos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, quando devo ser vacinado?

Não há data. Especialistas dizem que dificilmente a maior parte da população terá acesso a um imunizante antes do segundo semestre de 2021.

Quais são os maiores desafios para a vacinação contra a pandemia no Brasil?

O primeiro é a obtenção de um imunizante devidamente testado para segurança e eficácia em doses suficientes. Mas isso é só o início. A vacinação tem uma logística complexa, que envolve, dentre outros, armazenamento, transporte, distribuição, treinamento do pessoal que fará a vacinação, campanhas de comunicação, planejamento de calendário, compra de insumos (como seringas). E não é só. Carla Domingues destaca que a vacinação da Covid-19, por exigir duas doses em curto período de tempo, trará um desafio inédito, para todo o mundo. Será necessário assegurar que cada pessoa vacinada tomou as doses no período certo para que a vacinação tenha sucesso. Isso nunca foi realizado antes.

Clínicas particulares também vacinarão?

Não num primeiro momento. Não há ainda previsão para esse tipo de imunização e o foco será nos grupos prioritários.

Que efeitos colaterais são esperados?

A vacinação é segura e os efeitos colaterais, em geral, são leves e temporários, como dor localizada no local da inoculação e febre baixa. Efeitos colaterais mais graves são extremamente raros em vacinas de forma geral, informa a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Que efeitos adversos graves podem ocorrer?

Não existe uma definição de quais efeitos graves podem ocorrer, diz Guedes. Até o momento, eles são raros e os pesquisadores ainda avaliam se podem ter relação com a imunização. Será necessário mais tempo para identificar o risco.

Qual o risco de reação alérgica grave, como os dois casos reportados no Reino Unido, com a vacina da Pfizer/BioNTech?

De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, ainda é cedo para saber se algum componente da vacina causou a reação. Pessoas com alergias severas devem procurar orientação médica antes de tomar qualquer imunizante, pois podem sofrer reações causadas por componentes das vacinas.

Resultados

Saiba a eficiência em idosos, crianças, grávidas e pessoas com comorbidades

As vacinas são eficazes para idosos?

Para a maioria das vacinas em fase avançada, os resultados obtidos para idosos de até 85 anos têm sido semelhantes ou apenas um pouco inferiores ao de pessoas mais jovens. Ainda assim, são bastante protetores e bem maiores do que o esperado. Não há dados conclusivos para pessoas acima de 85 anos.

E para as crianças?

Não há previsão de quando crianças serão incluídas. Elas não são grupo de risco para a Covid-19 e, antes que se pense em usar qualquer vacina nelas, será necessário ter estudos mais prolongados sobre a eficácia dos imunizantes. Nesse primeiro momento, as vacinas não são cogitadas para pessoas com menos de 16 anos. Alguns imunizantes, como o da Pfizer/BioNTech, têm sido testadas em maiores de 12 anos, mas não há previsão de quando serão aprovadas para eles.

E para as grávidas?

Nenhuma vacina contra a pandemia foi testada em gestantes e isso não está previsto por ora. Será necessário ter mais dados de estudos em animais para saber se os imunizantes têm qualquer impacto sobre a reprodução antes de se planejar testes com gestantes. Eles devem acontecer, mas não há calendário definido.

E para as pessoas com comorbidades?

Todas as vacinas em fase avançada têm sido testadas em pessoas com comorbidades, como obesidade, câncer, hepatite, diabetes, HIV e doença cardíaca. E a resposta imunológica observada tem sido igual à dos demais grupos.

Todos os vacinados estarão protegidos?

Não. Não se sabe porque algumas pessoas não respondem a determinadas vacinas. Mas as taxas de eficácia de 95% obtidas pela vacina da Pfizer/BioNTech, por exemplo, são muito boas. No caso dessa vacina, dos 20 mil que receberam o imunizante, oito tiveram Covid-19 e uma ficou em estado grave. Já no grupo que não recebeu o imunizante, 164 desenvolveram Covid-19 e nove ficaram em estado grave.

Pós-vacina

É preciso paciência: teremos que continuar a usar máscara e a fazer distanciamento social por um bom tempo

Depois que eu for vacinado, poderei deixar de usar máscara?

Não. Teremos que continuar a usar máscara e a fazer distanciamento social por um bom tempo. Primeiro, porque apenas parte da população será vacinada. Além disso, porque não se sabe se as vacinas vão conseguir impedir a transmissão e tirar o coronavírus de circulação ou apenas que as pessoas adoeçam com Covid-19, diz a epidemiologista Carla Domingues. Guedes acrescenta que somente depois que a vacinação em massa ocorrer, com uma redução drástica dos casos, as medidas de segurança poderão ser revistas. 

Quando uma vacina começa a fazer efeito?

Alguns imunizantes começam a fazer efeito 10 dias após a primeira dose. No entanto, o efeito completo é esperado em 15-30 dias após a segunda dose. E existem variações entre as diferentes vacinas, afirma Herbert Guedes.

Por quanto tempo estarei protegido?

Não se sabe essa resposta para nenhuma das vacinas em desenvolvimento. Esses dados ainda estão em estudo, diz Guedes. É só lembrar que os voluntários das vacinas mais avançadas tomaram a segunda dose há apenas quatro meses. Os imunizados durante os testes clínicos continuarão sendo acompanhados e será possível determinar o tempo de proteção. A OMS considera o prazo mínimo de seis meses aceitável.

Teremos que tomar a vacina todos os anos, como na gripe?

Existe essa possibilidade. Tudo depende do tempo de proteção oferecido pelas vacinas e se o coronavírus sofrerá mutações significativas, diz Guedes. O imunologista explica que, se o tempo de proteção oferecido for pequeno, será necessário tomar a vacina frequentemente. Se, por exemplo, a proteção durar um ano, a vacina será anual. Até o momento, o Sars-CoV-2 parece mais estável que os vírus da gripe. Mas, se ele mudar significativamente, as vacinas perderão a eficácia, terão que ser atualizadas e todos deverão se vacinar de novo. 

Terei que tomar quantas doses?

Para a maioria das vacinas apresentadas até agora, duas doses com intervalo médio de cerca de 20 dias. 

Se eu perder uma dose, o que devo fazer?

Há protocolos específicos para cada imunizante. Guedes diz que é importante ir ao posto de vacinação o quanto antes. Dependendo do tempo que se perdeu a dose, todo o protocolo de vacinação será reiniciado, alerta. 

Já tive Covid-19 e tenho anticorpos, preciso me vacinar?

Segundo Herbert Guedes, a princípio, quem teve Covid-19 não terá problema se tomar uma vacina e ainda poderá ser beneficiado com o aumento da resposta do sistema imune. O impacto da vacinação em pessoas previamente infectadas deve ser avaliado numa nova fase dos diferentes estudos. 

Tomei a vacina de um fabricante. Posso tomar de outro?

Não. Guedes frisa que, primeiramente, não existem doses das vacinas para todos. Cada pessoa tomará apenas uma vacina. Além disso, os efeitos da combinação de diferentes estratégias em termos de segurança não foram avaliados. É melhor não correr o risco, salienta.


Não. Teremos que continuar a usar máscara e a fazer distanciamento social por um bom tempo. Primeiro, porque apenas parte da população será vacinada. Além disso, porque não se sabe se as vacinas vão conseguir impedir a transmissão e tirar o coronavírus de circulação ou apenas que as pessoas adoeçam com Covid-19, diz a epidemiologista Carla Domingues. Guedes acrescenta que somente depois que a vacinação em massa ocorrer, com uma redução drástica dos casos, as medidas de segurança poderão ser revistas. Depois que eu for vacinado, poderei deixar de usar máscara?

Quando uma vacina começa a fazer efeito?

Alguns imunizantes começam a fazer efeito 10 dias após a primeira dose. No entanto, o efeito completo é esperado em 15-30 dias após a segunda dose. E existem variações entre as diferentes vacinas, afirma Herbert Guedes.

Por quanto tempo estarei protegido?

Não se sabe essa resposta para nenhuma das vacinas em desenvolvimento. Esses dados ainda estão em estudo, diz Guedes. É só lembrar que os voluntários das vacinas mais avançadas tomaram a segunda dose há apenas quatro meses. Os imunizados durante os testes clínicos continuarão sendo acompanhados e será possível determinar o tempo de proteção. A OMS considera o prazo mínimo de seis meses aceitável.

Teremos que tomar a vacina todos os anos, como na gripe?

Existe essa possibilidade. Tudo depende do tempo de proteção oferecido pelas vacinas e se o coronavírus sofrerá mutações significativas, diz Guedes. O imunologista explica que, se o tempo de proteção oferecido for pequeno, será necessário tomar a vacina frequentemente. Se, por exemplo, a proteção durar um ano, a vacina será anual. Até o momento, o Sars-CoV-2 parece mais estável que os vírus da gripe. Mas, se ele mudar significativamente, as vacinas perderão a eficácia, terão que ser atualizadas e todos deverão se vacinar de novo. 

Terei que tomar quantas doses?

Para a maioria das vacinas apresentadas até agora, duas doses com intervalo médio de cerca de 20 dias. 

Se eu perder uma dose, o que devo fazer?

Há protocolos específicos para cada imunizante. Guedes diz que é importante ir ao posto de vacinação o quanto antes. Dependendo do tempo que se perdeu a dose, todo o protocolo de vacinação será reiniciado, alerta. 

Já tive Covid-19 e tenho anticorpos, preciso me vacinar?

Segundo Herbert Guedes, a princípio, quem teve Covid-19 não terá problema se tomar uma vacina e ainda poderá ser beneficiado com o aumento da resposta do sistema imune. O impacto da vacinação em pessoas previamente infectadas deve ser avaliado numa nova fase dos diferentes estudos. 

Tomei a vacina de um fabricante. Posso tomar de outro?

Não. Guedes frisa que, primeiramente, não existem doses das vacinas para todos. Cada pessoa tomará apenas uma vacina. Além disso, os efeitos da combinação de diferentes estratégias em termos de segurança não foram avaliados. É melhor não correr o risco, salienta.

Que questões fundamentais ainda permanecem em aberto?

Luciana Arruda diz que não se sabe quanto tempo dura a imunidade, tampouco qual a quantidade de anticorpos neutralizantes que é preciso ter para assegurar uma proteção, tampouco a resposta celular tem sido medida. A pandemia tem um ano, as vacinas estão em teste há um semestre, o tempo é curto demais para saber.

*Colaborou Raphaela Ramos, estagiária sob orientação de Emiliano Urbim

Fonte:https://oglobo.globo.com/sociedade/vacinas-contra-covid-19-saiba-tudo-sobre-os-efeitos-colaterais-eficacia-plano-de-vacinacao-24792472?

Vacinação é segura e os efeitos colaterais, em geral, são leves e temporários

s adverso

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