DÉFICIT DE NATUREZA: SERÁ QUE SEU FILHO SOFRE DESSE MAL?

 Mãe e filha brincando com água na natureza (Foto: Shutterstock)

 Pais precisam estimular o contato dos filhos com a natureza (Foto: Shutterstock)

Déficit de natureza: será que seu filho sofre desse mal?

Pesquisas recentes revelam que o contato com a natureza pode trazer diversos benefícios à saúde, principalmente para o seu filho. Diante disso, muitos programas ambientais ao redor do mundo estão tentando diminuir o "déficit de natureza". Entenda

  • SABRINA ONGARATTO
 ATUALIZADO EM 

Seu filho acorda e vai direto para frente da TV para assistir a desenhos animados? Depois da escola, quando chega em casa, a primeira coisa que pede é pelo seu tablet ou smartphone? Certamente, é uma infância bem diferente da que você teve, certo? Pois, saiba que brincar na rua, pisar na grama e subir em árvores podem trazer mais benefícios às criança do que você imagina.

Um estudo de 2017 realizado em Hong Kong, na China, descobriu que muitas crianças pequenas não se sentem bem psicologicamente — elas são, muitas vezes, estressadas e deprimidas. Os dados revelam que 16% dos pré-escolares em Hong Kong e até 22% na China mostram sinais de problemas de saúde mental. Os especialistas acreditam que isso se deve, principalmente, ao estilo de vida deles. E acredite, esses hábitos são, na maioria das vezes, influenciados pelos próprios pais.

"Percebemos uma tendência em que os pais estão evitando a natureza. Eles a percebem como suja e perigosa - e seus filhos infelizmente captam essas atitudes. Além disso, as áreas verdes são frequentemente indesejáveis ​​com sinais como 'evite a grama'", explica Tanja Sobko, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Hong Kong.

Contato com a natureza: quais os benefícios?

Segundo o especialista, a dificuldade para medir a conexão de crianças pré-escolares com natureza se deve ao fato de elas serem jovens demais para responder por si mesmas. No entanto, o pesquisador, com a ajuda do professor Gavin Brown, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, desenvolveu um questionário de 16 itens para os pais, abordando quatro áreas que refletem a relação criança-natureza: apreciação da natureza, empatia pela natureza, responsabilidade pela natureza e consciência da natureza.

O estudo foi dividido em duas partes: entrevistas iniciais com as famílias e o posterior desenvolvimento do questionário. Ao todo, eles contaram com a participação de 493 famílias com crianças entre 2 e 5 anos. Por fim, as questões foram aplicadas ao Questionário sobre Pontos Fortes e Dificuldades, uma medida bem estabelecida de bem-estar psicológico e problemas de comportamento das crianças.

Os resultados revelaram que as crianças que tiveram uma conexão mais próxima com a natureza tiveram menos sofrimento, menos hiperatividade, menos dificuldades comportamentais e emocionais e melhor comportamento pró-social. Curiosamente, as crianças que assumiram maior responsabilidade em relação à natureza tiveram menos dificuldades de pares. Os resultados foram publicados na revista PLOS ONE.

O estudo deu origem, em 2016, ao programa 'Play & Grow' para promover uma alimentação saudável e brincadeiras ativas com crianças pré-escolares conectando-as à natureza. O projeto já reúne cerca de mil famílias de Hong Kong, e já está sendo implementado por universidades em todo o mundo.

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é aperfeiçoar futuras intervenções de promoção da saúde e prevenção de doenças. A nova meta é testar o efeito da exposição das crianças à natureza e as mudanças na microbiota intestinal.

Como estimular a relação com a natureza?

A Organização Mundial da Saúde, por meio do compromisso da Declaração de Parma, estabelece que os países têm a obrigação de fornecer a todas as crianças acesso a espaços verdes para brincar e realizar atividades físicas. O ideal é que esses espaços não estejam mais do que 300 metros de distância da residência delas. Curiosamente, 90% da população de Hong Kong vive a 400 metros de tais áreas, mas as famílias não estão usando esses espaços. Então, o que fazer para diminuir o "déficit de natureza" e melhorar a saúde das crianças?

Para o pediatra Eduardo Goldenstein, membro do Departamento de Psicologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SP-SP), a criança deve ser ensinada a conviver com a natureza. "A cidade causa muito estresse nas pessoas e nas crianças. Elas precisam de espaço. Hoje, ficam meio confinadas e na dependência da tecnologia. Elas têm que ser ensinadas a ver e sentir a natureza, respeitando-a e preservando-a. Para isso, precisam entrar em contato com a terra, a chuva, a lama, as plantas, os animais. Pegar um tatu-bola na mão, uma minhoca, uma borboleta faz parte do processo civilizatório. As crianças precisam aprender a andar descalças e sentir a textura da terra, da areia, das pedras, saber de onde vêm os alimentos", diz.

Por outro lado, segundo ele, é importante também que saibam distinguir o perigoso do não perigoso. "O meio ambiente pode ser acolhedor ou não. Ou seja, muitas vezes pode ser hostil e perigoso. Por exemplo, o mar pode encantar a criança por sua água refrescante, mas também pode ser traiçoeiro. Nos parques, o mesmo espaço que seduz a criança, pode causar danos se o solo tiver pedras solta. O excesso de sol pode resultar em lesões na pele e mordidas de insetos podem transmitir doenças", explica.

"Já as crianças com hiperatividade precisam aprender a dominar e controlar de forma sadia instintos, desejos e limites" e, para o pediatra, a interação com a natureza é uma boa maneira para isso. No entanto, ele completa: "a natureza vista pela TV ou pelo computador é morta. A natureza tocada e sentida e cheirada integra e faz a criança entender o que é vida".

Você ainda tem alguma dúvida sobre os benefícios do contato a natureza? Que tal programar uma passeio bem bacana ao ar livre com as crianças?

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2019/01/deficit-de-natureza-sera-que-seu-filho-sofre-desse-mal.html


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