Teste
RT-PCR é o mais confiável para detectar se há infecção pelo novo coronavírus
(Foto: Getty Creative)
“Não há evidências de que seja algo frequente”, diz virologista
sobre reinfecção pelo coronavírus
Acostumado a estudar a mutação de vírus como zika e dengue, a rotina do
virologista Anderson Brito mudou com o surgimento do novo coronavírus. Toda a pesquisa
passou a ser voltada para as possíveis mudanças nos genes do vírus.
Pesquisador na Universidade de Yale e
PhD pelo Imperial College de Londres, o brasileiro explica que há um alto
número de mutações no SARS-CoV-2, mas ainda não se sabe se essas mudanças nos
genes do vírus influenciam em uma possível reinfecção.
“Não é toda molécula do vírus que nosso corpo é capaz de
reconhecer e atacar. A depender de onde a mutação ocorre, vamos conseguir
entender se gera uma mudança funcional ou não”, explica. “Em geral, é raro que
uma mutação leve a uma mudança funcional drástica do vírus.”
No entanto, segundo Anderson, até o
momento, não há provas científicas de que uma reinfecção seja possível em um
período curto de tempo. “Pode acontecer? Pode. Algo esporádico, muito pouco
frequente, não é descartado, mas não há evidências de que seja algo frequente”,
afirma.
Há situações que podem causar confusões nas pessoas, que
suspeitam de uma segunda infecção, como testes feitos com amostras mal
coletadas. “Aquele cotonete (usado no RT-PCR) tem que ser inserido lá no fundo
mesmo, mas é muito incômodo e muitas vezes a pessoa que está coletando não vai
até o fundo e acaba não pegando a amostra”, diz.
Dessa forma, um exame pode dar
negativo, mesmo que o vírus ainda esteja presente, o que passaria a mensagem de
que a pessoa está recuperada. No entanto, se o exame for feito novamente, de
forma adequada, ela pode testar positivo novamente. “Isso causa uma confusão,
mas é uma questão de falha na testagem, não de reinfecção”, pontua o
virologista.
Anderson Brito ainda explicou que há
duas ferramentas do corpo para se proteger contra o novo coronavírus: os
anticorpos, elementos de resposta imunológica, e a resposta celular, que são as
células T. O segundo tipo tem também capacidade de controlar o ciclo de
infecção viral.
“Nós não geramos só as moléculas de
anticorpos, mas também células que atuam no sistema imunológico para impedir
que a infecção progrida. E quando falamos em reinfecção, temos que olhar para
os dois lados, para os anticorpos e para essas células imunológicas que são
geradas. Quanto mais eles durarem, menos provável uma reinfecção é”, afirma.
CLOROQUINA
O virologista tem compilado estudos
relativos ao uso da hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19. Ele
lembra que o medicamento é eficiente para malária e lúpus, mas, cada vez mais,
os estudos apontam para uma ineficiência em relação ao coronavírus.
“O que eles têm mostrado é que,
infelizmente, ela apresentou, sim, uma eficácia em laboratório, em células
dentro de um tubo de ensaio. Mas, quando essa droga foi utilizada na vida real,
em seres humanos que estão com o sistema comprometido, essa droga não mostra o
mesmo eleito”, relata.
Anderson Brito aponta para os perigos
da automedicação e considera o momento atual grave. “O que tem é uma grande
campanha de desinformação, com uso de meios que têm bastante alcance, como as
redes sociais. E esse público, às vezes, não está munido de informações o
suficiente para questionar se aquela informação é certa ou não”, diz.
Para ele, o fato de a população estar
em busca de uma solução rápida e simples também facilita na crença por uma
solução milagrosa. “A questão é que as respostas que a ciência dá nem sempre
são simples, fáceis de compreender, porque o universo biológico é complexo.”
Na opinião do virologista, insistir
no uso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 trará mais malefícios, sejam
econômicos ou para a saúde, do que benefícios. “Já há evidências suficiente
para ver que não funciona. Seria ideal mudar o foco para uma outra droga”,
afirma.
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