A atriz Maria Bopp se fotografou para Vogue usando filtros do Instagram (Foto: Maria Bopp / Arquivo pessoal)
Blogueirinha do Fim do Mundo: entenda o fenômemo da (não) influencer
A atriz e cineasta Maria Bopp viralizou no IGTV conquistando de celebridades a quarenteners carentes de riso diante de tempos tão difíceis
- NÔ MELLO
A personagem, conta a atriz, nasceu na verdade no ano passado, fruto de um experimento cênico inspirado em Fim de Partida, peça de teatro do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. “O texto trata sobre o fim do mundo e a gente falava muito sobre o Apocalipse durante os ensaios”, relembra. “Aí, os diretores pediram para as atrizes levarem ideias do que seria o fim do mundo, e eu apresentei a ideia da Blogueirinha – uma personagem que, assim como tantas blogueiras, influenciadoras e celebridades que vemos por aí, pode ver o planeta ruindo ao seu redor, mas não se posiciona”, completa.
A partir daí, Maria, total outsider do mundo fashion, fez um mergulho intenso em perfis e vídeos atrás de material e inspiração. “Não entendo nada de moda, e nunca fui uma menina muito feminina no que é conhecido por ser ‘feminino’”, confessa. “Fui comprar maquiagem pela primeira vez na vida aos 24 anos e tenho apenas um par de sapatos de salto alto, que uso com todas as roupas que tenho, assim como a mesma bolsa.” Quem são suas musas digitais e por que a cativaram? “Não posso contar, mas te garanto que todas têm essa vibe. Elas fazem overposting, tentam ser naturais nos publis”, explica. “Se bem que prefiro as que são bem artificiais mesmo, acho mais digno”, diverte-se.
Assim surgiram os temas de seus hilários tutoriais – skincare do fim do mundo, looks do fim do mundo, arrumando as malas para o fim do mundo, quiz do fim do mundo e por aí vai – todos ultrapassando a marca das centenas de milhares de visualizações, e fazendo alusões claras e diretas ao governo e à situação atual do País. Seu vídeo de comemoração 1 M (sigla que nas redes significa que o perfil alcançou um milhão de seguidores), inclusive, realmente bateu tal número, mas na verdade, se referia a “um mês sem ministro da Saúde no meio da pandemia”, explica a Blogueirinha do Fim do Mundo no IGTV.
Paulistana de 28 anos, Maria é sobrinha-neta do ator José de Abreu – “a gente tem se falado mais por conta da política, ele é superorgulhoso da Blogueirinha” – e se formou em audiovisual pelo Senac. Começou a trabalhar como continuísta até que, em 2011, veio o convite para participar do casting da série Oscar Freire 279, do Multishow, sob a direção de Márcia Faria, atuando ao lado de Maria Ribeiro e Martha Nowill.
Em seguida, foi protagonista da série Me Chama de Bruna, sobre a prostituta Raquel Pacheco (Bruna Surfistinha), no cinema interpretada por Deborah Secco, e campeã de audiência da Fox durante cinco anos. O último capítulo foi ao ar no fim de janeiro, e as três primeiras temporadas estão no Globoplay. Em 2018, morou alguns meses em Buenos Aires gravando El Host, sitcom argentina de 13 capítulos. “Assim como com a Blogueirinha, no papel de Bruna, eu já lidava com um assunto muito polêmico e também cutucava a hipocrisia brasileira”, defende.
Atualmente cumprindo a quarentena em sua casa, em São Paulo, Maria fez da Blogueirinha seu ofício principal – “ainda que eu não ganhe nada com ele, considero um trabalho porque tenho que sentar, escrever, estudar, tanto sobre política quanto ficar vendo vídeo de blogueira, e para mim isso é um momento de criação” – e agora começa a colher os frutos da sua influenciadora apocalíptica, entre propostas de atuação e convites para escrever roteiros.
Mas, como toda pessoa que expõe suas ideias abertamente e enfaticamente nas redes, também acumulou haters. Ela comemora mesmo assim. “Quando aparecem os comentários tóxicos, não apago, nem bloqueio, pelo contrário, respondo de uma maneira ainda mais irônica, no tom do vídeo”, conta. “O sarcasmo deixa as pessoas loucas de ódio. E meu recado é: ‘Você pode tentar me atingir, mas eu estou rindo da sua cara’.”
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