O principal objetivo do isolamento social é impedir que o número de doentes leve os hospitais ao colapso
Foto: CADU
ROLIM/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Isolamento radical pode salvar 1 milhão de vidas no
Brasil, aponta estudo
Por FOLHAPRESS
27/03/20 - 19h41
Trabalho feito por uma equipe de 30 cientistas do Imperial
College, de Londres, Inglaterra, mostra que, no cenário de restrições mais
drásticas e precoces, as mortes seriam 44 mil
Adotar estratégias radicais de isolamento social para conter o
novo coronavírus pode salvar mais de 1 milhão de vidas no Brasil, aponta estudo
feito por uma equipe de 30 cientistas do Imperial College de Londres.
No trabalho divulgado
nesta quinta (26), os especialistas em doenças transmissíveis calcularam o
número de infectados, pacientes graves e mortos em cinco cenários de
disseminação do vírus no Brasil.
Sem medidas de isolamento social que reduzam a transmissão, o
Brasil pode ter até 1,15 milhão de mortes provocadas pela doença, chamada de
Covid-19. No cenário de restrições mais drásticas e precoces, as mortes seriam
44 mil.
Estudo semelhante feito
pelos pesquisadores para os Estados Unidos e o Reino Unido, na semana passada,
mostrou que o sistema público dos países entraria em colapso se não fossem
adotadas medidas de restrição de circulação.
Os dados fizeram o
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, acelerar a adoção de medidas mais
duras para conter a pandemia.
Estimativas como as feitas
pelo Imperial College baseiam-se em premissas que podem ser imprecisas quando
aplicadas de maneira geral a cada país.
O resultado, porém, é importante para estimar a ordem de grandeza do impacto de diferentes estratégias, e permitir o planejamento e o reforço dos sistemas de atendimento.
O resultado, porém, é importante para estimar a ordem de grandeza do impacto de diferentes estratégias, e permitir o planejamento e o reforço dos sistemas de atendimento.
O principal objetivo do
isolamento social é impedir que o número de doentes leve os hospitais ao
colapso, provocando mortes em excesso. O Brasil tem 46 mil leitos de UTIs com
respiradores, capacidade que só não será superada na hipótese mais radical de
intervenção. Veja os cenários.
Nenhuma intervenção
Cenário em que a vida
segue normalmente. Dessa maneira, o coronavírus contagiará 188 milhões de
brasileiros, dos quais 6,2 milhões terão que ser hospitalizados e 1,5 milhão
precisará ser internado em UTI. Neste caso, o número de mortes estimado é
de 1.152.283.
Distanciamento social
No caso de adoção de
medidas como proibição de eventos, redução na circulação, restrição a
encontros, uma estratégia mais branda e operacionalmente mais viável que as
duas seguintes, o número de mortes chega a 627 mil brasileiros, nos cálculos do
Imperial College.
São infectados 122 milhões
de brasileiros, dos quais 3,5 milhões precisarão de hospitalização e 831 mil
terão que ocupar uma UTI.
Com distanciamento social e isolamento de idosos
Protegendo os idosos,
parcela da população mais suscetível a complicações e mortes provocadas pelo
coronavírus, o número de mortes chega a 530 mil, nos cálculos dos cientistas.
Nesse cenário eles só devem sair de casa apenas em situação de absoluta
necessidade. São infectados 121 milhões de brasileiros, 3,2 milhões
precisam ser hospitalizados e 702 mil ficam em estado crítico, que requer
tratamento em UTI.
Com supressão tardia
Além de determinar o
distanciamento social de toda a população, são feitos testes massivos, os casos
positivos são isolados e os que tiveram contato com eles, monitorados. É o que
fez a Coreia do Sul. As medidas são aplicadas quando há 1,6 morte por 100 mil
habitantes por semana. Nesta semana, a taxa de mortes por 100 mil por semana
brasileira foi 0,04.
Essa abordagem mais
rigorosa reduz o número de mortes a 206 mil.
São contaminados 49,6 milhões de brasileiros, dos quais 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e 460 mil terão necessidade de cuidados intensivos. No pico da pandemia, a necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI.
São contaminados 49,6 milhões de brasileiros, dos quais 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e 460 mil terão necessidade de cuidados intensivos. No pico da pandemia, a necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI.
Supressão precoce
Estratégia semelhante à do
cenário 4, mas com medidas aplicadas quando ocorre 0,2 morte por 100 mil
habitantes por semana. Por ser o mais rigoroso, é o que mais reduz a sobrecarga
dos hospitais e o número de mortes.
Nessa abordagem mais radical,
morreriam 44 mil brasileiros. Seriam infectados pelo coronavírus 11 milhões de
pessoas, das quais 250 mil precisariam de hospitalização e 57 mil, de UTI. No
pico da pandemia, a necessidade de leitos de hospital seria de 72 mil; de UTIs,
15 mil.
Entenda as premissas
Os cálculos consideram
que, se circular livremente, o coronavírus Sars-Cov-2 pode infectar cerca de
80% da população do país. Das pessoas infectadas, boa parte não
apresentará sintomas ou terá sintomas leves o suficiente para se tratar em casa.
Cerca de 20% precisarão de
hospitalização, e 5% dos casos se tornarão graves, com complicações que
exigirão internação em UTI e uso de aparelhos de respiração.
Metade dos casos críticos
leva à morte, de acordo com os pesquisadores, com base na evolução da pandemia
nos países em que ela está em estágio mais avançado, como a China e a Itália.
O número de mortes cresce
proporcionalmente quando mais gente é contagiada, porém, por dois motivos: os
casos graves de coronavírus superam a capacidade de atendimento intensivo,
deixando parte dos doentes sem o cuidado necessário, e o caos nos hospitais
provoca a morte de outros doentes graves.
Os autores do estudo
ressalvam que, para estimar a evolução da doença, levaram em conta padrões de
contágio dos países mais ricos. Como a transmissão depende da densidade
populacional e da frequência de encontros, a velocidade de contágio pode variar
de acordo com o local.
Em lugares em que muitas
pessoas dividem o mesmo espaço, como em favelas, onde as condições de higiene e
saneamento são precárias ou onde o sistema de saúde tem menos recursos, a
situação pode ser mais grave que a estimada.
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