O MUNDO É UMA MENTIRA,SÓ HÁ SIMULACROS: O PENSAMENTO DE JEAN BAUDRILLARD

Imagem relacionada


O PENSAMENTO DE JEAN BAUDRILLARD* 

Resultado de imagem para jean baudrillard simulacros e simulação pdf


O mundo é uma mentira. Só há simulacros. Jean Baudrillard (1929-2007) - filósofo e sociólogo francês. Foi ainda fotógrafo e professor de sociologia na Universidade de Nanterre, em Paris. CONCEITOS-CHAVE SIMULACRO – pode ser definido, genericamente, como cópias imperfeitas que representam elementos da realidade. Os simulacros são experiências, formas, códigos e objetos sem referência que se apresentam mais reais do que a própria realidade, ou seja, são “hiper-reais”. Os simulacros são uma cópia da cópia. Baudrillard destaca como força constitutiva por excelência do jogo de simulacros, os meios de comunicação. Ele enfatiza que “temos que pensar nos meios como se fossem uma espécie de código genético que comanda a mutação do real em hiper-real”. Para Baudrillard, vivemos numa era em que os símbolos têm mais peso que a própria realidade. A realidade deixou de existir. O que vivemos é uma representação da realidade. Baudrillard sustenta que a verdade foi substituída por simulacros e, a partir disso, foi perdido o sentido das coisas. O filósofo diz, por exemplo, que a Disneylândia é um modelo perfeito de todos os elementos do emaranhamento de uma obra de simulacro, com todos os seus "fantasmas e ilusões", como piratas e o mundo futurista, atraindo multidões porque representa ou emula um microcosmo social, uma miniatura dos prazeres da "América real", do idealizado modo de vida e pensar do estadunidense, com suas alegrias e repressões. E ao mesmo tempo, o parque temático criado por Walt Disney e seus personagens, apesar de sustentarem uma ideologia, esconde a verdadeira América, com seus paradoxos e imperfeições. O simulacro é, portanto, o produto da simulação. A simulação da realidade, a cópia da ideia. O real e o ficcional ocupam o mesmo lugar. Simulacros são signos sem vínculos com o real, auto-produzidos. Se a ação é uma simulação, o resultado é um simulacro. SIMULAÇÃO – são imitações daquilo que existe no mundo real. Para Baudrillard, nossa vida passou a ser uma simulação da realidade, na medida em que a realidade foi substituída por uma série de signos e percepções. “Simular é fingir ter o que não se tem.” HIPER-REALISMO – é o produto das simulações e dos simulacros, constituídos de fantasia, mesclada à realidade. CIBERESPAÇO - Em sua perspectiva, o ciberespaço constitui-se como um terreno cibernético que além de minar a distância entre o metafórico e o real, subordina totalmente os indivíduos. Sob seu ponto de vista, não estamos preparados para o grau de desenvolvimento a que chegou o sistema tecnocientífico, e ao buscarmos mais informação e comunicação acabamos agravando nossa relação com a incerteza. Foi categórico: “a revolução contemporânea é a da incerteza”. VIRTUAL Baudrillard mostra-se negativo à virtualização da comunicação por acreditar que é o fim do individualismo, enquanto que Lévy é favorável à virtualização da comunicação, por acreditar que o compartilhamento de conhecimentos com outros usuários só trará bons resultados àqueles que utilizam o espaço virtual. Segundo Baudrillard, o virtual é a criação de uma realidade artificial que devido à sofisticação tecnológica parece ser mais “real” do que a própria realidade. Mas na verdade o virtual não passa de uma simulação do real, sendo então o virtual o oposto do real. Baudrillard acredita que tudo que é virtual não existe. O autor defende que a virtualização não passa de um espetáculo, algo fantasioso e que, por isso, não permite a vivência de experiências reais. Tudo é vivido antecipadamente de forma virtual, como consumir um alimento antecipadamente por sua forma e cor atrativa, através de uma fotografia em cardápio. Baudrillard aponta como ponto negativo o desenvolvimento de cidades virtuais, que, em contrapartida, acabam por desestimular o desenvolvimento das cidades “reais”, as cidades que conhecemos. Como exemplos atuais podem ser citadas as lojas virtuais, Já para Lévy, o virtual é o que existe em potência, não em ato. Sendo assim, o virtual não deixa de ser real, e opõe-se ao atual. Lévy defende o virtual como uma extensão da vida das pessoas, e um espaço que só tende a crescer positivamente. SOCIEDADE DE CONSUMO - Na obra “A sociedade de consumo”, destaca que a característica de nossa sociedade-cultura é, antes de tudo, a de ser uma sociedade-cultura de consumo (ideia retomada em todos os seus escritos), que reduz o indivíduo à condição de consumidor como conseqüência da automatização do sistema de produção. Defendia que era impossível negar que nos dias atuais existe uma dinâmica de consumo diferente, que entre outras coisas pode ser representada através de seu slogan de que “já não consumimos coisas, mas somente signos”. Na “época do signo”, produz-se, simultaneamente, a mercadoria como signo e o signo como mercadoria. Para Baudrillard, quando alguém compra uma bolsa Louis Vuitton ou um tênis Adidas ou ainda uma televisão 48 polegadas ou um aparente exclusivamente meio de locomoção (carro), na verdade leva para a casa um símbolo. Isto é, expressa um estilo de vida, um modo de enxergar o mundo e diferenciar e distinguir e se afirmar uma pessoa da outra ou grupos de outras formações sociais, calibrando positivamente ou negativamente as escolhas. É o simbolismo do individualismo e espírito de liberdade defendidos pela modernidade, bem como um objeto que seduz, dá prazer, concede status, poder e desperta a ambição dos indivíduos. MÍDIA - Sendo os meios de comunicação um dos pilares do sistema vigente, no caso o capitalismo, é de se esperar a difusão das suas ideias por meio dos seus veículos. E até o tempo livre e de lazer é travestido em momento de consumo. É a culpa de nada fazer versus o imperativo do consumo; e também tempo de não pensar e fugir do dia a dia. Baudrillard foi um ferrenho crítico da proliferação de imagens no mundo contemporâneo e sua influência no cotidiano dos sujeitos e de que maneira estes enxergam o mundo e a realidade, e desenvolveu a teoria sobre a simulação e simulacro em livro homônimo de 1981. Para ele, o fenômeno faz com que seja criada uma espécie de "hiper-realidade", que não é nem o objeto retratado nem tampouco a sua reprodução. "Atravessando um espaço cuja curvatura não é mais aquela do real, nem da verdade, a era da simulação é inaugurada pela liquidação de todos os referenciais", analisa. Sendo o funcionamento da sociedade apoiada em um sistema desse tipo, a dominação torna-se mais fácil, mas que por sua vez opera por uma complexa lógica e que esconde tal condição, não distinguindo dominados e dominantes. GLOBALIZAÇÃO - "A globalização, que na verdade nada mais é do que a hegemonia de uma potência mundial, só pode ocorrer nesse contexto do virtual e das redes", diz. Isso ocorre porque ela precisa simular uma homogeneidade, uma igualdade entre as culturas e entre os povos. "A simulação só acontece porque os signos estão esvaziados de sua substância", acrescenta. A potência mundial em questão são os Estados Unidos, que a partir da queda do muro de Berlim, em 1989, e o fim do bloco soviético, afirmaram-se mundialmente como nação global e hegemônica. GUERRA - A guerra que se deu no Golfo Pérsico, porque o Iraque não acatou a resolução do Conselho de Segurança da Organizações das Nações Unidas (ONU) que exigia a retirada das tropas de Bagdad do Kwait, sendo invadido pelos Estados Unidos (com a ajuda de Reino Unido e outros países) logo em seguida, foi, para Baudrillard, ao menos se comparada com conflitos anteriores até então, não convencional, porque na verdade não foi travada homem a homem, mas sim, por parte dos ocidentais, através da tela do computador ou da televisão. O conflito pela primeira vez na história recebeu cobertura televisiva 24 horas por dia e sete dias por semana pela CNN, que levava todos os dias aos lares cenas que remetiam a jogos de videogame e filmes de Hollywood, de alvo à distância sendo atingidos pelos armamentos ultramodernos, os chamados "ataques cirúrgicos" estadunidenses e britânicos. Nem um soldado morto no chão de batalha, ao menos do lado ocidental, o que, pelo efeito das imagens geradas, fez com que um evento sangrento e que matou milhares de iraquianos fosse considerado por alguns como "guerra limpa". AUTO-VIOLÊNCIA - Um de seus últimos grandes debates foi originado mais tarde, quando dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o filósofo provoca polêmica mais uma vez. Ele subverte a lógica de que o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque tenha sido uma ação de resistência vinda de fora do mundo ocidental, no caso do Islã, como resposta aos desmandos das grandes potências contra países e povos cujo Deus é chamado de Allah e têm Maomé como profeta. Para ele, o incidente foi criado pelo próprio Estados Unidos, por esse motivo vai considerar que na verdade na manhã do dia célebre houve "o suicídio das torres gêmeas". EXEMPLO DE ANÁLISE UTILIZANDO OS CONCEITOS DE JEAN BAUDRILLARD Análise do programa BBB, sob a ótica de Baudrillard, realizada por Marcelo da Silva Rocha e Luciano Costa ANÁLISE O programa Big Brother Brasil, ao isolar um grupo de pessoas dentro de uma casa vigiada 24h por dia com o objetivo de ganhar o prêmio de 1,5 milhão, é literalmente, uma simulação. A simulação de convivência presente no reality anula a pressuposição de um convívio real e verdadeiramente natural. Pode-se observar dois padrões para a escolha dos participantes. O primeiro é a escolha de jovens, quase todos eles magros, bonitos e malhados, evidenciando o mais belo e precioso objeto de consumo: o corpo (BAUDRILLARD, Cadernos de Comunicação (v.16, n.1, Jan-Jun 2012) 2010, p. 168) e desvelando uma particularidade voyeurista do programa. As mulheres são lindas, magras e com seios avantajados, os homens viris, atléticos e musculosos; simulacros de uma “beleza brasileira”, onde todo o país compartilha de características sensuais e sexuais. O segundo padrão é a escolha de perfis que fujam do estereótipo do primeiro, é a inserção de indivíduos que façam um contraponto com os demais e, portanto, oponentes com grande potencial. Em todas as edições do programa houve ao menos um perfil que se destacava: ou era um participante de meia-idade e até idoso, ou homossexual, ou transexual. Porém, sempre em menor número. Os participantes também contribuem para esta aura simulada do Big Brother Brasil. Primeiramente porque estão situados em um recorte da sua realidade, dentro do programa cada um adquire a personalidade que escolher e quiser representar. Além disso, depois de várias edições torna-se fácil saber quais as características do participante geram repercussão, aprovação e desaprovação do público. Em 11 edições do programa é percebível o comportamento de participantes de uma edição e outra que se repetem. O Big Brother Brasil 11 é uma simulação de outras edições. Baudrillard (2002) afirma que o programa se transformou em uma telenovela, parecida com os programas de auditório de grande audiência. A audiência dos reality shows aumentou pela própria concorrência dos veículos, o que levou o formato a difundir-se por si mesmo. Kehl (2004) analisa o fenômeno de audiência do programa e o interesse dos espectadores: Parece que o público que prefere o Big Brother não quer ser iludido com a vida água com açúcar das novelas. Engano. O que o público está pedindo é para se iludir melhor. (KEHL, 2004, p. 171). Kehl salienta que os reality shows são a forma mais eficiente de ilusão que a televisão já produziu, pois vendem aos espectadores um retrato fiel da vida amesquinhada pelas leis de mercado, eles “vendem a imagem da selva em que a concorrência transforma as relações humanas, só que elevados ao estatuto de espetáculo”. (KEHL, 2004, p. 171) O caráter “escapista” do programa – gente e jovem e bonita vivendo dias de ócio em uma casa cinematográfica etc. – é muito menos determinante para sua popularidade do que o teor das aflições não nomeadas, das quais ainda mal nos apercebemos que o reality show mobiliza. (KEHL, 2004, p. 173) Qual interesse do público nos reality shows? Baudrillard nos responde que é a curiosidade vertiginosa, quase confundida com voyeurismo, sem muito de sexual. É uma “curiosidade visceral, orgânica, endoscópica” (BAUDRILLARD, 2002). As pessoas “desejam o espetáculo da banalidade, que é a verdadeira pornografia de hoje, a verdadeira obscenidade – a da mediocridade, da insignificância e da superficialidade” (ibidem). O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade, ele é expressamente o setor que concentra todo o olhar e toda a consciência. Pelo fato desse setor estar separado, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza é tão-somente a linguagem oficial da separação generalizada. (DEBORD, 1997, p. 14) Os simulacros de realidade criados no programa através das provas e regras corroboram para atmosfera de uma realidade mimética. Propõe-se a construir uma realidade baseada no confinamento controlado e monitorado, onde os acontecimentos são artificialmente construídos no interior do próprio discurso midiático. Os participantes também podem ser entendidos como simulacros. Sob o estereótipo que comprovadamente (pela audiência e pela repercussão das edições anteriores) fazem sucesso, há sempre o integrante mais carismático, o ranzinza, o apaixonado. Algumas atitudes são perceptivelmente falsas. O carismático faz piada de tudo e sempre está fazendo brincadeiras. O ranzinza reclama de tudo e sempre está brigando. O apaixonado arranja um par na primeira festa e se empenha para que o relacionamento dure entro da casa. Clichês repetidos exaustivamente há dez anos e que parecem ser a fórmula do sucesso dentro do programa, a fórmula da hiper-realidade do programa. Em uma perspectiva real, os participantes não parecem “comuns” (como é prometido pelo programa). Vários deles galgam um futuro artístico. Parte deles já desempenham profissões afins. Em outras produções midiáticas realistas, sobretudo do cinema e da televisão, comumente o efeito de real é obtido por meio de representações hiper-naturalistas, mais naturais que o natural, mais reais do que o real. No Big Brother, não: o real – pretensamente real em direto – é belo, asséptico, maquiado, bem vestido, bem torneado. Não parece real. (POLYDORO, 2010, p. 119). Outro fato que corrobora a ideia hiper-realista do programa é a edição. Os assinantes do provedor Globo.com e de TV por assinatura (pay-per-view) tem acesso à imagens da casa 24h por dia, ao vivo. Mas o que chega ao grande público pela Rede Globo são os programas de curta duração que apresentam uma versão resumida dos acontecimentos da casa, selecionadas subjetivamente (para o telespectador, que não tem acesso à edição, os critérios de sele- ção dos editores parecem subjetivos), cenas editadas com técnicas de ficção, a qual a emissora tem grande tradição. Segundo Baudrillard (1991) ao mediar o vivido, a mídia elimina a realidade. A edição do programa transparece a realidade simulada e hiper-real do Cadernos de Comunicação (v.16, n.1, Jan-Jun 2012) Big Brother Brasil ao exibir imagens que ocupam um espaço limiar entre a realidade, a espontaneidade dos acontecimentos e a ilusão criada pelas regras para se esboçar uma narrativa para o programa, ou seja, a sua ficcionalização. (...) Se a promessa do programa é o real ao vivo, as imagens editadas contradizem esta promessa. Conforme Polydoro (2010) o uso de signos ficcionais leva o objeto em direção à ficção e o hiper-real rumo à ilusão. (...) Exemplo de Simulacro: Arma de brinquedo Real, para Platão, é o que é. É a verdade, a essência, a ideia primeira, inalterável, inabalável e imutável. O real é algo que se descobre, e para atingi-lo o homem só é capaz através da razão. A mimese, imitação, cópia, é revelar algo que já existe. Para Platão, a cópia imita a ideia (o verdadeiro real), e o simulacro imita a cópia. Simulacro, a cópia da cópia, evita um contato direto com sua fonte e razão conceitual: a própria realidade. Simulação: Recupera o conceito de mimese de Platão. É a ação produtora de simulacros. É a cópia, imitação da forma ideal. Parte verdadeira e parte realidade, pois real e verdadeiro são as ideias. Não é falso nem verdadeiro, está no limite da realidade e da irrealidade, do real e do ficcional. Da simulação originam-se simulacros. Simular é fingir o que não se tem. Simulacro: Origina-se da simulação, da aparência. A cópia da cópia. Para Baudrillard, o mundo em que vivemos foi substituído por um mundo-cópia, no qual vivemos cercados por simulacros. Simulacros são signos sem vínculos com o real, auto-produzidos. São objetos sem referência que se apresentam mais reais que a realidade. Se a ação é uma simulação, o resultado é um simulacro. Assim, quaisquer distinções entre o real e o irreal torna-se impossível. Da simulação e dos simulacros origina-se a hiper-realidade. simulacro corresponde as cópias imperfeitas da realidade, ou seja, representações que tentam dar veracidade a algo que não é equivalente ao real. Já a simulação consiste na repetição de algo que existe de fato na realidade.

Fonte:https://pt.slideshare.net/aulasdejornalismo/aula-6-jean-baudrillard

Comentários