COM FÉ,SEM VÍCIO: PROGRAMAS RELIGIOSOS QUE SE BASEIAM NA ESPIRITUALIDADE PARA CURAR DEPENDENTES QUÍMICOS
Com fé, sem vício
Programas
religiosos que se baseiam na espiritualidade para curar dependentes químicos obtêm
resultados acima da média e levam alívio para usuários e familiares
A espiritualidade tem se mostrado uma
poderosa arma na luta contra a dependência química. É com o auxílio dela que
milhões de pessoas conseguem deixar o vício das drogas. Foi assim, por meio de
um retiro espiritual, que Diego Aparecido, de 33 anos, largou a cocaína e saiu
das ruas. “Eu tinha abandonado minha família, não tinha mais esperança de vida,
só estava esperando a morte. Aí um voluntário veio falar comigo, começou a
falar de Deus e o que era a Missão Belém. Então eu perguntei se poderia ir para
lá”, diz ele. Localizado em frente à Catedral da Sé, no coração da cidade de
São Paulo, o Centro de Acolhimento do projeto Vida Nova, da Missão Belém,
funciona 24 horas por dia e conta com voluntários, na maioria ex-viciados que
um dia foram acolhidos. O prédio recém-reformado conta com recursos da
Arquidiocese de São Paulo e funciona como um centro de acolhida, onde os
usuários vivem como uma família em cada andar e ficam durante uma semana, com
uma intensa agenda de atividades, orações, sessões de filmes, “laborterapias” e
conversas individuais e em grupo. Depois, eles são convidados a ir para um
sítio onde permanecem por seis meses em retiro espiritual e então são
encaminhados para retomarem seus antigos contatos.
Criado em 2005, o projeto é resultado das
ações do padre italiano Gianpietro Manzotti, que, juntamente com a missionária
Cacilda Leste e outros voluntários, mergulhava no mundo das ruas da Cracolândia
e ficava “dia e noite junto aos irmãos”. “Eles não queriam ir para outro lugar
a não ser as nossas casas, porque oferecíamos oração, carinho, diálogo e
partilha. Nosso objetivo é ser família para quem não tem família”, diz ele. A
receita tem dado certo. Já passaram pela organização 60 mil pessoas e o índice
de recuperação é alto: 42% das pessoas foram reintegradas à sociedade. Em
tratamentos que não recorrem à espiritualidade, o índice de sucesso é, em
média, de 15%, segundo especialistas.
REZA Missa do Projeto Vida Nova: convite para a reabilitação (Crédito:Divulgação)
A efetividade do projeto, assim como de outras organizações religiosas que atuam na área, é resultado de uma soma de diversos fatores. Além do acolhimento, ele conta com a ferramenta que é chamada de transcendência pela medicina. “Pode ser uma religiosidade, uma paixão, tudo aquilo que faz o sujeito sair de si em função de alguma coisa”, afirma o psiquiatra Luís Altenfelder. “Nenhum tratamento humano tem tanto resultado quanto uma experiência transcendental, pois ela altera toda a bioquímica, a bioeletricidade e o biomagnetismo cerebral. É como se passasse um antivírus e deletasse tudo o que o cérebro viveu com a droga”, diz Pérsio de Deus, neurocientista e psiquiatra, que trabalha com grupo de religiosidade e saúde da Universidade Mackenzie. Para entender esse conceito, é preciso compreender também como as drogas atuam no cérebro. As substâncias que causam dependência agem em todo o sistema nervoso central e principalmente no sistema de recompensa do cérebro, uma área primitiva desenvolvida para a sobrevivência da espécie. Por meio de estímulos como alimentação, sexo e emoções gratificantes, essa região libera substâncias que dão prazer. É ali que as drogas atuam, o que leva ao seu consumo compulsivo e à eliminação do efeito das fontes naturais de prazer. A transcendência, portanto, faz com que esse sistema condicionado à droga seja neutralizada.
APOIO Centros espíritas e A.A. ajudaram Deise a deixar o álcool (Crédito:Marco Ankosqui)
Esse é o método que garante o sucesso dos Alcoólicos Anônimos (A.A.), iniciativa que teve origem nos EUA, em 1935, a partir da experiência de dois alcoolistas considerados “irrecuperáveis” e que chegaram à abstinência com a ajuda mútua (um deles era médico e, o outro, importante nome de Wall Street). O trabalho consiste em 12 passos simples, sendo dez deles relacionados a Deus ou a um poder superior. Presente em 180 países, com mais de 118 mil grupos, o A.A. já recuperou mais de 2 milhões de pessoas. É em parceria com os A.A. e os Narcóticos Anônimos (N.A.) que atua o grupo Dependentes Químicos Luz (DQ Luz), na Zona Leste de São Paulo. Por meio de atendimento voluntário de psicólogos e assistentes sociais, o DQ Luz atende dependentes e suas famílias.
RETIRO Ex-dependente, Diego se recuperou ao ressignificar sua vida (Crédito:Marco Ankosqui)
Esse é o método que garante o sucesso dos Alcoólicos Anônimos (A.A.), iniciativa que teve origem nos EUA, em 1935, a partir da experiência de dois alcoolistas considerados “irrecuperáveis” e que chegaram à abstinência com a ajuda mútua (um deles era médico e, o outro, importante nome de Wall Street). O trabalho consiste em 12 passos simples, sendo dez deles relacionados a Deus ou a um poder superior. Presente em 180 países, com mais de 118 mil grupos, o A.A. já recuperou mais de 2 milhões de pessoas. É em parceria com os A.A. e os Narcóticos Anônimos (N.A.) que atua o grupo Dependentes Químicos Luz (DQ Luz), na Zona Leste de São Paulo. Por meio de atendimento voluntário de psicólogos e assistentes sociais, o DQ Luz atende dependentes e suas famílias.
RETIRO Ex-dependente, Diego se recuperou ao ressignificar sua vida (Crédito:Marco Ankosqui)
Acolhimento
Apesar
de não estar vinculado a nenhuma religião, o grupo tenta abordar o tema quando
percebe que há abertura para isso. “Sem o trabalho da espiritualidade não é
possível fazer nada”, diz Zezé Amaral, psicóloga e coordenadora do grupo que
funciona no Centro Espírita Meimei. “Indicamos que a pessoa procure a religião
que mais se identifica, além de um grupo de A.A. ou o N.A.”, diz ela. Foi assim
que Deise Oliveira, de 22 anos, conseguiu vencer o alcoolismo. Quando ela tinha
14 anos, sua mãe morreu de overdose por conta do crack e ela começou a beber.
“Eu fui muito acolhida e o apoio do grupo foi fundamental”, diz ela. Além de
ter a ajuda de Zezé, que está sempre disponível online, Deise frequenta grupos
de anônimos e centros espíritas quatro vezes por semana. “Cerca de 80% da minha
reabilitação veio do tratamento espiritual, porque isso deu um novo significado
a minha vida”, diz ela.
Comentários
Postar um comentário