A SENSUALIDADE DA POMBA-GIRA : ANÁLISE DO MOVIMENTO EM RITUAIS UMBANDISTAS
Análise do Movimento em Rituais Umbandistas
Pomba-giras Segundo Negrão (1996),
“se o Exu é em parte animalesco, a Pomba-Gira é a estereotipia da prostituta ou
de mulheres de conduta moral condenável” (Negrão, 1996, p. 223). Talvez essa
conotação moral negativa derive da circunstância de uma atitude social bastante
crítica da sensualidade explícita, que efetivamente caracteriza o movimento
corporal dessa categoria. Entre as estudadas, as pomba-giras são a categoria de
espíritos que mais se mostra no corpo de forma dançante e transparece prazer
nesse dançar. Em seus rostos, há constantemente uma expressão de alegria e
divertimento, sorriem e dão gargalhadas enquanto dançam. Elas dão gargalhadas,
movendo o tronco e a cabeça para trás. Flexionam os joelhos um pouco para possibilitar
o movimento do tronco, com as mãos apoiadas na altura dos ossos pélvicos. Fumam
de maneira a deixar, algumas vezes, a mão que segura o cigarro com o pulso
virado, a mão “caída”, dando a impressão de uma mulher sensual, extrovertida e
desinibida. Caminham, passando o peso do corpo todo (seu ponto de equilíbrio)
de uma perna para a outra, com um movimento de quadril como se o peso deste
fosse solto sobre a perna que está dando o passo. Podemos, portanto, observar o
fator de movimento peso como estando presente de forma relaxada, deixando o
movimento sem resistência àquele. A pomba-gira anda rebolando, com as mãos
apoiadas na altura do quadril, o que deixa os braços dobrados. Seu caminhar é
lento no que tange ao fator de movimento tempo. Porém, quando dança pode girar
em uma velocidade maior. Apóia, para caminhar, os pés inteiros no chão. O
quadril mexe junto com os passos e os braços apoiados no quadril movem-se
também, sem resistir ao movimento natural do corpo todo. Seu andar transborda
sensualidade explícita, que parece não perder nenhum espaço do corpo em que
possa apresentar-se. Quando as pomba-giras dançam, elas costumam girar com um
pé apoiado inteiro no chão e outro apoiado no metatarso (meia ponta). Elas
costumam utilizar-se de movimentos de ombro, por vezes discretos, e por outras
definidos. Seus ombros podem tanto mover-se acompanhando o movimento dos
braços, que se movem por estarem apoiados nos quadris que se mexem pelo
caminhar, quanto fazer-se acompanhar de movimentos mais fortes, quando, por
exemplo, dão gargalhadas. Mas, nos dois momentos, os ombros movem-se por
irradiação de outros movimentos (um pelo caminhar e o outro pelo movimento do
tronco durante a gargalhada). As pomba-giras não resistem ao peso, não têm
tonicidade muscular para serem ativas em relação a ele. Elas se abandonam
inteiramente às ondas de movimento que o andar, o gargalhar, ou o parar,
trazem. Quando elas param, por exemplo, param “molinho”. O quadril se ajeita
sobre uma perna, os braços no quadril, o ombro de acordo com os braços e,
assim, o corpo todo se acomoda, parecendo obedecer à lei de mínimo esforço. Nem
suas mãos, apoiadas pelo dorso no quadril de forma a encaixarem-se, fazem
força. Essa sensação de movimento “mole” parece ser dada pela junção do fator de
movimento peso relaxado, não resistente, ao de espaço flexível. Seus movimentos
não apresentam retidão, direcionamento, mas trajetória, caminho. A fluência é
livre, a movimentação das pomba-giras tem um fluxo contínuo, é passiva em
relação a esse elemento de esforço.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v24n2/12.pdf
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