Da Índia chega Arun Gandhi. Arun, neto do pacifista Mahatma
Gandhi e fundador do Instituto para Não-Violência M.K.Gandhi. Numa palestra ele
falou de quatro lições sobre a violência passiva que aprendeu com o seu
avô.
Lição
1 – Violência contra a humanidade através de um lápis.
Quando
Arun tinha 13 anos, ele morava com seu avô. Um dia, enquanto voltava para casa,
ele jogou na rua um lápis de três centímetros que Gandhi lhe tinha dado.
Arun achava que o lápis era muito pequeno e por isto, merecia um novo. Nesta
noite, ele solicitou um novo e Gandhi perguntou sobre o lápis e a razão dele
tê-lo jogado, solicitando que o neto o procurasse. No meio a escuridão e
somente com uma lanterna, Arun vasculhou por duas horas antes de achá-lo.
Então,
o avô ensinou-lhe duas lições que se tornaram valiosas para ele. A primeira foi
de que mesmo um pequeno e simples objecto, como um lápis, requer o uso dos
recursos naturais do mundo. Descartá-lo é sinónimo de descartar os recursos do
mundo e isto é uma violência contra a natureza. A segunda foi que embora
possamos ter condições de adquirir inúmeros bens, algumas vezes os utilizamos
de forma indiscriminada, consumindo recursos além do necessário.
Quando
os consumimos em excesso, estamos privando que estes possam ser direccionados
para pessoas que vivem na miséria e esta é uma violência contra a humanidade.
Gandhi ensinou que, muitas vezes, as nossas pequenas acções diárias são actos
de violência e que somente tomando o devido cuidado com os pequenos detalhes é
que seremos capazes de resolver as grandes violências que ocorrem no mundo.
Lição
2 – Árvore Familiar da Violência
Gandhi ensinou ao jovem Arun que nós
devemos compreender o que é a violência, antes de compreendermos o significado
da não-violência. Ele sentia que isto era necessário para que pudéssemos
compreender o volume de actos violentos que praticamos todos os dias. Gandhi
sugeriu que o neto desenhasse uma “Árvore Familiar da Violência”, sendo que a
violência seria o tronco e a violência física e a violência passiva como dois
ramos. Em seguida, ele explicou que a violência física é fácil de ser
compreendida, pois causa feridas na pessoa atingida. Entretanto, a violência passiva – como a opressão, repressão, ódio, insulto e
preconceito – não pode ser necessariamente observada.
Assim, a violência passiva – a qual geramos a todo momento – faz brotar o
sentimento de raiva na vítima e provoca a violência física. A violência passiva
é o combustível que faz acender a violência física.
Desta
forma, Gandhi ensinou que para cessarmos a violência, é fundamental rompermos a
sua fonte, ou seja, a violência passiva. O pacifista indiano ensinou que
devemos ser os precursores das mudanças que gostaríamos de presenciar e que
isto somente é possível através do ato de compreendermos o quão violentos
somos. Ele acrescentou que se vivermos negando a nossa violência, somente
iremos permitir que ela continue presente. Arun partilhou esta compreensão com
Gandhi desde a tenra infância, construindo esta “Árvore Familiar da Violência”.
Ele escrevia diariamente sobre os seus sentimentos, acções e palavras, assim
como os factos que presenciava. Por fim, ele compreendeu o quão violento ele
era e através deste exercício, começou a mudar o seu comportamento.
Lição
3 – Confiança e Ação Construtiva
Gandhi
ensinou que cada indivíduo possui um talento, na qual pode ser adquirido ou
inerente. Entretanto, as pessoas geralmente acreditam que este talento pode ser
despendido de acordo com o seu próprio desejo. Gandhi acreditava que nós não
éramos proprietários deste talento, mas que este nos era confiado.
Logo,
este deveria ser utilizado em prol do bem estar social. Isto significa muito
mais do meramente distribuir algo para alguém necessitado. Uma actividade de
compaixão é diferente, pois requer a interrupção do que estamos realizando
neste momento e o redireccionamento das nossas energias em prol de uma solução
para quem necessita de nossa ajuda. Requer que possamos encontrar a causa de
uma determinada situação e de forma concreta, colaborar para que o indivíduo
utilize o seu talento, com o objectivo de transformar esta circunstância para
melhor. Tudo isto requer um sacrifício de tempo pessoal, para que possamos
tanto conhecer o outro, como ajudá-lo na resolução do seu problema.
Lição
4 – Jornal da Raiva
Gandhi
ensinou que a raiva é positiva, quando ela é compreendida e direccionada de
forma efectiva e inteligente. Ele declarou que a raiva é como a electricidade,
na qual se utilizada de modo inadvertido pode destruir a todos; mas, se
canalizada de forma inteligente, pode ser utilizada para o bem da sociedade.
Gandhi sugeriu que Arun mantivesse um “Jornal da Raiva”, na qual ele escreveria
todas as vezes que estivesse irado, ao invés de tomar uma acção com base neste
estado de vida. Entretanto, Gandhi enfatizou que o jornal deveria ser escrito
com o objectivo de encontrar uma solução construtiva para a raiva, ao invés de
mantê-la viva dentro de si e que para o seu neto pudesse aprender a canalizar
esta emoção de forma construtiva e enriquecedora.
Fonte:https://portaldobudismo.org/author/portaldobudismo/page/34/
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