CULTO
TEMPLÁRIO A NOSSA SENHORA
Na Biblioteca do Mundo de Duat está depositado um
pequeno livro com cerca de 130 páginas, pouco ilustrado mas em forma de diálogo
ilustrativo escrito, salvo erro, por Mr. Thomas Vaughan, o Adepto Filaletus
(1622-66). Na sua capa de fundo amarelo claro onde se vêem duas colunas
egípcias ladeando um túmulo encimado por uma ave parecida à íbis, lê-se o
título: RITUAL DO FUNERAL DE SALOMÃO, e o subtítulo na primeira
página: EXÉQUIAS FÚNEBRES DO REI SALOMÃO. Composto por 13 curtos
capítulos, lê-se o seguinte na página 24 do capítulo 3 na sequência do cortejo
fúnebre e deposição do féretro de Salomão no seu jazigo: “PROFUNDO É O TÚMULO
DO REI SALOMÃO [SCHLOMÔ] ELEVADO PELOS ANJOS [MALACHIM] POR SOBRE O ALTO DE
MORIAH. OS SANTOS [KADOSH] O CONTEMPLAM E GUARDAM CIENTES, NO SACRIFÍCIO PURO
CANTAM LOUVORES [TEHILIM] PARA MEMÓRIA DA PROLE FUTURA”.
Além do seu sentido iniciático, profundamente
espiritual, o “túmulo profundo do rei Salomão” é igualmente alusão ao fundo do
vale, autêntica bouça, onde jaz o sepulcro num templo subterrâneo na área
geográfica de Jerusalém, localizado na zona do Monte MORIAH.
A Cavalaria Templária ao retornar do oriente,
trouxe um tesouro instimável em sua bagagem. . O conhecimento oculto da verdade
terrena sobre a terra. De Shambala e do poder da Deusa. Conheceram os mistérios
dos mundos subterrâneos e os seres que lá habitavam. Presenciaram divinos
contatos. Trouxeram por onde passaram ou moraram, ciências até em tão
desconhecidas no ocidente.
Resplandeceu o estilo arquitetônico harmonioso.
Mas, principalmente o conhecimento espiritual.
Misturando harmoniosamente o estilo gótico com o
mulçumano.
Nossa Senhora dos Subterrâneos
s Madona Negra do Amor
Evocada como intermediadora entre o terreno e o
divino, eleita advogada da humanidade, a Virgem Maria inspirou, entre 1170 e 1270,
a construção de nada menos que 80 catedrais e 500 igrejas em sua
homenagem, só na França. Segundo Cesare Marchi, autor de Grandes Pecadores,
Grandes Catedrais, nascia naquela época a idéia do amor romântico, com suas
donzelas inatingíveis, cuja imagem idealizada assemelhava-as a deusas. A Virgem
Mãe de Deus era o modelo, mas um modelo ambíguo, que esbarrava na realidade de
seu passado pagão. Acontece que a maioria das igrejas em honra da Virgem foram
erguidas em lugares antes dedicados a uma Madonna. Curiosamente, a uma Madonna
negra, cujos atributos estavam associados à sexualidade, à procriação e à
fertilidade. No fundo, muitas dessas Madonnas negras eram representações das
antigas deusas ctônias (ligadas às forças da terra) do paganismo. Outras
estavam associadas à Lua ou a Vênus. Em outras palavras, eram herdeiças da
antiga crença em uma Deusa-Criadora, predominante nas concepções
religiosas mais arcaicas e retornada com força na Idade Média. É que, ao ser
“Noiva de Deus”, “Mãe de Cristo” e “Rainha dos Céus” – inclusive todas essas
expressões foram cunhadas na época, a Virgem se revestiu de um poder que
suplantava o próprio Deus. Sem falar que o gótico acabou revivendo um dos
elementos mais fortemente ligados àquelas ancestrais deusas ctônias. Como
divindades subterrâneas, seu poder concentra-se na morte e no renascimento.
Assim, ao figurarem nas criptas das catedrais góticas, essas Madonnas fazem
reviver, no imaginário coletivo, o sentido iniciático de fertilidade e morte a
que se relacionam e que está representado por mitos como os de Cibele, Ísis,
Ceres e Réa. Em Chantres, por exemplo, havia uma dessas Madonnas, a Nossa
Senhora dos Subterrâneos, que era cultuada pelos templários. Tratava-se de uma
estátua de ébano, representando uma jovem com uma criança nos braços. No
pedestal, a inscrição Virgini Paritures chama a atenção para uma virgem que
iria parir. Já na visão da alquimia, essas Madonnas negras representam Íside
Egízia, aquela que casou com Amnael, o anjo caído, e recebeu em troca o segredo
da magia. Corresponde à Papisa, do Tarô, muito bem representada em Notre
Dame de Paris. Ali, a escultura de uma mulher com um cetro numa das mãos,
e dois livros, um deles fechado, na outra, é o símbolo da alquimia e do saber
esotérico.
A Mansão da Virgem Negra
No edifício cubista que serve de anexo à Galeria
Nacional de Praga, na Praça da Cidade Velha, vê-se num ângulo do mesmo,
pairando sobre a Via Real, a imagem daVirgem Negra carregando
o Menino nos braços, sendo motivo de interrogações por todos que passam no
local sobre o que significa essa insólita imagem descontextualizada ou fora de
qualquer outro ambiente sagrado, dominando o espaço público.
Mesmo não sendo a imagem original que está guardada
dentro do edifício e será obra original dos cavaleiros da Ordem de Malta no
século XV ou XVI que tiveram a sua Casa-Mãe perto desta mansão onde, entre 1911
e 1912, o arquitecto Josef Gocár a colocou, importa saber por que a Virgem é Negra
e qual a sua relação com o pensamento heterodoxo do mundo hermético,
particularmente o alquímico.
As Virgens Negras pertencem à
iconografia da Idade Média europeia e geralmente figuram a Virgem Maria com o
Menino (ainda que algumas delas representem igualmente Sara, a Negra, e Santa
Ana), estando inscritas no domínio da chamadaArte Romana cuja
maioria dessas esculturas foram produzidas entre os séculos XI e XV, igualmente
aparecendo na iconologia de estilo bizantino dos séculos XIII e XIV, herdeira
da cor sombria dada aos ícones orientais. Segundo a Igreja Católica, não existe
nenhum fundamento teológico para a cor escura dessas Virgens, alguns dando como
justificação da mesma aquela passagem bíblica do Cântico dos
Cânticos (1:5):Nigra sum sed formosa (“Eu sou negra mas
bela”). Se essa “mulher negra bela” foi identificada como a Virgem
Maria pela Arte Romana medieval, o facto incontestável é que esta
inspirou-se e imitou a forma tradicional da deusa Ísis a quem
as representações ptolemaicas do Egipto dão o sentido literalmente igual ao
transcrito dessa passagem bíblica. O culto Isíaco seria importado do Médio
Oriente para a Europa pelas legiões romanas antes e depois de Cristo, e com o
processo de cristianização ela seria identificada à Mãe de Deus, contudo
mantendo-se a cor original de Ísis a quem alguns atribuem as seguintes
palavras: “Eu sou bela e mais negra que a noite do Egipto”. O longo véu sobre a
túnica dessa deusa, também negro, cobrindo-a inteiramente, aparece aqui em
Praga no longo manto branco pálido sobre decorativos dourados da Virgem, de
quem só se vê a cabeça negra.
O véu negro assim como o manto espesso, representam
o conhecimento vedado, proibido aos comuns mortais por ser a própria Sabedoria
Divina incarnada na imagem escura da Virgem assim representando a mesma. Por
isso, até hoje os clérigos ilustrados detendores da teologia e alguns até da
gnose, ou sabedoria, têm na cor negra a principal das suas vestes dessa maneira
assimindo-se, inconscientemente como “filhos de Ísis”, agora Maria, para todo o
efeito, a Sabedoria Divina que é “o espírito sob a letra”, ou seja, o racional
sobre o confessional.
Por ser a manifestação do Verbo Divino sob a forma
feminina primordial ou ante-genesíaca, a Virgem Negra veio a representar a
Terra virgem, ainda não fecundada ou não habitada pelas criaturas viventes, e
por isso é representativa da energia telúrica do seio da Terra com que se gera
as formas animadas de toda a Natureza. A esse estado ocultado ou interior de
gestação presente tanto na Natureza Mãe como na Mulher grávida, assinalando a
pré-criação a todos os níveis, os alquimistas medievais chamaram nigredo,
concebendo a negritude como o ponto de partida ou condição primordial da Grande
Obra alquímica de transformação dos elementos grosseiros em subtis e auríferos
(presente no dourado das vestes desta Virgem Negra de Praga), por uma evolução
progressiva do estado genesíaco ao apocalíptico ou o final da mesma Grande
Obra, quando se alcança e absorve na Luz Suprema que de tão brilhante que é
torna-se mais negra que a noite do Mundo. Esta é, afinal, a mensagem oculta da
Senhora escura padroeira da antiga Via Real dos Filósofos
herméticos de Praga.
Rotunda da Descoberta da Santa Cruz
Praga possui várias igrejas rotundas (São Longuino,
Santa Maria Madalena, etc.) testemunhas da arte romana medieval nesta cidade,
sendo que a mais antiga é aRotunda da Descoberta da Santa Cruz, cujas
primeiras menções escritas sobre a mesma datam de 1365, mas é provável que
tenha sido construída durante o século XI, por volta de 1012. A sua construção
em pequenos blocos de pedra calcária testemunham uma grande mestria para a
época, obra possivelmente de alguma confraria de monges construtores herdeiros
dos conhecimentos arquitectónicos dos primitivos colégios de artífices romanos,
os collegia fabrorum.
Ainda hoje celebram-se regularmente os ofícios
religiosos católicos nesta igreja rotunda, cujo nome provém da descoberta toda
lendária por Santa Helena, mãe do imperador Constantino que foi quem
oficializou o Cristianismo, da Santa Cruz em Jerusalém, a Verdadeira Cruz onde
o Senhor foi martirizado. Isto numa manhã de 3 de Maio do ano 326, afirma a lenda.
Trata-se de uma maneira de afirmar a antiguidade e veracidade do lugar, e assim
também do culto cristão que aqui terá tido o seu início, pelo que o edifício
revela-se uma espécie de axis religiosus, isto é, eixo ou centro
religioso marcado pela própria Cruz inicial do que seria o Cristianismo.
Está-se, portanto, diante de um lugar primordial de culto em Praga.
Como áxis em rotunda (do latim rotundus,
redondo) ou charola representa o centro geográfico no qual o Céu e a Terra se
encontram nele, descendo as bênçãos celestes ao mundo e subindo as preces
humanas às alturas da eternidade. Por estar em ligação directa com o Centro
Divino prevalecendo na perfeição da forma circular como imagem da Jerusalém
Celeste, houve em volta deste templo um antigo cemitério por se crer que assim,
junto a este “portal celeste”, as almas dos defuntos ascenderiam directamente
ao Céu sem passarem pelo Purgatório e tampouco caírem no Inferno. De maneira
que a rotunda remete para o círculo da “perfeição celeste” cuja aplicação
litúrgica é a de ser um “portal dimensional”, uma espécie de “tubo cósmico” de
intercomunicação directa entre os mundos visível e invisível, nisto impondo-se
a noção do sagrado anulando a expressão lógica da coerência profana.
Com efeito, em termos de arquitectura sagrada
remete para a junção das formas quadrada do interior da igreja marcada pelos
ângulos ou pontos cardiais, e circular exterior que lhe dá o nome de rotunda e
justifica o princípio capital da sua existência: a projecção do Céu (círculo)
na Terra (quadrado), e na Terra o Céu se encontrando formando a quadratura
do círculo, de acordo com as primitivas noções pitagóricas e platónicas. Os
construtores que originalmente seguiam essas noções de geometria sagrada e as
aplicavam nas suas obras, criaram a tradição das igrejas redondas na Idade
Média, mas essas, ao contrário de outros padrões como os da cruz latina em que
se baseia o esquisso da igreja cristã, não representavam o corpo de um homem de
pernas juntas e braços abertos representando o Corpo de Deus, antes
representavam pelo cubo ou altar no interior do círculo a elevação da Terra ao
Céu e sua a união com este, simbolismo cosmológico evidente que ao nível
imediato da liturgia representava-se no redondo da hóstia que é o Corpo
Eucarístico da Divindade a que se ascende no acto da Fé, sendo o sacerdote o
intermediário entre mundos.
Visitar a Rotunda da Descoberta da Santa
Cruz é remontar às origens do Cristianismo em Praga e, mais que isso,
é obter um “livre-acesso” à Jerusalém Celeste, ao Paraíso de Deus. Pelo sim ou
pelo não, nem que seja só pela sua grandeza histórica, testemunho ímpar da arte
romana que resistiu às vicissitudes dos séculos, será bom visitá-la.
A Via Alquímica de Santiago
A igreja de Santiago na Cidade
Velha de Praga surpreende o visitante pela sua monumentalidade e proporções
góticas majestosas. Data de 1232 e foi mandada construir por Venceslau I da
Boémia para os frades menores da Ordem de S. Francisco de Assis. O enorme
incêndio que destruiu grande parte da Cidade Velha em 1689, obrigou à
reconstrução parcial deste edifício recebendo renovação barroca em 1739. Mas
esta não é mais uma igreja de Praga: assinala a Via Alquímica ou Caminho
Hermético do Apóstolo Santiago Maior, o eleito pelos praticantes das artes
herméticas que identificam o seu túmulo na Catedral de Compostela, Galiza, com
o culminar da Grande Obra Alquímica, correspondendo à conquista do Ouro
Filosófico como sinónimo de Iluminação Espiritual.
Isso mesmo está retratado na fachada desta igreja
nos ricos relevos escultóricos representando Santiago Maior, São Francisco de
Assis e Santo António de Lisboa e Pádua, realizados por Ottavio Mosto no estilo
do ilusionismo barroco italiano.
A peregrinação a Santiago de Compostela era feita
para expiar os pecados pessoais dos crentes sujeitando-se aos mil e um perigos
que espreitavam ao longo do caminho (tempestades, terrenos quase
intransponíveis, assaltantes, etc.), não raro perdendo a vida ao longo da
jornada. Mas também e sobretudo era um caminho de realização interior associado
pelos alquimistas à sublimação da Matéria pelo Fogo do Espírito, assumindo o
Apóstolo Santiago como simbólico do próprio Fogo Secreto e Sagrado que late em
toda a Natureza e que é o mesmo que ilumina e aquece os fornos alquímicos e
pelo qual, gradualmente, vai-se fabricando a Pedra Filosofal, meta da Grande
Obra. Isto por o nome Santiago ser interpretado no Evangelho de S.
Marcos (3:17) comoBoanerges (termo grego) ou “Filho do
Trovão”, ou seja, do Fogo, o mesmo do Espírito Santo incarnado em Santa Maria
que é, afinal, a Padroeira dos Filósofos do Fogo.
Como muitos certamente não podiam encetar a longa
jornada a Compostela, ou então para deixar assinalado o seu significado mais
profundo, ou ambas as coisas, tem-se aqui a memória monumental do Caminho
Jacobeo nos escultóricos desta igreja. No de Santiago observa-se este
caminhando para a frente com os símbolos do peregrino (bastão, cabaça, sacola,
concha vieira, etc.) apoiado por um Anjo indicador do Caminho Espiritual que é
Hermético por não se saber o que está mais adiante. Nos lados, ajoelhados e em
pé, vêem-se quatro peregrinos com os seus bastões dourados, em reverência ao
Apóstolo assumido como o perfeito Adepto Filosófico expressivo da própria
natureza angélica ou divina do Cristo.
No escultórico de S. Francisco de Assis, que aliás
fez a peregrinação a Santiago de Compostela em 1214, vê-se o santo com uma
braçada de flores – simbólicas dasRoseiras dos Filósofos que era o
nome dado antigamente aos tratados de Alquimia – cercado de Anjos, alguns deles
com instrumentos musicais, sinaléticos da Música Celestial que
também era outro nome dado à Alquimia por operar em rigoroso acordo com as
medidas harmónicas do Universo espiritual buscando integrar na perfeição deste
o imperfeito Universo material. S. Francisco de Assis é a expressão máxima da
espiritualidade cristã da Idade Média até hoje, e essa por certo nenhuma
realização do Espírito na Matéria se obterá, quanto muito alguns fenómenos
químicos no decorrer das operações em laboratório, mas não mais que isso que
não não nem é a meta desejada pelo verdadeiro alquimista. Finalmente Santo
António, a quem o jesuíta português padre António Vieira chamou de “Arca da
Aliança” e que foi discípulo directo de S. Francisco, depois doutor da Igreja.
Com um ramo de flor-de-lis dourada na mão, apresenta-se rodeado de Anjos,
alguns também com flores-de-lis douradas que são simbólicas da realeza, mas
aqui de Realeza Divina que na Terra é expressa pela mística da Arte Real que é
a Alquimia, pura e inviolada como a própria Virgem Maria miraculosa desta
igreja, cuja mão da sua imagem um dia agarrou um ladrão que pretendia roubar a
caixa das esmolas, significando que os tesouros da caridade, virtude maior, não
são para ser roubados, tal qual os tesouros da Alquimia de quem Ela é padroeira
não são para ser violados ou conspurcados.
O Sol Negro de Praga
A Mansão do Sol Negro é uma das
mais admiráveis da Rua Celetná em Praga, e deve o seu nome a um Sol Negro
esculpido por cima da porta de entrada. Este edifício foi construído no final
do século XIV em estilo gótico, tendo sofrido um restauração durente a
Renascença e outra no período Barroco.
A escultura deste Sol Negro motivo das mais
diversas especulações reconhecidamente infundadas, inevitávelmente invoca o
nome do imperador Rudolph II de Habsbourg (18.7.1552 – 20.1.1612),
protector dos artistas, dos sábios e dos alquimistas, ele próprio um praticante
de Alquimia que diversas vezes invocou o nome “Sol Negro”, como aparece na
linguagem cifrada dessa Arte Hermética. Resta saber o que significa…
Para os alquimistas o Sol Negro é
a Matéria-Prima não trabalhada, em seu estado original antes de ser disposta a
qualquer operação que lhe modifique a natureza até se transformar num Sol
Branco como última etapa evolutiva das operações alquímicas. É assim
que recebe o nome Sol Negro indicador do primeiro estágio
do Opus Magnum ouGrande Obra, que finaliza com a
produção do Ouro Filosófico.
Símbolo da energia preexistente no Universo antes
de manifestar-se materialmente, portanto, da própria Substância Universal que
periodicamente, de acordo com os ciclos cósmicos de manifestação do Espírito na
Matéria, gera a Vida na Forma, esteSol Negro ou Oculto é
igualmente chamado Sol Central do Universo que os alquimistas
e hermetistas dizem «esconder-se» por detrás do Sol físico do nosso Sistema
Solar que é uma emanação directa daquele, como a fonte invisível e espiritual
da mecânica celeste: uma verdadeira “Central de Energia”, de Espiritualidade
“condensada” de onde emanam os espíritos para manifestar-se e onde finalmente
retornam. Tal Sol é Negro porque contém toda a Luz que de ser tanta obscurece a
visão dos comuns mortais, tendo os magos e alquimistas do Passado recuperado o
seu significado fazendo-o emanação do Logos Divino, do próprio Eterno
Imanifestado em seu Ser Absoluto, iluminando o espírito humano que volve à
eternidade. A sua revelação é somente suportável para os Grandes Iluminados,
como o foram Jesus, Akenaton ou Zoroastro, mas para outros comuns mortais,
cobiçosos de conquistarem a visão dele, é sinal certo de loucura e perdição,
como aconteceu com Cambise, rei da Pérsia, que desejando vê-lo face a face
enlouqueceu e perdeu-se nas areias do deserto.
Por esse sentido de espiritualidade absoluta
assinalada no Sol Negro, este tornou-se símbolo da anti-matéria,
isto é, a antítese da Matéria como o próprio Espírito. Por isto, é que o Sol
Negro é expressado pelo Sol na sua trajectória nocturna, quando deixa
este Mundo para iluminar o outro Mundo, sendo assim chamado Sol da
Meia-Noite em oposição ao Sol do Meio-Dia, este símbolo da
Vida triunfante, aquele expressivo da Morte dominadora. Esta é representada
pelo deus Saturno com a sua ampulheta e foice, e aquela pelo deus Júpiter com o
seu raio e águia. Ambas se completam, pois que há Morte na Vida e Vida na
Morte, princípios inseparáveis da existência, tal qual Júpiter é o aspecto
superior de Saturno os quais unidos são o sinónimo da ressurreição espiritual,
da própria imortalidade que é, afinal, o sentido último deste Sol Negro de
Praga.
A Serpente de Ouro hermética
Quem passa na Rua Karlova e se detém no n.º 18 vê
por cima da porta de entrada um pequeno brasão com uma serpente dourada que deu
o deu ao edifício: U Zlatého Hada(da Serpente de Ouro). Parece-se
com o famoso biscione das Armas de Milão, Itália, mas não é:
aqui a serpente está coroada e vomita uma flor-de-lis, tudo em ouro sobre fundo
azul. Está-se, portanto, perante uma serpente real indicadora
da filiação e condição secreta de quem a mandou aí postar, o que remete para o
mundo do Hermetismo e particularmente da Alquimia.
Quem mandou colocar esta serpente aqui e qual é o
seu significado oculto, é que veremos de seguida.
Neste edifício foi inaugurado o primeiro café
praguense em 1714 por Georges Théodat, um comerciante árabe originário de
Damasco e muito possivelmente um adepto das ciências herméticas atendendo aos
sinais escolhidos com parcimónia deixados num outro café que fundou nesta
cidade mais ou menos na mesma época: As três avestruzes. Ora, no
Antigo Egipto a tríplice pluma da avestruz era o símbolo da justiça, da
equidade e da verdade. Esta verdade representou-a na serpente coroadaque
na tradição árabe é a “serpente da vida”. Com efeito, o simbolismo árabe da
serpente está efectivamente ligado à ideia de vida pela proximidade entre as
palavrasel-hayyah, “serpente”, e el-hayat, “vida”, sendo
que El-Hay é um dos principais Nomes de Deus no Alcorão e
que não dever ser traduzido por “O Vivo”, como se faz comummente, mas por “O
Vivificador”, Aquele que dá a Vida ou o que é o próprio Princípio da Vida. A
serpente coroada aparece, pois, como breve encarnação da Grande Serpente
Invisível, causal e intemporal, senhora do Princípio Vital de todas as forças
da Natureza.
A Força Vital da Natureza é sempre representada por
uma divindade feminina domando a serpente, ou melhor, a energia telúrica da
Terra serpenteando pelos veios da mesma e que assim os povos primitivos
associaram a esse réptil, ficando a Natureza representada pela imagem da Mulher
expressiva da Grande Deusa-Mãe. É assim que aparecem a Virgem Maria sobre a
serpente, enquanto a Deusa Ísis traz na testa a naja real,
o uraeus de ouro puro que é uma coroa de cuja frente sobressai
uma serpente dourada, simbolizando a soberania, o conhecimento, a vida e a
juventude divina. Já a Deusa Allatah, feminino de Allah a
qual não consta no Alcorão mas que os místicos sufis evocam em
vários dos seus poemas e preces, é representada sobre a serpente real do mundo
manifestado.
Por sua parte, os alquimistas falam na Fonte
da Serpente (que neste edifício não existe mas poderá muito bem ser
representada pela monumental Ponte Charles que lhe fica
próxima), correspondendo na simbologia alquímica à serpente coroada indicadora
do Sal químico, o catalizador da união entre o Enxofre e
o Mercúrio, este representando a Alma e o anterior o Espírito,
enquanto o “Sal da Terra” representa o Corpo, que é onde se realizam todas as
vivências e experiências que levam a maior consciência e à aproximação da alma
do crente com o Espírito de Deus. O cálice para onde escorre a água da vida
da Fonte da Serpente é o matrás ou vaso que conterá essa
porção líquida expressiva da Imortalidade, esta que é o fim procurada pelo
alquimista desde o primeiro instante que se lançou na dura missão da sua
própria transmutação alquímica, traduzida como transformação da vida-energia em
vida-consciência, cuja meta última é alcançar o Graal alquímico,
ou seja, a Taça Sagrada da Imortalidade, que os antigos representavam como
a Fonte da Eterna Juventude ouFonte da Vida Eterna.
Talvez Georges Théodat tenha perseguido na sua vida
privada esse objectivo supremo, pois que a serpente coroada ou real (simbolizada pela
flor-de-lis), naja, é indicativa em hebraico de Naha e
em sânscrito de Naga, ambas significando “Homem-Serpente” que os
antigos interpretação como sinónimo de Iluminado Espiritual.
Símbolo de Iluminação Real ou Hermética será esta Serpente de Ouro espreitando
numa esquina de Praga.
A Mansão do Anel de Ouro
A Mansão do Anel de Ouro deve o
seu nome ao símbolo que orna a sua fachada. A lenda conta que o anel foi
perdido por um dos fantasmas da praça da Cidade Velha de Praga durante uma das
suas errâncias nocturnas. O burguês supersticioso da Rua Tynská que o achou
incrostou-o por cima da porta da sua casa a fim de protegê-la das forças do
mal, bênção que este anel mágico, um círculo fechado, parece possuir.
A verdade histórica é diferente da lenda e diz que
esta peça provém do edifício gótico original do século XIII do paço fortificado
do Tyn, que sofreu um restauro barroco em 1609. Poderá ser tudo isso, mas o
simbolismo tradicional e mágico do anel sobrepõe-se aos factos imediatos,
bastando citar, dentre numerosos exemplos, o anel nupcial e o anel pastoral,
bem como o anel do Pescador que serve de sinete pontífico e
que é partido, por ocasião da morte do Papa, para perceber-se que ele serve
essencialmente para indicar um elo, para vincular. Assim, aparece como o signo
de uma aliança, de um voto, de uma comunidade representada neste primitivo
paço, de um destino associado.
Esse simbolismo do anel pode, em
todos os níveis da interpretação, relacionar-se com o do cinto,
principalmente no plano espiritual, conforme se deduz do antigo costume romano
em virtude do qual o flâmine, sacerdote de Júpiter, não tinha o
direito de usar um anel, a menos que fosse partido e desprovido de pedra. A
razão desta proibição provinha da ideia de que toda a espécie de elo ou aro que
rodeasse completamente uma parte do corpo do operador encerrava nos limites
desse último o seu poder sobrenatural, impedindo-o de agir no mundo exterior.
Mas o facto do anel do flâmine ser destituído de pedra
introduz um outro aspecto simbólico: o do anel portador de um sinete que por
sua vez é símbolo de poder e, portanto, não mais de submissão, e sim de domínio
espiritual e material. Esse era o caso do anel ao qual o rei Salomão, segundo a
lenda, devia a sua sabedoria. O anel do Pescador sobrepõe os
dois poderes, porquanto ele é a um só tempo símbolo de poder temporal e de
submissão espiritual.
Segundo diz a lenda, e o anel desta mansão bem
parece enquadrar-se no sentido salomónico, Salomão devia a sua sabedoria a um
anel mágico. Os árabes contam que, certo dia, esse rei bíblico marcou com o
sinete desse anel todos os demónios que havia reunido para as suas operações
mágicas, e eles tornaram-se seus escravos. Certa vez deixou caí-lo no rio
Jordão, e teve de esperar que um pescador o trouxesse de volta para recuperar a
sua inteligência e poder sobre as forças invisíveis. É assim que tal anel
tornou-se o símbolo da sabedoria e do poder do rei Salomão sobre todos os
seres. É como um sinete de fogo, recebido do Céu, que marca o seu domínio
espiritual e material.
No Cristianismo, o anel simboliza a união fiel,
livremente aceite. Está ligado ao Tempo e ao Cosmos. O texto de Pitágoras que
diz “não deveis colocar a imagem de Deus em vosso anel”, demonstra que não se
deve associar Deus ao Tempo. Pode-se ainda interpretá-lo de duas maneiras: uma
delas, bíblica, a de que não se deve invocar em vão o Nome de Deus; a outra,
ética, de que convém assegurar para si uma existência livre e sem entraves.
Os primeiros cristãos, à imitação dos gentios,
usavam anéis, e Clemente de Alexandria aconselhava os cristãos de seu tempo a
usarem no engaste de seus anéis a imagem de uma pomba, de um peixe ou de uma
âncora.
Os aristocratas eram autorizados a usar um anel de
ouro, como o que aqui se vê. No plano esotérico, o anel possui
poderes mágicos. É uma redução do cinto, protector dos locais que
guardam um tesouro ou um segredo. Apoderar-se de um anel é, de certo modo
figurado, abrir uma porta, entrar num castelo, num palácio, numa caverna, no
Paraíso, etc. Colocar um anel no próprio dedo ou no de outra pessoa significa
reservar para si mesmo ou aceitar o dom de outrem, como um tesouro exclusivo ou
recíproco.
A Mansão do Poço de Ouro
Este edifício é um dos mais belos da Cidade Velha
de Praga. Herda o seu nome, Poço de Ouro, de uma lenda relacionada
ao seu poço que além de ter uma água excelente, dizia-se que nele estava
escondido um grande tesouro de ouro. Um dia, uma serviçal que tirava água do
poço apercebeu uns reflexos dourados no fundo dele e, para ver melhor,
inclinou-se mais, acabando por desiquilibrar-se e cair morrendo afogada, não
sem antes gritar que estava vendo muito ouro que assim ganhou fama de maldito,
mesmo nunca ninguém tendo visto ouro algum no poço. Mas a lenda ficou.
Mas já no início do século XV a Mansão
chamava-se U Pulzlatého kola, “A roda meio dourada”, e
depois durante muito tempo foi chamada U Zlatého slunce, “O Sol de
Ouro”, por estar na fachada, entre o primeiro e segundo andares, um Sol
dourado, até que finalmente, a partir do século XVIII, ficou com o nome por que
é conhecida a até hoje, U Zlaté studny, “O Poço de Ouro”. Tudo isso
e mais os estuques barrocos que ornam a fachada do edifício cujas esculturas
setecentistas são atribuídas a Jan Oldrich Mayer, encomendadas pelos
proprietários em guisa de agradecimento aos santos expostos por terem sido
poupados à peste de 1714, tresanda a Alquimia nas suas operações profundas e
secretas.
Primeiro que tudo, o simbolismo do poço reveste-se
de um carácter sagrado em todas as tradições, nomeadamente na alquímica onde
Santa Maria – como Padroeira dessa Arte Real – é associada ao poço simbólico da
abundância como fonte da vida, e neste contexto parece ligado à figura da
mulher que mergulha nas profundezas dos mistérios e ressurge luminosa como o
Sol, plena de Sabedoria. Por isto o poço também representa a Sabedoria
incarnada na Mulher Iluminada, ou seja, na Hierofantisa que possui os segredos
dos Mistérios que encabeça. É assim que se vê no Zohar, o livro
sagrado da Cabala judaica, um poço alimentado por um arroio, expressando a
união do homem e da mulher, além de que a palavra poço em
hebraico possui o sentido de “mulher, esposa”. Mas trata-se de uma mulher
sagrada, contraparte espiritual do homem a quem transmite os segredos da
Arte Magna, como o de chegar à conquista do Ouro Filosófico por uma Via
Húmida ou temperada pela presença das águas do Amor sublime que só a
Mulher possui.
Neste edifício tem-se a presença da Alquimia
marcada pelo exercício feminino, e vários são os sinais de que assim é: o
primeiro de todos, na cimalha sobre a janela do terceiro andar, está na figura
escondida ou ocultada de Santa Rosália rodeada de rosas (que foi a célebre
eremita italiana do século XII que viveu e morreu numa gruta do Monte
Pelegrino, perto de Palermo, por amor de Cristo), alusiva às Roseiras
Filosóficas, que era o nome dado na Idade Média e na Renascença aos
tratados alquímicos. Depois segue-se o Sol dourado no centro da fachada,
irradiando oito raios com a Virgem no centro (Nossa Senhora de Boleslav, obra
datada de 1701), representação sagrada da Alquimia, apresentando o Menino que,
por sua vez, sendo Delfim divino é expressivo da própria Pedra Filosofal. Sob o
Sol irradiante, vêem-se dois leões coroadas, representativos da Arte Real, e
por cima dois querubins segurando um coroa, a da realização da Grande Obra que
equivale à realização ou iluminação do Adepto nesta Ars Marialis,
isto é, Arte Mariana assinalada no próprio Sol da Virgem Mãe.
A fachada deste edifício tem um total de sete
figuras, a maioria sendo evocativas dos santos da devoção dos proprietários
originais. Além das já descritas, vêem-se S. Sebastião, venerado como protector
contra a peste, e assim também S. Roque. Seguem-se os mártires S. Venceslau e
S. João Nepomuceno, e ainda Cristo no tronco animado pelo Anjo. Contudo, esta
fachada já não é a original porque nos anos 50 do século XX foi renovada sob a
direcção do arquitecto Karel Splavec, e entre 19883 e 1987 recebeu uma
reconstrução geral, dirigida pelo arquitecto Jan Dvorak.
Os ursos d´ouro de Praga
A Mansão dos Dois Ursos d´Ouro é
um edifício renascentista edificado entre 1559 e 1567 que deve o nome a esses
animais esculpidos e banhados originalmente em ouro no seu pórtico monumental
datado de 1590, mandado fazer por Lorenc Stork, o primitivo proprietário deste
grande palácio no século XVI que foi construída sobre uma outra gótica, de que
ainda subjazem vestígios no piso térreo e na cave.
Na cimalha sobre o pórtico estão nos lados da
cornija dois ursos alimentados por dois homens carregando ramos florais com que
parecem alimentá-los. Não sendo figurativos de nenhum ex-libris dos
vários proprietários do edifício ao longos dos séculos, e parecendo
transmitirem uma qualquer mensagem oculta sob a aparência meramente decorativa,
este conjunto monumental deu aso a especulações e lendas que vieram até hoje.
A lenda mais famosa relacionada com os ursos de
ouro é a que diz haver uma galeria subterrânea ligando este edifício à Câmara
Municipal e à igreja de Tyn, na Cidade Velha, tendo sido mandada fazer por um
morador deste lugar em 1405, Mikulás Bohunek, que era fabricante de malte. O
facto é que até hoje chama-se Rua do Urso de Ouro a este lugar
onde está esta famosa e estranha mansão, associando o topónimo até a uma marca
de cerveja. Aparte as teorias e especulações que campeiam sobre estas figuras e
o seu significado, é muito significativo os antigos povos caucasianos e
altaicos do Norte da Europa chamarem aos seus templos subterrâneos
indistintamente bar, “caverna”, e ber ou wer,
“urso”, relacionando o animal com os poderes telúricos do seio da Terra e
considerarem-no seu ancestral. Daí a ber e bear (urso)
tornar-se beer e bier (cerveja) nas falas
populares, foi um passo. E falso.
Além disso, e por ser Praga uma cidade de
alquimistas exilados nela vindos perseguidos pela religião dominante de toda a
Europa entre os fins do século XIV e meados do século XVI quase até ao XVII,
também os laboratórios alquímicos eram muitas vezes construídos em caves e
criptas, para todo o efeito, lugares subterrâneos, e o simbolismo do urso
estava presente nas práticas alquímicas. No registo da Alquimia o urso
corresponde aos instintos e às fases iniciais da evolução do processo
alquímico, sendo representado pela cor negra da matéria em estado bruto ou
inicial. Mostrando-se nisto poderoso, violento, perigoso, incontrolado como uma
força primitiva, foi tradicionalmente o emblema da crueldade, da selvageria, da
brutalidade. Mas, e o aspecto superior do símbolo aparece aqui figurado nos
homens alimentando o animal, o urso também pode ser, numa certa medida, domesticado:
dança, é hábil com uma bola, e nisto configura o domínio da matéria primitiva
pelo alquimista. Pode-se atrair o urso com mel, pelo qual é apaixonado, tal
qual o alquimista domina a matéria bruta com o “mel” da sabedoria. Ele
simboliza, em suma, as forças elementais susceptíveis de evolução progressiva,
mas capazes também de terríveis regressões como aconteceram e acontecem com os
falsos alquimistas chamados “assopradores”, não sabendo acompanhar o processo
laboratorial com o processo espiritual para alcançar os mais altos estágios da
Alquimia que é a união com o Divino.
Por ser expressivo da matéria elementar indomada o
urso foi, na sociedade céltica, o símbolo da casta guerreira e consequentemente
do Poder Temporal. Nisto, quando o urso é agressivo e cruel, é simbólico da
tirania e opressão, e quando é dócil e amansado faz-se o símbolo da justiça e
liberdade, reflexo da espiritual característica dos verdadeiros alquimistas e
que aqui, no friso do pórtico desta mansão, se retrata nos homens amansando,
alimentando as ferinas forças elementais assinaladas nos ursos que assim se
tornam de ouro.
Fonte:http://ordemrosasol.blogspot.com.br/2013/03/culto-templario-nossa-senhora.html
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