Os cursos ali não eram nada baratos, todos compreendendo meditação, atividades em grupo e trabalhos comunitários na horta, cozinha e jardim. Me pareceu esquisito pagar tão caro para fazer coisas tão corriqueiras como cozinhar. Mas há muita gente que precisa aprender a se comunicar e interagir com os outros.
The workshops were not cheap and all included meditation, group activities and communitary work in the kitchen and garden. I thought it weird people pay so much to do common stuff such as cooking, but there are many who need to learn communicating and interacting with the others.
Melissa me levou para copiar as fotos da passeata em Edimburgo no Centro de Informática, onde seis rapazes pilotavam Mac Minis, recém-lançados. Ela pediu para um deles fazer duas cópias e deixou-me lá para pegar os CDs quando estivessem prontos. O funcionário amarrou a cara, fez só uma e me despachou dizendo que tinha muito trabalho e não podia perder tempo com aquilo. Melissa ficou furiosa… comigo! Disse que eu devia ter insistido, e não quis aceitar o fato de que eu não tinha nenhuma autoridade para exigir nada do carinha. Sugeri que ela mesma fosse falar com ele e isso a irritou ainda mais.
To copy my pictures of the march in Edimburgh, Melissa took me to the Computers Centre where six guys were working, all in Mac Minis, that had just been released. She asked one of them to make two copies and left me there to take the CDs when they were ready. But the man was in a bad mood; made only one copy and sent me away because he had a lot of work to do and no time to waste on that. That made Melissa very angry… at me! She said I ought to have insisted and didn’t accept the fact that I had no authority to give orders to anyone there. I suggested she went back there and talked to him herself, but that only increased her rage.
Comecei a achar a moça um tanto estranha, pois no momento seguinte ela me convidou a dar uma caminhada pela Fundação, toda sorridente. Passamos por jardins, estufas, chegando por fim a uma casinha igual à dos hobbits de J. R. R. Tolkien. Era de pedra, arredondada e toda irregular, com o telhado gramado. Tratava-se de um local de orações, lindo, na mesma hora levei a câmera aos olhos. Foi quando Melissa ficou histérica. Me deu uma bronca e proibiu-me de fotografar porque iria atrapalhar a concentração das pessoas que estavam meditando lá dentro. Além disso ser absurdo, estava uma luz linda, mas o tempo poderia fechar a qualquer momento. Não se deixa uma foto para depois. Cliquei, ela surtou e abruptamente interrompeu o passeio. Apresentou-me a uns paulistas que estavam lá fazendo cursos, disse que “não podia tomar conta de mim como se fosse uma criança, porque tinha mais o que fazer”, virou as costas e sumiu. Nunca mais a vi! Chateada, fui buscar minha mochila e saí do seu trailer, deletando-a da minha vida também. Ela tinha dito que tomava remédio porque contraíra uma doença crônica na África, mas acho que seu problema era mesmo uma bipolaridade grave.
I realized there was something wrong with the girl, because the next moment she smiled and invited me for a walk in the Foundation whereabouts. We crossed gardens, greenhouses, and found ourselves in front of a little cottage just like J.R.R. Tolkien’s hobbit holes. It was made of stone, all round and irregularly shaped, with grass covering the roof, so cute, at once I grabbed the camera. That was when she became hysterical. She scolded me saying it was a place for prayers and I was forbidden to take pictures because that would jeopardize the meditation in progress inside the house. Besides the absurd of the statement, the light was beautiful and I knew the weather could change in a blink. One does not postpone a photograph. So I took it anyway, and she, rabid, cut the walk short roughly. Found some brazilians who were there enrolled in workshops; introduced me to them, stated that she “couldn’t take care of me as if I was a child, because she had her own work to do”, turned her back on me and left. I never saw her again! Very upset and I went for my backpack and left her trailer, deleting her of my own life as well. She had said she was on heavy medicine due to a chronic illness she had caught in Africa, but I could tell for sure her problem was a serious bipolarity.
Uma das brasileiras a que fui apresentada, Claudia, embora morasse por ali e alugasse quartos, sabendo que eu tinha muito pouco dinheiro, sugeriu que eu me instalasse no trailer da Helka, uma alemã que estava em férias. Não me custaria nada e parecia a única coisa a fazer. Ela foi fofa e me levou até o trailer, onde já havia outra hóspede, uma moça da Croácia. Estava matriculada no curso de Danças Sagradas Circulares e não saía do telefone – deve ter deixado uma conta enorme para Helka. O trailer era confortável, a não ser pela água fria que não soubemos aquecer. Provavelmente, teria de acender a lareira e esperar, mas não conseguimos e acabamos tomando banho gelado todos os dias.
One of the Brazilians I had just been introduced to, Claudia, lived around there and had rooms for rental in her home. But she knew I was short of money and was so kind as to take me to a caravan where I could stay for free. It belonged to a german woman called Helka who was out for holidays. It was the best I could do. In the caravan there was another guest, a girl from Croacia, enrolled in the workshop Circular Sacred Dances. She used to spend hours on the telephone, I guess she left Helka a very high phone bill. The caravan was comfortable except for the water in the bathroom we didn’t manage to heat. For sure we had to light the fireplace and wait a while, but none of us could do it. In the end, we resigned ourselves to endure everyday’s icy shower.
Abaixo o link para o site da Fundação Findhorn. Here goes the link to Findhorn Foundation website:
Fonte:https://stelacramer.wordpress.com/2012/08/23/mais-sobre-findhorn-more-about-the-foundation-post-040/
A Máquina Viva na Ecovila / Living Machine in the Ecovillage
Dia 9 de julho de 2005 trabalhei como voluntária na cozinha da Fundação. Como foi bom descascar ervilhas e cebolas, mexer com facas e panelas. Estava com saudade disso, e o trabalho também me valeu o delicioso almoço. No dia seguinte, eu teria de pagar para almoçar, por isso só entrei no salão de refeições para falar com os brasileiros no fim do horário de refeição. Reparei, no entanto, que não havia mais ninguém pegando os vales de quem entrava. Todos já estavam acabando de comer, sobrara bastante comida nas travessas e eu estava faminta. Fiz um prato, sentei e comi. Felizmente, ninguém estranhou, nem tampouco veio me cobrar .
2005, July the 9th I volunteered to work in the kitchen. It felt so good to peel onions and peas, handle knives and pots, I was missing cooking, and for the work I was given (delicious!) lunch. Next day I would have to pay for my meal, but I entered the common room almost at closing time, just to talk to the other brazilians. However, nobody was there collecting lunch vouchers anymore. People were quite finished and there was still plenty of food on the buffet. Starving, I fixed myself a plate, sat down, ate and fortunately no one appeared to make any fuss about it.
O grupo de brasileiros me mantinha informada sobre acontecimentos e atividades. Haveria um tour guiado pela Fundação incluindo a estação de tratamento ecológico de esgoto chamado Living Machine (Máquina Viva) cuja tecnologia me interessara conhecer. Me inscrevi e paguei as duas libras cobradas pela visita. Após percorrer diversas salas de atividades e meditação, inclusive o Santuário da Natureza, chegamos ao enorme galpão. A Máquina Viva reproduz em escala intensiva o processo de depuração que ocorre normalmente na natureza. Consiste numa sequência de tanques, onde desemboca o encanamento do esgoto. Em cada tanque há um ecossistema diferente composto por bactérias, algas, micro organismos, plantas, caracóis e peixes que se alimentam da sujeira,quebrando suas moléculas . A água que resulta desse processo, depois de passar por todos os tanques, está limpa (embora não potável) podendo ser devolvida ao mar ou reutilizada para regar plantas, lavar roupa e diversas outras finalidades. Não são utilizados produtos químicos e o custo é relativamente baixo. Sensacional!
The Brazilians were updating me on activities and events. That afternoon, a guided tour to the Foundation was scheduled and it included the Living Machine, an ecological water treatment station which technology had caught my interest. To join the group I paid a two pounds fee. After visiting the facilities, studios, and meditation rooms including the Nature Sanctuary, we got in the Living Machine. It was a massive greenhouse containing a series of tanks where sewage arrives through pipes. “Diverse communities of bacteria, algae, micro-organisms, numerous species of plants and trees, snails, and fish interact as whole ecologies in each one of these tanks and biofilters. These mirror processes that occur in the natural world, but do so more intensively. At the end of the series of tanks, the resulting water is pure enough to discharge directly into the sea or to be recycled. The technology is not only capable of meeting tough new sewage outflow standards, but uses no chemicals, and has a relatively inexpensive capital cost attached.” (quote from Findhorn Foundation Website)
Brilliant.
Brilliant.
Os brasileiros me disseram que, no dia seguinte, haveria um evento imperdível em Forres: os Highland Games, que celebram a tradição e cultura céltica. Acabei indo sozinha mais cedo pois as pessoas tinham aulas até as cinco horas. Embarquei na van que fazia transporte gratuito entre Cluny Hill e a Fundação, e não foi preciso andar muito para localizar o evento no parque próximo à Pedra das Bruxas.
My Brazilian friends were talking about the Highland Games which were taking place the next day in Forres, unmissable, for It’s an event celebrating Scottish and Celtic culture and heritage. Eventually I went alone, earlier, because people had classes until 5pm. I took the free shuttle to Cluny Hill and dropped off in the park in Forres, near the Witches Stone, where the Games were going on.
A área estava cercada para os jogos com uma lona em toda sua extensão e a entrada custava cinco libras, mas um pouco adiante havia um pedaço rasgado e algumas crianças brincavam de passar de um lado para o outro. Quando me aproximei, uma delas olhou bem para mim, fez um gesto me chamando e disse: Vem! Obedeci rapidamente, com satisfação.
The area was isolated by a tarpaulin all around it and the entrance fee costed 5 pounds. So I took a walk around it and found a place where the tarpaulin was torn and some kids were playing, running inside/ outside. When I approached them, a boy took a good look at me and said “Come!”, making a gesture for me to follow him, what I did at once, gladly.
Lá dentro havia pula-pula, tobogã e outros brinquedos infláveis, barraquinhas vendendo comida, bebida e objetos usados na tenda da Caridade. As provas da competição eram dignas de Asterix e Obelix, e os competidores pareciam mesmo os invencíveis gauleses. Infelizmente já tinha terminado a que eu mais queria ver, o “Caber Toss”, na qual os competidores tinham de sair correndo segurando um tronco gigantesco e arremessá-lo para o alto de tal forma que ao tocar o chão tivesse dado uma volta completa no ar. Achei uma foto na Wikipedia.
There was playground with inflatable toys, carts selling food, drink and a Charity Thrift Tent. The games were worthy of Asterix and Obelix, and the players definitely looked like the invincible Gauls. Unfortunately what I wished to watch the most was over: the Caber Toss. A long tapered pine pole or log is stood upright and hoisted by the competitor who balances it vertically holding the smaller end in his hands (see Wikipedia photo below). Then the competitor runs forward attempting to toss it in such a way that it turns end over end with the upper (larger) end striking the ground first.
Adorei a Escócia. Na volta, havia um grupo de velhinhas no ponto de ônibus. Perguntei qual deveria tomar para chegar à Fundação, mas nenhuma delas sabia. Porém me disseram para esperar. O ônibus delas parou, uma foi falar com o motorista, voltou com a informação, que me fez repetir para certificar-se que eu entendera e por fim embarcou. Agradeci muito, e quando o ônibus arrancou, todas as velhinhas estavam acenando pela janela, me dando tchau, todas sorridentes. Muito fofas! Quase chorei.
I was in love with Scotland. Later in the afternoon, in a bus stop, I asked a group of fluffy old ladies which number was the bus to the Foundation and none was quite sure, but they told me to wait a while, for their bus was approaching and when it came to a halt one of them talked to the driver and came back with the information. She bade me repeat it to be sure I had understood before boarding, what I did and thanked her gratefully. When the bus took off, all the ladies were at the windows waving me goodbye, smiling so sweet that tears came to my eyes.
À noite haveria um baile na Fundação, pelo qual todos esperavam ansiosamente. Um grupo grego chamado Xenos iria tocar. Fiquei pensando como entrar sem pagar as cinco libras do ingresso. Mas não havia ninguém por perto com autoridade para me liberar a entrada em troca de algum trabalho, então fui sondar o Universal Hall, onde iria ser a festa. Tinha uma entrada principal, uma nos fundos que dava para os camarins, e um corredor entre o palco e o salão. E lá, num canto, estava… uma vassoura! Peguei e comecei a varrer. Primeiro, toda a entrada e área em volta. Depois, a entrada dos fundos, por fim o corredor. Quando não restava uma folhinha sequer no chão, surgiu na minha frente um dos diretores, que olhou bem em volta e perguntou-me se eu tinha combinado com não sei quem de fazer a limpeza em troca do ingresso. Abri a boca meio sem saber o que dizer, mas ele não esperou pela resposta. Falou que a tal pessoa precisara se ausentar, mas que eu tinha feito um “excelente trabalho” e deveria entrar naquele momento, porque o espetáculo estava para começar. Guardei a vassoura e obedeci.
There was a ball in the Foundation that night, with live music played by a Greek band, Xenos, and people were so excited about it. I was wondering if there was some work I could do in exchange for the ticket. It costed 5 pounds and there was no one around who could help me, so I headed to Universal Hall, where the party was to take place. There was a main entrance, a back door to the dressing rooms and a corridor opening to the stage and to the ballroom. There, in a corner, leaning against the wall, was… a broom! I grabbed it and started sweeping the floor, first all around the main entrance, then all around the back door and when I was about to finish with the corridor, not a single leaf left on the floor, a door opened right in front of me and through it came one of the directors. He saw what I had done and asked if I had made an arrangement with a certain woman about it. I’d never actually seen her, and opened my mouth not sure about what to say, but he didn’t wait for my answer. He told me the lady had left earlier, but I had done an “excellent job” and should now go to the ballroom because the show was about to start. So I kept the broom and obeyed him.
No início, me animei. O grupo tocava música folclórica, meio cigana; saí dançando e as pessoas entraram no clima. Em minutos, todos estavam em transe rodopiando pelo salão, sorrindo e suando em bicas. Contudo, pouco depois comecei a achar a música repetitiva e, por fim, chata mesmo. Tinha uma moça tocando uma cornetinha que já estava me irritando. Em determinado momento, saí discretamente e fui dormir.
At first I was pretty high spirited. Xenos played folk music, kind of gipsy tunes, and when I started dancing people joined in the mood. In a little while they all looked like crazy whirling dervishes, smiling, sweat running down their hair, faces and bodies. Later, however, I realized the music was repetitive and a few minutes more, I was definitely fed up of that girl playing an irritating bugle, so I left the place unnoticed and went to bed.
Fiquei sabendo que haveria uma excursão à ilha de Iona, que confundi com Mona, esta no País de Gales, onde ficava a mais importante escola dos druidas, último a ser arrasado pelos romanos. Porém o ônibus estava cheio, não consegui lugar. Assim sendo, deixei um recado para Melissa no quadro de avisos da recepção agradecendo a força e voltei para Inverness. Antes, porém, consegui visitar e fotografar Eileen Caddy, uma das fundadoras de Findhorn, uma senhora fofa que aos 88 anos continuava escrevendo mensagens espirituais diárias ditadas pelas divindades. Pedi sua bênção antes de me despedir, e fiz isso em boa hora: ela veio a falecer no ano seguinte, dia 13 de dezembro de 2006.
I was told there would be a tour to Iona, which I mistook for Mona, this one in Wales, where the most important druid school had been, the last to stand against the Roman ravage. But the coach was full, there was not one single seat left for me. So I left Melissa a note in the wall at the reception, thanking her for having helped me and took the road back to Inverness. Before that, however, I had the chance to pay a visit and take a picture of Eileen Caddy, one of Findhorn’s founders, a sweet old lady that, at the age of 88, was still engaged in writing down daily spiritual messages under divine guidance. I was given a blessing before saying goodbye, and that came in good time, for she passed away the following year, in December 13, 2006.
Findhorn Foundation Website:
Fonte:https://stelacramer.wordpress.com/2012/09/06/adeus-a-findhorn-leaving-findhorn-post-042/
Comentários
Postar um comentário