“É a acusação que faz seu coração ficar fechado”: Sri Prem Baba e a renúncia aos jogos de acusação e comparação
Um pequeno trecho de um Satsang de Sri Prem Baba realizado em março na Índia sobre perdão e acusação
foi divulgado recentemente nas redes sociais e compartilhado pelo Dharmalog, mas há outros trechos
da mesma resposta que ele deu no evento em questão que dão mais contexto e
ampliam a compreensão do tema, que trago aqui para podermos andar mais um pouco
com ele. Diante de um praticante que se mostrou angustiado com a diferença de energia que havia sentido após um retiro de
silêncio, Sri Prem Baba explica que o retiro é um aprendizado
científico e um treinamento para vivermos no mundo, e que é preciso saber andar
sob o fio da navalha. Diz ele: “Isso aqui é uma escola e é muito importante que
você possa ir para o mundo colocar em prática aquilo que você aprendeu. Sempre
haverá um barulho lá fora (nesse momento, um motor foi acionado fora do salão)
a, quer seja o barulho de um motor; quer seja a serra elétrica ligada ou quer
seja a mente tumultuada de um grupo de pessoas”.
Sri Prem Baba é um mestre brasileiro da
linhagem indiana Sachcha, discípulo de Sri Hans Raj Maharaj ji e Sri Sathya Sai
Baba, criador de um método particular de ensinamentos chamado “Caminho do
Coração”, ligado ao Ioga. Seu site oficial possui vários registros de satsangs, instruções e cursos – sriprembaba.org.
Abaixo, alguns trechos selecionados da mesma resposta dada no
Satsang de março deste ano, na Índia. O trecho em negrito é o que havia sido
compartilhado anteriormente.
TRECHOS DO SATSANG DE 06.03.14 (Índia)
Por Sri Prem Baba
Por Sri Prem Baba
[1] “Para que possamos acolher tudo aquilo que não está nesta
frequência, devemos acolher o barulho e alquimizá-lo dentro de nós, ao invés de
criar mais separação; ao invés de criar mais isolamento. O nosso trabalho é
acolher. É trazer tudo para o coração. Tudo se dissolve no amor. Tudo se
dissolve no silêncio, porque o amor é silêncio.
(…)
[2] Então, se você já pode conquistar isso em algum grau, eu sinto
que é muito importante que você possa aprender a partilhar isso. Mesmo que às
vezes você caia. Essa queda é um sacrifício, e ao mesmo tempo, é também o seu
aprendizado. Significa que você não está ainda completamente imune; não está
completamente pronto porque você ainda se identifica. Se o outro te convida para
brigar, então você aceita e briga. Você vai estar realmente pronto, quando você
não aceitar mais o convite. Isso significa que a sua mente se tornou equânime,
porque o barulho lá fora não vai cessar. Se você espera que isso aconteça, você
está iludido. Isso é uma esperança mágica. Lá fora o mundo vai continuar te
convidando para a briga. A questão é se você aceita esse convite ou não. Assim
tudo o que acontece aqui nesta escola é justamente para te ensinar sobre o
caminho do coração, e para na prática poder te ajudar a entrar nesse espaço de
equanimidade mental.
(…)
[3] Lembre-se de que o que caracteriza a maturidade espiritual é
essa capacidade de se doar. Se você não está neste momento, ok. Também não vai
criar a máscara do bondoso, do generoso, do espiritual. Ok, então admita o seu
egoísmo. Eu não tenho nada para dar neste momento mesmo. Não quero dar nada
neste momento. É uma passagem também absolutamente natural. Mas saiba que você
está se movendo do egoísmo para o altruísmo. Você pode não estar ainda podendo
ser canal do altruísmo, mas em algum momento você poderá manifestar isso. Não se
cobre, não se culpe, mas saiba, não se engane.
Em algum momento essa capacidade de perdoar e de
amar precisa ser iluminada. Em algum momento você vai precisar renunciar o jogo
de acusações, porque é a acusação que faz seu coração ficar fechado. Se o
coração está fechado, vá investigar e você vai encontrar a acusação. Às vezes,
essa acusação está tão arraigada, você está tão viciado neste jogo que nem
percebe. Você faz mecanicamente. Se existe acusação, tem comparação. E a
comparação e o julgamento abrem as portas do inferno. Aí você acaba realmente
acordando sua natureza inferior. Então, você perde o silêncio, perde o amor que
foi conquistado.
Isso tudo você vai aprendendo na vida, à medida em que você se
permite se relacionar. Você não tem como fugir de relacionamentos, porque a vida
é relacionamento. Você se relaciona com outro ser humano, relaciona-se com os
objetos ou com seus próprios pensamentos, mas você vai sempre precisar se
relacionar com alguém ou com alguma coisa. Muitas vezes não importa com quem
você está se relacionando. Eu vi uma vez uma pessoa tropicando em um degrau da
escada e chutando a escada porque tinha tropicado, culpando o degrau porque
tinha derrubado-o. Então, não faz muita diferença. Quando a sua mente está
condicionada e viciada no jogo de acusações, você arruma briga até com o vento.
Arruma briga com a chuva.
(…)
[4] Todo o sofrimento neste mundo é o amor aprisionado no coração.
É simples assim. Essa é a síntese máxima de toda a história. Quanto maior o
sofrimento, maior é a obstinação. Tem alguém sentadinho na porta do coração
dizendo: ”Eu não dou, não dou, não dou”. “Ou é do meu jeito, ou então eu não
dou.” É simples assim. Que horror! Uau…
A questão é que esta obstinação sempre tem de um lado o medo e do
outro o orgulho, sempre de mãos dadas, escolhendo ficar isolado; escolhendo
ficar separado; escolhendo não partilhar o seu tesouro. Cada qual com suas
razões: porque foi magoado, porque está ressentido e aí cada um tem uma história
para contar. Mas você é essa história que você conta? É verdade mesmo que você
tem razões para manter o coração fechado? Dependendo do grau de identificação e
encantamento com essa história , você acredita que realmente tem razões para não
querer dar nada para ninguém. Pois é. Como a gente vê bem nos contos de fadas.
Quando o príncipe está encantado transformado em um sapo, ele é um sapo, não é?
Ele acredita que é um sapo. E então, aquele ser humano que está com o amor
trancado no coração, ele está sob o efeito desse encantamento, ele acredita ser
um sapo e está tendo um prazer imenso em comer moscas. (…)
O ser humano carrega dentro dele uma capacidade de perdoar
infinita; a capacidade de amar que é infinita. E você está aqui para acordar
essa capacidade. Tem momento em que vai ficar difícil mesmo, porque eu estou
querendo que você se lembre de que é o príncipe, que pode experimentar outros
sabores, mas você ainda está escolhendo a mosca. Às vezes, você lembra um pouco:
“Talvez eu seja mesmo um príncipe”. E você experimenta isso e depois volta. Há
umas oscilações até que você estabiliza. (…)”
Foto: Sri Prem Baba em Natal 2013 (Divulgação Facebook)
Fonte:http://dharmalog.com/2014/09/12/acusacao-coracao-fechado-sri-prem-baba-satsang/
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