O medo da rejeição incapacita milhões de pessoas. Ele faz com que
o amor não correspondido seja uma tragédia compreendida por todas as culturas.
Espiritualmente, você não pode ser rejeitado, a menos que rejeite a si mesmo.
Duvido que qualquer mensagem tenha sido tão mal interpretada quanto esta, pois,
quando outra pessoa o rejeita, a dor imposta é sentida, e você é a vítima.
Sendo assim, para esmiuçar o funcionamento da rejeição, precisamos olhar com
mais atenção toda a questão do julgamento. Esse não é um assunto novo, embora
não haja nada de novo a acrescentar. Todo julgamento se resume ao julgamento
contra si mesmo. O julgamento próprio assume várias formas, tais como medo do
fracasso, um senso de ser vitimado, falta de confiança etc. Na maior parte do
tempo há apenas uma vaga sensação de "Não sou bom o bastante", ou
"Não importa o que eu conseguir, na verdade, sou um fracasso".
Muitas pessoas deparam com uma falsa solução. Elas desenvolvem uma
imagem ideal, depois tentam fazer jus a essa imagem e convencer o mundo de que
aquilo é o que são. (Ressalte-se a lenda da cantada perfeita, que sempre dá
certo com mulheres solteiras num bar — fantasia desesperada pela qual só se
estabelece uma conexão através da imagem.) Uma autoimagem idealizada pode ser
tão convincente que você consiga convencer até a si mesmo. Quantos banqueiros,
em consequência da ganância temerária que quase arruinou a economia em
2008, continuaram a enxergar a si mesmos não apenas como inocentes, mas
superiores ao desastre que engatilharam?
Um self idealizado soa como um modelo de aceitação. Ouça o que ele
lhe diz: "Você está fazendo a coisa certa. Está no controle. Ninguém pode
feri-lo. Apenas continue da maneira como está agora".
Assim, protegido, você não pode fazer nada errado, e, se fizer,
suas más ações serão rapidamente encobertas e esquecidas. A beleza de ter uma
imagem ideal de si mesmo é sentir-se bem com quem você é. A imagem substitui a
realidade dolorosa.
Como seria de esperar, a essa altura a sombra tem algo a dizer
sobre o assunto. Em intervalos regulares, algum ícone da retidão, em geral
um pastor, um padre ou uma personalidade pública respeitável, se envolve em
algum escândalo. Não raro esses indivíduos cometem exatamente os mesmos pecados
dos quais acusam os outros, sendo a imoralidade o mais típico. Cinicamente, imaginamos
que sejam grandes hipócritas que vivem sob uma falsa ética pública para que
possam seguir seus vícios em particular.
Na realidade, os ícones decaídos são exemplos extremos de uma
autoimagem idealizada.
Seus poderes de negação são sobre-humanos. A sombra não pode
tocá-los. Então,
quando a sombra vem à tona, também surge um senso enorme de culpa
e vergonha.
Uma vez que caem, esses santos profissionais perdem-se em extremas
reparações públicas. Mesmo no remorso, nada parece real. No entanto, se houvessem
recuado ante o espetáculo, o drama todo poderia ter sido evitado.
Uma imagem pessoal idealizada não é uma solução viável. Apenas a
autoaceitação é; e, quando isso acontece, não há nada para os outros
rejeitarem. Não significa que você será amado universalmente.
Outra pessoa ainda pode se afastar, mas, caso aconteça, você não
se sentirá rejeitado. Isso não resultará em ferimento emocional. Como
saber quando se está caindo por um falso senso do self, que é a imagem
idealizada? Você terá atitudes como as seguintes:
• "Não sou como aquelas pessoas, sou melhor."
• "Nunca me desviei do caminho certo."
• "Deus se orgulha de mim."
• "Criminosos e malfeitores nem sequer são humanos."
• "Todos veem quanto sou bom. Mesmo assim, preciso
lembrá-los."
• "Se eu não tenho pensamentos ruins, por que os outros têm ?"
• "Já sei quem sou e o que preciso fazer. Não tenho
conflitos."
• "Sou um exemplo a ser seguido."
• "A virtude não é a própria recompensa. Quero que minhas
boas ações sejam reconhecidas."
Demolir a imagem ideal de si mesmo é um desafio, porque ela é uma
defesa bem mais sutil que uma simples negação. A negação é cegueira; a
autoimagem idealizada é pura sedução. A saída é passar por todas as imagens.
Não há necessidade de defender quem você realmente é. Seu verdadeiros/fé
aceitável, não porque você é tão bom, mas porque você é completo. Todas as
coisas humanas lhe pertencem.
A aliada mais importante que você tem é a consciência. O
julgamento é constritivo. Quando você rotula a si mesmo, ou a qualquer pessoa,
como ruim, errado, inferior, indigno etc., está olhando por uma lente limitada.
Amplie sua visão e ficará ciente de que todos, por mais falhos, são completos e
plenos no nível mais profundo. Quanto mais consciente você for, mais aceitará a
si mesmo. Mas não se trata de uma solução instantânea. Você precisa dedicar um
tempo para olhar todos os sentimentos que negou, reprimiu e disfarçou.
Felizmente, esses sentimentos são temporários; você pode ir além deles. Não há
nada a rejeitar, apenas muita coisa a rever. É nesse sentido que figuras como
Jesus ou Buda puderam ter compaixão por qualquer um. Vendo a plenitude por trás
do jogo de luz e escuridão, eles não achavam nada a culpar. O mesmo se faz
verdadeiro para o caminho espiritual que você segue. Conforme se enxergar de
modo mais completo, terá compaixão por suas falhas, o que o conduzirá à
autoaceitação completa.
Extraido do l ivro O EFEITO SOMBRA, de Deepak Chopra.
Fonte:http://padmashanti.blogspot.com.br/
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