USO DE ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO DA CIÊNCIA : RISCOS PARA A SOCIEDADE DESINFORMADA DOS PROCEDIMENTOS DE QUE DEPENDE
Uso de animais de experimentação pela ciênciaRiscos para a sociedade desinformada dos procedimentos de que depende |
O maior desafio da popularização da ciência é explicar para o maior número possível de pessoas como funciona o processo científico que produz novos conhecimentos acerca do mundo real, incluindo os conhecimentos biológicos e clínicos que não apenas melhoram a qualidade de vida, como muitas vezes representam a diferença entre a vida e a morte. Em nenhuma outra área, compreender isso é tão vital como no debate público da justificação do uso de animais na ciência, especialmente após o saqueio do Instituto Royal em outubro passado, evento cercado de mal-entendidos que a mídia não ajudou a esclarecer.
Há muita desinformação neste tema e alguns setores dos movimentos de defesa dos animais pioram a situação exagerando relatos e distorcendo fatos. Apesar do crescimento da pesquisa, a quantidade de animais utilizados vem diminuindo devido aos esforços em substituir, reduzir números e refinar procedimentos, base das chamadas políticas de bem-estar animal, implementadas por lei em todo mundo, inclusive no Brasil. Há comitês de ética monitorando o uso, e os movimentos têm assento neles. A maior parte desses animais não sofre desconforto ou dor e, quando isso ocorre, é obrigatório o uso de medicamentos para atenuá-los. Ao contrário do que se pensa, há maior bem estar animal no ambiente científico que entre os animais criados para outros fins, como animais de corte ou mesmo de estimação (como aqueles confinados a apartamentos), práticas para as quais existem alternativas reais, mas não são nem questionadas nem alvo de ações organizadas.
Apesar dos enormes avanços da medicina atual ainda estamos longe de saber tudo, e ainda existem doenças que não compreendemos a ponto de poder debelá-las. A garantia de que esses benefícios da ciência estejam igualmente disponíveis a todas as pessoas, é outro importante problema a ser resolvido: mas o certo é que, se não se obtiver o conhecimento, não haverá o que distribuir.
Para dispor de medicamentos ou procedimentos clínicos seguros e eficazes deve haver uma série de estudos prévios. Descobrir uma substância que atua inibindo determinada doença, por exemplo, controlando um câncer in vitro, não garante que ela possa ser utilizada de forma segura em um organismo integral. O corpo humano é uma complexa rede de processos bioquímicos e fisiológicos, envolvendo vários órgãos com diferentes papéis, e uma substância “boa” aqui, pode ser “ruim” ali: um suposto agente anticâncer pode ser tóxico ao fígado ─ o que muitas vezes é letal ─ e acabará descartado. Mas será necessário permitir a morte de uma pessoa, que poderia tentar outro tratamento possível, apenas para descobrir se o mesmo é seguro ou não?
Testes de segurança contra efeitos colaterais como toxicidade, teratogênese, mutagênese ou carcinogênese sempre precedem o exame da substância em si, e geralmente são feitos em animais, até por que a validação estatística exige estudar grande número de casos. O sacrifício humano, portanto, não resolveria a questão, e muita gente morreria à toa se não pudéssemos testar antes em animais. Felizmente essa possibilidade foi banida após os horrores perpetrados por “cientistas” nazistas durante a segunda guerra, resultando no chamado Código de Nuremberg, fundamento de toda pesquisa científica atual com humanos. Esta pode e deve ser feita, mas apenas com o consentimento informado de voluntários, e somente em etapas posteriores do estudo, quando há menos risco de danos irreversíveis.
No estágio atual do desenvolvimento científico, não existem alternativas capazes de substituir o uso de animais, embora a busca continue. Cultura de células, por exemplo, além de extraídas de seres vivos, não permitem prever o que acontecerá com determinado fármaco ou procedimento quando aplicado em um animal inteiro, com fígado e rins que os processem e modifiquem. Modelos em computador incorporam apenas conhecimentos já estabelecidos, e o objetivo da pesquisa científica é acessar o que ainda é desconhecido.
Por Jorge Quillfeldt é neurocientista e divulgador da ciência. Licenciado em física, mestre em bioquímica e doutor em fisiologia, é professor titular do Departamento de Biofísica, IB/ UFRGS. Coordena a mais antiga disciplina de exobiologia existente em uma universidade federal no Brasil.
Há muita desinformação neste tema e alguns setores dos movimentos de defesa dos animais pioram a situação exagerando relatos e distorcendo fatos. Apesar do crescimento da pesquisa, a quantidade de animais utilizados vem diminuindo devido aos esforços em substituir, reduzir números e refinar procedimentos, base das chamadas políticas de bem-estar animal, implementadas por lei em todo mundo, inclusive no Brasil. Há comitês de ética monitorando o uso, e os movimentos têm assento neles. A maior parte desses animais não sofre desconforto ou dor e, quando isso ocorre, é obrigatório o uso de medicamentos para atenuá-los. Ao contrário do que se pensa, há maior bem estar animal no ambiente científico que entre os animais criados para outros fins, como animais de corte ou mesmo de estimação (como aqueles confinados a apartamentos), práticas para as quais existem alternativas reais, mas não são nem questionadas nem alvo de ações organizadas.
Apesar dos enormes avanços da medicina atual ainda estamos longe de saber tudo, e ainda existem doenças que não compreendemos a ponto de poder debelá-las. A garantia de que esses benefícios da ciência estejam igualmente disponíveis a todas as pessoas, é outro importante problema a ser resolvido: mas o certo é que, se não se obtiver o conhecimento, não haverá o que distribuir.
Para dispor de medicamentos ou procedimentos clínicos seguros e eficazes deve haver uma série de estudos prévios. Descobrir uma substância que atua inibindo determinada doença, por exemplo, controlando um câncer in vitro, não garante que ela possa ser utilizada de forma segura em um organismo integral. O corpo humano é uma complexa rede de processos bioquímicos e fisiológicos, envolvendo vários órgãos com diferentes papéis, e uma substância “boa” aqui, pode ser “ruim” ali: um suposto agente anticâncer pode ser tóxico ao fígado ─ o que muitas vezes é letal ─ e acabará descartado. Mas será necessário permitir a morte de uma pessoa, que poderia tentar outro tratamento possível, apenas para descobrir se o mesmo é seguro ou não?
Testes de segurança contra efeitos colaterais como toxicidade, teratogênese, mutagênese ou carcinogênese sempre precedem o exame da substância em si, e geralmente são feitos em animais, até por que a validação estatística exige estudar grande número de casos. O sacrifício humano, portanto, não resolveria a questão, e muita gente morreria à toa se não pudéssemos testar antes em animais. Felizmente essa possibilidade foi banida após os horrores perpetrados por “cientistas” nazistas durante a segunda guerra, resultando no chamado Código de Nuremberg, fundamento de toda pesquisa científica atual com humanos. Esta pode e deve ser feita, mas apenas com o consentimento informado de voluntários, e somente em etapas posteriores do estudo, quando há menos risco de danos irreversíveis.
No estágio atual do desenvolvimento científico, não existem alternativas capazes de substituir o uso de animais, embora a busca continue. Cultura de células, por exemplo, além de extraídas de seres vivos, não permitem prever o que acontecerá com determinado fármaco ou procedimento quando aplicado em um animal inteiro, com fígado e rins que os processem e modifiquem. Modelos em computador incorporam apenas conhecimentos já estabelecidos, e o objetivo da pesquisa científica é acessar o que ainda é desconhecido.
Por Jorge Quillfeldt é neurocientista e divulgador da ciência. Licenciado em física, mestre em bioquímica e doutor em fisiologia, é professor titular do Departamento de Biofísica, IB/ UFRGS. Coordena a mais antiga disciplina de exobiologia existente em uma universidade federal no Brasil.
Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/uso_de_animais_de_experimentacao_pela_ciencia.html
Argumentos a favor e contra o uso de animais em
pesquisas científicas
Nesta sexta-feira (19), ativistas invadiram um laboratório de pesquisas
científicas e levaram 178 cães da raça beagle, além de sete coelhos por conta
de supostos maus-tratos (leia reportagem). O
G1 ouviu cientistas e resumiu abaixo os principais argumentos usados no debate
sobre o uso de animais em experimentos científicos.
Uso de animais
em testes
Contra
A favor
• Testes em laboratórios causam
sofrimento, ferimentos e transtornos psicológicos nos animais. Há uma corrente
de neurocientistas que sugere que animais não humanos, incluindo todos os
mamíferos, aves, além dos polvos, possuem substratos neurológicos que geram a
consciência e comportamentos intencionais, ou seja, eles sentem dor
• Os testes com animais são
submetidos a comitês de ética. A principal ênfase é não causar sofrimento ou
dor. O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) cria
normas que protegem o bem-estar desses animais. O fim do uso de animais em
testes no Brasil tornaria a ciência brasileira dependente da tecnologia externa
Animais em
benefício dos homens
Contra
A favor
• É justo os animais sofrerem com os
testes para a obtenção de medicamentos e produtos que beneficiarão o homem?
Isso não é uma forma de exploração?
• Os testes com animais beneficiam
também os próprios animais, pois são usados no desenvolvimento de rações,
vacinas e medicamentos veterinários
Resultados em
animais x resultados em humanos
Contra
A favor
• Nem sempre os resultados obtidos em
animais são os mesmos obtidos posteriormente em humanos. Sendo assim, não seria
melhor testar os produtos diretamente nos humanos?
• Antes de testar o produto em
humanos, é importante testá-los em animais para evitar que voluntários humanos
sejam submetidos a substâncias potencialmente perigosas
Métodos
alternativos
Contra
A favor
• Há alternativas capazes de
substituir o uso de animais em testes como a aplicação de modelos matemáticos e
computacionais, técnicas in-vitro com tecidos de seres humanos ou animais
• Ainda não há como substituir o
animal em todos os testes. Sempre que existir um método alternativo com
eficácia comprovada, ele deve ser substituído. A ciência tem o objetivo de
reduzir e até abolir o uso de animais
FONTES
Marcelo Morales – Coord. Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (MCTI)
Denise Fantoni – Pres. do Comitê de ética em experimentação da Faculdade de Medicina Veterinária da USP
Ekaterina Rivera – Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência de animais de laboratório
Michael Conn – Diretor de pesquisa da Universidade de Saúde e Ciência do estado de Oregon (EUA), autor do livro "The Animal Research War"
Philip Low – Pesquisador da Universidade Stanford e do MIT, ambas dos EUA
Texto – "Alternativas para animais de laboratório: do animal ao computador", de Octavio Presgrave (Fiocruz)
Denise Fantoni – Pres. do Comitê de ética em experimentação da Faculdade de Medicina Veterinária da USP
Ekaterina Rivera – Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência de animais de laboratório
Michael Conn – Diretor de pesquisa da Universidade de Saúde e Ciência do estado de Oregon (EUA), autor do livro "The Animal Research War"
Philip Low – Pesquisador da Universidade Stanford e do MIT, ambas dos EUA
Texto – "Alternativas para animais de laboratório: do animal ao computador", de Octavio Presgrave (Fiocruz)
CRÉDITOS
Edição: Dennis Barbosa (Conteúdo) e Leo Aragão (Arte)
Infografia: Daniel Roda, Dalton Soares e Elvis Martuchelli
Desenvolvimento: Thiago Bittencourt
Reportagem: Eduardo Carvalho e Mariana Lenharo
Infografia: Daniel Roda, Dalton Soares e Elvis Martuchelli
Desenvolvimento: Thiago Bittencourt
Reportagem: Eduardo Carvalho e Mariana Lenharo
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/debate-pesquisa-animais/platb/
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