A História de Jerusalém
Mahdi Abdul Hagi
Mahdi Abdul Hagi é Doutor em História e
Ciências Políticas e autor de vários estudos sobre a Palestina. Vive em
Jerusalém e fundou o Fórum do Pensamento Árabe em 1977. Foi Secretário Geral do
Conselho para Educação Superior na Cisjordânia. Atualmente, é presidente da
Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo dos Negócios
Estrangeiros.
Jerusalém, al-Quds al-Sharif (a nobre cidade santa) tem uma longa
e rica história acentuada por seu significado religioso, simbólico e
estratégico. Ela permanece como testemunha da vida e das culturas dos numerosos
povos que ali reinaram. A longa historia, sua importância central e o imaginário
espiritual da cidade deram origem a uma vasta literatura sobre o passado de
Jerusalém. E graças à emoção que a cidade suscita, poucos autores foram capazes
de resistir a colorir seus trabalhos com análises seletivas visando mostrar que
grupos de pessoas tem mais direito sobre a cidade. O resultado é que agora se
pode achar diversas fontes de apoio a qualquer argumento, e que há pouco
consenso acerca dos longos períodos da história da cidade. Na verdade há,
provavelmente, poucos assuntos que tenham gerado tantas pesquisas e análises
mutuamente contraditórias. Portanto, uma revisão geral da História de Jerusalém
não deveria se deter sobre detalhes mas, ao contrário, tentaria detectar as
linhas gerais que se combinam para formar o legado de Jerusalém. A diversidade e
a santidade da cidade, bem como o seu potencial como um centro de convergência
de diversas civilizações e intelectuais, são a grandeza de Jerusalém. É este
legado que nós, que lidamos com Jerusalém presentemente, devemos lutar para
proteger.
A terra, o seu povo e a sua história
Há mais de 5.000 anos, depois de um período de seca que assolou a
Península Arábica, os cananeus, tribos dos árabes semitas, vieram se estabelecer
nos territórios a leste do Mar Mediterrâneo que formam hoje, a Síria, o Líbano,
a Jordânia e a Palestina. Os Jebusitas, um subgrupo cananeu, fundaram Jebus
(Jerusalém) no lugar onde hoje está localizada e edificaram o primeiro muro ao
seu redor, dotado de 30 torres e sete portões. Aproximadamente 2.000 anos mais
tarde, os filisteus, vindos de Creta, chegaram na terra de Canaã. Misturaram-se
com as tribos cananéias e viveram na área sudoeste da moderna Palestina, sobre a
costa do Mar Mediterrâneo na área que agora se estende na Faixa de Gaza até
Ashdod e Ashkelon. Os cananeus deram aos territórios que eles habitaram o nome
bíblico de "A Terra de Canaã", enquanto os filisteus deram-lhe o nome de
Filistina (Philistina) ou, Palestina.
Os cananeus descobriram que estavam numa localização estratégica e
cercada por poderosos impérios originários do Egito a sudoeste, através do Mar
Mediterrâneo a oeste, e Mesopotâmia e Ásia a nordeste. Mais de um milênio antes
do nascimento de Cristo, egípcios, assírios, babilônios, persas, mongóis, gregos
e romanos cresceram ao redor da terra dos cananeus e filisteus e a governaram
por variados períodos de tempo. A posição geográfica da área significava que ela
servia tanto como uma ponte entre os vários impérios regionais, como uma arena
para lutas e conflitos entre eles. Em conseqüência, os cananeus nunca puderam
estabelecer um estado forte e unificado, e suas organizações políticas tomaram a
forma de cidades independentes dotadas de governos ligados por relações
federativas. Entre as cidades costeiras mais proeminentes dos filisteus,
cananeus e fenícios que habitaram a área da atual Palestina estavam Beirute
(Bairtuyus) Sidon, Tiro, Acre, Ashkelon e Gaza. As cidades cananéias do interior
incluíam Jericó, Nablus (Shikim) e Jerusalém (Jebus). A religião dessas
primeiras civilizações da Palestina era centrada na natureza: o céu era o Deus
Pai e a terra era a Mãe Terra. Esses povos semitas de Canaã formaram a base do
tronco do qual descendem os palestinos de hoje.
Em termos de geografia, demografia, sociedade, economia e vida
cultural, Jerusalém tem sido o centro da Palestina e o grande ponto de encontro
de importantes corredores leste-oeste, norte-sul. De fato, desde os tempos das
civilizações mais primitivas da Palestina, Jerusalém tem sido a parte mais
importante e inseparável da Palestina. Assim, quem quer que controle Jerusalém
fica numa posição de dominação sobre a Palestina. Nela localiza-se a raiz da
turbulenta e conflituosa história da cidade de Jerusalém.
Por volta do século XVIII a.C., Abraão veio de Ur, no sul da
Mesopotâmia, para a terra de Canaã. Ele se estabeleceu nas cercanias do Vale do
Jordão. Visto que nem o velho e nem o Novo Testamento não haviam sido revelados
durante sua vida, Abraão não era nem judeu nem cristão, mas um crente na
unicidade de Deus. Ele é descrito no Gênese como tendo adorado "o mais alto
Deus". O Corão menciona que ele era um "muçulmano", não na acepção moderna de
alguém que segue as leis reveladas no Corão, mas sim no sentido de Ter entregue
"sua submissão à vontade de Deus". Assim, cristãos, muçulmanos e judeus ainda
rogam por ele em todas as suas preces, como acreditam que Deus lhes exortou a
fazerem. Agar, a concubina de Abraão, lhe gerou seu filho Ismael, de quem os
atuais muçulmanos traçam sua descendência; entrementes, sua mulher Sara
gerou-lhe o filho Isaac, do qual os atuais judeus traçam sua linhagem. Abraão se
mudou para um lugar perto de Hebron (al-Khalil), onde viveu pregando o
monoteísmo. Quando morreu, Ismael e Isaac sepultaram-no na mesma cova onde sua
mulher Sara foi sepultada. Seu filho Isaac gerou Jacó (Israel) que viveu na
região de Harran (Aram).
Por volta de 1.300 a.C., os doze filhos de Jacó (Israel) partiram
para o Egito. Eles se integraram aos egípcios e José, o mais jovem dos filhos de
Jacó, casou com a filha do sumo sacerdote. Originalmente um pequeno grupo de
pessoas, eles se multiplicara, e ganharam força durante várias centenas de anos
no Egito, tornando-se os israelitas. Foi no Egito que Moisés, o fundador do
judaísmo e o mais eminente legislador e também profeta para as três religiões
reveladas, nasceu e estudou filosofia egípcia, tornando-se letrado em todas as
ciências dos egípcios. Moisés, juntamente com seu povo (B'nei Israel) deixaram o
Egito por volta do século XIII a.C.. Vagaram durante quarenta anos no Sinai, e
durante esse tempo ele recebeu a lei divina judaica no monte Sinai (Tur).
Após a morte de Moisés, Josué assumiu a liderança dos israelitas e
os conduziu para o oeste pelo rio Jordão até Canaã. A primeira cidade cananéia
que Josué conquistou foi Jericó, destruindo-a juntamente com seus habitantes.
Depois, ele assumiu o controle de Yashuu (Bayt Ele) Likhish e Hebron, embora os
filisteus tenham bloqueado o avanço do povo de Moisés rumo à costa, na área
entre Gaza e Jafa, enquanto os cananeus impediram-nos de conquistar Jerusalém.
Quando chegaram a Canaã, foram influenciados pelos cananeus e imitaram seus
ritos religiosos, especialmente na apresentação de ofertas sacrificiais ao Deus
Baal.
Nos cento e cinqüenta anos seguintes, os israelitas, filisteus e
cananeus controlaram, alternadamente, porções da área da moderna Palestina, com
os cananeus (jabusitas) controlando Jerusalém. Mas nenhum grupo foi capaz de
consolidar o controle sobre toda a área. Houve numerosas lutas entre grupos,
sendo que cada um mantinha sua própria cultura e sua própria independência.
Por volta de 1.000 a.C., o rei dos israelitas, Davi, pôde subjugar
os pequenos estados de Edom, Moab e Amon. Durante sete anos ele fez de Hebron
sua capital, mas depois transferiu o centro do poder para Jerusalém pelos
últimos trinta e cinco anos de seu reinado. Depois dele, o poder passou para o
seu filho Salomão, que é famoso por ter erguido o lugar de adoração conhecido
como o Templo de Salomão. Para os judeus, esse templo tornou-se o centro da vida
religiosa e o símbolo básico de sua unidade. Tornou-se ainda um ponto de
peregrinação emocional para o povo judeu.
Com a morte de Salomão, seu reino foi dividido em dois: o Reino de
Israel, ao norte, composto por dez tribos, com Samaria (Sabastia) como sua
capital, e o Reino da Judéia, ao sul, composto por duas tribos, com Jerusalém
como sua capital. Lutas crônicas entre os dois estados e batalhas colocando-os
contra os cananeus e os filisteus, caracterizaram esse período da história do
Oriente Próximo.
Por volta de 720 a.C. os assírios, sob o rei Sargão, destruíram o
reino israelita ao norte. Em 800 a.C. os babilônios, sob o comando de
Nabucodonozor, conquistaram o reino israelita a sudeste, destruindo o templo de
Salomão em aproximadamente 586 a.C.. Em ambos os casos, a maioria da população
foi levada para a Assíria e a Babilônia, na Mesopotâmia, como escravos. Quanto a
Jerusalém, tornou-se colônia babilônica.
Por volta de 838 a.C., Ciro, rei dos persas, foi capaz de
conquistar o império babilônico (Mesopotâmia) e prosseguiu em suas conquistas
até que ocupou a Síria e depois a Palestina, incluindo Jerusalém, permitindo que
os escravos de Nabucodonozor retornassem à Palestina, e o Segundo Templo foi
concluído em 515 a.C.
Quando o império grego floresceu (eles ainda governaram Jerusalém
durante sete anos) a Palestina caiu sob o domínio do Egito (322-200 a.C.) e
depois por um certo período sob o governo dos selêucidas da Síria de 200 a 142
a.C.. Nesse ano, o rei Antióquio IV, que tinha danificado o Templo de Salomão
forçou os judeus a renunciarem ao judaísmo e a abraçarem o paganismo grego. Por
volta de 63 a.C., depois que os romanos subjugaram os seldjúcidas na Síria, o
general romano Pompeu assumiu o controle sobre Jerusalém. Com a ajuda dos
romanos, Herodes se tornou rei da Judéia no ano 80 a.C. e seu reinado durou até
à sua morte no ano 4 A.D. Durante esse tempo, o Templo de Salomão foi
reconstruído em Jerusalém e houve a perseguição, o processo de crucificação de
Jesus Cristo, depois do que, sobreveio a propagação da fé cristã.
Na era de Tito, cerca de 70 A.D., os romanos infligiram aos judeus
uma derrota devastadora. Tomaram Jerusalém e queimaram o templo judeu de uma vez
por todas. Sob Adriano, várias décadas depois, os remanescentes finais da
população judaica foram subjugados e expulsos da Palestina.
Os romanos ergueram uma nova cidade sobre as ruínas de Jerusalém,
a qual eles denominaram de Aelia Capitolina, com referência ao imperador
Aelius Adrianus. Cerca de 395 A.D., Jerusalém tornou-se uma cidade bizantina e
cristã. Mas embora a Palestina e seus habitantes se tornassem uma parte do
império bizantino política e religiosamente, a vida e a cultura dos cananeus
locais permaneceram voltadas para Jerusalém.
Após um breve período de controle pela Pérsia, no começo do século
VII A.D. a Palestina e o resto da Síria saíram do jugo dos romanos e caíram na
esfera do império árabe-islâmico. Jerusalém tornou-se a primeira direção das
preces dos muçulmanos (qibla) – "o primeiro dos dois qiblas" – e a
Palestina "os recintos que Deus abençoou".
Em 638 A.D., o segundo califa, Omar ibn al-Khattab, chegou a
Jerusalém. É importante notar que aproximadamente por mil e trezentos anos,
desde a chegada da civilização árabe-muçulmana à Palestina, até ao século em
curso, Jerusalém permaneceu árabe, do ponto de vista da língua, da cultura e da
demografia.
Omar acreditava que Alá ordenara respeito à
santidade da cidade de Jerusalém e o respeito por Ahl al-Kitab (O povo do
livro). De acordo com o Islã, a liberdade de culto a Ahl al-Kitab em Jerusalém é
uma dádiva de Deus e, por isso, não pode ser subtraída por mãos humanas. Assim,
Omar não tomou a cidade pela força, mas pelo contrário, instituiu a Convenção de
Omar, um acordo que determinava o controle muçulmano sobre a cidade mas
reconhecia o direito inalienável à liberdade de expressão para judeus e cristãos
em Jerusalém.
Omar confiou a duas famílias árabes muçulmanas
em Jerusalém as chaves da Igreja do Santo Sepulcro. Ele agiu assim a fim de
mandar uma mensagem aos muçulmanos de que a igreja era um templo sagrado que não
deveria ser danificado, desrespeitado ou violado de nenhum modo, e como uma
resolução para rixas entre várias seitas cristãs sobre quem deveria controlar a
igreja. Das famílias árabes residentes na cidade, algumas se converteram ao islã
imediatamente, enquanto outras mantém até hoje sua fé cristã. Entre essas
famílias árabes cristãs e muçulmanas da velha Jerusalém estão os Khalidis, os
Alamis, os Nuseibehs, os Judahs, os Nassars e os Haddads.
A lei muçulmana vigorou em Jerusalém e na Palestina desde o século
VII A.D. até ao começo do século XX, excetuando o período das Cruzadas. Os
cruzados capturaram a cidade em 1099 A.D., viram-na libertada pelos aiúbidas sob
Saladino em 1187 A.D., e depois recapturaram-na em 1229 A.D. Cerca de 15 anos
mais tarde, os muçulmanos outra vez ali restabeleceram seu governo, e a cidade
não saiu mais do seu controle até a ocupação britânica na I Guerra Mundial, em
1917.
As dinastias islâmicas, como os omíadas, abássidas, fatimidas,
seldjúcidas, aiúbidas, mamelucos, otomanos e hashimitas, respeitaram o status
qüo instituído na Convenção de Omar ibn al-Khattab. Todos eles participaram
da reconstrução de Jerusalém, preservando a santidade de sua herança e
desenvolvendo seu legado islâmico e árabe. Essas dinastias se esforçaram para
reconstruir as mesquitas da Abóbada da Rocha e de al-Aqsa, referenciadas no
primeiro verso da Sura XVII do Qur'na. Finalmente, os governantes árabes estavam
ansiosos para dar a Jerusalém um status especial; o primeiro califa
omíada, Muaawiyah uniu sua identidade pessoal com Jerusalém, denominando-se o
califa de Bait al-Maqdis. O califa Abd al-Malik ergueu, em 691, a magnífica
abóbada (Qubbat al-Sakhra) sobre a Rocha Santa de onde Maomé ascendeu para falar
com Alá e onde Abraão quase sacrificou Ismael. Também ergueu a Mesquita de
al-Aqsa na parte sudeste da área de al-Haram, al-Sharif, para substituir a
construção em madeira da velha mesquita. Estas duas última mesquitas foram
restauradas e embelezadas pelos governantes árabes subseqüentes, mais
recentemente pelo rei Fahd, da Arábia Saudita, e o rei Hussein, da Jordânia.
A história moderna de Jerusalém: a
judaização
A onda de nacionalismo que varreu a Europa no século XIX chamou a
atenção dos judeus e resultou no surgimento do movimento sionista na Europa.
A judaização de Jerusalém e da Palestina tem sido o tema principal
do pensamento, da política e das práticas judaicos e sionistas desde a origem do
sionismo até ao presente. O tema judaização pode ser tomado como referência aos
programas ou processos para deslocar judeus para áreas predominantemente
habitadas por palestinos. Isto foi realizado num processo em duas etapas:
primeiro, imigrantes judeus chegam à Palestina; depois são integrados em
colônias especiais. Entretanto, tal política não pode ter êxito sem um programa
de despalestinização. O movimento sionista tentou
realizar isso primeiramente por meio (a) de um controle sobre a terra, o
trabalho, os recursos naturais, o governo e a soberania palestinos, e (b) a
desenraização e expulsão dos palestinos da Palestina.
Os conceitos israelitas, sionistas e judaicos com relação a
Jerusalém e à Palestina, bem como suas políticas e práticas se centraram nessas
idéias, e as implementaram em várias etapa:
-
Como um parceiro ativo nos esquemas europeus de manipulação do mundo árabe;
-
Como um elo, sob o Sistema de Capitulações, entre a Europa e seus interesses no mundo árabe;
-
Como um movimento político na tradição dos movimentos colonialistas;
-
Como um movimento político alinhado com os regimes coloniais tradicionais;
-
Como a manifestação de um poder que rivaliza e serve como um sucedâneo para as potências imperialistas.
Um breve olhar sobre acontecimentos dos últimos séculos ilustrará
essas afirmativas.
A manipulação européia
Durante centenas de anos na Espanha e em Portugal, os judeus
prosperaram e formaram uma ponte cultural entre o islã e a cristandade. E
enquanto a civilização árabe-islâmica dominou o Oriente Médio naquele tempo,
Jerusalém e a Palestina eram, amiúde, a encruzilhada e o lugar de encontro de
peregrinos religiosos e intelectuais das três grandes religiões monoteístas.
Mas o surgimento do colonialismo como força motriz na política
internacional durante o século XVII afetou os interesses e as posições dos
judeus. Personalidades judaicas influentes cooperaram com os esquemas
imperialistas no mundo árabe das potências européias onde viviam. Foi isso
exatamente o que aconteceu, por exemplo, durante a campanha de Napoleão contra o
oriente árabe em 1798, quando Napoleão pediu aos judeus para ajudá-lo nas
conquistas, em troca de retorno deles Jerusalém e da reconstrução do Templo de
Salomão. Os judeus o apoiaram e entusiasticamente secundaram sua campanha,
embora quando ele fracassou em sua tentativa de reconquista da Palestina e
marchou em retirada de Acre, eles o tenham acompanhado, permanecendo árabe a
Palestina.
O sistema de Capitulações
No fim do século XVIII, o aumento do interesse dos europeus no
Oriente Próximo e o correspondente declínio do império otomano levaram ao
Sistema de Capitulações, no qual as potências européias puderam obter
privilégios e pontos de apoio no Oriente Médio em troca de propinas e favores ao
sultão. Através da proteção e orientação de consulados estrangeiros (britânicos,
franceses, austríacos e russos) grande número de judeus e instituições judaicas
(Moisés Montefiori, a família Rotschild, a Allince Française) puderam construir
assentamentos judeus fora dos muros de Jerusalém. Esses assentamentos se
tornaram, mais tarde, o embrião da parte judaica da cidade. Incluíam o
Assentamento Montefiori, construído em 1859 a oeste do Portão de Jafa; Mishkanot
Shaananim, construído em 1860 em frente ao Portão de Jafa; e Nahlat Shivva,
também de 1860, na estrada de Jafa. Entre os anos 1875 e 1878 surgiram Mea
She'arim e Ivan Israel. Em 1882 a comunidade judaica (Yishuv) na Palestina
residiu em quatro áreas urbanas, quais sejam, Jerusalém, Hebron, Tibérias e
Safa, e constituía seis por cento da população palestina. Ela estava reunida
dentro de seis colônias cuja área total era de 25.000 dunums (um dunum =
0.618 acres). A população judaica era composta basicamente de imigrantes russos
e romenos que chegaram depois dos eventos de 1881-82 na Rússia.
Um dos colonos judeus expressou a natureza do pensamento judeu
durante esse período, dizendo: "a meta final é realmente obter o controle da
Palestina e devolver ao povo judeu a independência política da qual está privado
há 2.000 anos".
Continuando a trabalhar sob orientação e proteção estrangeiras, e
inspirado em projetos comerciais e financeiros europeus, Theodor Herzl
(1860-1904) em seu opúsculo O Estado Judeu (1896) defendeu um movimento
político copiando os movimentos colonialistas europeus. Herzl queria que o
movimento sionista fosse um novo modelo para os movimentos colonialistas, e ele
o descreveu como sendo "uma parte da trincheira européia contra a Ásia, um
posto avançado da civilização contra a barbárie". Ele descreveu seu plano e
os meios que precisaria empregar para colonizar a Palestina com estas
palavras:
"Que nos seja dada soberania sobre um pedaço de terra... e
cuidaremos do resto... o plano é simples em sua forma, embora complicado em sua
execução... duas organizações ficarão com o controle da execução do plano: a
Sociedade Judaica e a Companhia Judaica."
Em seu diário, Herzl registrou a necessidade de se expropriar
terra na Palestina e "encorajar" a população ao longo
das fronteiras. Ele também acrescentou:
"Se algum dia capturarmos Jerusalém, e
ainda estivermos vivos e capazes de fazer qualquer coisa, então destruiremos
tudo que não for sagrado para os judeus ali."
O pensamento político nacionalista judeu durante esse período foi
encorpado nos anúncios políticos do movimento sionista, cristalizados no
Primeiro Congresso Sionista da Basiléia, em 1897. Outros desenvolvimentos
institucionais dentro do sionismo se seguiram logo depois. Mas tais planos com
vistas a estabelecer um estado exclusivamente sionista judaico na Palestina
árabe e controlar Jerusalém falharam no essencial, mesmo após o término da
Primeira Guerra Mundial, quando funcionários coloniais britânicos patrocinaram a
primeira fase do movimento colonial sionista. De fato, durante a primeira fase
da atividade sionista, entre os anos 1878 e 1918, a área de terra sobre a qual
os judeus ganharam controle na Palestina correspondia a 2,48% do total do país.
Em 1918 o número de judeus na Palestina não excedia 55.000, enquanto os
palestinos somavam 700.000, isto é, 8% da população era judia e 92% era
palestina.
A judaização durante a ocupação britânica
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Em decorrência da revolta palestina de 1929 foi proposta a divisão da Palestina em cantões árabes e judeus.
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Em decorrência da revolta palestina de 1936, a Comissão Real Britânica Peel propôs a divisão da Palestina em dois estados, árabe e judeu, e tornando Jerusalém um corpus separatum, não vinculado a nenhum dos dois estados.
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Seguindo-se à Conferência St. James em 1920, a Grã-Bretanha emitiu o Papel Branco, que impôs restrições à imigração judaica e prometia uma terra independente palestina em dez anos.
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Em 1941 o plano Morrison-Grady estabelecia uma curadoria britânica sobre a federação de duas províncias autônomas, uma árabe e uma judia, bem como a lei britânica diretamente sobre os distritos de Jerusalém e Neveg.
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Em 1947 Ernest Bevin, então Secretário de Relações Exteriores britânico, propôs um estado unificado sob administração britânica temporária com cantões autônomos judeus e árabes.
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Em fevereiro de 1947, a Grã-Bretanha anunciou que não estava preparada para continuar administrando a Palestina e pediu uma solução para as recém-criadas Nações Unidas. Os palestinos e os cinco estados árabes pediram o fim do mandato e a independência da Palestina, mas a Assembléia Geral recusou-se a incluir esse pedido em sua agenda e ao invés disso, nomeou em maio de 1947 um comitê especial (UNSCOP - Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina) para estudar a questão palestina.
UNSCOP apresentou dois conjuntos de recomendações. O relatório
maior revivia a idéia de partilha e recomendava a divisão da Palestina em (1) um
estado judeu; (2) um estado árabe; e (3) um corpus separatum sob
administração internacional para as cidades de Jerusalém, Belém e adjacências. O
relatório menor pedia uma união federal entre as regiões autônomas árabes e
judias, com Jerusalém como a capital, mas com duas municipalidades separadas e
independentes, uma árabe e outra judia. O relatório maior, com algumas
modificações, foi adotado pelo Comitê ad hoc sobre a Questão Palestina, o
qual fora criado para estudar as recomendações do UNSCOP. O relatório foi
aprovado por dois terços de maioria na Assembléia Geral da ONU como a resolução
181, de 29 de novembro de 1947. Os palestinos recusaram a resolução da partilha
por considerá-la injusta. A partilha conferia ao proposto estado judeu 56% da
área Palestina, enquanto os judeus constituíam apenas 33% da população e detinha
apenas 6% da área não urbana. Em 14 de maio de 1948, o mandato expirou e os
britânicos se retiraram da Palestina naquele mesmo dia. Líderes sionistas
aproveitaram a oportunidade para declarar unilateralmente o nascimento do estado
de Israel em 14 de maio de 1948.
A resolução da partilha de 1947, da ONU, que incluía a
internacionalização de Jerusalém, nunca foi implementada. Muitos fatores
contribuíram para isso. O fator mais óbvio é que os palestinos recusaram-na
porque ela os prejudicava em benefício dos judeus. Era importante, também, o
fato de que o mundo árabe não estava preparado para aceitar o plano, nem
unificado e forte o bastante para enfrentar efetivamente o emergente estado
judeu. Finalmente, a resolução da partilha nunca foi implementada também por
motivo do sionismo, e, mais tarde, da política de Israel. Eles usaram a rejeição
árabe ao plano como uma desculpa para impulsionar seus planos de ocupação e
judaização de Jerusalém e da Palestina.
Bem-Gurion revela esse aspecto do sionismo ao declarar:
"A questão de Jerusalém não é uma questão
de rearranjos ou de políticas. É, primeiro e acima de tudo, uma questão de
capacidade militar:
"Teremos a força militar (a) para ocupar a
área da Cidade Velha; (b) para ocupar um corredor largo daqui (Telaviv) até
Jerusalém, não apenas para atravessá-lo, mas para nele formar uma faixa
colonizada que ligue Jerusalém ao resto dos territórios do estado judeu; e (c)
destruir a Legião Árabe na área triangular. Sem isso, não se pode dizer que
Jerusalém foi ibertada".
Assim, os israelitas puseram em prática uma "teoria de
transferência", que significava desenraizar os palestinos, quer matando-os,
aterrorizando-os ou ainda forçando-os a deixarem suas casas. Em 9 de abril de
1948, por exemplo, o Irgun Zvai Leumi, de Menachen Begin, massacrou os
palestinos da aldeia de Deir Yassin, localizada nos arredores orientais de
Jerusalém, matando 250 pessoas, a maioria, idosos, mulheres e crianças. Em 28 de
outubro de 1948, o 89º batalhão de Moshe Dayan massacrou os palestinos de
Dawaymeth, uma vila no caminho entre Jerusalém e Ramallah, deixando 580 mortos.
Begin considerou o massacre de Deir Yassin tão crucial para os sionistas que ele
declarou: "não haveria Israel sem (o que ele chamou de) a vitória de Deir
Yassin. Em julho de 1948, o exército israelita tentou ocupar toda Jerusalém, mas
fracassou graças à resistência das forças árabes. Em setembro de 1948, como o
ministro da defesa, Bem-Gurion sugeriu o empreendimento de uma operação militar
para ocupar Latrun a fim de garantir uma "Jerusalém judaica". Em 1952, ele
planejou ocupar toda Jerusalém e Hebron. Porém outra vez os esforços palestinos
e árabes levaram ao fracasso as tentativas israelitas, com isso preservando o
caráter árabe de Jerusalém e da Cisjordânia.
O entendimento do armistício de 1949 firmado entre Israel e os
Estados árabes declarava que "as linhas do armistício não devem ser
interpretadas em qualquer sentido como uma barreira política ou territorial".
Não obstante isso, Israel não somente ultrapassou as barreiras propostas no
plano de partilha de 1947 da ONU, mas também a linha do armistício em 1950 para
conseguir o controle sobre 77% das terras palestinas. Em Jerusalém, Israel se
apossou de 84,23% da superfície municipal, deixando 11,48% nas mãos dos
palestinos. Os 4,39% restantes, se tornaram "uma terra de ninguém" sob
supervisão da ONU. Israel cercou os assentamentos palestinos em Jerusalém
Ocidental, como Abu Tur, Baqah, a Colônia Alemã, e Katamon, e trocou seus nomes
para nomes hebreus: Abu tur se tornou Giv'at; at Hannah; Baqah se tornou
Ge'ulem; a Colônia Alemã se tornou Rafa'im; e Katamon se tornou Gonim. Novos
assentamentos judeus foram montados no meio e atrás dos mencionados
assentamentos palestinos: Talpiot, Nova Baqah, Nova Katamon, Assentamento de
Rasqo e Giv'at Mordechai. Vinte e nove vilas palestinas ao redor de Jerusalém
forem destruídas, suas terras confiscadas, e seus habitantes forçados a
partir.
Quanto aos eventos demográficos que se seguiram ao armistício de
1949, Israel abriu as portas para nova imigração ao baixar a "Lei do Retorno" em
1950, a qual concedia a qualquer judeu, onde quer que estivesse, o direito de
emigrar para Israel, de ali se estabelecer, e de adquirir cidadania israelita.
Assim, o número de judeus em Jerusalém cresceu de 84.000 em 1948 para 103.000 em
1949, para 167.400 em 1961 e para 196.000 em 1967. Israel proibiu e evitou que
refugiados palestinos retornassem a seus lares, apesar da resolução 194 da
Assembléia Geral da ONU, que proclamava (1) o direito dos refugiados palestinos
ao retorno a seus lares, (2) a devolução de suas propriedades, e (3) compensação
para aqueles que não quiserem retornar a seus lares. Havia aproximadamente
700.000 refugiados palestinos vivendo fora da Palestina, em decorrência dos
entendimentos do armistício. Israel chamou os palestinos vivendo em Jerusalém e
na Palestina ocupada como "árabes israelitas", ao
invés de "palestinos".
Para preparar um modo de se apossar das propriedades palestinas e
suprimi-las na Jerusalém ocupada em 1948, Israel baixou uma série de leis
administrativas e legislativas. São exemplos as Leis de Emergência com respeito
a "propriedades abandonadas", Suplemento B, Número
10, de 23 de junho de 1948; as Leis de Emergência relativas ao cultivo de terras
ermas e ao uso dos recursos hídricos (1948); as Leis de Emergência (Zona de
Segurança) de 1949; e a Lei de Propriedade dos Absentistas de 1950. Estas "leis"
permitiram aos israelitas confiscarem tanto bens palestinos móveis como imóveis.
Estima-se que chegaram a 80% os bens privados palestinos usurpados por Israel
.
Completando a política de transformar Jerusalém numa cidade judia,
em 11 de dezembro de 1949 Israel declarou Jerusalém sua capital e mudou a sede
do governo para ali. O histórico cemitério Mamilah foi destruído e convertido em
um parque. Foi construído um novo cemitério para políticos israelitas, em
homenagem a Theodor Herzl, bem como construíram ainda um novo museu e um novo
campus para a universidade Hebraica. Israel proibiu a menção à palavra
"Palestina" ou à história árabe-islâmica nos currículos escolares, e restringiu
a admissão de palestinos às universidades. Foram impostos também aos palestinos
restrições no que tange a trabalho, residência e deslocamento.
Israel como uma potência colonial
A judaização desde 1967
Depois da guerra de junho de 1967, Israel se apressou a executar a
Segunda etapa do seu plano de ocupação e judaização do resto de Jerusalém e de
toda a palestina. Esse processo se deu com notável rapidez, e em todos os
campos: militar, administrativo, legislativo, demográfico, geográfico, religioso
e histórico-arqueológico. Seu fim último era a completa desenraização e
destruição da Palestina.
A despeito das políticas e medidas para judaizar e despalestinizar Jerusalém desde 1948, 160.000 palestinos
ainda vivem em Jerusalém, com instituições e organizações palestinas tratando de
todos os aspectos de suas vidas. Seis milhões e quinhentos mil palestinos
resistem à ocupação israelita, rejeitam suas "leis" e "políticas", e defendem
com firmeza seus direitos. Consideram Jerusalém uma parte inseparável da questão
palestina e um elemento fundamental do conflito palestino/israelita que não pode
ser ignorado, e nem colocado em qualquer agenda palestina.
Conclusão
Na busca de uma solução política para o conflito
palestino-israelita, a questão Jerusalém pode ser um fórum aberto e a melhor via
para uma saída. A primeira lição que aprendemos da história de Jerusalém desde
os tempos antigos até ao presente é que mais de um grupo tem reivindicações
importantes e laços estreitos com Jerusalém. A outra lição é que enquanto o
conflito sempre representou uma praga para a cidade, a coexistência e a
tolerância tem precedentes significativos: desde que os israelitas começaram a
partilhar da cidade com os jebusitas sob o rei Davi, até quando Omar reconheceu
os direitos dos cristãos na cidade. De fato, embora a cidade esteja atualmente
dividida, muitos jerusalemitas de diferentes religiões interagem
construtivamente. Esta coexistência pode evoluir rumo à paz e à estabilidade em
Jerusalém e realmente em toda a Palestina, desde que haja compreensão e respeito
mútuos e simultâneos entre palestinos e israelitas baseados na tolerância e na
justiça.
O problema de Jerusalém não será resolvido a menos que todos os
direitos de ambos os povos – israelitas e palestinos – sejam reconhecidos no
espírito da longa e variada história dessa cidade santa. Reconhecer os direitos
coletivos de apenas uma população, os israelitas, constitui uma justiça
indefensável. Tentar expulsar a presença árabe que dominou Jerusalém por 1.300
anos é uma afronta aos palestinos, à humanidade e ao legado de Jerusalém, contra
os israelitas, árabes e a comunidade internacional devem resistir com firmeza.
Todas as partes devem reconhecer que não há justificativa legítima para um
governo exclusivo sobre toda a cidade. Isto tem de ser reconhecido
substituindo-se o modelo atual por outro baseado na partilha da cidade: duas
capitais, duas soberanias, duas municipalidades e dois povos vivendo de modo
independente e próximo, numa cidade aberta e livre. Devemos "separar e
partilhar".
Fonte:http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/jerusalem.html
Jerusalém e a guerra dos deuses
Cidade sagrada para árabes, judeus e cristãos, Jerusalém, graças ao seu poder simbólico, tem sido historicamente palco de terríveis guerras e massacres entre os seguidores de Deus, de Jeová e de Alá. Leia a seguir uma síntese do milenar combate entre os deuses pela posse dos lugares santos.
A cúpula dourada da grande mesquita |
A garganta dos deuses
"Do lado em que o sol ilumina com seus primeiros raios, rolam
as ondas ilustres e afortunadas do Jordão. Ao ocidente, o mar Mediterrâneo geme
sobre a areia que o detém e o captura. Ao norte está Belém... Belém, o berço de
um Deus."
Torquato Tasso (Jerusalém Libertada, 1575)
Imaginem um jardim situado entre dois desertos e próximo a um mar que não tem vida, o Mar Morto. Ao sul dele espalha-se o terrível Neguev e, ao oriente, as áridas areias avermelhadas da Judéia. A escassa água que por ele corre tornou-se através dos séculos motivo de lutas entre todos os povos vindos das terras escaldantes dos arredores. Além disso, entre os ciprestes e rochas que se espalham pelos Montes de Sion, Scopus, Moriah e Oliveiras, encontram-se inúmeras grutas e cavernas que todos supõem serem sagradas. De pedra cinza-claro, a beleza e mistério
O triunfo de Davi |
A capital das 12 tribos
Bem ali, em meio àquele desconsolo de pedras e areia que cercava um riacho, envolvida por um ar de magia e fé, formou-se Jerusalém! Num dos seus primeiros momentos, as lutas pela sua posse entre filisteus politeístas e monoteístas hebreus, conduziram a que o rei Davi, o sucessor de Saul, conquistasse-a dos jebusianos. Supõe-se que ao redor do ano 1000 a.C., o rei-pastor consagrou-a como a capital de todas as 12 tribos de Israel. Sucedido em 970 a.C. pelo seu magnífico filho, o sábio rei Salomão, com seus tributos de 666 talentos de ouro, com quatro mil estábulos para os seus 12 mil cavalos, Jerusalém tornou-se a digna morada de Jeová, em honra de quem o lendário rei, trazendo cedros do Líbano, reformou o Primeiro Templo. O deus dos hebreus deixava de ser uma divindade dos desertos para ir habitar um grande centro. Confirmação da magnificência do poder e da sabedoria do grande rei foi a visita que lhe fez a tão celebrada e bela rainha de Sabá.
Da idade do ouro ao cativeiro
Aqueles bons tempos idílicos do povo de Israel, quando Jeová reinou poderosamente sobre as terras da Palestina, vivem até hoje na memória dos judeus. Foi sua Era de Ouro. Mas então pairou sobre eles uma enorme nuvem vinda do Oriente. A era das delícias encerrou-se bruscamente em 597 a.C., quando o rei babilônio Nabucodonosor II marchou contra Jerusalém. Conforme as terríveis previsões do profeta Ezequiel, que prognosticou a catástrofe, Naburzadã, o general babilônico, para sufocar a revolta de Sedecias, destruiu o templo sagrado e pulverizou a capital no ano de 586 a.C.. Os seus habitantes viram-se reduzidos à escravidão. Os templos e os céus daquela Cidade Santa esvaziaram-se, enquanto a parte mais aquinhoada do povo hebreu foi levada em cativeiro para a Babilônia.
Ciro ordena a reconstrução
Ciro, o Grande, rei dos persas, o conquistador da Babilônia, condoído com a situação dos judeus escravizados, decidiu permitir que o povo de Jeová, então agrilhoado àquela grande cidade, retornasse ao seu sítio. Pelo decreto real de 538 a.C., autorizou a saída dos hebreus de lá e sua reinstalação na Palestina. De volta à sua antiga capital, o rei permitiu que o altar dos holocaustos fosse novamente erguido. O alto comissário persa Zorobabel e o supremo sacerdote Josué supervisionaram então o reerguimento do Segundo Templo(obra que imagina-se ter-se iniciada ao redor do ano de 520 a.C.). Com ele restaurado, os persas manifestaram a sua intenção estratégica de fixar os hebreus recém-retornados libertos do cativeiro da Babilônia para que servissem como uma forte barreira contra os egípcios, inimigos do grande rei.
Macabeu contra Zeus
Dois séculos mais tarde, foram os deuses olímpicos que vieram atormentar o remanso de Jeová. Zeus e Marte trazidos em 332 a.C. nas pontas das lanças das falanges de Alexandre, o Grande, tomaram de assalto a cidade sagrada. A política de tolerância religiosa do afamado conquistador macedônico, porém, não foi seguida pelos seus sucessores. Antíoco Epifanes, um inábil governante, exigiu que Zeus fosse cultuado dentro do templo, enquanto proibia aos judeus de praticar os seus ofícios. O resultado não se fez esperar. Em 168 a.C., eclodiu a terrível rebelião dos macabeus. Primeiro foi o sacerdote ancião Matatias, o Hasmodeu quem comandou a resistência, em seguida foi seu filho Judas, o Macabeu ("o martelo") que liderou a revolta até que Zeus e Marte fossem expulsos dos altares do Templo de Jerusalém. Depois, devidamente purificados, instituiu-se a festa da Hanucá, a "festa das luzes".
A política de Herodes
Nem bem o todo-poderoso do monte Olímpico retirara-se de Jerusalém quando, em 63 a.C., chegou a vez Júpiter Capitolino lá ir assentar-se. Dessa vez o novo deus viera trazido pelas poderosas legiões romanas de Pompeu.
Cena de rua |
Foi por essa época, da aliança entre Jeová dos judeus e Júpiter Capitolino dos romanos que uma seita de camponeses, pastores e alguns pescadores floresceu na Galiléia, aproximando-se depois para as cercanias da cidade.
Jesus Cristo
Eles seguiam um pregador milagroso de Nazaré chamado Jesus. Para os crentes, era evidente que aquele homem santo tratava-se do tão esperado messias, o salvador, anunciado pelo profeta Elias. Apesar de ter concentrado sua atividade ao redor do Mar da Galiléia (Lago Tiberíades), Jesus Cristo percebeu que a grande batalha se daria com a conversão de Jerusalém. A qual ele também previu maus agouros. Quando ele saía do Templo em Jerusalém e os discípulos mostravam-lhe as construções do grande edifício, ele lhes disse; "Estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo: não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida"(Mateus, 24). Numa das páscoas, ele fizera uma entrada triunfal na cidade sagrada, onde a multidão o acolheu com palmas. Mas foi só. Os demais hebreus, principalmente os sacerdotes do Sinédrio, viram-no como um herético, um desordeiro.
Julgado e crucificado
"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos... e não o
quiseste!"
Jesus Cristo (Mateus, 23)
Cristo |
A rebelião dos judeus
No ano de 66, a sempre tensa paz entre romanos e hebreus foi rompida. Milhares deles, a partir de Cesaréia, durante quatro anos, pegaram em armas numa tentativa inútil de expulsar os funcionários de César da terra prometida. A vingança de Júpiter Capitolino foi terrível. Em 70, o general romano Tito, obedecendo as ordens do seu pai Vespasiano, enviados ambos à Palestina para reestabelecer a ordem imperial, assaltou Jerusalém, e incendiou e arrasou o templo, não sem antes promover-lhe o saque completo. Deu-se assim a segunda destruição do templo, separada da primeira, executada pelos babilônicos fazia quase 600 anos atrás. No arco comemorativo de Tito, erguido em Roma,
O espólio do Tempo |
Judeus, um povo errante
Mestres judeus e um discípulo |
Enquanto isso, a cidade de Jerusalém transformou-se num quartel romano. O imperador Adriano, que a visitou no ano de 131, chamou-a de Aelia Capitolina.
Jerusalém cristã
Santa Helena (250-330) |
A chegada de Alá
Tudo parecia indicar que Jerusalém, com o banimentos dos judeus, daria abrigo perpétuo ao deus cristão. Então um novo e empolgante deus emergiu dos desertos da Arábia, logo trazido até a Palestina pelas cimitarras dos beduínos. Foi a vez de Alá deslocar o deus cristão, instalando-se na cidade santa pelas mãos do califa Omar, que a ocupou em 636. Em pouco tempo, os minaretes dominaram a paisagem. Não demorou muito para que o grande edifício da Esplanada da Mesquita, com sua maravilhosa cúpula dourada - que brilha como um sol no seu esplendor -, afirmasse que dali em diante a Palestina inteira deveria seguir os ensinamentos do profeta. Construíram-na sobre o Monte Moriah, bem sobre a pedra em que o patriarca Abrãao teria feito o sacrifício do seu filho Isaac e de onde, bem mais tarde, o espírito de Maomé erguera-se em direção ao além.
Maomé e os hebreus
Al Aqsa Mosque (portão de entrada) |
Jerusalém, três vezes sagrada
Dessa forma, com a conquista árabe, o polígono amuralhado da cidade que já abrigava o deus dos cristãos e o pouco do que restara de Jeová, passou a celebrar doravante o poderoso Alá. Assim, desde o século VII, Jerusalém tornou-se triplamente sagrada: era o repouso da Arca Sagrada dos judeus, a Cidade Santa dos cristãos, e o santuário dos islâmicos. Em cada uma das suas pedras havia a lembrança de uma história, em cada esquina ou sobrado dera-se uma aparição, ora era um anjo muçulmano, um arcanjo cristão, ou ainda uma assombração para um rabino. Em cada uma das suas inúmeras ruelas passara um homem santo, um profeta ou um provável messias. Jerusalém inteira e seus arredores estava coberta de sinais da santificação, do miraculoso, do inescrutável, do sobrenatural. Para as três grandes religiões, era o vestíbulo dos céus, um prévio entreposto humano antes da chegada do reino de deus.
As Cruzadas
Os guerreiros da primeira Cruzada (1096-9) |
A tolerância de Saladino
O Sultão Saladino (1138-1193) |
O retorno de Jeová
Jerusalém hoje |
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/jerusalem6.htm
Quadro histórico de
Jerusalém no século XX
Jerusalém no século XX
Data
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Ocupante
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Até 1918 | Jerusalém era a capital da Palestina, província do Império Turco Otomano |
De 1918-1948 | Protetorado Britânico, que obteve o mandato em 1920 |
De 1948-1967 | Dividida entre israelenses e árabes por determinação da ONU |
Após 1967 | Controle total israelense depois da Guerra dos Seis Dias |
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