DJANGO LIVRE : FILME DE QUENTIN TARANTINO MISTURA FAROESTE,ESCRAVIDÃO E VINGANÇA

Django chicoteia um homem branco. E essa é apenas a parte mais leve de sua vingançaDjango chicoteia um homem branco. E essa é apenas a parte mais leve de sua vingança
Faroeste, escravidão e vingança: o ritmo de "Django Livre", o novo filme de Quentin Tarantino
Poucas coisas dão mais prazer do que acompanhar a solitária jornada de Quentin Tarantino em busca de vingança. Seu último filme que trilhou esse caminho, "Bastardos Inglórios", deixou Adolf Hitler em maus lençóis, cumprindo um dos papéis mais importantes da ficção: criar histórias nas quais gostaríamos de acreditar. Em "Django Livre", o cineasta repara outra injustiça gigantesca, a escravidão, plantando a vingança no coração de um de seus personagens mais bem construídos, o calado Django (Jamie Foxx). O cenário dessa vendeta é o faroeste spaghetti que alçou à famaFranco Nero, o primeiro "Django" (1966) – aliás, o ator italiano faz uma ponta no filme.

 O que você ainda não sabe sobre "Django Livre", o novo filme de Quentin Tarantino

 

Quentin Tarantino no set de Django Livre: ele passou mais de uma década pensando no roteiro do filmeQuentin Tarantino no set de Django Livre: ele passou mais de uma década pensando no roteiro do filme

Quando um grande filme está prestes a chegar ao público, os jornalistas recebem as aguardadas "informações da produção", um compilado com dezenas de páginas sobre os bastidores. Os de"Django Livre", a aguardada novidade de Quentin Tarantino, estão cheios de curiosidades bacanas.



1 - Mais de uma década com a ideia na cabeça
A jornada de "Django Livre" até a telona começou há mais de dez anos, quando Tarantino vislumbrou o protagonista (papel de Jamie Foxx) pela primeira vez. “A gênese inicial de toda a ideia foi a de um escravo que se torna um caçador de recompensas e sai atrás de feitores que se escondem em fazendas agrícolas”, relembra o diretor. “Eu comecei a escrever e o Django se apresentou a mim. No início, ele era apenas quem ele era – o sexto numa fileira de sete escravos acorrentados. Mas ele foi se revelando à medida em que eu ia escrevendo”.

2 - Homenagem ao faroeste spaghetti
O longa se passa no sul dos Estados Unidos, tempos antes da Guerra Civil Americana (1861-65). Mas Tarantino queria representar a história como um faroeste, que ele vê como uma descrição grandiosa do bem e do mal. “É inimaginável se pensar na dor e no sofrimento que ocorreram neste país, e isso os torna perfeitos para uma interpretação na forma de um faroeste spaghetti. A realidade se encaixa no panorama colossal que se poderia imaginar para esta história”, diz.

3 - Christoph Waltz viu Django nascer
O vencedor do Oscar por "Bastardos Inglórios" participou do processo criativo de Tarantino. “Eu lia o roteiro conforme ele ia sendo escrito”, conta Waltz, que interpreta o dr. King Schultz. “Eu ia à casa do Quentin, ele me fazia me sentar à mesa, punha as páginas na minha frente e ficava observando enquanto eu lia. Foi um ritual maravilhoso. Eu fiquei muito emocionado por ele ter me deixado participar não da gênese do roteiro, mas da sua linha de pensamento”.

A famosa cadeira do diretor e o roteiro do filme. Mais alguém ansioso?A famosa cadeira do diretor e o roteiro do filme. Mais alguém ansioso?

4 - A origem do nome Django
O italiano Franco Nero interpretou o personagem pela primeira vez em 1966, em "Django", faroeste spaghetti dirigido por Sergio Corbucci, de quem Tarantino é grande fã. Nero, aliás, faz uma participação especial no filme. Django acabou definindo o gênero, pelo menos na Áustria, terra natal de Christoph Waltz. “Para nós, na Áustria, ‘Django’ era um nome famoso, não necessariamente Franco Nero, mas ‘Django’”. Segundo ele, “todo faroeste spaghetti que era lançado, até os mais obscuros, na versão alemã, tinham ‘Django’ no título, mesmo que não houvesse um Django no enredo nem na história”. O Django original foi tão popular que outros filmes se apropriaram do nome como uma ferramenta de marketing. Os títulos mais criativos incluem Django, Kill; Viva! Django e Ballad of Django – títulos que cairiam bem, inclusive, ao filme de Tarantino.

5 - Visita à senzala
A senzala vista no filme comoveu Jamie Foxx. “Não dá para se caminhar por lugares como aquele sem chorar e ser tomado pela emoção”, afirma. “Eu levei meus filhos, de 3 anos e meio e de 18 anos, e percorri o local com eles. Eu disse: ‘É daqui que vocês vêm’. Nós precisávamos estar lá para compreendermos de fato a história”.


Mas o segundo Django da história do cinema, o de Tarantino, é salvo das mãos de um mercador de escravos num golpe de sorte, e faz uma educativa viagem pelos Estados Unidos. O homem que muda seu destino é um caçador de recompensas, o riquíssimo dr. King Schultz (Christoph Waltz, cheio de maneirismos hilários). 
Christoph Waltz volta a trabalhar com Tarantino como o caçador King SchultzChristoph Waltz volta a trabalhar com Tarantino como o caçador King Schultz

Django é o único que pode reconhecer o novo alvo de Schultz, os irmãos Brittle, e topa acompanhá-lo em troca de liberdade. Os Brittle são "personagens" de um daqueles famosos cartazes com os dizeres "Procura-se Vivo ou Morto". No caso de Schultz, o bandido é sempre entregue morto, graças a estratégias de caça precisas (que Django aprende como um aluno aplicado) e nenhuma piedade.

Conforme passa a confiar no tão elegante quanto sanguinário Schultz, o ex-escravo revela sua história: as terríveis torturas, castigos e a violenta separação de Broomhilda (Kerry Washington), sua amada esposa. Acaba convencendo o parceiro a ajudá-lo no resgate da moça, o que os leva a Candyland, uma fazenda comandanda pelo perverso Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).
Leonardo DiCaprio encarna o mal como o senhor de engenho Calvin CandieLeonardo DiCaprio encarna o mal como o senhor de engenho Calvin Candie

Lá, as maiores atrocidades acontecem. O hobbie favorito de Calvin, por exemplo, é assistir a lutas entre escravos chamadas Mandingo. Como nas rinhas de galo, os escravos mais fortes eram obrigados a lutar até a morte. Em uma das cenas mais aflitivas, Calvin oferece um martelo ao escravo vencedor, para que ele possa acabar com a agonia do adversário, após retirar-lhe os olhos com as mãos, a pedido do patrão. Cínico, para dizer o mínimo, mas felizmente não existem registros históricos confiáveis sobre esse tipo de luta.

Na busca por Broomhilda, Django descobre que seu principal adversário não será o cruel homem branco (que ele não perdoará), mas os escravos que agem como brancos, dominando e violentando pessoas da mesma etnia. É o escravo doméstico Stephen (Samuel L. Jackson, em grande atuação) quem personifica esse aspecto desconcertante do filme. Inteligente como seu próprio dono não é capaz de ser, será também o maior algoz de Django.

MIS dá mais uma dentro e faz mostra com filmes que influenciaram Quentin Tarantino



As influências cinematográficas de Tarantino estão no MISAs influências cinematográficas de Tarantino estão no MIS

Acaba de começar no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, uma seleção de filmes imperdível para quem é fã do diretor e roteirista Quentin Tarantino. Se você sempre quis saber como surgem na mente dele as tramas repletas de violência, trilha sonoroa imbatível e elementos absurdos, aqui encontrará boas pistas. Trata-se de uma série de western spaghettis e produções B, como as comandadas por John Carpenter, que fizeram parte da formação cinematográfica do norte-americano ainda na adolescência.

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Com exibições que acontecem todos os dias até 20 de janeiro, e ingressos custando R$4, a programação é curta, mas trata-se de outro acerto de André Sturm, responsável por transformar o espaço em um ponto de encontro pop, atrair bem o público jovem de São Paulo e tirar a aura de distanciamento que pairava sobre o museu localizado no bairro nobre do Jardim Europa.

Mais um Django, desta vez o filme de Sérgio Corbucc, que estreou em 1966Mais um Django, desta vez o filme de Sérgio Corbucc, que estreou em 1966

Com a estreia de "Django Livre", na próxima sexta (18), o burburinho causado pela premiação de Tarantino no último Globo de Ouro, a indicação ao Oscar 2013 e o próprio roteiro ousado deste novo longa - cujos horrores da escravidão servem de ponto de partida para a ação na trama, vale a pena reservar um espaço na agenda para assistir à essa mostra. Clássicos como "Rastros de Ódio", de John Ford, e "Yojimbo", de Kurosawa, raramente voltam à tela grande e aqui se tem uma ótima oportunidade para (re) vê-los.

Cena de Cena de Jogo da Morte, de 1978. Reconhece esta roupa?Cena de Cena de Jogo da Morte, de 1978. Reconhece esta roupa?

VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA:

DIA 16
19h: "O Grande Golpe" (dir. Stanley Kubrick, 1956)

DIA 17
19h: "Ajuste Final" (dir. Joel e Ethan Coen, 1990)
21h: "Shaft" (dir. Gordon Parks, 1971)

DIA 18
19h: "Rastros de Ódio" (dir. John Ford, 1956)
21h: "Django" (dir. Sérgio Corbucci, 1966)

DIA 19
16h: "O Grande Golpe" (dir. Stanley Kubrick, 1956)
18h: "A Morte Anda a Cavalo" (dir. Giulio Petroni, 1967)
20h: "O Homem que quis Matar Hitler" (dir. Fritz Lang, 1941)

DIA 20
16h: "O Homem que quis Matar Hitler" (dir. Fritz Lang, 1941)
18h: "Jogo da Morte" (dir. Robert Clouse, 1978)
20h: "Yojimbo" (dir. Akira Kurosawa, 1961)


SERVIÇO
MIS - Museu da Imagem e do Som

Av. Europa, 158, Jardim Europa - São Paulo, SP.
Tel: 0/xx/11/2117-4777. R$ 4. Abertura: 15/1. Até 20/1.
http://www.mis-sp.org.br/
Samuel L. Jackson vive o escravo doméstico Stephen e Kerry Washington é BroomhildaSamuel L. Jackson vive o escravo doméstico Stephen e Kerry Washington é Broomhilda

Esta "surpresa" talvez seja o aspecto mais profundo do longa, já que revela o complexo sistema de relações construído durante a escravidão – cordialidade versus atrocidade, dominação de negros por brancos, de negros por negros e a aceitação geral do que é desumano. Mas não é o aspecto antropológico que o tornará um blockbuster: é ver Tarantino de novo em ação, com um roteiro empolgante e inteligente, e uma trilha sonora apetitosa – o mínimo que esperamos do diretor (quem mandou nos acostumar mal?). E ele entrega. Em três horas de filme, somos levados dos ótimos clichês do faroeste a um tremendo banho de sangue. E ainda temos um herói por quem torcer. Sempre um prazer, Tarantino!




Fonte:http://www.colheradacultural.com.br/content/faroeste-escravidao-e-vinganca-o-ritmo-de-django-livre-o-novo-filme-de-quentin-tarantino.php

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