CHINA,BAIXOS SALÁRIOS,LUTAS DO TRABALHO E GLOBALIZAÇÃO



Mário Murteira observa que "A globalização do sistema mundial, de que a China é um ator principal, significa a mercantilização das relações sociais e os chineses, mesmo culturalmente, não se sentem pouco à vontade nesse processo. Pelo contrário: trabalham duramente, com tempos e intensidades quotidianos dificilmente suportáveis por ocidentais, para poderem emergir da pobreza em que o grande número ainda se encontra mergulhado. Mas um dos lados mais negativos da globalização - a acentuação de desigualdades, nomeadamente entre classes sociais e regiões - também é observável neste imenso território. Bem como o aumento de desemprego, e as migrações internas não controladas. A transição para a economia de mercado, entre outras consequências, implica o desmantelamento de estruturas sociais que desempenhavam papel equivalente ao Welfare State europeu."

Baixos salários e lutas do trabalho na China

Esta apresentação procura dar informação sobre a situação dos trabalhadores chineses e ser um contributo para responder à pergunta: Terminaram os salários baixos na China?
Com o título “China: O império dos baixos salários e a onda grevista de 2010”, a apresentação está subdividida em seis capítulos:
1. Uma luta em Agosto de 2010
2. A onda grevista de 2010
3. Crescimento do movimento grevista e da conflitualidade social
4. Salários na China
5. Trabalhadores migrantes
6. Terminaram os salários baixos na China?
No final da apresentação são divulgados recursos disponíveis na net, sobretudo em língua inglesa, mas também francesa e espanhola, onde foram recolhidos os dados disponibilizados neste trabalho e também as fotos nele publicadas.

Trabalhadores da Honda de Foshan durante a greve de Maio

Onda grevista na China

Diversos analistas internacionais consideram que estas greves marcam o fim da era dos baixos salários na China. Será assim? O tema estará em debate no Fórum Socialismo 2010, apresentado por Carlos Santos, sob o título: China, o império dos baixos salários e a onda grevista de 2010

No primeiro semestre de 2010, um conjunto de greves em fábricas chinesas foram notícia em todo o mundo, destacando-se pelo seu ineditismo e pela circulação da informação em todo o mundo.
O movimento ficou marcado pela greve na fábrica da Honda em Foshan, Guangdong, onde os trabalhadores pararam a produção durante mais de quinze dias, exigindo melhores salários. No final, os trabalhadores tinham conseguido importantes vitórias e deixado um caderno reivindicativo para o futuro.
A greve iniciou-se quando Tan Guocheng, um jovem operário de 23 anos migrante da província de Hunan, carregou no alarme provocando a paragem da linha de montagem. A seguir à sua acção, Xiao Lang, outro jovem operário de 20 anos também migrante de Hunan, provocou a paragem de outra linha de montagem. Com as linhas paradas, mais de cem operários foram abandonando os locais de trabalho, percorrendo a fábrica, fazendo saber à administração que exigiam aumento de salários. A greve começou a 17 de Maio, foi interrompida por 4 dias, recomeçando depois a 21 de Maio já com a participação dos cerca de 1800 trabalhadores da empresa e levando à paragem de toda a produção das diversas fábricas da Honda na China. Após diversas peripécias e confrontos, os trabalhadores chegaram a um acordo com a empresa, em que esta aceitou um aumento de 35% nos salários dos trabalhadores e de 70% dos estagiários (estudantes do secundário, que eram a maioria dos trabalhadores da fábrica).
A greve foi dirigida por um conjunto de trabalhadores escolhidos pelos operários contra a vontade da direcção do sindicato e em aberto conflito com ela. Das reivindicações dos trabalhadores ficou para o futuro a exigência da reorganização sindical e da eleição dos seus representantes na empresa pelos trabalhadores, além de outras reivindicações como o subsídio de antiguidade.
À greve da fábrica de Foshan, seguiram-se outras greves em fábricas da Honda e também noutras empresas privadas, nomeadamente na Toyota.
Desta onda grevista, o jornal Guardian concluía, no dia 17 de Junho num artigo assinado pelo seu correspondente na Ásia, que as “greves na China [são] o sinal do fim da era dos baixos salários”. A mesma conclusão foi repetida por diversos órgãos de informação de outros países, nomeadamente dos Estados Unidos, e noticiada pela própria comunicação social oficial chinesa.
Esta conclusão estará certa? A ser verdade, terá repercussões mundiais importantes, nomeadamente para os trabalhadores de todo o mundo. Mas para chegar a essa conclusão será necessário ir mais longe do que a simples análise do movimento grevista deste 2010. Em qualquer caso, tudo aponta para que algo está a mudar no império dos baixos salários.

Fonte:http://www.esquerda.net/dossier/

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