CIVILIZAÇÃO HINDU OU INDIANA

 

 
A área sob o domínio da civilização hindu abrange, em primeiro lugar, a Índia, e em segundo lugar, alguns países vizinhos - Sri Lanka, Mianmá, Nepal, Butão e Tailândia. Em algumas outras nações, como o Paquistão, Bangladesh, Malásia e Indonésia, a cultura indiana também exerce alguma influência, embora o islamismo seja mais forte. em grande parte do Sudeste Asiático (Vietnã, Camboja, Laos), a civilização indiana disputa a supremacia cultural com a chinesa, que predomina.
Ganesha - primeiro filho de Shiva. Fonte: wordpress.com
 
No decorrer de sua história milenar, a região compreendida pela civilização indiana foi palco de sucessivas invasões por  povos diversos. Essas invasões originaram uma mistura racial e cultural, constituindo um sistema social complexo e aberto, que busca constantemente incorporar e absorver outras ideias e valores.
  O hinduismo, uma mistura de religião e filosofia, é o elemento unificador dessa cultura bastante diversificada. Para alguns especialistas, o hinduísmo não é propriamente uma filosofia nem uma religião bem definida. Seria, antes de mais nada, um conjunto de ideias e de costumes que organiza ou cimenta uma sociedade extremamente complexa e hierarquizada. O hinduísmo tem uma enorme importância para manter a coesão social da Índia, onde convivem numerosos grupos étnicos.
  A fonte espiritual do hinduísmo encontra-se nos Vedas, uma coleção de antigas preces, hinos e poemas. Os Vedas foram elaborados provavelmente por sábios anônimos e transmitidos durante muito tempo apenas oralmente, antes de serem escritos. Eles foram escritos pela primeira vez por sânscrito, uma língua morta que deu origem a inúmeros idiomas modernos.
Parte dos Vedas. Fonte: giridhari.com.br
 
Em síntese, os Vedas ensinam que todas as coisas e acontecimentos são manifestações diversas de uma mesma realidade, que existe dentro de cada um e no universo como um todo. O conhecer a si mesmo, dessa maneira, passa a ser uma maneira de conhecer o mundo. A introspecção, a reflexão sobre si próprio em busca do equilíbrio, é essencial nessa cultura.
  Também a crença na transmigração da alma ou do carma de cada pessoa - ou seja, a existência numa época como ser humano de uma casta, ou de outra casta na geração seguinte, como peixe ou vaca em outra encarnação etc. - é fundamental nessa cultura, razão pela qual a própria vida humana não é tão valorizada quanto no Ocidente.
  Existem inúmeros deuses no hinduísmo, que variam conforme a área e o grupo étnico. Mas todos eles são apenas um ou este assume formas diversas conforme as circunstâncias. Na tentativa de absorver todas as religiões e filosofias importantes nessa imensa região, o hinduísmo chegou mesmo a considerar Buda, assim como Alá e Cristo, mais uma das facetas de seu Deus ou essência última de todas as coisas.
Shiva - principal Deus do hinduísmo. Fonte: wordpress.com
 
Em muitos casos essa mescla teve bons resultados, mas em outros não, ocorrendo muitos conflitos entre diferentes culturas. Esse fracasso é particularmente notável no caso dos siques, que habitam uma região ao norte da Índia, na região de Punjab, e lutam pela sua independência.
Guru Nanak (1469-1539) - fundador do sikismo. Fonte: facebook.com
 
É notável também no caso do islamismo, que vem se expandindo no sul da Ásia e exercendo uma crescente influência nas populações mais pobres, especialmente nos párias, a camada da população sem muitos direitos, considerada inferior pelo hinduísmo.
Sistema de Castas
  A hierarquia é fundamental na cultura indiana. Ela assume a forma de castas, uma palavra que, para uns, deriva do latim castus, que signifca "casto" ou "puro", e, para outros, deriva de sânscrito e significa "cor". As castas são grupos de pessoas - ou de famílias - que possuem determinadas tradições que os classificam hierarquicamentet como mais "puros" ou "impuros" dentro da sociedade hinduísta.
  O conceito de "pureza", é fundamental no sistema de castas; ele se refere não à higiene, e sim a hábitos e valores espirituais. Essas tradições são complexas e abrangem a alimentação, as vestimentas, as profissões etc. Comer carne de vaca, por exemplo, é considerado um hábito impuro, que só alguma casta - ou povos sem casta - muito inferior faria. Algumas profissões são tradicionalmente identificadas com certas castas, tais como as de sacerdotes, guerreiros, comerciantes, agentes funerários etc. Não existe nenhuma possibilidade de passar de uma casta para outra, nem por casamento nem por qualidades pessoais ou profissionais.
Mulher dalit ou sem casta. Fonte: oarquivo.com.br
 
Isso não significa que as desigualdades econômicas entre as pessoas nas sociedades hinduístas, na Índia ou no Nepal, sejam exageradas. ao contrário, elas são bem menores que no Brasil ou que no restante da América Latina.
  As castas, diferenciam-se por atividades que exercem ou deveriam exercer como também por hábitos de alimentação, higiene, vestimentas etc. As castas que comem carne de vaca são hostilizadas pelas demais castas. E a casta - ou subcasta - que tradicionalmente se dedica à lavagem e ao enterro (ou preparação para a cremação) dos mortos é considerada útil. Mas ela é tida como "impura", pela maioria das demais castas, que evitam a todo custo qualquer contato com ela, mesmo que esses agentes funerários tenham, em alguns casos, se tornado muito ricos.
Deus Shiva representando o sistema de castas. Fonte: wikipedia
 
 
O sistema de castasteve origem nos árias, que invadiram a Índia por cerca de 1300 a.C. Esse povo falava o sânscrito e introduziu na Índia o cavalo e a fundição do ferro e do bronze. Para se diferenciar dos povos que já habitavam essa região, os árias criaram essa forma de segregação étnico-racial. Além de terem costumes diferentes dos da população comum, eles provavelmente se distinguiam pela cor da pele. No início, o sistema de castas era simples, com poucas variações, depois foi se tornando mais complexo, à medida que a região sofria novas invasões.
  Em ordem de posição social, são estas as principais castas tradicionais indianas, que possuem inúmeras subdivisões:
  • Brâmanes - sacerdotes;
  • Xátrias - guerreiros;
  • Vaixás - comerciantes, artesãos, camponeses;
  • Sudras - trabalhadores manuais;
  • Intocáveis - sem castas.

  Nos dias de hoje, o significado de cada castaou das centenas de subcastas que existem, depende muito da região do país: São os párias, sem profissão definida, sem nenhum tipo de privilégio. São os "intocáveis", os que inspiram apenas desprezo de todos os outros membros da sociedade indiana. Nem sequer podem banhar-se no rio Ganges, considerado sagrado, nem ler os Vedas. Os párias, originados da população comum dos nativos dominados pelos invasores, constituem a população mais pobre e até hoje exercem a maioria das atividades desvalorizadas na sociedade indiana.
Pessoas se banhando no Rio Ganges. Fonte: indiacultura.pbworks.com
 
Apesar de ter sido oficialmente abolido em 1946 e de sua prática ter sofrido alguns abalos com o domínio ocidental e capitalista na Índia, esse sistema milenar permanece atuante na sociedade indiana. Na década de 1990, os jornais de todo mundo noticiaram rebeliões estudantis na Índia em virtude da política governamental de garantir certa porcentagem de empregos e de lugares nas escolas para os párias. Esses protestos tiveram um significado profundamente conservador: manter as tradições segregacionistas, tentar impedir uma ascensão mínima por parte das camadas populares. Essa política governamental, que não elimina o sistema de castas mas o ameniza, visa obter mais votos e ampliar a base de apoio das autoridades no poder.
Fonte: VESENTINI, José William Geografia: geografia geral e do Brasil, volume único. São Paulo: Ática, 2005

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