FANTASMAS DO JAPÃO



No xintoísmo, milenar culto japonês aos ancestrais, a alma, é chamada reikon mas, se a pessoa morre em condições adversas, assassinada, em naufrágio ou por afogamento, suicídio ou quando não tem um funeral apropriado, torna-se um yuurei, um fantasma em busca de vingança. 


As mulheres são maioria entre os yuurei e convertem-se nestes espectros porque sofreram desilusões amorosas, maus tratos que resultaram em uma vida de tristezas, inveja ou, ainda, porque carregam culpa por terem praticado más ações.


Os yuurei aparecem usando um kimono branco [katabira], a indumentária com que são enterrados os mortos, e não têm pernas. Na testa, ostentam um triângulo de papel ou tecido [hitaikakushi]. A hora das aparições é entre 2 e 3 da madrugada.


Um caso famoso de yuurei é Bancho sara-yashiki ou a História de Okiku: 


"Okiku era uma criada que trabalhava na casa do samurai Tessan Aoyama. Um dia, enquanto limpava uma coleção de dez preciosas cerâmicas, que eram um tesouro de família, quebrou, acidentalmente uma peça. Aoyama, sentindo-se ultrajado, matou a serviçal e jogou o corpo num velho poço. Todas as noites, o fantasma de Okiku emergia do poço e ficava contando as cerâmicas lentamente em meio a lamentos de desolação. Isso tornou-se um tormento para o samurai que acabou ficando louco. Outra versão, conta que na verdade, o guerreiro Aoyama planejava assassinar o chefe do clã e a criada Okiku ouviu seus planos. Contou tudo para o amante que, por sua vez denunciou a conspiração frustrando os planos do usurpador. Vingativo, Aoyama inventou a história da cerâmica quebrada como pretexto para puni-la com requintes de crueldade. Okiku morreu torturada antes de encontrar sua sepultura no poço". 



Verdade ou não, o poço de Okiku existe: fica no castelo de Himeji, também chamado White Heron Castle [Castelo da Garça Branca], 50 quilômetros a oeste de Kobe. Tem 400 anos e é o mais preservado castelo japonês. 


Além dos [as] yuurei, os japoneses possuem um elenco de diferentes assombrações com características bem definidas:


Toyol: um bebê morto trazido ao mundo dos vivos através de um ritual de feitiçaria por aqueles que desejam rever a criança.

todavia, o pequeno fantasma aparece com terrível aspecto: pele verde e olhos vermelhos, precisando de sangue. Se não for satisfeito obterá o sangue à força, sugando o dedão do evocador enquanto ele dorme.
Bakechochin: é uma assombração que mora nas lanternas. São espíritos de pessoas que morreram com ódio no coração. Quem acender a lanterna será atacado pelo fantasma.



Buruburu: é um fantasma que vive nas florestas e nos cemitérios. Aparece na forma de mulher ou um velho trêmulo. Provoca calafrios na espinha e mata infundindo puro terror em quem os encontra.


Funayuhrei: é um navio fantasma que surge do nada em noites de densa neblina e, produzindo redemoinhos, afunda outros barcos que encontra desprovidos de guarda.


Gashadokuro: são fantasmas de pessoas que morreram de fome. Sua figura é um esqueleto 15 vezes mais alto que um ser humano normal. Anuncia sua presença, altas horas da noite, emitindo um som de pequenos sinos que somente o assombrado escuta. Se a pessoa não foge rapidamente, morre com a cabeça arrancada.


Konakijiji: "o velho bebê chorão" é o fantasma de uma criança abandonada na na floresta. Se alguém, inadvertidamente, movido por piedade, pega esta criança no colo, não pode mais se salvar. O bebê começa a crescer até esmagar seu benfeitor.


Kubikajiri: é outro fantasma comedor de cabeças. Este, vive em cemitérios e tanto faz se a cabeça é de gente viva ou morta. É possível sentir sua aproximação por seu cheiro característico de sangue fresco.


Nukirabe: é uma parede-fantasma que ameaça os incautos que saem nas horas mortas da noite. Larga e branca, surge na frente da pessoa bloqueando o caminho. Se tentam contorná-la, ela se fecha esmagando os incautos. Se fogem na direção oposta, ela ressurge. Somente pode ser neutralizada se for fortemente golpeada com um bastão.
 

Mais e mais vítimas do terremoto de Tohoku em 2011 relatam que estão sofrendo com visões de fantasmas e outras sensações sobrenaturais.
O desastre colocou muitas pessoas cara-a-cara com a morte e muitos acreditam que as aparições podem ser uma manifestação de suas feridas emocionais.
Como o Japão não tem um departamento governamental que trate desse tipo de problema e muitas pessoas se sentem desconfortáveis ​​consultando membros da família, líderes de diversas organizações religiosas no Japão se uniram para prestar apoio emocional e mental as vítimas.
Um casal de idosos que está vivendo em abrigos temporários em Sendai, a maior cidade de Tohoku atingida pelo terremoto, visitou um Jōdo local, um templo budista, no início de janeiro.
Após uma troca de cumprimentos com a cabeça, o casal confessou ao monge Mizuki Nakamura, que estavam preocupados com algo sobrenatural que sentiam e não sabiam a quem recorrer para pedir ajuda.
"Há algo no abrigo temporário. Nós achamos que algo pode ter acontecido lá ", disse o marido. Nakamura se ofereceu para realizar um ritual para os mortos no lugar, depois de completar o ritual o casal agradeceu-lhe com uma expressão de alívio.

Muitas vítimas dizem ter visto imagens mais vívidas, como globos oculares que aparecem em poças de água, ou pessoas que andam na superfície do oceano.
Outros dizem que foram visitados pelos fantasmas de familiares desaparecidos, implorando para encontrar seus corpos e dar-lhes um enterro apropriado.
No entanto, como o casal de idosos em Sendai, muitas dessas pessoas não sabem como lidar com tais problemas.
A sucursal de Sendai da Igreja Unida de Cristo (UCC) no Japão, atualmente fornece serviços de apoio emocional, independentemente de filiação religiosa.
"O governo não pode fazer nada sobre isso e é difícil discutir o assunto com a família ou outras pessoas na vizinhança", diz o reverendo Naoya Kawakami.
Trabalhando junto com a Igreja Unida de Cristo está o monge Taiou Kaneda do Templo Tsudaiji na prefeitura de Miyagi, que acrescenta: "Independentemente se são reais ou não, essas pessoas estão vendo aparições. Não estávamos preparados para perder todas essas vidas. A religião deve pacientemente dar conselhos para essas pessoas até que elas possam aceitar a morte de seus familiares e amigos, até que possam levantar suas cabeças novamente".
Os dois fazem parte da instituição religiosa ligada a Prefeitura de Miyagi, que fornece serviços de consulta por telefone com sacerdotes budistas e várias seitas cristãs.
O Sr. Kaneda aconselha que qualquer um ligue livremente para apoio relacionado ao desastre em geral, não só a assuntos sobrenaturais.
A convite do chefe do conselho de bairro, o reverendo Kawakami e o Sr. Kaneda visitaram um assentamento habitacional temporário em Sendai em setembro do ano passado para dar uma palestra sobre o tema para os moradores.
"Muitas pessoas morreram, por isso é natural ver aparições. Por favor, não tenham medo", falou o Sr. Kaneda. "Isso também pode se tornar uma oportunidade para que se reserve um momento para pensar sobre a sua própria vida e morte. Você deve fazer disso um primeiro passo para avançar na vida. "
Na cidade de Ishinomaki, prefeitura de Miyagi, sacerdotes cristãos e monges budistas da mesma organização realizaram um debate informal em um templo budista no dia de Natal. Os organizadores acreditavam que o local e o tempo tornavam mais fácil uma reunião dos moradores.
Já que o Conselho de Ligação não tem nenhuma afiliação particular, as pessoas se sentem muito mais à vontade para discutir seus problemas com eles do que fazem com os funcionários do governo.
O Sr. Kaneda comentou: "Não há seitas ou igrejas, quando somos confrontados com os destroços de nossas próprias casas, e doutrinas não seguram as águas diante do absurdo da natureza."


Fonte:http://arquivosdoinsolito.blogspot.com.br/

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