por: Ralph M. Lewis
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A palavra iluminação geralmente alude a um objetivo simbólico para
progresso intelectual. A associação do vocábulo luz com conhecimento e
compreensão remonta às mais primitivas observações do homem reflexivo. A nossa
sensação visual comum depende da luz. O nosso sentido da visão é o mais
importante de todos os sentidos receptores. Ele nos revela sempre mais do mundo
exterior. Portanto, a luz é a causa da visão. Conhecimento é, fundamentalmente,
aquilo que percebemos. A luz, portanto, simbolicamente representa aquilo que
pode ser percebido e conhecido. A escuridão, o oposto da luz, também dela
difere simbolicamente. Esta diferença está, do mesmo modo, associada à sensação
humana primitiva. Onde há escuridão há sombras e mistério. Aquilo que não podia
ser visto era, portanto, o desconhecido.
O desconhecido tem sempre causado efeito dual sobre o homem. Por um
lado, ele o desafia a penetrar o seu véu. O homem tenta descobrir o que lá pode
estar oculto. Por outro lado, o desconhecido e as trevas mentais que ele causa,
geram medo. Quando temos conhecimento de alguma coisa, dispomos, então, da
possibilidade de enfrentá-la. Podemos dominá-la ou, se necessário, defendermo-
nos contra ela. O desconhecido também pode sugerir perigo, a ameaça do
incontrolável. Ele pode se tomar a substância com a qual a imaginação fabrica
distorções pavorosas.
A verdadeira iluminação é mais do que percepção. Em outras palavras, é
ela mais do que o sabermos que alguma coisa existe. Para que alguma coisa nos
seja verdadeiramente conhecida, devemos saber o que ela é, e por que existe.
Até certo ponto, o conhecermos realmente alguma coisa significa podermos
relacioná-la conosco mesmos; ela deve, para nós, ter significado; deve se
enquadrar no plano total de nossa existência ou naquilo que chamamos de
natureza. A iluminação, portanto, significa compreensão.
A compreensão que é alcançada através do empirismo, isto é, da
objetividade, é limitada. Muita coisa da vida escapa à nossa atenção. Além
disso, nem tudo que sentimos é por nós compreendido. Pode ser que não
disponhamos de tempo ou de capacidade mental para analisar cada coisa que
sentimos, quanto à sua natureza e função. Conseqüentemente, a vida, então, para
todos nós, consiste de uma série de hiatos, isto é, de lacunas do desconhecido.
Isto se assemelha a caminharmos por uma alameda com luz alternada e escuridão
impenetrável. Por esta razão, é difícil estabelecermos uma filosofia de vida
que inspire confiança. Somos freqüentemente levados a nos sentir isolados,
perdidos em um oceano de incertezas. Esta é a razão de muitas pessoas
recorrerem à profecia. Elas querem saber o que o desconhecido pode revelar.
Desejam modificar sua vida em conformidade com o que possa ser revelado. Não
obstante, tudo que possa ser vaticinado nessas profecias deixa sempre uma
dúvida persistente quanto à sua exatidão.
Para que haja paz mental na vida, necessário se faz um elo de
continuidade. Nenhuma coisa deve parecer estar completamente separada do homem,
e, inversamente, o homem separado de qualquer coisa. Até certo ponto, coisas
diversificadas como a vida, a morte, o cosmos, o passado, o presente e o
futuro, devem se converter, para nós, em seqüência harmoniosa de compreensão
subjetiva. Não devem continuar como mistérios insondáveis. Contudo, a
inteligência, por si só, não pode propiciar a união desses mistérios com a
compreensão. Como pode, então, ser alcançada a compreensão perfeita, a
iluminação?
O místico é que pode alcançara verdadeira iluminação. Ele faz isto
transcendendo o finito e alcançando o infinito. Deve ser compreendido que não
há, verdadeiramente, um mundo finito do qual falamos como coisa distinta em si
mesma. O mundo finito, assim chamado, constitui os limites dos sentidos
objetivos do homem. É a parte do infinito em redor da qual os sentidos do homem
e suas limitações construíram um mundo mental. Todavia. a consciência que os
místicos podem alcançar é capaz de atravessar esse muro. É, então, que o homem
sente o infinito como uno. Disse, certa vez, um filósofo e místico: "A
experiência mística da realidade é como que um imenso reservatório de essência
vivificadora".
A revelação que o homem tem do infinito, a inspiração especial que ele
alcança, é chamada de iluminação. Com tal iluminação, o mistério da existência
é revelado ao homem. Ele percebe interiormente a divindade que existe em todas
as coisas. Não percebe apenas peculiaridades ou separação de coisas, sentindo,
porém, a essência da qual TUDO consiste.
Essa iluminação consiste de três estágios:
O primeiro é o despertar do Eu para o que é sublime. Esse despertar
representa a compreensão do homem no sentido de que ele não está apenas ligado
ao corpo; em outras palavras, que o Eu pode sentir prazer, estados de
consciência que ultrapassam os estados proporcionados pelos apetites e pelas
paixões. Como analogia, se o homem olhasse continuadamente para o seu reflexo
em um espelho, esse reflexo lhe parecelìa constituir o seu Eu total. No
entanto, ao se afastar do espelho e fechar os olhos, despertaria, então, para a
realidade de um outro Eu, do Eu que é sentido em seu próprio interior.
O segundo estágio da iluminação é a percepção das mudanças na natureza
do Eu. Na verdade, aquilo que denominamos Eu consiste de estados de consciência
inseparáveis. Esses estados são o físico, o mental, e o estado de êxtase. O
êxtase é o prazer sublime que parece ter causa ou natureza imaterial. Neste
segundo estágio, o místico se apercebe da maneira em que, anteriormente, estava
restringindo, embora de modo inconsciente, o seu desenvolvimento potencial de
autoconsciência.
O estágio final da iluminação ultrapassa a compreensão de que há uma
realidade absoluta. Isto significa que o místico, nesse estágio, sente que está
verdadeiramente imerso no Absoluto. Sente, então, a união mística,
apercebendo-se de que está em todas as coisas e que todas as coisas nele estão.
O místico aprende que não é necessário oscilar, alternar a sua consciência de
um para outro lado, através dos vários estágios. Ele pode, à vontade, alcançar
a iluminação suprema, ou Consciência Cósmica. Todavia, isto somente é possível
quando o místico aperfeiçoou a técnica dos três estágios resumidamente acima
apontados.
Iluminação é a transição do conhecimento material (do conhecimento
estritamente intelectual) para o conhecimento psíquico. O místico gradualmente
transforma muitas das coisas desconhecidas em conhecimento subjetivo.
O aspirante, contudo, deve aprender que a purgação e a iluminação estão relacionadas. Em outras palavras, o místico deve purgar-se daquilo que a sua consciência lhe diga ser, para ele, indigno. |
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