A MÚSICA CLÁSSICA DA ÍNDIA

 
 A música Clássica Ocidental não é mais um mistério para ninguém. 

Quem nunca ouviu falar em Mozart, Bethoveen, e tantos outros célebres compositores? Amplamente difundida e popularmente conhecida, vinculada nos meios de comunicação através de comerciais de veículos e outros, e tocada abertamente no dia a dia, seja no metrô, em carros de som e em rádios, suas melodias fazem parte do nosso inconsciente coletivo. 


Erik Satie e Claude Debussy foram dois mestres da música clássica européia que temperaram suas obras com as nuances da música clássica Indiana.

Contudo, quando falamos em música clássica indiana, um questionamento se faz necessário: do que se trata?

Tentando traçar um paralelo entre as duas vertentes musicais, fazemos as seguintes perguntas: seriam ambas instrumentais? Seriam tocadas em luxuosos recitais com grandes salas, com dezenas de instrumentistas e com suas infindáveis partituras* (composições escritas*).

                 escrita hindu              escrita européia (clássica)



Estas perguntas já servem como base para entendermos as convergências e divergências básicas entre estes dois estilos.

A Música Clássica Indiana inicia sua estória em luxuosos palácios das antigas cortes mongóis, sendo tocada apenas para a mais alta realeza Hindu. 



Sua origem é encontrada nos tratados filosóficos conhecidos como Vedas (uma das mais antigas escrituras da tradição Hindu). Em princípio surge com poucas notas, sendo cantada como Samagana (3 notas). Suas frases evoluem para uma melodia mais completa (Jatis) até alcançar a complexidade melódica das Ragas Indiana. Sua evolução se deu à influência da música popular e folclórica indiana assim como as escalas Persas introduzidas em sua cultura.

Sua forma segue uma linha paralela à música Clássica Ocidental(dividida em em 12 semitons (uma oitava) originando as sete notas básicas):

                                      ESCALAS
                                        OCIDENTAL   ORIENTAL

                                              DÓ.......................SA
                                              RE......................RE
                                              MI......................GA
                                              FÁ......................MA
                                              SOL...................PA
                                              LÁ....................DHA
                                               SI......................NI


Obs: O sistema de notas indianas, conhecido como Sargam é desenvolvido através das distâncias entre as notas: Sa – Re = (1 tom) Re – Ga (1 tom) Ma – Pa (1/2 tom), etc ao invés de atribuir nome a sua nota incial. Isto quer dizer: a nota As não representa uma nota Dó e sim uma nota inicial (que pode ser qualquer nota dentro de uma escala).


A música clássica indiana é monofônica na natureza e em torno de uma única linha melódica, que é tocada sobre um centro tonal fixo. Para caracterizar esta base tonal é utilizado um instrumento com notas fixas, conhecido como Tanpura (ou tambura). Seus instrumentos não são temperados: os trastes do sitar são móveis, o violino é tocado em glissandos. No Sarod não possuímos trastes separando as notas e, desta maneira, estas sofrem distintas oscilações.


Para evitar conflitos entre os instrumentos é comum a realização de recitais em duo ou trio, como: Tabla(percussão) e Sitar (cordas) acompanhados por: Flauta, Shenai, Sarod, Violino, etc.

 

O desempenho instrumental é baseado melodicamente nas Ragas e ritmicamente em talas. Como o foco tem sido explorar o Raga, as performances têm sido tradicionalmente projetos solos e/ou duetos, que estão ganhando popularidade. 

Sistema de notação

As regras da música indiana e composições próprias são ensinadas a partir de um guru (mestre) para um shishya (discípulo), em pessoa. Nesta tradição (oral) não utilizamos notações escritas (partituras) e todo conhecimento é passado profundamente, até que o instrumentista esteja apto a se apresentar em concertos com todo seu repertório interiorizado.

Hoje em dia é utilizado um sistema criado por Bhatkhande. Outro sistema proposto que utiliza símbolos e oferece uma compreensão instantânea, como o sistema de notação pessoal.


Música Hindustani


Há uma quantidade significativa de influência persa na música hindustani, em termos de instrumentos, estilo de apresentação e melodias, como Hijaz Bhairav, Bhairavi e Yaman.

O percussionista da tabla, um tipo de tambor, é o responsável por manter o andamento da música.

Outro instrumento comum é a tanpura , que é tocada em um tom fixo (base) durante a execução da Raga .

Esta tarefa tradicionalmente recai sobre um estudante do músico solista, embora pode possa parecer monótona, é, de fato, uma honra e uma oportunidade rara para o estudante escolhido. 


Os temas principais da música hindustani são o amor romântico , a natureza, e a devoção .

O desempenho instrumental geralmente começa com uma elaboração lenta da Raga, com notas soltas, sem a entrada do ritmo. Este movimento inicial é conhecido  como Alap.
Isso pode levar um longo tempo (30 à 60 minutos) ou curtos 8 à 10 minutos dependendo da Raga e do estilo que o músico irá apresentar.
Dois outros movimentos subseqüentes da música Clássica Indiana são o Jor e o Jhalla.

O Jor é guiado por uma marcação estilo “bate-estaca,”  firme e constante. Durante o Jhalla ouvimos a força e a velocidade do instrumentista (ainda sem o acompanhamento rítmico da Tabla).

Quando a expressão inicial solo termina, temos o tema da Raga (conhecido por Sthay) seguido da marcação do compasso pela Tabla (comumente utilizando o compasso de 16 tempos teen tal). 


Vale apena observar que o que temos de composição escrita e padronizada não representa quase nada em se tratando da peça apresentada, pois a Música Clássica Indiana é um ato do momento. O intérprete entra no mood (sentimento) da Raga e expressa isso com seu feeling. Quanto maior for sua inspiração e dedicação à Raga, melhor será a expressão desta arte.

Sua técnica será posta à prova novamente no movimento derradeiro, conhecido como DRUT, que é uma aceleração final, uma catarse musical onde ambos - solista e tablista - trazem todo o poder da Raga, sua expressão melódica e sua força hipnótica para a audiência que, por sua vez sente, a cada compasso, a música elevar seu andamento. O que era algo extremamente contemplativo no início, agora traz um humor completamente forte e dinâmico.



A Música Clássica da Índia representa uma grande epopéia musical, onde podemos vivenciar momentos e sentimentos profundos, sem sair do lugar. Sua magia nos transporta para lugares mágicos, dentro da nossa imaginação, movendo nosso sentimento e nos fazendo voltar deste lugar, sempre diferente, conosco e com tudo que nos cerca. 

 
por Sandro Shankara
pesquisa: Wikipedia
 

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