BRAHMAN,MAYA,ATMAN

 

 



Brahman – Intransitivo.

Maya – Transitivo.

Atman – Reflexivo.

A fim de compreender a realidade do Universo, devemos assumir atitude correta em face da Realidade Total.

A Realidade Total, porém, o Uni-verso, consiste no seguinte:

Há o eterno UNO, que se manifesta em sucessivos DIVERSOS, uma vez que o UNI-VERSO é precisamente o que seu nome diz: UM em DIVERSOS.

O UNO é a Causa eterna, infinita, universal, a qual é, de per si, Imanifesta, Intransitiva, o puro SER, a ESSÊNCIA como tal, a qual, para nós, é inatingível, na sua longínqua Transcendência. Só a percebemos em propínqua Imanência, isto é, nós, os finitos, só percebemos o Infinito finitamente, uma vez que o recebido está no recipiente segundo a capacidade do recipiente. O finito só pode perceber o Infinito finitamente.

Quando o ser humano, ou outra creatura qualquer, adquire noção ou consciência desse Uno Imanifesto, já deixou a Causa de ser pura Essência e passou a revelar-se como Existência; passou da sua estrita Unidade para a Pluralidade; o Infinito Imanifesto de Brahman se desdobrou nos Finitos Manifestos de Brahma e Maya; o Todo Uno e Único dispersou-se em Algos Múltiplos.

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Ora a Unidade da Essência se manifesta, em primeiro lugar, em uma Dualidade, que representa a mais alta das Existências, e aparece nas diversas línguas, religiões e filosofias, como sendo o Adi-Atman, o Protókos (Primogênito), o Lógos, o Déuteros Théos (Segundo Deus), o Cristo Cósmico, anterior aos mundos visíveis e invisíveis.

Dessa suprema Dualidade nasce, depois, a Pluralidade da Natureza, que, na filosofia oriental, se chama Maya, contração de Maha-ya, que quer dizer “grande afirmação”. A Natureza é a grande afirmação, o grande “ya” (ou “sim”) de Brahman, a manifestação do Imanifesto. A Natureza revela Brahman, por ser o seu grande “sim” (ya); mas, como todo finito só pode revelar finita e imperfeitamente o Infinito, Maya também vela (oculta) Brahman. Quando o ser humano, contemplando Maya, pensa, insipientemente, ser ela a revelação total de Brahman, é ele vítima de ilusão – daí a frequente tradução de Maya por “ilusão”. Mas, quando o ser humano, sapientemente, tem consciência de que Maya é apenas uma revelação parcial e imperfeita de Brahman, então é a Natureza para ele um “grande sim” (Maha-ya) da Divindade, uma escada e um auxílio por onde ele vai à suprema Realidade do Universo.

Assim, o Intransitivo da Essência se torna Transitivo na Existência; o Uno Imanifesto se manifesta como Pluralidade – e o Uni-verso é exatamente o que seu nome diz: um em diversos.

Se o Uno não  se pluralizasse nos Diversos, seria ele uma Causa passiva, inoperante, uma Causa não-causante, o que, na realidade, não seria causa.

Se, por outro lado, os Diversos não nascessem do Uno, seriam efeitos sem Causa, o que intrinsecamente contraditório e impossível.

A Realidade total, portanto, é o Uno da Causa que se revela nos Diversos efeitos.

 Quando um indivíduo nasce, passa do Ser Infinito para o Existir Finito, do grande Todo para o pequeno Algo; e, enquanto permanece nesse plano do Finito, o indivíduo “existe” (ex-iste = está colocado para fora); quando morre, deixa de existir, mas continua a ser, porque o que é será para sempre. O Ser não tem princípio  e nem fim; somente o existir começa e termina o seu processo existencial.

O Intransitivo da Essência produz os Transitivos das Existências – mas ele mesmo é o Uno Imutável, Intransitivo.

O Uno Intransitivo é como que um ponto fixo, indimensional, atômico, pura qualidade, ponto do qual partem inúmeros raios rumo às periferias. Esses raios divergentes estão radicados no centro creador e dele inseparáveis; são como raios solares emitidos pelo sol e a ele unidos; no momento em que um raio solar se separasse do sol, deixaria de existir.

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Surge, porém, a magna pergunta: se algum desses indivíduos finitos, dessas ondas na superfície do Oceano Cósmico (Brahman, Divindade) pode perpetuar a sua existência individual – ou se todos eles devem necessariamente deixar de existir individualmente, recaindo ao nirvana absoluto do Ser Universal.

Afirmam os grandes mestres da humanidade que há seres individuais que, em certas circunstâncias, podem perpetuar a sua existência individual – suposto que: 1) sejam indivisos em si mesmos, 2) sejam indivisos do grande Todo.

Todo indivíduo, mesmo no mundo animal, vegetal e mineral, é indiviso, não separado, do grande Todo, do Ser Universal, e por isto mesmo é imortal como Ser; nas nenhum desses seres é indiviso em si, nenhum deles possui estrita individualidade ou indivisibilidade em sua íntima natureza de animal, vegetal ou mineral. Embora inseparáveis do grande Todo Cósmico, não são inseparáveis dentro de si mesmos; não possuem suficiente indissolubilidade individual, unidade intrínseca, para resistirem ao impacto de fatores dissolventes.

Somente quando um indivíduo atinge o mais alto grau da sua unidade, quando ele se torna 100% indiviso e indivisível (atômico, diria Demócrito) é que o zênite da sua força centrípeta consegue afirmar a sua indissolubilidade unitária contra todas as força centrífugas dos fatores dissolventes diversitários.

Quando o homem nasce em virtude das forças vitais, adquire ele um corpo material, que se dissolve pela morte.

Em virtude de sua força mental, adquire o homem um coro astral, que sobrevive por algum tempo à morte corporal, mas não é imortal.

Somente o renascimento espiritual é que crea no homem um corpo indestrutível, o corpo-luz, que possui o máximo de vibração, intensidade, e por isto não sucumbe ao impacto de vibrações inferiores.

De maneira que a suprema unidade da consciência espiritual “Eu Sou”, torna o indivíduo humano indiviso e indivisível, isto é, indestrutível e imortal.

Esta consciência espiritual “Eu Sou” é um processo reflexivo, em que o homem-objeto, o ego, se torna homem-sujeito, o Eu. O velho “eu tenho algo” se converte no novo “eu sou alguém”;o temporário existir se integra no eterno Ser, e desse consórcio do existir e do Ser nasce o indivíduo imortal.

O Ser é imortal por natureza.

O existir é mortal por natureza.

Mas, quando o existir se integra conscientemente no Ser, pela vivência íntima “Eu Sou” – então surge o maravilhoso fenômeno do Ser-existêncial ou do Existir-essencial, que é o Humano Eterno, Imortal, a Existência finita permeada pela Essência Infinita.   

Todo cientista sabe que diamante e carvão são a mesma substância básica: carbono. A diferença está apenas na maior ou menor concentração do carbono. Carbono altamente concentrado é diamante, baixamente concentrado é carvão. Este é facilmente dissolúvel, aquele é praticamente indissolúvel.

O Reflexivo do Atman do homem espiritual é um regresso para o Intransitivo de Brahman através do Transitivo de Maya. É a grande Síntese que superou as Antíteses e atingiu a eterna Tese.

Excertos de Setas Para o Infinito, de autoria de Huberto Rohden.
 
 
 

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