TANTRA, NEO-TANTRA OU TANTRISMO? UMA ANÁLISE CRÍTICA

 

Tantra: a ciência que transforma amantes comuns em almas gêmeas

O tantra é uma filosofia milenar que vem da Índia, e compreende nossa energia sexual como uma potente força criativa

TANTRA, NEO-TANTRA ou TANTRISMO?

 

Tantra não contempla o prazer sexual, mas a sexualidade sim, pode ser um caminho precioso para a compreensão do Tantrismo.

 

Entre as diversas tradições do Oriente que chegaram até nós há um século ou um século e meio, nenhuma continua sendo tão mal conhecida e, principalmente, tão mal compreendida quanto o tantrismo.

Pierre Feuga em “Tantrismo – Doutrina, Prática, Arte, Ritual” pg 11

 

O Neo Tantrismo é, no imaginário popular, um modismo disfarçado de terapia de cura (?) através do sexo. Esse falso hedonismo banaliza em lugar de consagrar o amor, mas mesmo devasso e comercial, representa um grito de liberdade após séculos de repressão da sexualidade.

O amor é um ato sagrado. O Tantra é a matriz do Yoga, Budismo e da Ciência e o Tantrismo faz das ações e saberes, atos divinos de amor e devoção. Da medicina à espiritualidade e da matéria inerte às profundezas da alma humana, Tantra é o legado de Shiva para nos salvar nesta Era de Trevas.

Gate, gate, paragate, parasamgate bodhi svaha.

Além, além, muito além, muito além do além até a iluminação.

Mantra citado no final do Sutra do Coração

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No início do século XX, autores como John Woodroffe, Krishnamurti, Mircea Elíade, Yogananda, e outros trouxeram do Hinduísmo, visões muito diferentes dos dogmas monoteístas que reprimiam o sexo com princípios e crenças incompatíveis com a modernidade.

 

A Massagem Íntima no tratamento da histeria levou Freud, Jung, Reich e outros a vincularem a sexualidade à saúde e à felicidade a partir do equilíbrio psico-emocional. Antes da Revolução Sexual, pioneiros como Alfred Kinsey, Masters & Johnson, Shere Hite mostraram que a repressão levava à perversão, transgressão, crime e exploração sexual. Os princípios e valores humanos do Neo-Tantrismo eram bem mais consistentes, realistas e humanos que a crença como base moral e a repressão como valor social.

 

O ocidente, no entanto, julgou o Neo-tantrismo pelo viés equivocado e antropocêntrico do monoteísmo e a imprensa oportunista de então inventou um falso “tantra” libertino, disfarçado de sexo terapêutico ou doutrina bizarra ensinada por “gurus” de fim de semana. Esse “tantra” imaginário não existe! Não há Ágamas nem escrituras com o nome de "Tantra”. Dizer que “tantra é isto ou aquilo" associando-o à volúpia como se fora um “saber” restrito a iniciados, é absurdo.

 

Uma mentira repetida mil vezes não se torna verdade. Tantra não é filosofia nem prática sexual. “Tantra Vidya” do Raja Yoga, “Dakshina Tantra” (autodomínio) ou o “Shalya Tantra” (cirurgia) da Ayurveda significam "técnicas" ou modos de fazer. “Tantras Tibetanos” são escrituras budistas e o encordoamento do sitar (instrumento musical) é Tantra, assim como estirar, espargir e ensinar (extensão do conhecimento). A palavra Tantra define um conhecimento indiano não védico. Associada a TAN (de tanati) = urdidura e TRA (de trayati) = trama (sécuo VI AD), descreve o universo como um tecido onde tudo se interliga e interage com tudo. O "tantrismo" vê no corpo e na experiência pessoal o veículo para a evolução da consciência. O Vama Marga, por exemplo, é um texto referente a essa cultura milenar que há 3 ou 5 mil anos caracterizava a “maneira de ser” da civilização Drávida que habitou o Vale do Rio Indo entre 3 e 5 mil anos A.C..

 

Tantra virou mito nas preleções, entrevistas e palestras em que o Osho falava "o tantra diz... tal coisa..." referindo-se à autodisciplina como em "o tantra diz para não lutar..." ou quando falava e "não julgar" e dissolver o "ego" num contexto de equidade. Por analogia com os preceitos do yoga e do budismo as pessoas passaram a crer que deve haver um "Tantra", ensinamento ou doutrina secreta como uma "Bíblia" imaginária. O Osho nunca revelou as fontes de suas falas, consistentes aliás, com os "Upanishads", Mahabharata, Ramayana, Bhagavad Gita e o Dhammapada.

 

Esse "tantra" hipotético e imaginário criou uma fantasia, espécie de Kama-Sutra a exemplo do hedonismo, em que a sabedoria e fim do sofrimento derivam do prazer carnal. O Tantrismo, por esse viés, é sutil e não pode ser expresso em palavras.

 

Como fundamento do yoga e do budismo, o Tantra, avesso à abordagem intelectual, propõe a meditação como meio de transcender a mente ilusória. O Neo tantrismo, pelo contrário, considera o intelecto como via de acesso principal e propõe uma espécie de “overdose” de sexo para despertar os sentidos e introjetar (espiritualizar) a ação. Vencida essa fase é possível transformar cada ato, movimento ou pensamento em atos espirituais. Uma questão de abordagem? Talvez.

 

Repetido até a exaustão tudo se banaliza, perde importância, mas o subconsciente retém o essencial. De tanto falar em orgasmo, prazer, emoção, kundalini, excitação, gratificação nos perdemos em detalhes técnicos e a ação terapêutica, que é a essência do toque amoroso nos escapa à percepção. Nossos sentidos, no entanto, fluem naturalmente. A naturalidade, em proporções adequadas, simplifica a própria vida. Fazer sem pensar, viver o momento é isso. Indo mais além, fazer pelo prazer de fazer, sem objetivos e sem ter aonde chegar permite observar o entorno, perceber alternativas, permanecer desperto e isso é atenção plena. 

 

O sexo em exagero cansa, automatiza, tira do mental, perde em emoção e ganha em sensação. Tira o foco e desperta a inteligência corporal. Essa seria a proposta no neo-tantrismo do Osho: Fartar-se do que desejamos para superar o próprio desejo.

 

"O guerreiro ferido que ao invés de arrancar a flecha e pedir socorro, quer saber quem atirou a flecha, de onde ela veio, como o atingiu e... morre de hemorragia".

 

Aja sem perguntar, sem ansiedade, objetivos nem metas, observe tudo atentamente sem julgar nada, não compare nem queira entender os quês, por quês, como nem a razão de ser de cada coisa. Nada é como pensamos, desejamos ou pretendemos que seja. As coisas são o que são, nem boas nem más, nem certas nem erradas e não irão mudar só porque não gostamos delas.

 

Não tente adivinhar ou desejar o que virá, esqueça o que já foi, pense e viva com intensidade este exato minuto. Use a intuição, o instinto, a inspiração, o seu potencial e faça o seu melhor. Um samurai meditava antes de lutar. Não saía preocupado se esquecera alguma coisa, como seriam os inimigos, se poderia morrer... ele saía para lutar, simplesmente, e se alguém fizesse um movimento que o ameaçasse o seu corpo reagiria como um relâmpago... antes da cabeça pensar.

 

Esse é o Tantra "técnico", a prática ancestral. Estude Yoga, pratique os Yamas, Niyamas, Ásanas e aprenda a meditar. Transforme cada ato em um ritual, uma atitude espiritual. Não coma para "matar" a fome, não trabalhe para "ganhar" dinheiro e não ame para "satisfazer" o desejo. Coma para alimentar o seu corpo com consciência, gratidão e responsabilidade. Comprometa-se com a sua saúde. Trabalhe pelo prazer do serviço bem feito, por amor à sua arte e pela satisfação de contribuir com o seu conforto, da família e da sociedade. Quando amar homenageie a pessoa amada, desinteressado, espontâneo, sincera e, despreocupadamente, devotado e consciente que a comunhão física entre duas pessoas é a maior de todas as demonstrações de carinho e respeito.

Na união dos corpos as divindades reproduzem a criação do universo.

Monge Kan Po

 

Fonte: https://www.ayurveda-amrita.com/o-que-%C3%A9-tantra

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