Por que o
álcool faz o cocô ficar estranho?
Especialista explica que as bebidas
interferem no tempo de trânsito intestinal e, consequentemente, na hora de ir
ao banheiro; saiba maneiras de atenuar o impacto
Por O Globo — Rio de Janeiro
28/12/2023 04h30 Atualizado há um dia
Quando se ingere bebidas alcoólicas, é comum perceber alterações na ida ao banheiro que vão além da maior frequência ao urinar. Algumas pessoas podem se queixar de fezes mais amolecidas, até mesmo casos de diarreia. Já outras se sentem mais constipadas e têm maior dificuldade para evacuar. Mas o que leva a essas mudanças? E há formas de atenuá-las?
O assunto foi abordado pelo professor de gastroenterologia da Universidade Western Sydney, na Austrália, Vincent Ho, em um novo artigo publicado na plataforma The Conversation. Nele, o especialista explica que o álcool interfere no tempo que leva para a comida passar pelo intestino, também conhecido como tempo de trânsito intestinal, e consequentemente na formação das fezes.
Quanto mais acelerado for o tempo, menos consistentes são elas, já que pouco líquido será reabsorvido pelo corpo. Já quando o ritmo é mais lento, essa reabsorção é excessiva, o que leva ao endurecimento das fezes. Porém, ele explica que fatores como a concentração de álcool, a quantidade de bebida ingerida e a duração do consumo impactam de forma diferente esse tempo:
“Em geral, bebidas alcoólicas como uísque e vodca com altas concentrações de álcool (acima de 15%) retardam a movimentação dos alimentos no estômago. Bebidas com concentrações de álcool comparativamente baixas (como vinho e cerveja) aceleram o movimento dos alimentos no estômago. Essas mudanças no trânsito intestinal explicam por que algumas pessoas podem ter uma sensação de saciedade e desconforto abdominal quando bebem vodca ou uísque”.
Por isso, beber cerveja ou vinho, por exemplo, é mais ligado a quadros de fezes mais aquosas. Porém, o professor acrescenta que não é apenas o tipo da bebida que importa. Essa aceleração do tempo de trânsito intestinal também foi observada em estudos em decorrência do consumo de álcool por um longo tempo.
Além disso, o consumo crônico de bebidas alcoólicas está ligado a maior chance de intolerância à lactose, crescimento além do normal de bactérias do intestino delgado e absorção reduzida de gorduras, todos fatores também associados às fezes mais amolecidas e aquosas.
Como uma noite de bebedeira influencia?
Por outro lado, Ho cita que estudos com animais indicaram que uma ingestão elevada de álcool só que em um curto período de tempo, como durante uma noite de bebedeira, está mais associada a um retardo no tempo de trânsito intestinal e, consequentemente, a uma probabilidade maior de constipação.
Segundo o especialista, um estudo publicado no ano passado na revista científica Translational Psychiatry comprova o efeito. O trabalho analisou o impacto do álcool nas fezes de 507 estudantes universitários.
Eles tiveram que classificar o resultado dentro da Escala de fezes de Bristol, um parâmetro que divide as fezes humanas em sete categorias de acordo com o formato e a consistência. O estudo descobriu uma forte associação entre um episódio de bebedeira intensa com fezes do tipo 1 da escala, caracterizadas por pedaços separados, pequenos e duros.
“A comida permaneceu por mais tempo nos intestinos, o que significa que mais água foi absorvida das fezes de volta ao corpo. Isto levou a fezes mais secas e duras”, diz Ho, que pondera:
“Mas o consumo excessivo de álcool nem sempre leva à prisão de ventre. O consumo excessivo de álcool em pacientes com síndrome do intestino irritável (SII), por exemplo, leva claramente a diarreia, náuseas e dor abdominal”.
O que fazer para diminuir o impacto?
Se essas alterações nas fezes são um problema para você, Ho orienta que a maneira mais eficaz de reduzi-las é limitando o consumo de álcool. Mas, diz que perceber como cada tipo de bebida interfere na hora de ir ao banheiro também pode ajudar:
“Algumas bebidas alcoólicas podem afetar mais os movimentos intestinais do que outras. Se você notar um padrão de cocô preocupante depois de beber certas bebidas, pode ser sensato reduzir o consumo dessas bebidas”.
Além disso, ele afirma que, se a tendência é desenvolver um quadro de diarreia, uma boa dica é evitar a mistura com bebidas que envolvam cafeína. “Ela é conhecida por estimular as contrações do cólon e, portanto, pode piorar a diarreia”, diz.
Já se o problema for prisão de ventre, manter-se hidratado é ainda mais importante. “Beber bastante água antes do álcool (e beber água entre as bebidas e após o término da festa) pode ajudar a reduzir a desidratação e a constipação”.
Ele lembra ainda a importância de comer antes de consumir bebidas alcoólicas, especialmente opções ricas em proteínas e fibras: “os alimentos no estômago podem retardar a absorção do álcool e ajudar a proteger contra os efeitos negativos do álcool no revestimento intestinal”.
Por fim, ele tranquiliza em relação às alterações nos movimentos intestinais e nas fezes: são normais e geralmente de curta duração.
Apenas se sintomas como diarreia persistirem além de alguns dias após a interrupção do consumo de álcool, é que é preciso ligar o alerta. Neste caso, pode ser um sintoma de um distúrbio intestinal subjacente, como doença inflamatória intestinal.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2023/12/28/por-que-o-alcool-faz-o-coco-ficar-estranho.ghtml
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