DOENÇA DO 'CERVO ZUMBI' SE ESPALHA EM PARQUE NOS EUA, E CIENTISTAS ALERTAM PARA RISCOS DE CONTÁGIO EM HUMANOS

 Cervo mula é a primeira detecção positiva confirmada da Doença Debilitante Crônica no Parque Nacional de Yellowstone


Doença do 'cervo zumbi' se espalha em parque nos EUA, e cientistas alertam para riscos de contágio em humanos

Doença causa alterações nos cérebros e sistemas nervosos dos hospedeiros, que os deixam letárgicos e com um característico "olhar vago"

Por O Globo — Rio de Janeiro

27/12/2023 12h05  Atualizado há 2 dias

O Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, e o Departamento de Pesca e Vida Selvagem de Wyoming (WGFD, na sigla em inglês) confirmaram recentemente a presença da Doença Debilitante Crônica (CWD, na sigla em inglês) no cadáver de um cervo mula adulto encontrado perto do lago, na parte sudeste do parque. Esta é a primeira detecção positiva confirmada da doença no Parque Nacional de Yellowstone, e a descoberta representa um importante alerta público.

De acordo com um comunicado publicado pelo parque, o cervo mula foi originalmente capturado pela equipe do WGFD perto de Cody, em Wyoming, em março de 2023. O objetivo era realizar um estudo da dinâmica populacional local, com uma coleira GPS. O objeto indicou que o animal morreu em meados sete meses depois, em outubro. O cadáver foi localizado no Promontory, próximo ao sudeste do Lago Yellowstone, e amostras foram coletadas para testes.

"As amostras testaram positivo para CWD com base em vários testes diagnósticos realizados no Laboratório de Saúde da Vida Selvagem do WGFD. A doença contagiosa e fatal de cervos e alces é causada por uma proteína malformada (príon) para a qual não há vacina ou tratamento conhecido. Os príons se acumulam no cérebro e em outros tecidos, causando mudanças fisiológicas e comportamentais, emaciação e morte", detalha o comunicado.

O que é a Doença do 'cervo zumbi'?

Por anos, a Doença Debilitante Crônica, causada por príons se espalha pela América do Norte, com preocupações manifestadas principalmente por caçadores que observaram veados com comportamentos estranhos.

Os príons causam alterações nos cérebros e sistemas nervosos dos hospedeiros, que os deixam babando, letárgicos, emaciados, cambaleantes e com um característico "olhar vago", que levou alguns a chamarem de "doença dos cervos zumbis". O quadro é fatal, sem tratamentos ou vacinas conhecidos.

"Desde meados da década de 1980, a CWD se espalhou por Wyoming e agora é encontrada na maioria do estado. Estima-se que cerca de 10-15% dos cervos mula perto de Cody, Wyoming, que migram para a porção sudeste do Yellowstone durante os meses de verão, tenham CWD", continua o comunicado.

Como é a transmissão da Doença do 'cervo zumbi'?

A doença é transmitida por contato direto entre animais ou indiretamente por meio do contato com partículas infecciosas que persistem no ambiente, como fezes, solo ou vegetação, e o efeito a longo prazo em cervos e alces é incerto.

'Doença com implicações ecológicas'

Segundo o veterinário e ex-chefe de saúde animal do Fish & Wildlife Service, Thomas Roffe, a descoberta da doença em Yellowstone, cujo ecossistema sustenta a maior e mais diversificada variedade de grandes mamíferos selvagens nos EUA, representa um importante alerta público.

— Esse caso coloca a CWD no radar de atenção generalizada de maneiras que não estava antes — e isso, ironicamente, é algo bom. É uma doença que tem enormes implicações ecológicas — conta ao The Guardian.

Roffe previu a chegada da Doença Debilitante Crônica a Yellowstone há décadas e alertou que tanto o governo federal quanto o estado de Wyoming precisavam tomar medidas agressivas para ajudar a desacelerar a propagação. Os alertas ignorados trarão consequências para os milhões de visitantes que vão ao parque a cada ano.

— Estamos lidando com uma doença que é inevitavelmente fatal, incurável e altamente contagiosa. Embutido na preocupação está o fato de que não temos uma maneira fácil e eficaz de erradicá-la, nem nos animais que infecta nem no ambiente que contamina — diz Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.

Uma vez que um ambiente é infectado, o patógeno é extremamente difícil de erradicar e pode persistir por anos na terra ou em superfícies. Os cientistas relatam que os príons são resistentes a desinfetantes, formaldeído, radiação e incineração a 600°C.

Preocupação com a população

Com a temporada de caça em andamento nos Estados Unidos, os Centros de Controle de Doenças dos EUA e estados individuais recomendam fortemente que os animais caçados sejam testados para doenças, e que a carne de cervídeos que parecem doentes não seja consumida.

A Aliança para a Vida Selvagem Pública estimou que, em 2017, de 7 mil a 15 mil animais infectados por CWD eram inadvertidamente consumidos por humanos a cada ano, e que o número deveria aumentar 20% anualmente.

Wyoming serve como ponto de referência para outros estados. Desde 1997, foram coletadas e testadas 92.000 amostras de tecido lá, disse Breanna Ball, do Departamento de Pesca e Vida Selvagem de Wyoming. No ano passado, a carne de 6.701 veados, alces e alces foi testada. A doença estava presente em cerca de 800 amostras, sugerindo que as taxas de infecção estão aumentando.

Segundo o Serviço Geológico dos EUA, a CWD está presente agora em 32 estados e três províncias canadenses.

Próximas etapas em Yellowstone

A equipe do Parque Nacional de Yellowstone afirma que vai priorizar ações para gerenciar a doença, uma vez que não há uma estratégia eficaz para erradicá-la. Entre elas, estão:

  • Aumentar a colaboração e o compartilhamento de informações com o WGFD e outras agências estaduais para identificar áreas dentro do Yellowstone com risco aumentado de CWD;
  • Incrementar a monitoração da presença de CWD em outros cervos e alces no parque;
  • Investir na investigação de carcaças e na coleta de amostras para testes.

— A ciência do que é necessário para ajudar a desacelerar a propagação da CWD é clara e já é conhecida há muito tempo. Ainda estamos no início de um evento assustador de doença, e não sabemos para onde está indo. Há muito em jogo para o ecossistema de Yellowstone e para todos os americanos que gostam de ter uma vida selvagem saudável na paisagem — conclui Thomas Roffe.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/12/27/doenca-do-cervo-zumbi-se-espalha-em-parque-nos-eua-e-cientistas-alertam-para-riscos-de-contagio-em-humanos.ghtml



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