É possível ser feliz sem sexo?
Em sua nova coluna para a Vogue, a
antropóloga Mirian Goldenberg traz histórias de mulheres 50+ que perderam o
interesse por sexo e mantiveram o carinho e amor em seus relacionamentos
Por Mirian Goldenberg (@miriangoldenberg)
18/08/2023 10h08 Atualizado há 3
meses
No ano passado, Jane Fonda, aos 84 anos, disse que envelhecer só traz benefícios, especialmente para as mulheres. Ao responder a uma pergunta em um programa de rádio nos Estados Unidos, ela disse que, naquele momento, sua vida sexual era “privada” e “solo”.
A atriz afirmou que as mulheres maduras se sentem mais livres e felizes com o passar do tempo, pois perdem o medo de dizer o que precisam. “Perdemos muito tempo não querendo dizer: ‘Espere um minuto, espere, espere, espere. Não, não, vá mais devagar. Um pouco para a esquerda'. Nós não queremos fazer isso…. Mas quando ficamos mais velhas, é tipo: ‘Não, eu sei muito bem o que quero’”.
No meu livro A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade, mostrei que Jane Fonda, aos 82 anos, disse que não estava mais interessada em sexo. “Não, não, zero. Não tenho tempo. Estou velha e já fiz muito sexo. Eu não preciso disso agora porque estou muito ocupada. Não tenho mais interesse. Tenho uma vida bem completa, com filhos, netos e amigos. Não quero mais saber de romances. Não tenho tempo para isso.”
Na minha pesquisa atual sobre maturidade e felicidade, tenho entrevistado dezenas de mulheres de mais de 50 anos que afirmam exatamente o mesmo: “sexo não é mais a minha prioridade”. Na verdade, para algumas delas, sexo nunca foi a prioridade. Outras, que afirmaram terem tido uma vida bastante satisfatória e feliz no sexo, contaram que, com a chegada da menopausa, o desejo diminuiu e passaram a valorizar e investir em outros prazeres na maturidade.
Também tenho encontrado mulheres de mais de 50 anos que chegaram ao orgasmo pela primeira vez em suas vidas com o vibrador. O que, então, está acontecendo com a vida sexual das mulheres na maturidade?
Não é possível generalizar os desejos e comportamentos sexuais das mulheres maduras, pois cada mulher é única e singular. No entanto, tenho encontrado muitos casos de mulheres de mais de 50 anos que, apesar de se sentirem felizes em seus casamentos, não sentem mais vontade de fazer sexo com o marido. Frequentemente, são casamentos mais longos, com filhos adolescentes ou adultos. Algumas tiveram uma vida sexual frequente e satisfatória com o marido, mas, com a chegada da menopausa, perderam o tesão, como contou uma psicóloga de 50 anos:
“A menopausa chegou junto com a pandemia. Foi uma tragédia aqui em casa. Meu marido estressado com medo de perder o emprego, eu tendo que cuidar dele, de dois filhos adolescentes e dos meus pais, atendendo meus pacientes virtualmente. Foi um verdadeiro inferno, fiquei deprimida e desesperada com a situação. Não sobrou saúde física e psicológica para transar. Minha vida sexual era ótima até março de 2020. Depois disso, simplesmente desapareceu, não tenho mais sexo com meu marido”.
Ela afirmou que isso não acabou com o amor, romantismo, carinho, cuidado e respeito entre o casal. Disse que os dois são muito companheiros e apaixonados: “Tem tudo o que sempre existiu no casamento, menos sexo”.
“Até tentamos, duas ou três vezes, transar durante a pandemia. Mas eu senti tanta dor, foi tão desagradável, que paramos de vez. Ele é tão maravilhoso que me deu de presente de aniversário um sugador. E, assim, tenho resolvido sozinha essa questão, uma ou duas vezes por mês. E ele sabe disso. Não tenho ideia de como ele está se resolvendo nessa questão sexual. Às vezes, fico curiosa e pergunto. Mas ele não quer conversar, foge do assunto. E eu respeito o jeito dele.”
A psicóloga contou que o seriado Gracie e Frankie foi determinante para a sua vida conjugal. “Eu e meu marido amamos assistir essa série. Ver Jane Fonda, com mais de 80 anos, falar tão naturalmente sobre vibradores e prazer sexual feminino transformou algo que sempre foi um tabu, proibido de falar aqui em casa, em algo mais natural, saudável e até engraçado. Antes, eu tinha vergonha de falar sobre masturbação com meu marido, nunca havia comprado um vibrador. Hoje, não sei mais viver sem o meu brinquedinho favorito. Assistir Grace e Frankie provocou uma revolução na minha vida. Assim como me libertou, deve ter libertado milhões de mulheres de todas as idades em diferentes países do mundo. E, com certeza, aumentou muito a venda dos vibradores.”
Ela terminou a nossa conversa com uma série de perguntas que eu tenho escutado das mulheres maduras: “Por que acreditamos que é obrigatório e saudável fazer sexo com o mesmo homem ou com a mesma mulher até morrer? Não é natural que o tesão diminua, ou até mesmo acabe, após tantos anos de casamento? Até que ponto, em meio a tantas crises pessoais, conjugais, familiares e profissionais, dá para manter o tesão? Como a menopausa afeta a libido feminina? E os homens? Eles também perdem o tesão com a idade? Por que eles têm tanta dificuldade para conversar sobre a falta de tesão? Podemos ser felizes nos nossos casamentos mesmo sem sexo?” E, você, madura ou não, também já se questionou sobre essas questões?
Fonte:https://vogue.globo.com/sua-idade/noticia/2023/08/e-possivel-ser-feliz-sem-sexo.ghtml
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