SAMSARA - A RODA DO RENASCIMENTO - ENSINAMENTOS FUNDAMENTAIS DO BUDISMO CH'AN ATRAVÉS DO GRANDE MESTRE HSING YUN
SAMSARA (संसार)
Samsara é uma palavra em sânscrito que vem da combinação de Samsa (ilusão) e Ra (movimento). É a ilusão em movimento, representada de forma cíclica. Tem também o sentido de “perambulação”. Muitas pessoas pensam que esse é o nome Budista para o lugar em que vivemos no momento – o lugar que abandonamos quando vamos para Nibbana (Nirvana). Mas nos textos Budistas mais antigos samsara é a resposta, não para a pergunta “Onde nós estamos?“, mas para a pergunta “O que estamos fazendo?“. Ao invés de um lugar, é um processo: a tendência de ficar criando mundos e depois se mudando para dentro deles. À medida que um mundo se desintegra, você cria um outro e lá se instala. Ao mesmo tempo, você dá de cara com outras pessoas que também estão criando os seus próprios mundos.
O jogo e a criatividade desse processo pode algumas vezes ser prazeroso. Na verdade, isso seria perfeitamente inócuo se não causasse tanto sofrimento. Os mundos que criamos insistem em desmoronar e nos matar. Mudar para um novo mundo requer esforço: não somente as dores e riscos do nascimento, mas também os severos golpes – mentais e físicos – que resultam ao passar da infância para a maioridade repetidas vezes. O Buda certa vez perguntou aos seus monges, “O que vocês acham que é maior: a água nos grandes oceanos ou as lágrimas que vocês derramaram nessa perambulação?” A resposta dele: as lágrimas. Pense nisso na próxima vez que estiver mirando o oceano ou brincando nas suas ondas.
Além de criar sofrimento para nós mesmos, os mundos que criamos se alimentam dos mundos dos outros, da mesma forma como o deles se alimenta do nosso. Em alguns casos essa alimentação pode ser prazerosa e benéfica para ambos, mas mesmo nesse caso essa situação terá um fim. De modo mais típico, ela irá causar dano a pelo menos uma das partes na relação, com frequência a ambas. Quando você pensa em todo o sofrimento incorrido para manter apenas uma pessoa vestida, alimentada, abrigada e saudável – o sofrimento tanto daqueles que têm que pagar por essas necessidades, bem como daqueles que labutam ou morrem na sua produção – você verá o quão explorador pode ser mesmo o mais rudimentar processo de construção de mundos.
É por isso que o Buda tentou encontrar o caminho para parar essa “samsarização“. E uma vez que ele o encontrou, ele encorajou outros a segui-lo também. Porque a “samsarização” é algo que cada um de nós faz e cada um tem que parar isso por si mesmo. Se Samsara fosse um lugar, poderia parecer egoísta que uma pessoa buscasse a escapatória, deixando os outros para trás. Mas quando você compreende que é um processo, não há de modo algum nada de egoísta em dar-lhe um fim. É o mesmo que abandonar um vício ou um hábito abusivo. Quando você aprende as habilidades necessárias para parar de criar os seus próprios mundos de sofrimento, você poderá compartir essas habilidades com os outros para que eles possam parar de criar os deles. Ao mesmo tempo, você nunca mais terá que se alimentar dos mundos dos outros, portanto, você estará reduzindo o fardo deles também.
É verdade que o Buda comparava a prática de parar o samsara ao ato de ir de um lugar ao outro: desta margem de um rio para a outra margem. Mas os trechos nos quais ele faz essa comparação, com frequência concluem com um paradoxo: a outra margem não possui um “aqui,” nem um “ali,” nem um “no meio“. Sob essa perspectiva, é óbvio que os parâmetros de tempo e espaço do Samsara não se referem ao contexto preexistente no qual perambulamos. Eles são os resultados da nossa perambulação.
Para alguém viciado em construir mundos, a ausência de parâmetros conhecidos soa perturbadora. Mas se você estiver cansado de criar sofrimento incessante e desnecessário, talvez queira tentar algo novo. Afinal, você vai sempre poder recomeçar a construir se a falta de “aqui” ou “ali” resultar maçante. Mas dentre aqueles que aprenderam como romper esse hábito, ninguém se sentiu mais tentado a “samsarizar” outra vez.
Fonte:https://www.saindodamatrix.com.br/samsara/
Samsara Dividido por Zero
Por
Ajaan Thanissaro
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O objetivo da prática Budista, nibbana, se diz que é completamente desprovido de causa e exatamente nisso existe um paradoxo. Se o objetivo é desprovido de causa, como pode um caminho de prática - que é causal por natureza - produzi-lo? Essa é uma questão antiga. O Milinda-pañha, um conjunto de diálogos composto no início da era cristã, relata uma conversa entre o rei Milinda e um monge, Nagasena, no qual o rei pergunta a Nagasena exatamente sobre isso. Nagasena responde com uma analogia. O caminho da prática não causa nibbana, ele diz. Ele simplesmente o leva até lá - tal como um caminho para uma montanha não faz com que a montanha exista. Ele somente o leva até lá.
A resposta de Nagasena, embora muito apropriada, na verdade não solucionou o caso dentro da tradição Budista. Ao longo dos anos muitas escolas de meditação têm ensinado que as fabricações mentais somente atrapalham o atingimento de um objetivo que é desprovido de causas e não é fabricado. Somente através do não fazer absolutamente nada, e dessa forma não fabricando nada na mente, eles dizem, o não fabricado surgirá.
Esse entendimento é baseado numa compreensão bastante simplista do que é a realidade fabricada, vendo a causalidade como linear e totalmente previsível: X causa Y que causa Z e assim por diante, sem nenhum efeito dando uma volta para condicionar as suas causas e sem nenhuma possibilidade de usar a causalidade para escapar da teia causal. Uma das muitas coisas que o Buda descobriu no seu processo de iluminação foi de que a causalidade não é linear. A experiência no presente é moldada tanto por ações no presente como por ações do passado. As ações no presente moldam o presente e o futuro. Os resultados de ações do passado e do presente interagem continuamente. Assim existe sempre espaço para adicionar novos elementos ao sistema, o que abre espaço para o livre arbítrio. Existe também espaço para a infinidade de processos de 'feedback' que fazem com que as experiências sejam tão profundamente complexas e que são descritas de maneira tão intrigante na teoria do caos. A realidade não se assemelha a uma simples linha ou círculo. Ela se assemelha mais às trajetórias bizarras criadas por uma estranha força de atração ou um conjunto de Mandelbrot.[1]
Como existem muitas similaridades entre a teoria do caos e as explicações Budistas acerca da causalidade, parece legítimo explorar essas similaridades, para ver como a teoria do caos pode ajudar a esclarecer como um caminho de prática causal pode conduzir a um objetivo que é desprovido de causa. Isso não equivale a igualar o Budismo à teoria do caos ou de engajar-se em uma pseudo ciência. É simplesmente uma busca de semelhanças para esclarecer um aparente conflito nos ensinamentos do Buda.
E assim sucede que uma das descobertas da matemática não linear - que é a base da teoria do caos - esclarece justamente esse assunto. No século 19, o matemático francês Jules-Henri Poincaré descobriu que em todos os sistemas físicos complexos existem pontos que ele chamou de ressonâncias. Se as forças que governam um sistema são descritas por equações matemáticas, as ressonâncias são os pontos em que as equações se cruzam de tal forma que um dos membros é dividido por zero. Isto, é claro, produz um resultado indefinido, o que significa que se um objeto dentro do sistema se desgarrasse para um ponto de ressonância, ele não mais seria definido pela estrutura causal que determina o sistema. Ele estaria livre.
Na prática é muito raro que um objeto encontre um ponto de ressonância. As equações que descrevem os pontos que se encontram imediatamente ao redor de uma ressonância tendem a desviar qualquer objeto que se aproxima, de entrar na ressonância, a menos que o objeto se encontre em uma trajetória precisa em direção ao núcleo da ressonância. No entanto, não é necessária muita complexidade para criar ressonâncias - Poincaré as descobriu enquanto calculava as interações gravitacionais entre três corpos: a terra, o sol e a lua - e quanto mais complexo for o sistema, maior o número de ressonâncias e maior a probabilidade de que objetos irão se desgarrar na sua direção. Não é surpresa, que meteoros em uma escala maior e eléctrons em uma escala menor, ocasionalmente se percam em uma ressonância num campo gravitacional ou elétrico e assim alcancem a liberdade da completa imprevisibilidade. Essa é a razão porque o seu computador ocasionalmente trava sem ter uma razão aparente e porque a mesma coisa pode um dia acontecer com as batidas do seu coração.
Se formos aplicar esta analogia ao caminho Budista, o sistema no qual estamos é samsara, o ciclo de renascimentos. As suas ressonâncias seriam aquilo que os textos chamam de "não fabricado", a abertura em direção ao nibbana que não é sujeito a causas. A parede de forças opostas ao redor das ressonâncias corresponderiam ao sofrimento, estresse e o apego. Permitir que você seja repelido pelo sofrimento ou desviado pelo apego, não importando quão sutis sejam, seria o mesmo que aproximar-se de uma ressonância para então ser desviado para uma outra parte do sistema. Mas focar diretamente na análise do sofrimento e do apego e desmontar as suas causas, seria como estar em uma trajetória direta para a ressonância para encontrar a completa, indefinível liberdade.
Isto, é claro, é uma simples analogia. Mas é uma analogia proveitosa para mostrar que não existe nada de ilógico em ativamente perseguir o controle sobre os processos de fabricações mentais e da causalidade com o objetivo de ir além da causa e efeito. Ao mesmo tempo, dá uma dica de porque um caminho de total inércia não conduziria ao não fabricado. Se você simplesmente sentar-se quieto dentro do sistema de causalidade, você nunca irá chegar próximo das ressonâncias onde o não fabricado está. Você ficará flutuando no samsara. Mas se você toma como objetivo o sofrimento e o apego e trabalha para desmantelá-los, você será capaz de romper a barreira depois da qual o momento presente será dividido por zero na mente.
Notas:
[1] Matemático francês, pioneiro da teoria do caos. [Retorna]
Caros Mestres a Amigos no Darma,
Hoje, vamos falar sobre um tema de fundamental importância, mas de difícil elucidação — o renascimento. Quando falamos de renascimento, as pessoas acham a idéia engraçada. Consideram essa crença obsoleta diante do avanço tecnológico do século XXI. Há quem pense que a questão do renascimento diz respeito exclusivamente aos domínios da religião. Afinal de contas, o que acontece depois da morte é algo aparentemente muito distante do nosso dia-a-dia. A frase: "Se não sei nada a respeito da vida, que dirá da morte?", reflete o sentimento de alguns. Para esses a questão do renascimento não é uma preocupação imediata. De fato, no ambiente desta grande sala de conferências, o tema "renascimento" pode não parecer o mais apropriado. Num campo de batalha, no entanto, frente a frente com a morte, nos pareceria oportuno abordar e estudar essa questão extremamente séria e importante.
É comum ouvir os jovens dizer, com ar de desdém, que não acreditam em renascimento. Ao não reconhecer a existência do renascimento, eles simplesmente limitam sua compreensão da vida. Se não existisse renascimento, não haveria vidas passadas e, mais que isso, não haveria vidas futuras. Sem vidas futuras, a existência seria breve e sem sentido; a perspectiva de vida seria triste e incerta! Ao passar por uma fase difícil, geralmente tentamos nos encorajar dizendo para nós mesmos: "Tudo vai dar certo. Você vai ver como estarei daqui a dez anos". Mesmo os "daqui a vinte anos, estarei de volta". Com o renascimento, a existência humana tem, digamos assim, mais espaço para manobras. Com o renascimento, sonhos que não se realizaram podem vir a se concretizar. Com o renascimento sempre haverá o próximo trem da vida no qual poderemos embarcar.
Nenhum fenômeno deste mundo escapa das voltas da roda do renascimento. É por causa dessas voltas que renasceremos num dos seis reinos de existência; alguns abençoados, outros cheios de sofrimento. Os processos vitais de nascer e morrer são exemplos de renascimento. As mudanças na natureza também são manifestações de renascimentos. Há a mudança das estações. Há o ciclo do tempo — passado, presente e futuro. Há o ciclo do dia e da noite. Há modos temporários de renascimento. A mudança de direção e a transição de um lugar para outro são tipos espaciais de renascimento. Em resumo, tudo à nossa volta é resultado do renascimento. O vento sopra e provoca o acúmulo de nuvens; as nuvens se transformam em chuva, que cai sobre o solo. A chuva evapora e o vapor sobe em direção ao céu, formando nuvens novamente. Esse processo contínuo do ciclo da água é uma forma de renascimento. Quando um automóvel queima gasolina, ele gera energia e produz dióxido de carbono. O dióxido de carbono é absorvido pelas plantas. Quando as plantas morrem, elas se decompõem e formam, muitos anos depois, depósitos naturais de petróleo. Essa é outra forma de renascimento. Uma luz pode ser acesa, apagada e acesa novamente. Isso é renascimento também.
A roda do renascimento pode ser encontrada não apenas nas transformações do universo: ela também é evidente nas muitas experiências pelas quais uma pessoa passa ao longo da vida, desde o momento em que nasce, até que more. De acordo com uma pesquisa científica, não existe uma única célula do nosso corpo que não tenha se transformado num período de sete anos. Em outras palavras, nosso corpo se renova totalmente a cada sete anos. A estrutura celular, a percepção e a cognição de todas as criaturas vivas, desde organismos simples até os avançados seres humanos, estão constantemente se movendo, se transformando, vivendo e morrendo. Esse constante estado de fluxo, renovação e mudança metabólica por que passamos fisicamente (nascimento, envelhecimento, doença e morte) e mentalmente (formação, existência, mudança e cessação dos pensamentos) é o que chamamos de roda do renascimento. Isso pode ser comparado ao movimento cíclico das rodas de um carro. A roda do renascimento também age nos relacionamentos familiares; em determinada época, somos filhos dos nossos pais e, em outra, passamos a ser pais dos nossos filhos. As alterações na nossa vida financeira e os nossos altos e baixos emocionais são também exemplos de renascimento.
De todos os exemplos de renascimento mencionados, aquele que devemos entender integralmente no budismo é o da roda do renascimento dentro dos seis reinos de existência. De acordo com os ensinamentos budistas, nós, seres humanos, passamos constantemente por ciclos de renascimento. Quando nos referimos a mudanças lentas e graduais, usamos os termos "formação e cessação" ou "mudança e transformação", e reservamos o termo "ciclo de renascimento" para aquelas mudanças que são mais rápidas e repentinas. Esses ciclos são conseqüências diretas do carma. O carma é a força criada como resultado de nossas ações e pensamentos. A força do carma é o que perpetua o ciclo de causa e efeito, fazendo surgir o fluxo da vida, sem fim nem começo, em que se manifestam diferentes variações de formas de vida, como os seres celestiais, os seres humanos, os espíritos e os animais. No budismo, isso é chamado de "roda do renascimento dentro dos seis reinos de existência". O Mestre Sheng An, em sua obra Inspiration to Pledge the Bodhichitta, diz: "Eu e todos os demais seres estamos presos ao ciclo do renascimento do tempo eterno e não podemos nos libertar. Céu e terra, aqui e ali, vivemos sob muitas formas, surgindo e perecendo". Ainda assim, essa profunda e importante lei do renascimento não é aceita por muitos que a ignoram. Não é de surpreender que Mestres Antigos se lamentassem: "Só os sutras podem revelar essa verdade; só o Buda pode falar de tais assuntos". O renascimento não é uma teoria religiosa; não é uma fuga ou um conforto psicológico quando o momento implacável da morte desce sobre nós. É uma ciência precisa que explica nossa existência desde o passado até o futuro. Devemos desenvolver uma compreensão clara do renascimento, não porque seja isso o que se espera de nós no budismo, mas porque esse entendimento pode nos ajudar a examinar nossa vida de forma inteligente. Em seguida, tratarei da perspectiva budista sobre o ciclo do renascimento, em quatro itens.
A Importância de se Compreender o Renascimento
Que importância tem o renascimento para a nossa vida? Que sentido ele acrescenta à nossa vida? Com o renascimento, nossa existência tem continuidade; a vida deixa de se limitar a um breve período de tempo de aproximadamente cem anos. Com o renascimento, a vida passa a ter esperança e possibilidades ilimitadas. Com o ciclo do renascimento, a morte passa a ser o início de outra existência. Viver e morrer, morrer e viver, a existência continua ininterrupta, com possibilidades ilimitadas. Pode se comparar esse ciclo a uma tocha. Quando a base de madeira é totalmente queimada, ela é substituída por outra. Cada base pode ter componentes diferentes; a chama, no entanto, continua a queimar. O renascimento é, também, como uma lamparina. Quando uma lamparina se extingue, acende-se outra. Essas lamparinas, queimando sucessivamente, servem para anular a escuridão do mundo. À medida que passamos pelo ciclo de renascimento dentro dos seis reinos, nosso corpo pode assumir muitas formas; podemos ser João ou José, um ser celestial ou um ser humano preso à terra. Embora as formas variem, a chama da vida nunca se extingue e a lamparina da sabedoria nunca para de queimar. O renascimento é o que dá à nossa existência universalidade; existimos desde tempos imemoriais até os dias de hoje e nossa existência é infinita. O renascimento dá sentido à nossa existência.
Embora se diga que todos são iguais aos olhos da lei, sabemos que alguns ainda conseguem esquivar-se dela. Em contraposição, o budismo nos ensina que o ciclo do renascimento trata todos da mesma forma. Seja um nobre ou um sujeito comum, todos têm de enfrentar o ciclo do renascimento. O poeta Mu Tu disse bem: "O único encanto verdadeiro deste mundo são os cabelos grisalhos; não os penteados altos da cabeça dos ricos". O tempo é o mais objetivo dos juízes. Nascimento, envelhecimento, doença e morte são o mais imparcial de todos os júris.
Causa e efeito, assim como o ciclo do renascimento, não são controlados por um rei Yama (rei dos infernos) nem por um criador divino. Nossas circunstâncias de vida, sejam elas boas ou más, são determinadas pelo que fizemos no passado, ou seja, pelo nosso carma. Nosso carma acumulado interage com condições que amadurecem e se manifesta na forma de vários tipos de efeitos dolorosos ou abençoados. Por isso, está escrito no sutra: "Milhões de milênios podem passar, mas o carma não se desvanece. Quando as condições adequadas se fazem presentes, a pessoa tem de arcar com as conseqüências de seus atos". Sejamos inteligentes ou tolos, ricos ou pobres, as circunstâncias da nossa vida, no ciclo do renascimento dentro dos seis reinos, são todas produzidas por nossas ações passadas. Tomemos o exemplo da criança prodígio de seis anos de idade, Na-Ch'ing Wang. Seu talento para a matemática supera a capacidade de muitos professores universitários e de muitos especialistas. Esse talento não foi desenvolvido nesta vida; ele é a soma de tudo o que esse menino aprendeu em vidas anteriores. Essa também é uma forma de renascimento. O renascimento nos tira das mãos do poder divino, pois é o nosso próprio carma que controla o renascimento. Nem o céu nem os deuses podem nos trazer sorte ou infortúnio; somos nossos próprios mestres. Do ponto de vista do renascimento, todo ser é livre e igual. A felicidade e o sucesso são produtos da própria conduta. A infelicidade e a tragédia também são produzidas por nós. Um criador não pode nos proteger das conseqüências dos nossos próprios crimes; tampouco os deuses podem nos privar de nossos méritos. Diante do renascimento e da lei de causa e efeito, não existe o que se chama de "sorte". Somos os criadores do nosso próprio futuro.
Deveríamos viver nossa vida como se ela fosse uma roda sempre em movimento. Só assim ela tem frescor. Ao nos arrepender de nossos erros, fazemos a roda girar no sentido contrário; com o tempo e o arrependimento, podemos afinal nos aperfeiçoar. O renascimento nos dá esperança ilimitada. Embora o inverno seja longo, a cálida primavera um dia chegará. O renascimento não é um jogo de palavras sobre o qual se possa debater; tampouco é algo em que acreditemos ou não. Mesmo que, teimosamente nos recusemos a acreditar no renascimento, podemos ver que ele está em toda parte ao nosso redor. Em todos os fenômenos da sociedade, da natureza, do universo e até entre você e eu: tudo está inserido na roda do renascimento. Portanto, a atitude mais sábia é compreender o renascimento com inteligência, a fim de nos libertar dele, transcender os três mundos e, finalmente, transformar a roda do renascimento na roda do Darma dos Budas e bodhisattvas.
Algumas Questões Relativas ao Tema do Renascimento
Embora o renascimento seja um tema de profundo significado e importância, há quem tenha muitas dúvidas em relação à sua existência, sua manifestação e seu propósito. Vejamos algumas das perguntas mais freqüentes com relação a esse tema.
A. O fato de existir um ciclo de renascimento é positivo ou negativo para nós?
Algumas pessoas se sentem angustiadas diante da idéia de renascer. Prefeririam que a morte fosse o capítulo final da vida. O budismo não vê a morte como um ponto final, mas, ao contrário, como o início de uma nova vida. Esta vida é uma das muitas que já vivemos e deveríamos aprender a valorizá-las, para que não as desperdicemos. Com o renascimento, nossa vida não acaba simplesmente aqui; temos a chance de construir novamente um futuro melhor. Sem o renascimento, a morte seria o fim absoluto. Não seria trágico ir para o túmulo sem ver realizados nossos sonhos e expectativas? Como pode uma vida sem renascimento ser considerada desejável?
B. Por que não temos consciência do renascimento?
Alguém poderia questionar: se o renascimento de fato existe, por que não nos lembramos de nada do que tenha acontecido em nossas vidas passadas? Está escrito nos sutras: "Os seres humanos são desprezíveis; o neto se casa com a avó". Por que somos tão ignorantes? O que nos faz esquecer com tanta facilidade de nossas vidas passadas, a ponto de chagarmos a nos casar com nossa própria avó? O folclore chinês diz que, antes de renascermos, tomamos um preparado que apaga todas nossas lembranças de vidas anteriores. Platão, por sua vez, acreditava que a alma, em sua jornada de renascimento, devia primeiro cruzar um deserto extremamente quente e árido, antes de chegar a um rio de água corrente e fresca. A alma sedenta, ao beber no rio, tinha, sem que se desse conta, a memória de sua vida passada completamente apagada pelas águas. Do mesmo modo, o folclore romano conta uma história similar que procura explicar a razão pela qual esquecemos nossa vida anterior ao renascer.
O budismo ensina que as pessoas perdem totalmente a memória de sua vida passada por causa da "confusão do renascimento". Depois que a pessoa morre, ela passa pelo estágio do "ser intermediário". O ser intermediário possui todos os seis sentidos e se parece com uma criança de um metro de altura. Ela tem poderes sobrenaturais, pode atravessar paredes e é capaz de cruzar o espaço numa velocidade incrível. Nada fica em seu caminho, a não ser o útero de uma mãe e o trono de diamante do Buda. Os seres intermediários vivem e morrem depois de se desenvolver ao longo de sete dias. Depois que more, ele pode voltar a nascer. Pode viver por dois ou três períodos de sete dias ou um total de quarenta e nove dias. Alguns só podem viver por dois ou três períodos de sete dias. No final desse estágio, ele renasce em um dos seis reinos. É por causa desse estágio intermediário que nos esquecemos de nossas vidas passadas, sem sequer nos lembrarmos em que reinos vivemos anteriormente. Alguns de vocês podem dizer: "Que pena! Não seria maravilhoso se tivéssemos o poder de conhecer nossas vidas passadas e futuras, livres da confusão do renascimento?" Vocês realmente acham que poderes sobrenaturais podem nos fazer felizes? Vocês acham que seria agradável lembrar que fomos uma vaca ou um porco numa vida passada? Será que conseguiríamos viver despreocupados se conhecêssemos o futuro e só nos restasse mais três anos de vida? Se pudéssemos ler a mente das outras pessoas e soubéssemos que o sorriso delas está cheio de más intenções, não ficaríamos ressentidos e com raiva? Sem esse poder sobrenatural, todo dia é um grande dia e qualquer lugar é bom de se estar. Como a vida é livre e prazerosa! Assim, existem leis da natureza que regem o universo e a vida. Quando tudo está no seu devido lugar, evoluindo no devido tempo, então tudo pode ficar de fato mais fácil. Podemos ter esquecido nossas vidas passadas, mas, pelas mesmas razões, temos um novo corpo com todas as experiências desagradáveis do passado esquecidas. Isso também não é maravilhoso?
C. As orações em memória dos mortos influenciam de alguma forma o renascimento deles?
Agora que sabemos que o renascimento é real, cabe perguntar se as orações que fazemos e os sutras que recitamos influenciam de alguma maneira o renascimento de nossos entes queridos, quando eles morrem. Essas atitudes os ajudam a se libertar do renascimento? De acordo com o Sutra Kshitigarbha, de dois a três décimos do mérito de se recitar sutras pode ser transferido aos mortos, enquanto o resto do mérito fica com aquele que recitou o sutra. Por conseguinte, é melhor que nós mesmos recitemos o sutra enquanto estamos vivos; seria como juntar economias para os momentos de dificuldade. Dessa forma, não precisamos impor aos outros a necessidade de recitar o sutra para nós, depois do nosso falecimento. Afinal de contas, o mérito que pode ser transferido para os mortos é limitado. Então, como a leitura dos sutras pode beneficiar os mortos? Fazendo uma comparação, seria como estar sob a proteção e auspícios de um parente abastado. É como o passaporte de que a pessoa precisa para empreender uma viagem; o mérito pode ajudar a pessoa a renascer na terra dos Budas. Quando se joga uma pedra no rio, ela vai rapidamente para o fundo. Se a pedra cair num navio, ela consegue chegar na outra margem em segurança. O carma pesado dos nossos erros é como a pedra; podemos usar o mérito compassivo da leitura dos sutras como uma balsa que nos impede de afundar no mar do renascimento. Em um campo de trigo cheio de brotos saudáveis e fortes, umas poucas ervas daninhas não causarão grandes estragos. O mérito da leitura do sutra pode promover o crescimento dos brotos do nosso bom carma e evitar que as sementes enterradas de nossos maus atos germinem.
D. O Feng Shui e adivinhações podem influenciar o renascimento?
Na cultura chinesa, é comum que as pessoas consultem um adivinho que lhes revele o melhor momento para a realização de casamentos, funerais e ocasiões especiais. Um mestre em feng shui pode lhe dizer que a sua casa não está no alinhamento certo e que isso pode prejudicar seus descendentes. O adivinho pode lhe dizer que os mapas astrológicos de um casal estão em conflito e que, portanto, essas duas pessoas não deveriam se casar. Quando temos de consultar os astros para saber qual o dia ideal para nos casarmos, ou consultar um adivinho para saber em que hora e lugar devemos enterrar nossos entes queridos, isso significa que nossa vida é controlada pela superstição e pela crença no poder divino. Na realidade, dos muitos casamentos que se realizam em dias auspiciosos, alguns podem terminar em divórcio, enquanto outros podem dar certo. Portanto, realizar ou não uma cerimônia de casamento numa determinada data não é importante para a felicidade do casal. Em vez disso, aprender a viver bem e a manter o compromisso que eles têm um com o outro é o alicerce para uma união feliz. Na verdade, o fundamento do chamado feng shui e da adivinhação dos dias mais favoráveis deveria ser o cultivo dos relacionamentos e das atitudes mentais. Se quisermos um feng shui favorável e uma data favorável, precisamos nos dedicar à tarefa de ajudar os outros e de cultivar bons relacionamentos causais com eles. Agindo assim, descobriremos que todo lugar é o lugar perfeito e todo dia é um dia auspicioso. Portanto, se acreditamos em renascimento, faz sentido que cultivemos diligentemente nossas virtudes e acumulemos méritos, pois nossas virtudes e méritos podem renascer conosco. Também temos de forjar bons relacionamentos causais com os outros, pois os bons relacionamentos podem renascer conosco. De fato, os méritos e bons relacionamentos causais acumulados são a fonte suprema da felicidade da vida.
E. Existem exemplos que possam ilustrar o significado do renascimento?
Como não há nenhuma maneira de alguém conhecer o passado ou o futuro, existem exemplos na vida real que possam comprovar a existência do renascimento? Pegue o exemplo da seda que usamos para confeccionar nossas roupas. Ela é feita pelo bicho-da-seda. Os bichos-da-seda tecem o casulo de onde sai a mariposa. Ainda que sejam três entidades diferentes, bichos-da-seda, casulos e mariposas, são o mesmo ser. Não seria correto dizer que o bicho-da-seda não é mariposa; por outro lado, tampouco seria correto dizer que o bicho-da-seda e a mariposa são a mesma coisa. Assim, não podemos dizer nem que o bicho-da-seda é a mariposa nem que o bicho-da-seda não é mariposa. Esse não é um exemplo vivo de renascimento?
Certa vez, um homem roubou dois cocos. No momento em que se deliciava com os cocos, foi pego em flagrante pelo dono das frutas. O dono ralhou com ele, proferindo gritos:
— "Como pode roubar meus cocos!?"
— "Eu não roubei seus cocos!"
— "Como pode negar? Fui eu quem plantou o coqueiro!" — enfureceu-se o outro.
Com ar de indignação, o homem argumentou:
— "Bem, o coqueiro que você plantou é a semente no solo, e eu estou comendo o fruto da árvore. O que ela tem a ver com você?".
Os cocos do coqueiro vêm da semente do coqueiro no chão; eles estão ligados pelo renascimento. Assim como o processo de crescimento do coqueiro (a partir da semente), ou o ato de acender uma tocha com outra, a vida avança indefinidamente. A roda gira, gira, sem descanso.
F. A idéia de renascimento está em conflito com o conceito de ausência de individualidade?
Um dos ensinamentos fundamentais do budismo é o de que "nenhum darma tem um eu substancial". Se isso é verdade, então como pode haver renascimento? Esses conceitos se contradizem? A ausência de individualidade não significa que não exista vida. Significa que nossos corpos físicos são a combinação ilusória dos cinco agregados (forma, sensação, percepção, atividade mental e consciência) e dos quatro grandes elementos (terra, água, fogo e vento). Essa combinação existe na medida em que as causas e condições certas estão presentes. Assim, nosso corpo físico não tem um eu substancial e é isso o que se quer dizer com ausência de individualidade. A idéia de renascimento não está em conflito com o conceito de ausência de individualidade. Usemos como o exemplo uma barra de ouro. Ela pode ser moldada na forma de anéis, de brincos ou de braceletes. As formas podem variar, embora a natureza do ouro não mude. O mesmo acontece com a nossa existência. Num fluxo infindável através da roda do renascimento, nós vagamos entre o reino celestial e o reino terreno. Podemos ser João ou José, um asno ou um cavalo. O que na verdade passa pela roda do renascimento não é o corpo físico, mas uma "força propulsora" que existe dentro de cada um de nós.
G. O que está no núcleo do renascimento?
Se não é o corpo físico que renasce, então o que é essa "força propulsora" que está no núcleo do renascimento? No budismo, o âmago do renascimento é descrito como alaya-vijnana (o armazém da consciência). Nos sutras, alaya-vijnana é descrito da seguinte forma:
O vasto Tripitaka não pode descrever (o alaya-vijnana) por completo.
Sob o impacto dos ventos das circunstâncias, as sete ondas de profundidade abissal surgem a partir dele.
Pelo efeito do contato, ele guarda as sementes para os órgãos dos sentidos, entidades de seres e o mundo do receptáculo.
Sendo o primeiro a chegar e o último a partir, ele atua como o mestre (da existência).
Alaya-vijnana é a fonte primordial da vida. Ao entrar em contato com diferentes condições e circunstâncias, ele dá origem a vários atos e atividades mentais, por conseguinte, ao carma. As sementes do carma (por sua vez) são guardadas no grande armazém do alaya-vijnana. A quantidade de carma positivo e negativo nesse armazém gigante determina os rumos do renascimento seguinte. Quando um ser morre, o alaya-vijnana é o último a deixar o corpo físico. Quando um ser volta a nascer, o alaya-vijnana é o primeiro a chegar no novo corpo físico. Ele é o núcleo do renascimento.
H. Qual a relação entre renascimento e a força do carma positivo e negativo que acumulamos?
Se o alaya-vijnana é o núcleo do renascimento, o que determina então as circunstâncias dos nossos renascimentos? Todos os dias criamos um carma infinito através de ações, palavras e pensamentos. Uma parte desse carma é benéfica, ou seja, causa felicidade; outra parte é maléfica, pois causa sofrimento. Essas duas partes dão origem a duas forças dominantes que competem entre si, assim como num cabo de guerra. Se a força do carma benéfico for maior, nasceremos em um dos três reinos superiores: o celestial, o humano ou a existência ashura. Se a força do carma maléfico predominar, renasceremos em um dos três reinos de sofrimento: o animal, o dos espíritos faminto sou o inferno. Assim, é a natureza benéfica ou maléfica do carma que determina nossos renascimentos futuros. Daí podemos concluir que, se quisermos desfrutar bem-estar no futuro, é fundamental que façamos o bem e evitemos o mal.
I. Qual é o objetivo final do renascimento de acordo com as diferentes religiões?
Quase todas as religiões aceitam a idéia de renascimento. O que elas dizem acerca do objetivo final do renascimento? Os taoístas buscam a vida eterna e a juventude permanente. Os cristãos acreditam que o objetivo final é ir para o céu, estar com Deus e conquistar salvação eterna. Até as religiões mais folclóricas advogam a vida eterna. Isso não está de acordo com os ensinamentos budistas, segundo os quais o objetivo final do renascimento é dar um fim ao ciclo de nascimento e morte. Isso significa que temos de nos empenhar para nos liberar da roda do renascimento. Da perspectiva Budista uma vida longa, uma vida eterna ou uma vida imperecível não está livre da agonia do renascimento. Só o fim do ciclo de nascimento e morte pode nos emancipar do sofrimento da existência. Essa é a delícia essencialmente serena e eterna do puro viver!
Evidências do Renascimento
Há muitos registros bem documentados, feitos por estudiosos famosos ao longo da história, que não deixam dúvidas acerca da inegável existência do renascimento.
Yang-Ming Wang, um renomado estudioso confuciano da Dinastia Ming, visitou uma vez o Templo da Montanha Dourada. Enquanto estava no templo, ele teve um sentimento de déjà vu, como se já conhecesse o lugar. Quando passeava pelo templo, deparou-se com uma sala com uma porta trancada e selada. De alguma forma, ele tinha a impressão de que já vivera naquela sala antes. Vencido pela curiosidade, ele acabou pedindo ao monge que o recepcionava para que lhe mostrasse o que havia atrás da porta trancada. O monge desculpou-se educadamente:
— Sinto muito. Essa sala foi onde um dos nossos quatro mestres fundadores faleceu, cinqüenta anos atrás, e seu corpo ainda permanece aí dentro. Deram-lhe a palavra de que ninguém mais entraria nesta sala. Espero que o senhor compreenda por que não podemos de modo algum abrir esta porta.
— Mas se a sala tem uma porta, ela não pode ficar simplesmente fechada para sempre. Por favor, seja mais condescendente e deixe-me entrar para dar uma olhada.
Depois de Yang-Ming Wang insistir várias vezes, o monge percebeu que aquele visitante não sairia dali enquanto não pudesse ver o que havia no interior da sala, e deixou-o finalmente entrar. Sob a luz difusa do anoitecer, Yang-Ming Wang viu um velho monge, há muito falecido, sentado numa esteira, com a coluna para sempre ereta. Ao olhar mais de perto, Yang-Ming Wang quase caiu para trás. Como o rosto do mestre podia ser tão parecido com o dele próprio? Ao abaixar a cabeça, ele viu na parede um poema que dizia:
Yang-Ming Wang, cinqüenta anos depois
A pessoa que abre a porta é a mesma que a fechou.
Quando a consciência que um dia se foi estiver de volta,
Ela acreditará no ensinamento Ch'an do ser Indestrutível.
Como se descobriu então, o velho monge era ninguém mais do que Yang-Ming Wang em sua vida anterior. Assim como fechara a porta no passado, ele voltara para abri-la naquele mesmo dia. Como um testemunho às gerações futuras, Yang-Ming Wang escreveu o seguinte poema:
A Montanha Dourada despertou-me com o golpe de um punho;
Vejo através do céu sob o lago Weiyang.
Enquanto aprecio a lua sobre o balcão,
O toque da flauta desperta o dragão em mim.
Entre os registros públicos do condado de Hsiushui, na província de Kiangsi, está o relato do caso de uma mulher que renasceu como um famoso erudito chamado Shan-Ku Huang. Ele se tornou delegado do condado com apenas 26 anos. Um dia, ele sonhou que havia caminhado até um lugar. Ali, ele viu uma senhora de cabelos grisalhos que preparava e fazia oferendas em frente à casa dela. No altar havia uma tigela com macarrão e aipo. A tigela de macarrão exalava um aroma tão apetitoso que, sem nenhuma hesitação, ele pegou a tigela do altar e começou a comer. Quando acordou, ele ainda podia sentir o gosto do aipo em sua boca. Shan-Ku Huang achou que tudo não passara de um sonho e não ficou pensando muito a esse respeito. No dia seguinte, enquanto dava um cochilo à tarde, voltou a ter o mesmo sonho. Aquilo o deixou intrigado e resolveu tentar descobrir que lugar era aquele que vira no sonho. Depois de caminhar um pouco, ele se deparou com uma casa diante da qual estava a mesma senhora que vira no sonho. Com três palitos de incenso na mão, ela rezava silenciosamente. O mais inacreditável era o fato de que, no altar, havia uma tigela de macarrão recém-preparado. A refeição exalava um aroma delicioso. Muito curioso, Shan-Ku Huang se aproximou da mulher e perguntou:
— Senhora! O que está fazendo?
— Ontem foi o vigésimo sexto aniversário da morte de minha filha. Estou fazendo uma oferenda a ela.
Aquelas palavras o surpreenderam, deixando-o absolutamente chocado. Estranho! Pois ele tinha justamente 26 anos. Então Shan-Ku Huang dez outra pergunta:
— O que sua filha gostava de fazer?
— Quando viva, ela era uma budista muito devotada e gostava de recitar os sutras budistas. Ela fez votos de nunca se casar e gostava especialmente de macarrão e aipo. Por isso eu preparei essa tigela de macarrão especialmente para oferecer a ela.
Cheio de indagações, ele pediu à senhora:
— Será que eu poderia ver o quarto dela?
A senhora concordou e mandou que ele entrasse. O quarto era cheio de livros e sutras que ele já lera um dia. Num canto, havia um grande baú. Shag-Ku Huang perguntou curioso:
— O que há dentro deste baú? Posso abrir e dar uma olhada?
A velha senhora respondeu que não sabia o que havia ali dentro nem onde se encontrava a chave. Shan-Ku Huang se concentrou por um momento. Então, como se nele despertasse uma lembrança, rapidamente encontrou a chave e abriu o baú. Ficou pasmo ao perceber que ele estava cheio de artigos e textos de cada um dos concursos do governo que ele prestara alguns anos antes. Ele finalmente percebeu que a solitária anciã fora sua mãe na vida anterior. Caindo de joelhos, ele declarou do fundo do coração:
— Senhora! Eu fui sua filha! Por favor, venha para casa comigo e deixe-me cuidar da senhora.
Ele então convidou aquela mulher para acompanhá-lo até a sua casa e escreveu um poema que marcasse essa reviravolta em sua vida.
Como um monge com cabelo, como um leigo livre da poeira mundana,
Num sonho dentro de um sonho, eu vejo a existência além da existência.
O que o poema diz é o seguinte: embora fosse leigo, ele aspirava à vida monástica. Embora tivesse uma vida secular, ele não sofria com as tentações mundanas. A vida é como um sonho; além da vida existe outra existência. Ele certamente se identificaria com a frase "Nos sonhos, vívidos são os seis reinos da existência. Depois do Despertar, o vazio é o universo, sem substância".
O Quinto Patriarca da escola Ch'an, Hung Jen, também contava uma história muito conhecida acerca de seu renascimento. Hung Jen fora um velho jardineiro em sua vida anterior. Ele tinha grande respeito pelo Quarto Patriarca, Tao Hsin, e queria tornar-se seu discípulo. Tao Hsin achava que o jardineiro era muito velho e não seria capaz de enfrentar o rigor das viagens para disseminar o Darma. Tao Hsin então consolou o jardineiro dizendo: "Se você renascesse agora eu permaneceria por mais alguns anos e esperaria por você".
O velho jardineiro despediu-se do Quarto Patriarca e foi embora, margeando um riacho, onde viu uma jovem lavando fios de algodão.
— Senhorita — perguntou o jardineiro —, será que eu poderia me hospedar em sua casa por algum tempo?
— Você terá de perguntar aos meus pais. Não posso decidir sem o consentimento deles.
— Tenho de ter primeiro o seu consentimento; caso contrário, não ousarei perguntar a eles.
Vendo que já escurecia e que o pobre homem precisava de um abrigo onde passar a noite, a jovem concordou. E uma coisa muito estranha aconteceu. Essa moça solteira ficou grávida assim que voltou para casa. A família ficou extremamente desgostosa com o fato e deserdou-a. Meses depois, ela deu à luz um lindo e roliço menininho. Sem saber o que fazer, ela atirou o desditoso bebê no rio, mas, como que por milagre, ele voltou, flutuando rio acima, seguindo contra a corrente. Sem meios de sobrevivência, a moça, então, passou a pedir esmolas para sustentar a ela e ao bebê. Como ninguém sabia quem era seu pai, o bebê era chamado de "Menino sem Nome". Seis anos se passaram e o bebê cresceu, tornando-se um garoto adorável e inteligente. Um dia, quando o Mestre Tao Hsin fazia suas pregações na região, o garoto se aproximou dele, puxou com força sua túnica e não a largou até que conseguiu chamar a atenção do Mestre. Muito sério, o menino então pediu que o tomasse como seu discípulo. Quando o Mestre viu que ele não passava de um garotinho, deu-lhe uns tapinhas na cabeça e disse gentilmente:
— Você é jovem demais! Como poderá renunciar à vida em família para tornar-se meu discípulo?.
Falando como um adulto, o "Menino sem Nome" respondeu:
— Mestre, no passado você me disse que eu era velho demais; agora diz que sou jovem demais. Quando vai me aceitar como seu discípulo?
Essas palavras despertaram a lembrança do Mestre Tao Hsin, que não tardou em perguntar:
— Menino, qual é o seu nome? Onde mora?
— Todos me chamam de "Menino sem Nome". Moro na Travessa das Dez Milhas.
— Todo mundo tem nome. Como pode mentir e dizer que não tem nome? Vamos, diga-me qual é o nome da sua família.
— A natureza búdica é o meu nome de família, por isso eu não tenho sobrenome.
Tao Hsin ficou encantado ao ouvir a resposta expressiva do menino e achou que ele, um dia demonstraria sua grandiosidade e contribuiria muito para a divulgação do Darma. No devido tempo, o Quarto Patriarca acabou passando sua túnica e sua tigela para o "Menino sem Nome", que se tornou então o Quinto Patriarca da escola Ch'an. O Quinto Patriarca teve muitos discípulos e a escola Ch'an realmente floresceu graças a ele.
Em 1942, no condado de Pin, na província chinesa de Shensi, vivia um homem chamado San-Niu T'ien. Esse homem morava numa caverna. Durante uma tempestade, a caverna desmoronou e ele foi soterrado. Asfixiado, sentiu que escalava um monte de entulho. Fora da caverna, viu sua família reunida, chorando. Ele perguntou aos parentes o que se passara, mas ninguém parecia prestar atenção nele. Aborrecido e irritado, se afastou da família "caminhando" para longe. Depois de muito andar, chegou às margens do lago Mingyu. Ali, viu uma porta estreita e decidiu esgueirar-se pela exígua passagem. De repente, ouviu uma voz se elevar em meio a uma gritaria:
— Parabéns! Vocês tiveram um lindo menino!
Sem saber, San-Niu T'ien tinha renascido como o filho da família Chang, que lhe deu o nome de Sheng-Yu Chang. Assim que saiu do útero da mãe, ele viu que a parteira procurava por todo canto a tesoura. Perguntou então a ela:
— Não é a tesoura que está pendurada na parede?
Chocados, todos os presentes emudeceram de espanto. Achando que se tratava de uma espécie de demônio, sugeriram que o recém-nascido fosse atirado ao rio. A mãe ficou com pena do bebê e ele foi poupado. Por sete anos, ele não ousou dizer uma palavra sequer, embora se lembrasse de tudo o que acontecera em sua vida anterior. De alguma forma, a notícia do renascimento de San-Niu T´ien como filho da família Chang chegou aos ouvidos da família T'ien. Certa feita, a família T'ien tratava uma disputa de terras com um vizinho e não conseguia encontrar a escritura de sua propriedade. Em desespero, pediram ao filho dos Chang para que viesse à casa deles e procurasse pelo documento. Espantosamente, o menino mostrou grande familiaridade com os assuntos da família. Localizou a escritura sem demora e assim resolveu a contenda. Essa história foi contada pelo diretor-assistente da Previdência Social de Taiwan, o Sr. Nai-Huang Mou, e foi verificada pelo Ministro Interino das Finanças, o Sr. Fu-Chou Wang. Mesmo nesta era moderna e científica, ainda existem muitos casos verídicos inexplicáveis de renascimento.
Tung-Po Su, o famoso poeta chinês, sempre teve um relacionamento próximo e profundo com o budismo. Ele era muito amigo de alguns monges e os visitava com freqüência. Na obra Record of Lamp Passing for Laity, há registros de que, em sua vida anterior, ele fora o Mestre Preceptor do Quinto Patriarca da escola Ch'an. Quando sua mãe o esperava, ela sonhou com um velho monge franzino e de olhos pequenos. Mais tarde, ela deu à luz Tung-Po Su. Muitos anos depois, por intermédio do irmão Ch'e Su, que era oficial do governo em Kaoan, Tung-Po Su.tornou-se amigo de três monges, Chen ching, Wen Sheng e Shou Ts'ung, com os quais costumava conversar sobre o Ch'an e o Darma. Numa certa ocasião, todos os três monges sonharam com a visita do falecido Mestre Preceptor do Quinto Patriarca. Quando conversavam sobre o sonho, aconteceu de Tung-Po Su visitá-los. Eles contaram a Tung-Po Su sobre o sonho e este, então, comentou que, com cerca de sete anos de idade, também sonhara que era um monge peregrino que difundia os ensinamentos budistas na região de Shanyu.
O Mestre Chen Ching imediatamente acrescentou:
— O Mestre Preceptor era dessa mesma região. Ele viajou para Kaoan na maturidade e morreu há cinqüenta anos, em Tayu.
Os monges vieram então a saber que Tung-Po Su tinha 49 anos. Compreenderam então que Tung-Po Su fora o Mestre Preceptor em sua vida anterior.
Segundo um famoso provérbio chinês, "os relacionamentos estão destinados a durar três vidas", sendo essa a profundidade e a extensão deles. Na verdade, por trás desse provérbio, existe uma comovente história de renascimento. Tung-Po Su, em seu livro intitulado The Legend of Monk Yuan Tse, descreveu a amizade entre o Mestre Yuan Tse e o estudioso Yuan Li. Ambos planejaram viajar juntos para a montanha Omei, mas não chegaram a um acordo quanto ao melhor roteiro para se chegar lá. Yuan Tse queria viajar por terra, mas Yuan Li insistia em ir de barco pelo rio. Com um suspiro, o Mestre Yuan Tse acabou concordando:
— Tudo é determinado pelas causas e condições, não pelo desejo de uma pessoa.
Eles finalmente decidiram tomar a rota fluvial. Quando passavam por Nanp'u, viram uma mulher grávida nas margens do rio. Yuan Tse deu um longo suspiro e disse:
— Foi justamente pelo receio de encontrar essa mulher que sugeri que fôssemos por terra. Ela pertence à família Wang e eu devo ser seu filho. Por três anos venho me escondendo dela. E por isso ela engravidou por três vezes sem conseguir dar à luz. Em três dias, você pode passar na casa dela para me visitar.Eu mostrarei que o reconheci dando-lhe um sorriso. Daqui a 13 anos, poderemos voltar a nos encontrar do lado de fora do Templo T'ienchu, em Hangchow.
Naquela mesma noite, o Mestre faleceu sem sentir nenhuma dor. Três dias depois, Yuan Li fez uma visita à senhora. O recém-nascido de fato deu a Yuan Li um cálido e inocente sorriso assim que o viu. Treze anos mais tarde, ele viajou para o Templo T'ienchu. Ali, viu um jovem pastor montado num boi, cantando uma canção:
Uma antiga aparição senta no alto da rocha do passado, do presente e do futuro,
Apreciando a paisagem, sem intenção de brigar.
Estou feliz, um grande amigo veio de longe me visitar.
Este corpo é diferente, mas a natureza é eternamente a mesma.
Quando Yuan Li ouviu a canção, ele chamou em voz alta:
— Como vai o Mestre Ch'an Yuan Tse?
O jovem pastor acenou de volta e respondeu:
— O Sr. Li de fato cumpriu a promessa.
Então, ele continuou a tocar sua flauta e se foi, montado no lombo do boi,devagar, até sumir no horizonte.
Como se Pode Transcender o Renascimento?
Agora que já compreendemos o significado e a autenticidade do renascimento, devemos dar um passo adiante e descobrir como transcendê-lo. A compreensão correta do renascimento é apenas um processo, um meio de chegar ao objetivo final de como transcendê-lo. Algumas pessoas consideram a doutrina budista do renascimento e da lei de causa e efeito supersticiosa e ridícula. Na verdade, todos os ensinamentos do Buda não passam de métodos prodigiosos para nos libertarmos dos grilhões do renascimento. Uma vez que o propósito último do budismo é transcender o renascimento, o budismo é, na verdade, a religião sensível e digna de crédito que pode estilhaçar a roda do renascimento.
Se quisermos transcender o renascimento, devemos antes conhecer a razão pela qual renascemos. A razão do renascimento é o nosso apego, enquanto a circunstância do renascimento é determinada pela natureza do nosso carma. Uma vez que as forças cármicas de cada um de nós variam de acordo com a sua natureza — positiva ou negativa — ou com seu grau de severidade — leve ou pesado -, os respectivos efeitos e resultados são todos diferentes. Está escrito nos sutras que: "Se cortarmos uma árvore sem arrancar-lhe a raiz, a árvore crescerá novamente. Se nos libertarmos dos nossos desejos sem erradicar suas causas, teremos de viver várias vezes a dor do renascimento. É como fazer uma seta e fincá-la em si mesmo. Com a seta da carne acontece o mesmo; a seta do desejo fere a todos os seres". A sede e o anseio de nossa ganância e de nossos desejos são a seta. Essa seta nos faz emergir e submergir no mar do renascimento. Como é doloroso! Temos de avivar o fogo da diligência para queimar a floresta dos desejos. Temos de usar a radiância do prajna para atravessar a escuridão da ignorância e do carma negativo. Temos de brandir a espada da sabedoria para cortar as correntes do renascimento. Essa é a esperança que temos e a orientação que recebemos. O Buda disse uma vez: "Esse é o meu último renascimento". Com os 84 mil métodos hábeis do Darma, o Buda nos ensinou que certamente poderemos todos romper a roda do renascimento e viver no reino da total liberdade.
Depois de compreender o renascimento, e de transcendê-lo, o passo seguinte é não temê-lo. Só assim poderemos renascer sem sermos corrompidos pelo renascimento. Os seres não-iluminados são levados a renascer pela força de seu carma; sravakas e pratyekabuddhas esperam com entusiasmo libertar-se do renascimento. Em contraposição, os bodhisattvas fazem grandes votos e empenham-se para renascer e ajudar outras pessoas. O Bodhisattva Avalokiteshvara manobrou o barco da compaixão para voltar a este mundo e libertar todos os seres. De forma parecida, o Venerável Tzu Hang prometeu a si mesmo voltar numa certa época. Nos Anais dos Praticantes da Terra Pura, está registrado que muitos mestres gostariam de renascer na Terra Pura para que pudessem voltar ao nosso mundo e ajudar seus semelhantes. Muitos lamas tibetanos renasceram neste mundo depois de morrer. O Dalai Lama e o Panchen Lama são dois dos exemplos mais conhecidos. Esses Mestres de fato vivem em concordância com o voto de compaixão do bodhisattva. A frase a seguir capta muito bem o espírito desses Mestres: "Gostaríamos que todos os seres se libertassem da dor; não buscamos conforto apenas para nós mesmos". Eles não são desertores da humanidade; estão perfeitamente dispostos a servir como salva-vidas no mar do sofrimento. Eles são comparáveis a flores de lótus que, embora brotem da lama, permanecem imaculadas. Mesmo renascendo neste mundo saha de sofrimento, estão livres da dor do renascimento. Sem hesitar por um instante sequer, eles optaram por voltar à roda do renascimento e não se afligem com os sofrimentos do renascimento. Esses são atos verdadeiros de compaixão que falam por si mesmos. Trata-se de verdadeiros Mestres Sagrados que transcenderam a roda do renascimento.
De fato, se consultarmos os contos Jataka do Buda, descobriremos que o Buda também já havia renascido como uma divindade, um animal, um monge e um membro da realeza. Sem se esquivar dos ciclos de renascimento, o Buda praticou diligentemente o caminho da compaixão e da sabedoria. O Buda está sempre trabalhando para libertar todos os seres sencientes e manifestando o caminho da budeidade.
Quando o fundador da escola Wei Yang, o Mestre Ch'an Wei Ling Yu, estava prestes a falecer, seus discípulos se reuniram à volta dele e perguntaram:
— Mestre, com seu nível de cultivo, onde vai renascer depois da morte?
— Ah! Renascerei na pele de um búfalo, numa fazenda aqui perto.
Chocados e intrigados com a resposta do Mestre, os discípulos perguntaram:
— Mestre, como é possível que um grande praticante como o senhor possa renascer na pele de um animal?
— Se não acreditam em mim, quando virem a inscrição "monge Wei Yang Ling Yu" sob a pata esquerda dianteira do búfalo, saberão que sou eu.
Os discípulos lamentaram a morte do Mestre. Depois do funeral, eles de fato acharam um filhote de búfalo numa fazenda ali perto. Também encontraram no animal o nome do Mestre. Quando viram o búfalo, que um dia fora seu mestre, labutando sob o sol abrasador, eles se apressaram em comprar o animal, para que eles pudessem cuidar dele no Templo. Toda manhã eles o alimentavam com capim fresco. Mas, estranhamente, o búfalo se recusava a comer ou beber. Os discípulos não tiveram alternativa senão devolver o búfalo à fazenda. Lá, o animal trabalhava e mastigava alegremente seu feno.
O ato de compaixão do Mestre Wei Yang Ling Yu é um ótimo exemplo do ditado, "Quem quiser se tornar um grande sábio do budismo precisa se dispor a servir todos os seres". Esse nível supremo de compaixão estava além da compreensão superficial de seus discípulos. Somente quando se é capaz de praticar os ensinamentos budistas em meio ao mar do renascimento, sentindo-se à vontade dentro dos limites da reencarnação, é que se pode entender verdadeiramente o renascimento. Esse praticante do budismo é um Bodhisattva que de fato se libertou do renascimento.
Hoje falei a vocês a respeito da perspectiva budista sobre a roda do renascimento. Meu principal objetivo é tentar fazer com que todos vocês encarem a vida e o futuro com confiança e radiância. Devemos acreditar na indestrutibilidade da vida. A morte é como a desintegração de uma casa em ruínas; só o que temos a fazer é nos mudar para outra mais confortável e sólida. A morte é como o desgaste de uma roupa muito usada; temos simplesmente de vestir outra nova e mais bonita. Na espiral sem princípio da vida, todos temos de nos esforçar para primeiro concluir o templo majestoso dentro de nós; devemos antes terminar a magnífica veste do Darma dentro de nós. Faço votos de que todos vocês transcendam o renascimento, libertem-se do renascimento e realizem a vida de sabedoria e bodhi na espiral sem fim do renascimento.
Fonte:https://web.archive.org/web/20090330055149/http://www.dharmanet.com.br/hsingyun/roda.htm
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