Derly José Henriques da Silva, agrônomo e pesquisador: 'queremos importar o maior número possível de variedades para os programas de melhoramento' Divulgação
Pesquisador
vê Brasil como "celeiro de cannabis" e quer criar banco genético
Derly José Enriques da Silva pesquisa
a planta na Universidade Federal de Viçosa e avalia que a planta pode ser
cultivada em 70% das áreas aptas para a agricultura no país
Por Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP)
11/06/2023 08h00 Atualizado há 2 semanas
"Em curto tempo, o Brasil pode se tornar um celeiro de cannabis". A afirmação é do agrônomo Derly José Henriques da Silva, que pesquisa o assunto há alguns anos. Em 2017, ele coordenou um projeto que indicou um grande potencial para a indústria do cânhamo no Brasil.
O produto da cannabis pode beneficiar pelo menos 20 setores da economia, de acordo com especialistas que defender o cultivo da planta no país. Curador do banco de germoplasma de hortaliças da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, Silva está indo além. Trabalha para criar na instituição o Centro Tropical de Recursos Genéticos de Cannabis, de nível nacional.
“Estamos fazendo os trâmites de registro para lançar a pedra fundamental do banco de germoplasma de cannabis do Brasil. Queremos importar o maior número possível de variedades para os programas de melhoramento”, diz o especialista.
O que não falta no Brasil é área para a cultura ser pesquisada e desenvolvida. Segundo o agrônomo, cerca de 70% das terras aptas para a agricultura no Brasil podem receber o cânhamo. As exceções são as regiões muito quentes e úmidas.
Silva destaca que a planta, subespécie da Cannabis sativa L., tem raízes fortes e longas, que alcançam até 70 centímetros de profundidade. Além disso, é pouco exigente em água e adubação, rende três vezes mais fibras que o algodão e usa menos químicos no cultivo. Pode ainda ser cultuvada em rotação com soja e outras culturas, podendo elevar a produtividade.
Segundo o pesquisador, o cânhamo - com alto teor de canabidiol (CBD), composto sem efeitos psicoativos mas com grande potencial medicinal e terapêutico - tem uma semente rica em proteínas, com ômega 3, 6 e 9, além de vitaminas A, B e C, podendo ser usada em alimentos.
O óleo pode produzir biodiesel e as fibras servem para a indústria têxtil e fabricação de vários outros produtos, como matéria-prima para uma construção mais resistente que o concreto. “Já foram construídas casas populares com cânhamo a preços irrisórios em Israel.”
Mais pesquisa
Lorenzo Rolim, presidente da Associação da Associação Latino-Americana das Indústrias de Cânhamo: Brasil tem muito potencial — Foto: Divulgação
Mesmo com toda essa aptidão, Derly José Henriques da Silva destaca que ainda é preciso pesquisar mais para identificar variedades da cannabis mais “tropicalizáveis” para plantio no Brasil. Daí a necessidade de se ter um banco genético que garanta a variabilidade necessária aos experimentos que busquem as melhores características.
O agrônomo já trabalha com associações que têm liberação para cultivo, mas o plantio é feito em estufas, exige uso de câmeras, biometria e muita segurança, o que, em sua opinião, é desnecessário. Segundo ele, pesquisas mostram que o cânhamo não causa efeito psicoativo ou psicotrópico, desde que tenha até 1% de THC.
Mas esses números internacionais precisam ser confirmados com pesquisa no Brasil. “Temos tecnologia hoje e mais de 16 métodos bioquímicos baratos que nos permitem separar variedades com THC e sem THC”, afirma o pesquisador, ele mesmo um usuário com prescrição médica para o canabidiol com zero de THC.
Questionado sobre os desafios do cultivo, o professor da UFV responde que os problemas vão aparecer quando o país tiver legalização e grandes lavouras e podem incluir questões de nutrição da planta, controle de pragas e maquinário para plantio, colheita e beneficiamento, entre outros.
O também agrônomo Lorenzo Rolim, presidente da Associação Latino-Americana das Indústrias de Cânhamo, que trabalha como consultor de fazendas de cânhamo no Paraguai, destaca que o Brasil tem muito potencial para ser um dos maiores produtores e exportadores de cânhamo do mundo.
A visão é compartilhada pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cânhamo (Abicann). Thiago Ermano, que pesquisa o cânhamo desde os tempos de faculdade na Unicamp, diz que a planta da família da maconha é cultivada há milhares de anos em lugares inóspitos como as montanhas do Himalaia.
“As plantas de cânhamo chegam a 7 metros de altura, sequestram duas vezes mais carbono da atmosfera, são aliadas de outras culturas e podem ser usadas na produção de fibras e alimentos e também na alimentação animal, deixando o gado menos estressado", diz. Hermano acredita que até 2025 o Brasil já terá um ambiente para o cânhamo industrial formado, com cerca de 50 cultivos judicializados.
De acordo com estudos de Darshil Shaj, pesquisador sênior do Centro de Inovação de Material Natural na escola de Cambridge, na Inglaterra, um hectare de cânhamo pode absorver de 8 a 15 toneladas de CO2, enquanto as florestas capturam de 2 a 6 toneladas, dependendo de fatores como o tipo de árvore e a região onde está localizada.
Saiba onde se planta cânhamo legalmente e os desafios do cultivo no Brasil — Foto: Globo Rural
Fonte:https://globorural.globo.com/agricultura/noticia/2023/06/pesquisador-ve-brasil-como-celeiro-de-cannabis-e-quer-criar-banco-genetico.ghtml
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