Moises Chencinski: A relação entre a dor na hora de amamentar e a língua do bebê — Foto: Crescer
40 tons de leite materno
"Essas são minhas verdades de hoje", diz o pediatra Moises Chencinski. Confira a lista
25/04/2023 07h13 Atualizado há um dia
Segundo Nietzsche (uau, começando pesado):
“Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.
Assim, essas são “minhas verdades de hoje”, com referências, sobre aleitamento materno, sem nenhuma ordem em especial. A lista é aberta para cada mãe, cada bebê.
- OMS recomenda: aleitamento materno desde a sala de parto até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês.
- Seguir essas recomendações previne 823.000 mortes em crianças menores de 5 anos e 20.000 mortes por câncer de mama, além de uma economia de 302 bilhões de dólares por ano.
- Leite materno (para alguns leite humano) é o padrão-ouro da alimentação infantil.
- Leite materno tem papel na proteção contra doenças através de anticorpos que a mãe produz por conta de doenças e das vacinas que ela toma durante a gestação e a amamentação (vide COVID).
- Além de anticorpos, o leite materno tem “bactérias do bem” que formam a flora intestinal fundamental para proteção contra infecções nos bebês.
- Leite materno “normal” pode ter várias cores.
- Amamentar é um direito de mãe e bebê. Não é uma obrigação.
- Até o 6º mês de vida, bebês em aleitamento materno exclusivo não precisam tomar água. O leite materno tem 85% de água em sua composição.
- O bebê em aleitamento materno exclusivo ganha 150% do seu peso e 33% de seu comprimento de nascimento com 6 meses de vida. 85% do leite materno é água e 15% é comida. Assim, não existe leite materno fraco.
- Os protagonistas da amamentação são a mãe e o bebê. A saúde é materno-infantil.
- Amamentar não deve doer. Se houver dor, a mamada precisa ser avaliada.
- Todos os profissionais de saúde deveriam fazer um curso sobre aconselhamento. Escuta ativa. Empatia. Sem julgamento.
- A consulta a partir da 32ª semana de gestação com o pediatra é uma oportunidade de ouvir o que a mãe quer saber sobre aleitamento.
- É decisão da mãe se, como, onde, quando e por quanto tempo ela vai amamentar.
- Amamentar em público é garantido por lei em cidades e estados no Brasil. A lei nacional está “em trâmites” desde 2015, ainda aguardando aprovação (falta só uma assinatura há 3 anos).
- Ter uma rede de apoio é muito relevante (companheiro/a, familiares, amigos, emprego) para a mãe que deseja amamentar.
- A amamentação é multifatorial. Daí a importância de uma equipe multiprofissional.
- As taxas de aleitamento materno no Brasil estão praticamente estacionadas há 13 anos.
- O marketing das indústrias de substitutos de leite materno é abusivo no Brasil e no mundo, inclusive durante a pandemia de COVID.
- A fórmula infantil deveria ser receitada apenas por pediatras e nutricionistas, como substituto ou complemento do leite materno, e é produzida a partir do leite de vaca.
- ALERTA: Amamentar não é simples, não é fácil e está deixando de ser natural.
- Qualquer amamentação é melhor do que nenhuma.
- Influenciadores, da área de saúde ou não, são responsáveis por suas informações. A experiência pessoal é importante, mas não tem validade científica.
- Amamentação cruzada é quando uma mãe amamenta um bebê que ela não gerou. No Brasil, isso é muito mais frequente do que mostram as pesquisas.
- Amamentar diminui o risco de câncer de mama e de ovário nas mães.
- Amamentar protege mães contra doenças cardiovasculares e AVC.
- Leite materno tem ação protetora para diabetes tipo 1 e 2 em mães e bebês.
- Depressão pós-parto existe e pode ser grave. A amamentação diminui seus riscos.
- Chupeta e mamadeira podem causar desmame em grande número de bebês em aleitamento materno, por provocar confusão de bicos.
- Bebês não conhecem chupetas e mamadeiras que aumentam riscos de problemas infeciosos, respiratórios, ortodônticos, mas são oferecidas pelo marketing das indústrias, em maternidades e por profissionais de saúde.
- Todo pediatra deve proteger, apoiar e promover a amamentação.
- Leite materno protege e é essencial para prematuros. Sempre.
- Atualmente, são 308 hospitais que fazem parte da IHAC (Iniciativa Hospital Amigo da Criança). Existe apenas um hospital privado entre eles. Todos os outros não seguem esse critério.
- O consumo de bebidas alcoólicas é considerado “compatível" com a amamentação, com cuidados como quantidade e intervalo para a mamada.
- Violência, doméstica ou não, prejudica a amamentação.
- Cama compartilhada segura, utilizada por mais de 85% das lactantes, é uma decisão informada da mãe que aumenta as taxas de aleitamento materno, diminui hábitos de fumo e ingestão de bebida alcoólica e reduz os riscos de Síndrome de Morte Súbita Infantil.
- Todos nós nascemos totalmente dependentes, “prematuros ou imaturos”, e completamos o nosso “período de amadurecimento” fora do útero. Exterogestação. Aleitamento materno, sling, banho de ofurô, shantala, criação com apego favorecem esse desenvolvimento.
- “Um pequeno gesto pode alimentar um grande sonho: Doe leite materno” é o slogan para o Dia Mundial de Doação de lLeite Humano (19/05) de 2023. Além de salvar vidas de prematuros, a mãe que doa leite já aprende como extrair e armazenar para, em tempo, oferecer seu leite para seu bebê quando voltar ao trabalho.
- É obrigatório, ANTES de qualquer intervenção definitiva em freio de língua, fazer um diagnóstico adequado, com metodologia reconhecida (Bristol ou Tabby), por profissionais qualificados (equipe), junto com a observação da mamada, do começo ao final, nos dois seios, na maternidade e na primeira consulta com o pediatra.
- A cirurgia de freio de língua é definitiva. Quando é executada sem a indicação precisa, sem o acompanhamento pediátrico e fonoaudiológico prévios, os custos para a família, os riscos de complicações e até da necessidade de uma nova cirurgia para correção aumentam consideravelmente.
A proposta foi de coração e ciência.
Concorda? Discorda? Tanto faz? Não é bem assim?
Faz a sua.
Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
Fonte:https://revistacrescer.globo.com/colunistas/moises-chencinski-eu-apoio-leite-materno/coluna/2023/04/40-tons-de-leite-materno.ghtml
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