O que fazer em Lhasa, a Capital do Tibet
Em Lhasa estão concentrados alguns dos lugares mais importantes para o budismo tibetano e você deve visita-los todos, ainda que pareça meio repetitivo em algum momento. Vou contar um pouco de cada abaixo.
1- Descobrir o Bairro Antigo de Lhasa (Ou o Verdadeiro Bairro Tibetano)
Desde a ocupação do Tibet pela China, em 1950, Lhasa passou por muitas mudanças físicas. Uma parte dessas mudanças ocorreram graças a tentativas de declarar a independência do Tibet e pelas reações para frustrar essas tentativas.
Outras mudanças vieram com a própria modernização chinesa dos últimos anos e, sendo bem sincera, boa parte da destruição aconteceu por causa da revolução cultural chinesa realizada por Mao.
Em outras palavras, muitos prédios históricos foram destruídos, alguns foram reconstruídos e em muitos lugares simplesmente foram construídas edificações novas.
Acontece que o Tibet tem uma arquitetura muito singular. As casas e prédios tradicionais da região são construídas em pedra, com janelas e portas em formato retangular com base mais alargada e teto em madeira. Tudo muito trabalhado e cheio de detalhes. Lindíssimo.
Esse modelo das edificações tibetanas serve para manter as casas quentes durante o inverno rigoroso e de pé em casos de terremotos, frequentes na região.
Já as ruas das vilas e cidades tibetanas costumam ser pequenas, com as casas muito juntas, já que os tibetanos são muito unidos e as famílias se ajudam e colaboram entre si.
Todas essas características foram mantidas no bairro antigo de Lhasa, onde mora a maioria dos tibetanos originais.
Já no restante da cidade, com exceção dos prédios históricos mantidos ou reconstruídos e de umas imitações da arquitetura tibetana, a cidade parece como qualquer outra cidade chinesa, com ruas largas, prédios cinzas e sem nada de especial muitas vezes bem feios mesmo.
Já sabe onde você deve ficar hospedado, certo? É no bairro antigo sem a menor sombra de dúvida. ;)
É importante ter em mente numa viagem ao Tibet que aquela imagem de Lhasa como uma cidade misteriosa, envolta na magia do budismo tibetano e fechada para o mundo exterior até poucas décadas atrás vem sendo sistematicamente destruída pela China.
A principal tática dos chineses para tanto foi incentivar que milhares de migrantes de outras regiões do país fossem para lá. Eles pouco se relacionam com a população local e abrem negócios que foram praticamente uma divisão entre “Old Lhasa” e o resto da cidade.
Mas ali, no bairro antigo, as almas permanecem e eu te garanto que é isso o que você quer e deve conhecer na capital do Tibet.
Além disso, é no bairro antigo que fica o Jokhang Temple, um dos lugares que mais me impressionou na viagem pelo Tibet. Meu hotel era coladinho nele e fiquei sentada lá na frente pelo menos um pouquinho todos os dias.
É também no bairro antigo que você vai encontrar a maioria dos restaurantes tipicamente tibetanos e, mais importante, as casas de chá, lugares para passar a vida observando o estilo delicioso dos tibetanos: o do dolce far niente com chá preto e manteiga de yak (sim, numa mesma caneca), esperando a vida girar, como ela sempre faz.
Por favor, não passe pela capital do Tibet sem visitar pelo menos uma casa de chá tibetana de verdade!
Ficar andando sem rumo no bairro antigo, sentir os cheiros de manteiga de yak (meio fedido) e incenso (meio forte), ver as cores vibrantes das bandeirinhas e mantras, fazer a kora (explico abaixo) no Jokhang com os tibetanos, parar, conversar com as pessoas que são pura simpatia. Esse foi meu maior prazer em Lhasa, aproveite!
Aqui nesse post com o roteiros pelo Tibet contei que me hospedei em Lhasa no Shambala Palace Hotel. Se tiver oportunidade, fique lá.
É muito charmosinho, mega confortável e todos foram uns querido. A gente se sente numa verdadeira casa tibetana. Se não der, passe lá para jantar. A comida é boa, o preço é justo e você consegue sentir o clima especial que o hotel tem.
Jokhang Temple – O Principal Templo do Tibet
O Jokhang Temple é o lugar mais incrível do Tibet e de Lhasa na minha opinião. O prédio nem é espetacular, na verdade foi todo destruído e reconstruído, mas a energia desse templo (da fé das pessoas em torno dele) é algo sen-sa-cio-nal.
Sensacional de verdade. Eu chorei. Eu queria abraçar todo mundo. Eu andei na kora com eles. Eu tirei mil fotos. Eu fiquei com o olho todo seco de taaaaanta fumaça de incenso. Eu tossi sufocada. Eu amei.
Como disse, fui lá todos os dias. Simples assim.
O Jokhang Temple é oficialmente o lugar mais sagrado do budismo tibetano. Foi construído no século 7 pelo primeiro rei budista do Tibet, numa posição misticamente indicada por um estudo geomântico e tem uma história muito louca.
Mas antes de contar essa história eu preciso confessar que eu achava que o Dalai Lama era tipo o papa do budismo. Para mim, todos os budistas do mundo eram liderados por ele.
Na verdade o budismo tem várias escolas e o Dalai Lama é o líder de uma dessas escolas que é específica do budismo tibetano. A gente se engana porque o homem é um fenômeno, mas mesmo no Tibet e nos países vizinhos, o budismo se dividiu em vertentes que são semelhantes entre si, mas com algumas filosofias diferentes.
Embora o Dalai Lama seja muito respeitado por todas, ele não é o líder supremo da maioria das demais escolas e somente no Tibet em algum momento do passado a monarquia e o budismo se uniram numa coisa só, sendo o Dalai Lama o rei e líder religioso ao mesmo tempo.
Mas antes das divisões em vertentes filosóficas, o budismo na região dos himalaias teve uma lenda super interessante, a de uma demônia gigantesca que vivia na região.
De acordo com essa lenda, os budistas conseguiram subjugar essa demônia e a prenderam debaixo da terra com 108 selos. Esses selos são, na superfície, templos, sendo que cada um está relacionado à uma parte do corpo deste demônio.
Desses 108 templos, 2 foram construídos no Butão (onde hoje o budismo é desvinculado da escola do Dalai Lama, apesar de ambos serem respeitadíssimos por lá). Os dois templos no Butão são o Kyichu, que fica em Paro e o outro é o Jambay Lhakhang que fica em Bumthang.
Os outros 106 estão (ou estavam, porque as edificações foram sucessivamente destruídos pelos chineses) no Tibet. O Jokhang é o templo que prende o coração do demônio, o mais importante.
Se você chegou aqui pensando “que groselha é essa?”, então o Tibet não é para você, já vou avisando. Agora se você chegou aqui imaginando a demônia escapando da prisão, destruindo o mundo e esse tipo de maravilha imaginária (ou não), então o Tibet será seu paraíso.
São lendas e mais lendas, histórias e mais histórias.
Independentemente disso, o Jokhang é o principal local de peregrinação dos budistas tibetanos, então não importa se você passa por lá às 7hs da manhã ou às 11h da noite, você vai ver uma multidão fazendo a kora ou as prostrações por ali.
Não sabe o que é kora ou prostração? Explico.
Fazer a kora é dar a volta em sentido horário em volta de um templo/monastério/local sagrado. Buda não sugeriu que as pessoas o seguissem ou o endeusassem, na verdade ele sugeriu que as pessoas seguissem seu caminho para a iluminação, então essa caminhada simboliza “seguir o caminho de Buda”.
Durante a volta as pessoas vão recitando mantras com ou sem os colares de contas ou girando um negocim que não sei o nome e que tem um mantra encravado. Girá-lo seria como multiplicar os mantras. Resumindo, a kora é uma espécie de meditação em movimento.
Já a prostração é uma ação repleta de significados. Simboliza tanto respeito à tríade budista (Buda, o iluminado, Dharma, o caminho da iluminação e Sangha, o conjunto de pessoas que busca a iluminação), como a purificação da mente de elementos nocivos, especialmente o ego, além de ser efetivamente um preparo físico.
Alguns acreditam que traz bom carma e que seriam necessárias entre 108 e 100.000 prostrações para dar um upgrade na sua próxima vida (?!!).
Funciona assim: de pé, as pessoas mentalizam os ensinamentos de Buda e depois tocam as mãos em mudra (juntas como em oração nesse caso) no coração, garganta e cabeça (corpo, fala e mente, conforme Buda ensinou que devemos cuidar), e se abaixar encostando os pés, joelhos, peito, testa e mãos no chão. Ou seja, elas precisam deitar no chão com o corpo todo e não apenas se ajoelhar.
Algumas pessoas fazem as prostrações parados em frente aos templos/monastérios/lugares sagrados, outras fazem a kora com prostrações, ou seja, elas dão a volta toda caminhando, abaixando e deitando no chão. Veja no vídeo abaixo.
É bem impressionante! Tenta fazer ai 10 prostrações e você vai entender a canseira que dá! (outra hora conto de um templo em que nos hospedamos no Nepal e em que todos os dias às 6h30 da manhã tínhamos fazer as 108 prostrações…. Rá-Rá… foi uma loucura).
Ali no Jhokang vimos pessoas que são como “prostradores oficiais” mais ou menos como os pagadores de promessa. Eles são bem respeitados e costumam viver da caridade geral, mais ou menos como os Sadhus do hinduísmo.
Também vimos muitos idosos fazendo seguidas prostrações e a gente com essa preguiça de abaixar para amarrar os sapatos. Enfim, é uma demonstração de fé fortíssima no budismo tibetano.
Peregrinos durante o dia:
Peregrinos durante a noite:
Ao redor do Jokhang existem 2 rotas de kora, uma menor, mais próxima do templo e uma maior, que vai mais além no bairro antigo de Lhasa. As 2 são lotadas e acompanhá-las é um espetáculo.
Simplesmente entre no ritmo e faça sua meditação ou prece. A gente quase consegue ver a energia criada com aquele movimento circular. Se você não acredita, vá lá pra ver.
A fé ali tem uma força tão avassaladora que você visualiza como é que a cultura e o budismo tibetano não apenas não sucumbiram à dominação chinesa como ainda conquistaram o mundo!
Se você não acredita nem quer acreditar, ainda vale a pena ficar lá só para observar as pessoas com olhar antropológico, porque o Jokhang é considerado um lugar sagrado por várias vertentes do budismo e até pelos seguidores da fé indígena tibetana, conhecida como Bon-Po.
Tem desde estudantes prostrando para passar nas provas e outros pagadores de promessas, mas principalmente monges e tibetanos de todo o platô e todo tipo de fé peregrinando ali e você pode gastar uma vida olhando as diferentes roupas e cabelos de cada região. Eu fiquei maravilhada. Eles são muito estilosos!!!
Além disso, os tibetanos tem uma forma bonita de se relacionar. Assista as famílias dedicando um tempo para conviver em harmonia. Estão sempre sorrindo, brincando juntos. E basta você sorrir para alguém que recebe o mesmo sorrisão de volta.
Adoram tirar fotos, ficam felizes quando vêem que você admira as roupas típicas, os cabelos trabalhados e a fé. Sem falar que muitos tibetanos falam inglês, e muito bem, então você tem ótimas oportunidades para conversar e será sempre muito bem recebido. É muito amor, gente.
Atenção porque é extremamente mal visto andar no sentido contrário da kora, viu? A praça onde fica o Jokhang e o miolo do bairro são relativamente pequenos, mas um dia nos perdemos por lá de noite e andamos um pedaço na direção contrária para tentar encontrar nossa rua, porque já estávamos exaustos e já tínhamos dado umas dez voltas.
Não apenas não encontramos a saída, como tivemos que pedir milhares de desculpas e ainda fomos parar no bairro muçulmano. Rá! Garanto que você não sabia que também tem um bairro muçulmano em plena capital do Tibet! Mas tem, com mesquita e tudo e vale a pena dar uma voltinha por lá também.
O interior do Jokhang é legalzinho, tem algumas relíquias, mas você só precisa entrar uma vez, depois fica rodando lá na frente mesmo.
Do alto do templo tem uma vista super bonita da praça e das montanhas ao fundo. A visita interna ao templo dura 1h mais ou menos, mas ai o tempo que você vai ficar do lado de fora é com você. No mínimo mais 1h.
A praça onde fica o Jokhang é o lugar mais “bem protegido” que fomos em toda a China. Para entrar na praça tem que passar por detector de metais e tem muita polícia na praça, no entorno e em todo o bairro antigo.
Isso porque, com tamanha fé energizando todo mundo, claro que ali foi o palco de muitas manifestações tibetanas, tanto pela reconstrução do templo, quanto pela independência e etc.
Vou dizer que esse excesso de vigilância é um pouco desagradável, para não entrar em maiores detalhes. Só vou acrescentar que em nenhum outro lugar da China vi policiais na rua, apesar de que em todo metrô, estação de trem e aeroporto tem milhares de detectores de metais e ainda te fazem beber sua água pra provar que não vai matar ninguém com aquilo (!?).
Resumindo, a meu ver o Jokhang é o Tibet e se você não passar um tempo lá no templo, nem diga que o conheceu.
Potala Palace – O Palácio de Inverno do Dalai Lama
O Potala Palace é uma construção impressionante bem no meio de Lhasa e é o símbolo da capital do Tibet. Foi o centro político-religioso e a residência oficial do Dalai Lama ou o “palácio de inverno” durante séculos, até a ocupação chinesa e o consequente exílio do atual Dalai Lama e sua família na Índia, em 1959.
O prédio é enorme, com dois palácios, o Branco e o Vermelho e tantos quartos, aposentos e alas que nem dá para entender direito, mas de qualquer forma você só vai visitar algumas coisas.
Já teve parte destruída e reconstruída. A entrada é paga (normalmente incluído no tour) e o passeio demora mais ou menos umas 3hs, podendo ser mais se você quiser ficar por lá vendo a kora e os peregrinos no entorno.
As visitas só acontecem com hora marcada e número limitado de visitantes ao mesmo tempo.
Como sempre, tem história relativa à sua construção! Dizem que o Potala não possui fundações (da uma olhada no tamanho e altura) e que vive “flutuando” na fé. Parece loucura?
Bom, não sei avaliar se a lenda é ou foi algum dia verdadeira, mas fato é que por alguma razão desconhecida o palácio foi construído sobre uma caverna no alto da montanha, onde, diz-se, meditava um importante Bodhisattva (um ser que alcançou a iluminação mas preferiu permanecer no mundo ajudando aos outros). Existiria, assim, um “vácuo” entre a construção e o solo.
Eu não estou dizendo que não há fundações, apenas que a escolha do endereço foi pouco usual. Considerando que a região é bastante pedregosa e que as próprias construções são de pedra, isso parece meio estranho, né?
É por isso que o número de visitantes é controlado, de modo que o prédio não receba peso excessivo (e também para não virar bagunça, claro!).
E também tem todo o mistério da meditação tântrica tibetana que, dizem, seria capaz realizações em diferentes dimensões espaciais, inclusive construções… Ta bom, ta bom, vou parar e deixar o resto por conta da sua imaginação.
Lá dentro visitamos alguns aposentos como o quarto e sala de estudos do Dalai Lama onde ele recebeu toda a sua formação. Para quem não sabe, o Dalai Lama era apenas uma criança de 4 anos de uma comunidade totalmente rural quando foi identificado como o XIV Dalai Lama, o Da Gratidão.
Absolutamente toda a educação “formal” e espiritual que ele recebeu foi ali, incluindo os 7 anos que passou sendo ensinado por Heinrich Harrer, um alpinista austríaco que foi interpretado por Brad Pitt no famoso filme “7 Anos no Tibet”.
Além disso, o Potala era o centro político do Tibet enquanto esse era um país independente. Ali eram realizadas as deliberações e tomadas inúmeras decisões governamentais e religiosas.
É outra visita indispensável em Lhasa, tanto pela beleza quanto pela importância histórica.
De cima do palácio a vista era lindíssima, com boa parte da cidade espalhada aos seus pés e as montanhas ao fundo. Porém, o governo chinês destruiu o prédio da faculdade de medicina tibetana que ficava numa pequena montanha à frente do palácio e nunca o reconstruiu, construindo, ao contrário, uma horrorosa antena no local e abaixo, uma praça tipicamente chinesa bem em frente ao Palácio.
Para dizer o mínimo, não ornou, para dizer a verdade, é uma afronta ao legado histórico. Mas segue a vida, né?
Esse passeio não é recomendado para o primeiro dia em Lhasa porque você precisa subir bastante escada e a cidade fica a 3500m de altitude, então convém tentar aclimatar um pouco antes de ir!
Norbulingka Palace ou Palácio de Verão do Dalai Lama
Esse outro palácio fica a apenas 3kms do anterior, ainda em Lhasa, a capital do Tibet, mas admito que a atmosfera é completamente diferente.
O Norbulingka fica num imenso jardim, uma área fresquinha e bem colorida, cheia de flores. É um lugar bem gostoso de visitar, fazer um piquenique ou sentar e ficar refletindo sobre a vida ou qualquer outra coisa que você goste.
Nos jardins de vez em quando rolam espetáculos e tem sempre pessoas alugando e outras vestindo roupas típicas bem teatrais para fotos.
São vários prédios, pois o primeiro foi construído em 1755 pelo sétimo Dalai Lama e cada um dos seguintes foi incluindo anexos e edificações.
Eu não fui apresentada à nenhuma história fantástica relativa à construção deste palácio, mas por outro lado, posso garantir que fatos históricos passados ali são muitos.
Num versão bem sucinta dos meus parcos conhecimentos, o momento mais importante do Norbulingka foi a fuga do Dalai Lama para a Índia.
Os chineses invadiram e dominaram o Tibet com relativa parcimônia no começo, fazendo alguns acordos. O Dalai Lama é um grande admirador de Ghandi e acredita até hoje que a situação com a China deve ser resolvida pacificamente com concessões.
Só que os tibetanos foram percebendo que os chineses não estavam muito interessados nessa linha de pensamento e, acreditando que o Dalai Lama seria preso, foram em massa para o Norbulingka para evitar uma invasão chinesa ao palácio e proteger o Dalai Lama.
Muitos acreditavam que o único caminho era lutar e, prevendo um massacre tibetano, o Dalai Lama optou por aproveitar a muvuca para escapar disfarçado e pedir asilo político.
Depois disso, as coisas degringolaram até chegar aos dias de hoje em que falar em independência do Tibet ou no Dalai Lama é motivo de prisão e possível desaparecimento definitivo.
Se isso não for suficiente para te interessar a visitar, saiba que, juntamente com o Potala e o Jokhang, que falei acima, o Norbulingka foi declarado patrimônio cultural pela Unesco em 2001, razão pela qual os 3 prédios vem sendo restaurados e mantidos pelo governo chinês.
Sera Monastery – Universidade Budista
Para fechar a lista do que é imprescindível fazer em Lhasa, não saia da capital do Tibet sem visitar o Sera Monastery. Esse é um dos 3 maiores e mais importantes monastérios do Tibet, considerado uma universidade, com capacidade para 6000 monges.
Durante a invasão chinesa e, principalmente depois do exílio do Dalai Lama, esse monastério foi praticamente destruído, a maioria dos livros sagrados foram queimados e muitos monges foram mortos.
Os que sobreviveram, em sua grande maioria, foram atrás do Dalai Lama e buscaram asilo na Índia onde, determinados a não deixarem o budismo tibetano morrer, fundaram um novo Sera Monastery (em Mysore).
Lá, os monges começaram a reescrever os livros sagrados queimados com o que cada um sabia de cor, montaram uma nova universidade e mantém a chama acesa com quase 3000 monges.
Já no Tibet, o governo chinês passou a controlar de pertinho os monastérios e hoje o Sera tem “vagas limitadas” a 600 monges que devem seguir suas atividades sem invencionices, sabe como é?
Mas todo mundo vai visitar o Sera para ver o debate. Durante algumas horas dos dias os monges praticam lógica em debates sincronizados que são um show para os curiosos de plantão.
Ninguém entende nada, porque eles estão falando em tibetano, claro, mas tem toda uma coreografia que é por si só interessantíssima.
Basicamente, eles discutem budismo tibetano. Um dos monges faz meio que o papel de desafiante, propondo perguntas que são pontuadas por um bater de palmas e pés e o outro ou outros monges fazem a retórica e podem propor outras perguntas.
Esse foi um momento bem legal da minha viagem, uma hora de reflexão mais profunda.
Nós já tínhamos visto esses debates na Índia e no Butão (onde eles curiosamente chamam o exercício de “fazer o Tibet”), mas ficamos sentados um pouco com o nosso guia assistindo e ele nos explicou que não apenas os monges faziam esses debates, mas as pessoas também faziam as vezes em suas casas.
Falei: “Sério? Mas vocês debatem o que?” E ele respondeu “Qualquer coisa. Não é uma competição para saber quem tem razão nem é apenas sobre o budismo. É um exercício de pensar“.
Fiquei com aquela cara de tacho enquanto pensava na completa falta de diálogo em que vivemos aqui no Brasil e, bom, em praticamente todo mundo. Talvez a gente devesse copiar o modelo…
Vou parar por aqui por quê já falei demaaaais, mas sei que com tudo o que contei sua visita a Lhasa, a capital do Tibet, já vai ser fantástica! =D
Fonte:https://expressinha.com/lhasa-a-capital-tibet-o-que-fazer/
Culinária Tibetana e Onde Comer Em Lhasa – Tibet
Você faz ideia de como é a culinária tibetana? Pois é, eu também não fazia ideia de como era essa gastronomia e fui aprendendo na estrada, em alguns restaurantes tibetanos que encontramos na Índia e no Nepal antes de chegarmos realmente no Tibet. Mas, como sempre, o que comemos fora do Tibet não era exatamente a comida que eles serviam por lá…
Vou te contar um pouquinho o que se come na culinária tibetana e dar umas dicas de uns bons restaurantes em Lhasa. Nem todas as fotos aqui desse post estão ótimas porque em se tratando de comida eu quero é comer logo e acabo esquecendo as fotos! Rá-Rá!
Dê uma olhadinha também nos nossos outros posts sobre o Tibet:
Turismo no Interior do Tibet – Shigatse e a estrada
Pratos da Culinária Tibetana
A culinária do Tibet se baseia no Yak – um bicho que parece um búfalo – em arroz e em vegetais. O budismo tibetano (religião da maioria dos tibetanos) é bastante estrito quanto à morte de qualquer ser vivo: simplesmente não pode (dizem que a construção de cada prédio demorava uma eternidade porque antes todos os animais, inclusive insetos e formigas, tinham que ser retirados do caminho vivinhos!!!!) Por isso, é sugerido o vegetarianismo, de modo que nenhum animal seja morto pelo homem. Mas no frio que faz por lá no inverno essa é uma tarefa bem difícil, tanto pelo gasto calórico quanto pela dificuldade em plantar e manter vegetais. Em algum momento os tibetanos acordaram que era melhor comer o yak porque, além de ser um animal típico da região, é bastante grande e carnudo, ou seja, apenas um animal é capaz de alimentar várias pessoas, evitando que ocorram muitas mortes.
Hoje em dia você vai ver frango, carneiro e até carne de vaca por lá, mas dificilmente você vai ver essas outras carnes em restaurantes tipicamente tibetanos, aquele tibetano raiz. Uma forma fácil de identificar quando um restaurante é chinês, fica a dica. Mas nos restaurantes que servem comida “western” pros gringos que voam meio mundo para comer pizza e hamburguer, vira e mexe tem.
O yak não apenas é a carne oficial, mas é a fonte inesgotável de leite, queijo e manteiga, totalmente onipresentes. A manteiga serve de combustível para as velas que queimam dia e noite no Tibet, empesteando o universo de um cheiro meio rançoso e enjoativo. Também é ingerida da forma como estamos acostumados, mas a forma mais comum de vê-la é batida com chá preto, fazendo o chá de manteiga, totalmente típico dos himalaias e da culinária tibetana.
Nas palavras de um amigo antes de irmos para lá: é a coisa mais horrível da face da terra. Achei exagero. Ta, é meio ruim no começo. Depois de um tempo você acostuma. Mas confesso que esse chá parece uma sopa, super grosso e gorduroso e, embora não seja salgado, parece salgado, não sei explicar direito. Definitivamente é quase uma refeição.
Também é típico do Tibet o “Sweet Tea”, que é o chá preto com leite e açucar. Esse sim, vai ter em toda, toda, toda casa de chá. Também é meio enjoativo, na minha opinião, mas não tem como fugir dele, vão te servir sempre.
Não deixe de jeito nenhum de visitar uma casa de chá. Elas são comuns pelas ruazinhas do bairro antigo de Lhasa, não tem nome nem nada, por isso não tenho como indicar exatamente o local da que visitamos, mas são uma verdadeira imersão na cultura local. Na verdade é um local para socializar, e já que é para sentar em volta de uma mesa, todo mundo toma chá (desde 1980, porque antes disso era clube do bolinha: mulheres não podiam entrar).
Na maioria das casas de chá você não vai ver turistas, não tem cardápio em inglês nem nada, mas você vai ver toda mesa com uma garrafa térmica e é só apontar e fazer sinal de um e sentar. Não importa se você estiver sozinho ou em grupo, eles vão te servir uma garrafa cheia de chá preto com manteiga ou de chá doce. Os tibetanos simplesmente amam ficar lá conversando, fofocando, jogando alguma coisa e já que vão ficar lá por um bom tempo, não faz sentido beber só um copinho de chá, por isso servem sempre de garrafa.
Fomos em uma que acredito que chame Guang Ming, porque não tinha nome em inglês e foi o que eu entendi. Lá também servem comida, mas como não entendemos o cardápio, não sei dizer com certeza as opções para comer. O sistema, se quiser comer, é igual ao do chá: aponte para alguma mesa com comida e peça um igual. Esse lugar é muito especial se você quer conhecer a essência do povo tibetano. Veja aqui algumas recomendações de casas de chá em Lhasa.
Já o queijo é branco e na minho opinião, bastante insosso. Em geral é usado em recheios e sugiro que você não se engane, porque como o queijo não é muito cremoso nem muito saboroso, tudo recheado ou coberto de queijo na verdade fica meio sem gosto. Peça sempre a opção de legumes, é o que posso sugerir.
A outra opção para o queijo é comer em pequenos cubinhos, seco. Os tibetanos adoram esse queijo seco. Experimentamos várias vezes, mas é tão duro que há sérios riscos de quebrar o dente. O jeito é “chupar” e acredite, não derrete nunca, tem um gostinho meio esquisito e geralmente você não tem como se livrar dele depois que colocou na boca sem ser muito mal educado.
Passada essa introdução básica, a culinária do Tibet é complementada por arroz, pasta, legumes cozidos, amendoim e muito cogumelo, minha aposta sempre certeira. Na dúvida: arroz com cogumelo, momo de cogumelo, legumes com cogumelo. O cogumelo é muito bom.
No quesito pasta existem algumas especialidades tibetanas, estas sim, muito boas.
Para começar, o momo. Assim como o rei do carnaval, o momo é o clássico dos clássicos. É um tipo de bolinho de massa cozido no vapor com algum recheio (legumes, queijo ou carne), algo como um dim fum chinês ou, menos parecido, com uma guioza. É bem gostoso. Mais uma vez, sugiro ir no de legumes. Você encontra em todos os restaurantes, barracas e portinhas em qualquer ruela.
Tanto o Thenthuk quanto a Thukpa são um tipo de sopa com massa (um tipo fetuccine e o outro uma massa achatada e cortada em cubinhos). As massas são muito gostosas, caseiras, mas o grande lance desses pratos é o caldo. Vai depender do acompanhamento, porque pode vir só com legumes, com carne, com amendoim, com ovos e o tempero é aquele: da casa. Esse é o prato para nunca errar. Até quando é ruim é bom.
Fora isso eles comem arroz frito com legumes/ovos e/ou yak, macarrão frito com os mesmos acompanhamentos e diversos legumes cozidos acompanhando arroz branco.
Por fim, eles comem uma coisa chamada Tsampa, uma das poucas especialidades com as quais eu realmente não me dei bem. É um tipo de farinha que eles misturam com chá (claro, por quê não?), com leite, sopas e fazem tipo um mingau. Não tem muito sabor e pesa uma tonelada no estômago ou, em outras palavras, mata a fome e sustenta, mas não é muito gostoso. Eles servem um tipo de tsampa com queijo de yak ralado e, acredite, essa versão é ainda pior. Bom, mas experiente, porque tudo é vida vivida.
Ah, e em todo lugar tem batata frita! Eles comem uma batata mais grossa, meio cozida meio frita. Fique de olho nas portinhas e você vai ver que em várias delas tem uma panelona ou cozinhando momos ou fritando batatas. É só pedir um saquinho.
Dica final, mas não menos importante: mesmo que você goste de pimenta, peça para você mesmo se servir. Geralmente eles servem um molhinho separado e você coloca no seu prato com uma colherzinha. Mas eles se servem de umaS colherzinhaS e o negócio é mega ardido. Se você deixar eles te servirem de pimenta, pode acabar não conseguindo comer!
Onde comer em Lhasa e no interior do Tibet – Restaurantes Tibetanos de verdade!
Em geral durante o dia comíamos próximo dos lugares que visitávamos. Nossa agência nunca forçava a barra para comermos em algum lugar específico, o que era ótimo, mas sempre indicava algum restaurante que era tipicamente tibetano. Como nosso grupo era pequenino, decidíamos rapidinho e comemos bem quase sempre.
Quando visitamos os monastérios mais afastados de Lhasa e também em Shigatse, almoçamos em lugares simples na beira da estrada. Nosso guia sempre perguntava se queríamos comer ali e acreditamos nele de olhos fechados quando ele dizia que era bom, porque ele e o motorista eram umas dragas e ficavam super felizes quando gostávamos. Foram as melhores comidas, normalmente simples, bem tradicionais, mas super saborosas. Não dá para indicar nenhum lugar específico, mas essa dica é para você não ter medo, mesmo quando o lugar pareça meio sinistro. Além de bom, costuma ser muito barato.
À noite estávamos sempre livres e tínhamos que comer onde achássemos mais interessante. Achamos meio difícil, porque alguns restaurantes eram muito escondidos, alguns nas próprias casas das pessoas, como eu já disse, e encontramos poucas referências por ai. Em Shigaste, rodamos mais de 1 hora para encontrar um restaurante fora dos hotéis, onde a comida era bem esquisita – misturando comida indiana, chinesa, ocidental e tibetana, ou seja, com pouca possibilidade de acertos – e para fugir dos restaurantes chineses. Não que a comida chinesa fosse ruim, mas era uma questão de princípios. Uma vez no Tibet, queria gastar meu dinheiro com os tibetanos.
Depois de muita pernada comemos num lugar sem nome, sem cardápio em inglês, mas com 2 tibetanas sorridentes e uma foto de um arroz com o famoso cogumelo tibetano. Apontamos e recebemos a melhor cogumelada da viagem. Infelizmente o lugar não tinha nome em inglês…
Restaurantes de Culinária Tibetana em Lhasa
Essa, é uma pequena lista dos lugares que comemos em Lhasa e que você consegue encontrar sozinho (ufa!):
- House of Shambala – Fica no Shambala Hotel no Old Lhasa (bairro antigo). A comida é divina, o preço é justo e o ambiente é maravilhoso, com uma pitada bem romântica. Eles tem umas comidas mais ocidentais, mas servem quase tudo tradicional em grandes porções, então é bacana para dividir e experimentar mais pratos. Pode pedir qualquer coisa do cardápio sem medo.
- Ando Norzen – uma portinha no bairro antigo, perto do Hotel Shambala, um dos jantares mais divertidos de todos. Ninguém fala inglês, não tem cardápio em inglês, as garçonetes cantam a plenos pulmões as músicas que tocam no rádio enquanto cortam as unhas ou comem uma maçã cujo miolo vai ficar em cima do balcão. Mas não deixe que a aparente falta de higiene te faça esquecer o aroma maravilhoso que sai da cozinha. Faça o que se faz na Ásia: ignore as aparências e releve os costumes. Leve o tradutor, mas peça o que as outras mesas estiverem comendo. O cogumelo tibetano com arroz aqui é divino, bem cheio de caldo. O momo é muito, muito bom, mas não peça o de queijo, que não tem gosto de nada. Não esquece as pastas típicas que já te contei acima! Esse lugar é maluco, mas vale a visita.
- Tibetan Family Kitchen – literalmente a sala da família. Comida simples, mas bem saborosa e típica. Comemos um arroz frito feito todinho na hora, bem ali na nossa frente, como na casa de amigos. Fica num prédio numa ruela quase em frente ao Shambala Hotel. É, eu sei que isso não é endereço, mas você vai ter que perguntar…
- Tashi Bobi – outra restaurante dentro de um apartamento. Eles são famosos por um prato chamado… Bobi, que consiste em umas massinhas de panqueca bem fininha servida numa bandeja com vários potinhos de recheio. Você vai montando tipo uns wraps. Não achamos esse prato excepcionalmente bom, mas acho que foi porque já estávamos há meses na Ásia e um pouco cansados das variações de legumes cozidos. De qualquer forma, vale a pena experimentar. Vimos umas pessoas comendo o arroz frito e parecia divino. Aqui eles tem a cerveja local, a Lhasa, aproveite. Fica no cruzamento entre Danjielin Lu & Beijing Donglu.
- Lhasa Kitchen – um restaurante tibetano bem próximo do Jokhang Temple, um pouquinho mais para trás, na praça. É bom, tem bastante opções, mas é mais comida nepalesa do que tibetana. O endereço é 3 Danjielin Lu.
- Lotus – Fica do lado do Jokhang Temple. Tem um ar meio de fast food familiar, mas a comida é bem gostosa, com todos os pratos típicos e bom preço. Não é á toa que está sempre cheio. Ninguém fala inglês, mas eles te dão um tablet com a foto dos pratos e é só você clicar no que quer que aparece magicamente na sua mesa. Aqui vimos várias pessoas tomando um hot pot, um panelão com caldo de legumes e o que mais tiver na cozinha. Parecia ser uma especialidade.
- Summit Cafe – é um café comum, com cara de ocidental, mas vai que você sinta saudades de um cappuccino… Bom, na verdade to recomendando esse lugar para te dar uma referência, Atrás dele fica a Guang Ming (acho que é esse o nome), uma das maiores e mais legais casas de chá de Lhasa. Como não tenho o endereço nem o nome certinhos, você pode ir até ali para procurar… Ah, as casas de chá fecham por volta das 19hs, é um programa para o dia.
- Guang Ming – uma casa de chá para ninguém botar defeito. Além do chá ser gostoso e sempre quentinho, o ambiente é demais!
- Fonte:https://expressinha.com/culinaria-tibetana-onde-comer-lhasa-tibet/
Comentários
Postar um comentário