COMO COMPRAR O VINHO CERTO

 

Adeus, dúvida cruel! (Foto: Ilustrações  Eva Uviedo)

(Foto: Ilustrações Eva Uviedo)

  • TEXTO SERGIO CRUSCO | ILUSTRAÇÕES EVA UVIEDO
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Provavelmente você já se viu em dúvida diante de uma prateleira abarrotada de vinhos: “Será que esse chileno com precinho bom vale a pena ou vou pagar mico? Levo o australiano mais caro, para impressionar? Rosé combina com bobó de camarão?”. A variedade de ofertas às vezes assusta e complica a vida do ser humano. São mais de 200 mil rótulos no mundo, sabe o que é isso? Conhecer o universo dos vinhos é um caminho lento, saboroso. Pense que nunca vai chegar nos 200 mil e relaxe. Aproveite cada oportunidade de provar um novo rótulo para sentir seus aromas e sabores com calma, refletir sobre suas sensações, conversar com quem está ao seu lado. É como um começo de namoro, a hora da sedução. Ou da decepção, por que não? Mas isso é fácil, a fila anda e há sempre um novo vinho logo adiante.Não se intimide com descrições pomposas sobre notas de degustação. Muitas são subjetivas e outras tantas são marketing refinado de produtores bons de lábia. A seguir, reunimos algumas dicas para ajudar quem está começando a pisar nesse terroir, sem pressa. Conhecimento vem com o tempo e experiências, e nossa sorte é que esse assunto nunca se esgota. O desconhecido e a surpresa é que dão toda a graça a qualquer aventura.

Aromas e sabores

Talvez você não seja capaz de notar o aroma de frutas vermelhas maduras em um vinho tinto ou o sabor de ananás em um branco, mas algumas características básicas são mais fáceis de identificar. Ficar atento a elas vai fazer você descobrir do que gosta, facilitar as próximas escolhas e ajudar a explicar ao sommelier o que procura num vinho. Da próxima vez que for a um empório ou a um restaurante, já pode disparar: “Que tinto leve e pouco tânico você sugere?”

Doçura Quanto menos doce, mais seco é o vinho. Nos espumantes, isso fica bem evidente: compare um extra-brut (bem seco) com um demi-sec (doce).

Acidez  Traz sensação de frescor e estimula a salivação. É uma qualidade desejada, quando bem equilibrada. Pense numa maçã que traz os sabores ácido e doce em harmonia. Seu vinho ideal pode ser assim.

Fruta Há vinhos com intenso aroma e sabor de fruta, em outros essa característica é menos perceptível.

Madeira Aroma que aparece em vinhos amadurecidos em carvalho, brancos e tintos. O amadurecimento pode gerar notas mais complexas, como especiarias.

Corpo (ou peso) Refere-se à estrutura do vinho, à sensação tátil da bebida na boca. Os mais encorpados são densos, dão a sensação de “boca cheia”, como um Tannat uruguaio. Geralmente são mais alcoólicos. O oposto é um vinho leve, como um verde português.

Tanino Vem das cascas e sementes da uva e está presente apenas nos tintos. É a sensação de adstringência na boca (pense num caqui meio verde). Vinhos menos tânicos são mais aveludados.

Harmonização

Dois conselhos de Arthur Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS): use o bom senso para evitar que alimentos pesados esmaguem vinhos leves (e vice-versa) e não se leve muito a sério – o importante é se divertir. Isso posto, veja algumas dicas de harmonização sem complicação:

Peixe e frutos do mar Vinhos brancos, de acidez elevada. Evite madeira e taninos.

Carnes Vermelhas, em geral, e carnes brancas com molhos escuros ou consistentes pedem tinto. Para carnes brancas com molhos cremosos, vá de branco.

Queijos Vinhos brancos de boa acidez e pouca ou nenhuma madeira e tintos frutados, pouco tânicos, são boa pedida para uma tábua de queijos. Vinhos de sobremesa combinam com queijos azuis.

Comidas picantes Brancos levemente doces ou rosés aplacam a ardência. Os mais alcoólicos e encorpados só fazem aumentar o ardor.

Sobremesas A doçura do vinho deve ser igual ou maior que a da sobremesa. Fortificados ou de colheita tardia são boas opções.

Harmonizações étnicas Quase sempre um acerto. O Chianti italiano, por exemplo, vai bem com massas de molho vermelho e pizzas.

Adeus, dúvida cruel! (Foto: Ilustrações  Eva Uviedo / Editora Globo)

(Foto: Ilustrações Eva Uviedo / Editora Globo)

Origem controlada

Termos como Denominação de Origem Controlada (DOC nos italianos e portugueses, DO nos espanhóis) ou Appellation D’Origine Contrôlée (AOC) nos franceses não são meros penduricalhos no rótulo. Isso quer dizer que, além de ter delimitada sua área de procedência, aquele vinho respeita normas de cultivo, métodos de vinificação e outros pormenores que prezam pelas características únicas de cada região. Isso não garante que um vinho DOC seja estupendo. Mas pode ser um parâmetro de qualidade a ser levado em conta na hora de escolher ou de presentear.

Jovem ou envelhecido

Vinhos jovens são fabricados e colocados à venda rapidamente. Representam a maioria dos rótulos que você vê nas adegas e mercados. Vinhos de safras mais antigas geralmente são amadurecidos em madeira e ainda se desenvolvem por alguns anos na garrafa, adquirindo maior complexidade de aromas e sabores. De maneira geral, os vinhos de guarda tendem a ser mais encorpados e caros, próprios para grandes ocasiões e paladares mais exigentes.

Pergunte ao especialista

Na hora de comprar, pesquise as opções de adegas e importadoras no seu bairro ou cidade. Ter um especialista de confiança que entenda suas necessidades e gostos é fundamental. Fuja dos lojistas que querem empurrar o mais caro ou o encalhado – esses são fáceis de ser identificados. Pense no momento da escolha e da compra como também uma ocasião de prazer e de encontro. Os bons comerciantes e sommeliers são pessoas tão apaixonadas e com vontade de acertar como você, e muito provavelmente vão tentar decifrar seus gostos. Eles devem demonstrar alegria de compartilhar esse conhecimento – caso contrário, a conversa não vale. Não tenha medo de perguntar e nem de parecer ignorante no assunto, pois é assim que se aprende e eles estão lá para isso mesmo. Condição fundamental: deixe claro quanto pretende gastar, seja na loja ou no restaurante, para o profissional poder guiar sua escolha sem estourar nenhum orçamento.

Faça seu caderno

Um exercício bacana é anotar num caderno as informações sobre os vinhos que você prova – dos excelentes aos que não gostou tanto assim. Nome, uva, país de origem, produtor, onde comprou ou bebeu, faixa de preço, as notas de aroma e sabor que identificou, com que comida harmonizou (se deu certo ou se poderia ser melhor), com quem esteve, em que ocasião e lugar. O caderno será um documento sobre o seu conhecimento de vinhos, sua evolução na pesquisa desse universo e ajudará a acertar cada vez mais nas escolhas. Há modelos prontos nas livrarias do Brasil e do mundo, mas você pode criar o guia à sua moda, num caderno bem bonito e até colar os rótulos dos vinhos degustados. Com ele, no mínimo, você nunca mais vai se pegar dizendo: “Amor, qual era mesmo aquele vinho que tomamos no restaurante italiano? Tão maravilhoso, mas esqueci o nome...”

Para saber mais

Livros Vinhos – Aprenda na Prática a Degustar a Bebida (Publifolha), de Marnie Old. • Manual Didático do Vinho – Iniciação à Enologia (Ed. Anhembi Morumbi), de Daniel Pinto. Harmonização – O Equilíbrio entre Vinho e Alimento (Educs), de Roberto Rabachino.

Cursos Associação Brasileira de Sommeliers. Presente em vários estados, oferece cursos básicos e avançados, tanto para quem tem apenas interesse pessoal quanto para quem quer se profissionalizar. Consulte o site da ABS mais próxima e confira a agenda.

Adeus, dúvida cruel! (Foto: Ilustrações  Eva Uviedo / Editora Globo)

Adeus, dúvida cruel! (Foto: Ilustrações Eva Uviedo / Editora Globo)


Fonte:https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Comida/Reportagens/Bebidas/noticia/2015/09/como-comprar-o-vinho-certo.html

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