Hasekura Rokuemon Tsunenaga foi recebido pelo rei da Espanha, estabeleceu relações diplomáticas com a Europa do século XVII e conheceu até o Papa V.
O samurai do século 17 que conheceu o papa e se tornou um cidadão romano
Muito se sabe sobre os europeus que navegaram em busca de rotas comerciais e missionárias para a China e o Japão durante o período de colonização, mas pouco ou quase nada se sabe sobre visitantes do Oriente ao Ocidente, especialmente por ter existido alguém tão viajado como Hasekura Tsunenaga, um nobre samurai que viveu no Japão durante o século XVII.
Hasekura era um samurai que pertencia ao Domínio de Sendai, no norte do Japão, a serviço do daimyo Date Masamune. Eles tinham aproximadamente a mesma idade, e está registrado que Tsunenaga atuou como representante de Date em várias ocasiões importantes.
Hasekura tinha um brasão oficial, composto por uma suástica budista cruzada por duas flechas, dentro de um escudo e encimada por uma coroa, sobre fundo laranja. (Wikimedia Commons)
Também está registrado que, por seis meses em 1597, Hasekura serviu como samurai durante a invasão japonesa da Coréia sob o comando do general Toyotomi Hideyoshi.
Em 1612, o pai de Hasekura, Hasekura Tsunenari (支倉常成), foi acusado de corrupção e condenado à morte em 1613, através do ritual seppuku. Seu feudo foi confiscado e seu filho deveria ter sido executado também. Date, no entanto, deu-lhe a oportunidade de resgatar sua honra, devolvendo-lhe seus feudos e colocando-o no comando da embaixada na Europa.
Itinerário e datas das viagens de Hasekura Tsunenaga (Wikimedia Commons)
De 1613 a 1620, Hasekura chefiou uma missão diplomática, conhecida como Embaixada de Keichō, que tinha como destino final o Vaticano em Roma. Viajando com o missionário espanhol Luis Sotelo, Hasekura embarcou no pequeno porto japonês de Tsukinoura em 1613.
Durante o percurso, ele passou pelo Cabo Mendocino na Califórnia, partindo em seguida para o Reino da Nova Espanha. Sete anos antes do navio Mayflower ir para o Novo Mundo, Hasekura já tinha atravessado o Pacífico, viajado por terra pelo México e navegado até a Europa.
Hasekura conheceu o rei da Espanha e o papa Paulo V, e entregou cartas de seu daimyo, Date Masamune, buscando comércio com a Espanha e convidando missionários católicos para o Japão. Também tornou-se parte do primeiro grupo japonês em Cuba, ajudou a iniciar um ramo de colonos japoneses na Espanha (que ainda existe hoje) e até se tornou cidadão romano.
Acompanhado por cerca de 20 compatriota, Hasekura foi provavelmente o primeiro japonês a cruzar o Atlântico. Eles visitaram Sevilha, foram recebidos pelo rei da Espanha, apareceram brevemente na França e viajaram para Roma para uma audiência com o papa em 1615.
O objetivo da embaixada de Hasekura parece ter sido estabelecer laços culturais e comerciais com a Europa, sendo considerada a primeira embaixada japonesa nas Américas e Europa.
Retrato de Hasekura durante sua missão em Roma em 1615, por Claude Deruet, Coll. Borghese, Roma (Wikimedia Commons)
Hasekura chegou a ser pintado durante sua visita a Roma pelo artista Claude Deruet. A imagem mostra-o vestindo uma bela roupa de seda bordada com animais e gramíneas, mas os olhos são atraídos para um par de espadas na cintura, símbolos de seu status como samurai.
Quando deixou o Japão, Hasekura começou um diário sobre suas experiências. Infelizmente, foi perdido ou destruído em seu retorno. Há, no entanto, registros de sua visita em arquivos europeus. Foi a descoberta destes no século 19 que reacendeu o interesse japonês em seu emissário esquecido. Algumas das evidências históricas são coletadas em um apêndice do excelente romance de 1982 de Shusaku Endo sobre a jornada de Hasekura, The Samurai.
A expedição passou sete anos viajando por cerca de um terço do globo. Na viagem de volta, Hasekura e seus companheiros traçaram sua rota através do México em 1619, navegando de Acapulco para Manila, depois navegando para o norte até chegar ao Japão em 1620.
Eles partiram em um galeão construído pelos japoneses – chamado Date Maru, depois nomeado San Juan Bautista pelos espanhóis. Embora seu diário tenha se perdido, parece que ele abraçou genuinamente a fé cristã, tornando-se um católico sob o nome de Francisco Felipe Faxicura.
Uma réplica do galeão japonês San Juan Bautista , em Ishinomaki, Miyagi, Japão (Wikimedia Commons)
Ele retornou ao Japão cinco anos após ter sido batizado na Igreja Católica na Espanha. No entanto, durante sua missão, o Shogun Tokugawa Ieyasu, havia banido o cristianismo no Japão sob pena de morte, antes da expulsão dos espanhóis e portugueses por seu neto, Tokugawa Iemitsu, em 1623. O que aconteceu depois com o samurai explorador é desconhecido.
Embora registros indiquem sua morte em 1622, ele desapareceu da história. É bem provável que Hasekura Tsunenaga tenha se tornado uma ‘persona non grata’ em seu país de origem. O que se sabe é que seus descendentes foram executados em 1640 por praticarem a fé cristã.
Ele seria o último visitante do Japão a participar de missões diplomáticas, antes do Japão entrar em seu longo período de isolamento de 200 anos. A próxima aconteceria apenas em 1862, quando Xogunato Tokugawa enviou a chamada “Primeira Embaixada Japonesa à Europa”.
Museu Sant Juan Bautista
Imagem: santjuan.or.jp
Se você ficou instigado com essa história, saiba que existe um museu dedicado ao Sant Juan Bautista, o galeão de estilo espanhol construído no Japão em 1600 e usado por Hasekura Tsunenaga em suas missões diplomáticas que o levou até o Vaticano, em Roma.
O Museu Sant Juan Bautista (サン·ファン館) está localizado em Ishinomaki, Miyagi. A principal atração do museu era uma réplica em tamanho real do Sant Juan Bautista, ancorada no mar em frente ao museu, mas foi removido em 2021, devido ao seu estado de deterioração.
Mas o museu oferece outras atrações, incluindo excelentes exibições e um interessante vídeo de simulador de movimento que explica a história do navio, detalhes de sua construção e como sua criação e missão diplomática se encaixam na história do Japão durante a Era da Exploração.
Além disso, a cada 28 de outubro é realizado o Sant Juan Festival que celebra Hasekura Tsunenaga (Hasekura Rokuemon Tsunenaga / Francisco Felipe Faxicura / Faxecura Rocuyemon) e conta a história de sua missão diplomática na Europa que partiu de Ishinomaki em 1613.
Link do vídeo (YouTube)
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