O que é misoginia (Foto: Kat Jayne/Pexels)
O que é misoginia?
Buscas pelo termo têm crescido após casos de assédio na imprensa e revelam uma longa lista de pensadores que, desde a Grécia Antiga, defendiam a inferioridade feminina
Criado na Grécia Antiga, o termo misoginia (infelizmente) ainda é muito atual. A procura pelo seu significado aumentou no Google após os ataques a Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de São Paulo que foi insultada por falsas acusações de Hans River, ex-funcionário de empresa de disparo de mensagens em massa envolvida na CPMI das Fake News, escândalo coberto pela repórter.
Depois de colaborar com a apuração da reportagem, River negou sua participação e acusou Mello de ter se insinuado sexualmente para extrair informações. A declaração foi desmentida e logo classificada de machista ou misógina por quem acompanha o caso.
Mas, afinal, o que é misoginia? Do grego, ela tem origem em duas palavras: miseó, que siginifica "ódio", e gyné, que significa "mulher". Nos dicionários, ela está relacionada ao ódio ou aversão às mulheres.
Hoje, entende-se que a misoginia pode se manifestar de diversas formas, como através da objetificação, da depreciação, do descrédito e dos vários tipos de violência contra a mulher, seja física, moral, sexual, patrimonial ou psicologicamente.
Raiz do problema
Há séculos, a misoginia tem dado as caras na história humana. Desde a Grécia Antiga, é possível identificar uma série de ideias que corroboravam a hipótese de que mulheres eram inferiores aos homens. Ao considerá-las "homens imperfeitos", Aristóteles é um dos mais antigos pensadores a serem criticados, hoje, por suas ideias misóginas. E a lista não para por aí. Hobbes, Descartes, Rousseau, Hegel, Nietzsche e Freud também colaboraram de alguma forma para sustentar a ideia da inferioridade feminina e alimentar a repulsa por mulheres.
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, por exemplo, criticou a "natureza feminina" diversas vezes em seus ensaios, como quando alegou que as mulheres eram "por natureza destinadas a obedecer". Até mesmo Charles Darwin defendeu ideias como a de que mulheres, crianças e "selvagens" tinham cérebros menores e, consequentemente, menos intelecto.
Apesar de já terem sido contestadas e derrubadas pela ciência, ideias como essa sustentam atos de violência e assédio até hoje.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/02/o-que-e-misoginia.html
Misoginia é uma palavra que tem por definição o ódio às mulheres.
A origem desse termo é grega e vem dos vocábulos miseó, que significa "ódio", e gyné, que tem como tradução "mulher".
Esse conceito abarca os sentimentos de desprezo, preconceito, repulsa e aversão às mulheres e ao que remete ao feminino.
Assim, a misoginia se instala em diversas sociedades e culturas através de comportamentos agressivos, depreciações, violência sexual, objetificação do corpo feminino e morte de mulheres (o feminicídio).
Relações entre misoginia, machismo e sexismo
Os termos "misoginia", "machismo" e "sexismo" estão relacionados no sentido em que se sustentam a partir da depreciação do gênero feminino.
A misoginia é vista como uma aversão doentia às mulheres. Tal comportamento tem bases psicológicas profundas, sendo até mesmo o reflexo de uma má elaboração da própria sexualidade daquele que a pratica.
No caso do machismo, ele se apresenta de forma mais naturalizada, com a ideia de superioridade dos homens. Essa concepção reverbera na sociedade de várias maneiras, até mesmo as mais sutis, como piadas, por exemplo.
Já o sexismo é quando uma pessoa acredita que existem "funções" que são destinadas apenas a um ou outro gênero sexual. Assim, elas acreditam que os homens e mulheres devem exercer determinados papéis.
A pessoa sexista defende que os homens devem ser mais potentes, viris e tomar as decisões, e que cabe às mulheres serem obedientes, educadas, mães zelosas e cuidar dos afazeres domésticos.
História da misoginia no mundo
O menosprezo ao gênero feminino é algo que atravessa a história da humanidade ao longo do tempo. Sua causa é em grande parte por conta de um sistema denominado como patriarcal, ou seja, uma estrutura de sociedade fundada no poder masculino.
Podemos perceber a misoginia em diversos povos da antiguidade, como na Grécia Antiga, cultura que teve grande importância na estruturação das sociedades ocidentais.
O célebre filósofo grego Aristóteles, por exemplo, afirmava que as mulheres são "homens imperfeitos" e que elas devem se sujeitar a eles, pois são "inferiores".
Podemos ainda detectar traços misóginos em várias vertentes religiosas. Na bíblia, livro sagrado do cristianismo, é possível encontrar passagens onde o prazer sexual feminino é condenado e as mulheres são vistas como veículos demoníacos.
A crença cristã defende também que as mulheres foram originadas a partir da costela de um homem e vieram ao mundo para servi-lo.
Já no alcorão, livro sagrado da religião islâmica, os fundamentos adotam a ideia que os homens são superiores em inteligência e fé.
O alcorão acredita ainda que as mulheres são, na realidade, uma porta para o pecado, devendo obediência aos seus maridos, caso contrário, os homens teriam permissão para lhes espancar.
Reconhecidos filósofos ocidentais explicitaram também pensamentos de desprezo e ódio às mulheres.
É o caso de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), teórico suíço ligado ao Iluminismo e ideias de liberdade, mas que defendia que as mulheres devem ser constrangidas desde meninas e educadas para a frustração a fim de submeter-se à vontade dos homens.
Para se aprofundar no assunto, leia: Feminicídio: definição, lei, tipos e estatísticas
Sociedades matriarcais
Entretanto, nem sempre a humanidade foi dominada pelo comportamento misógino.
Na pré-história, há cerca de 35 mil a.C., havia populações na Europa e na Ásia em que as mulheres eram tão valorizadas quanto os homens e as relações entre os gêneros eram igualitárias.
Além disso, a figura feminina era considerada sagrada, pois é a mulher quem gera a vida em seu corpo. Essas culturas foram chamadas de matriarcais.
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Reflexões sobre a misoginia
Todo esse acúmulo histórico de desvalorização ao gênero feminino foi passado à nossa sociedade atual.
Por meio dos esforços, lutas e movimentos feministas, as mulheres conquistaram cada vez mais respeito e passaram a ser mais valorizadas. Entretanto, a misoginia ainda é presente em praticamente todas as partes do mundo, gerando um clima hostil às mulheres e meninas.
Essa hostilidade afeta todos os gêneros, traduzindo-se em comportamentos agressivos direcionados ao feminino e uma enorme pressão sobre os homens, que sentem-se obrigados a demostrar virilidade e potência, sufocando suas fragilidades.
Portanto, essa forma de perceber as relações e entender o mundo ao redor só traz malefícios a todos, sobretudo às mulheres, mas também ao próprio homem misógino.
ORIGEM E HISTÓRIA DA MISOGINIA NA CULTURA HUMANA
Fonte:WIkipédia
Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas (discriminatório). A misoginia pode se manifestar de várias maneiras, incluindo a exclusão social, a discriminação sexual, hostilidade, androcentrismo, o patriarcado, ideias de privilégio masculino, a depreciação das mulheres, violência contra as mulheres e objetificação sexual.[1][2] A misoginia pode ser encontrada ocasionalmente dentro de textos antigos relativos a várias mitologias. Além disso, vários filósofos e pensadores ocidentais influentes têm sido descritos como misóginos.[1]
DEFINIÇÃO
De acordo com o sociólogo Allan G. Johnson, "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas." Johnson argumentou que:
"A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifestada em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao autodesprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos."[3]
Michael Flood define a misoginia como o ódio às mulheres, e observa:
"A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. [...] Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos [...] Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século XXI pela objetificação das mesmas pela mídia com seu autodesprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia."[4]
Os dicionários definem a misoginia como "aversão às mulheres",[5] nos dicionário em idioma inglês é definido como "ódio às mulheres"[6][7][8] e como "o ódio, a aversão ou desconfiança das mulheres".[9]
Uso histórico
Grécia Antiga
Em seu livro City of Sokrates: An Introduction to Classical Athens, J. W. Roberts argumenta que ainda mais antigo do que a tragédia e a comédia é a tradição misógina na literatura grega, que remonta, pelo menos a Hesíodo.[10]
A mais antiga, longa e completa passagem vem de um tratado moral conhecido como Sobre o casamento (c. 150 a.C.) do filósofo estoico Antípatro de Tarso.[11][12] Antípatro argumenta que o casamento é a base do Estado.[nota 1]Ele usa o termo misogunia para descrever o tipo de escritos que o trágico Eurípides evita, afirmando que ele "rejeita o ódio às mulheres na sua escrita" (ἀποθέμενος τὴν ἐν τῷ γράφειν μισογυνίαν). Antípatro então, oferece um exemplo disto, citando uma peça perdida de Eurípides em que os méritos de uma esposa obediente são elogiados.[12][13]
O outro uso sobrevivente da palavra grega original é por Crisipo de Solis, em um fragmento de Sobre afeição, citado por Galeno em Hipócrates sobre afeição.[14] Aqui, ele usa misogunia é o primeiro item de uma pequena lista de três "desafetos" -mulheres (misogunian), vinho (misoinian, μισοινίαν) e humanidade (misanthrōpian, μισανθρωπίαν). O ponto de Crisipo é mais abstrato do que Antípatro e Galeno cita a passagem como um exemplo de uma opinião contrária à sua própria. O que está claro, porém, é que ele agrupa o ódio às mulheres e ódio à humanidade em geral, e até mesmo o ódio ao vinho. "Foi a opinião médica dominante de sua época que o vinho fortalece o corpo e a alma da mesma forma."[15] Então, Crisipo, como seu companheiro estoico Antipatro, vê a misoginia negativamente, como uma doença; não gostar de algo que é bom. É esta questão de emoções conflitantes ou alternadas que era filosoficamente contenciosa para os antigos escritores. Ricardo Salles sugere que a visão estoica geral era de que "O homem pode não só alternam entre filoginia e misoginia, a filantropia e misantropia, mas será solicitado a cada um pelo outro".[16]
Aristóteles é acusado de ser um misógino ao escrever que as mulheres são "homens imperfeitos",[17] diferente de Hipócrates, ele via semelhanças entre os corpos femininos e masculinos acreditando que mulheres era como homens, mas apenas com os órgãos internamente afixados em vez de externos. Aristóteles acreditava que o problema com as mulheres era que a mulher é mais fria, tem o sangue mais frio do que os homens, o que as impede de "cozinhar" o que comiam para ser transformado em sêmen, em vez disso, a mulher menstrua para se livrar do excedente consumido.[18][19] Também diferentemente de Hipócrates, ele acreditava que a menstruação era um momento difícil e não saudável para as mulheres. A falta de calor também significava que mulheres não poderiam ser tão inteligentes quanto os homens o que fazia acreditar que a estrutura social grega que mantinha as mulheres sobre o estrito controle masculino era justificada pela anatomia feminina.[20]
No Routledge philosophy guidebook to Plato and the Republic, Nicholas Pappas descreve o "problema da misoginia" e afirma:
Na Apologia de Sócrates, Sócrates chama aqueles que implorar por suas vidas no tribunal "não melhor do que as mulheres" (35b)... O Timeu adverte aos homens que se viverem moralmente, eles serão reencarnados como mulheres (42b-c; cf. 75d-e). A obra República contém uma série de observações com o mesmo espírito (387e, 395d-e, 398e, 431b-c, 469d), evidência de nada mais do que desprezo em relação às mulheres. Mesmo palavras de Sócrates para a sua nova proposta ousada sobre o casamento[...] sugerem que as mulheres devem ser "mantidas em comum" por homens. Ele nunca diz que os homens poderiam ser mantidos em comum pelas mulheres [...] Temos também de reconhecer a insistência de Sócrates em dizer que os homens superam as mulheres em qualquer tarefa que ambos os sexos tentarem (455C, 456a), e sua observação no Livro 8, que um sinal de fracasso moral da democracia é a igualdade sexual que promove (563b).[21]
Misógino também é encontrado no grego - misogunēs (μισογύνης) em Dipnosofistas (acima) e em Vidas Paralelas de Plutarco onde é usado como o título de Héracles na história de Focion. Foi o título de uma peça de Menandro, que sabemos do livro sete (sobre Alexandria), do volume 17 da obra Geografia de Estrabão[23][24] e citações de Menandro por Clemente de Alexandria e Estobeu que se relacionam à casamento.[25] Menander também escreveu uma peça chamada Misoumenos (Μισούμενος) ou "O homem (por ela) odiado". Outra peça grega com um nome semelhante, Misogunos (Μισόγυνος) ou "O que odeia mulheres", é relatada por Cícero (em latim) e atribuída ao poeta Marco Atílio.
Cicero relata que os filósofos gregos consideraram a misoginia como causada pela ginofobia, um medo das mulheres.[22]
É o mesmo de outras doenças; assim como o desejo de glória, a paixão pelas mulheres, a que os gregos dão o nome de philogyneia: e assim todas as outras doenças e enfermidades são geradas. Mas esses sentimentos que são o contrário destes são supostos medos de sua fundação, como um ódio às mulheres, como é exibido no odiador de mulheres, Átilo; ou o ódio de toda a espécie humana, como Timon é relatado ter sido feito, a quem o chamam misanthrope. Do mesmo tipo é a inospitalidade. E todas estas doenças procedem de um certo pavor das coisas a que eles odeiam e evitam.— Cícero, Questões Tusculanas, século I a.C.
A forma mais comum da palavra odiador de mulher é misogunaios (μισογύναιος).[23] Outra menções:
- Também há pessoas facilmente saciadas com sua conexão com a mesma mulher, estando ao mesmo tempo enloquecidos por mulheres e sendo um "odiador de mulheres" — Fílon, Sobre as Leis Especiais, século I.[26]
- Aliado a Vênus em posições honrosas, Saturno torna seus súditos "odiadores de mulheres", amantes da antiguidade, solitários, desagradáveis de se encontrar, ambiciosos, detestadores do belo— Ptolomeu, "Qualidade da Alma", Tetrábilo, século II.[27][28]
- Vou provar a você que este maravilhoso professor, este "odiador de mulher", não está satisfeito com prazeres comuns durante a noite. — Alcifrão, "Tais para Eutidemo", século II.[29]
A palavra também é encontrada em Antologia de Vettius Valens e Princípios de Damáscio.[30][31]
Em resumo, a literatura grega considerava a misoginia uma doença - uma condição antissocial - em que se opunha a sua percepção do valor das mulheres como esposas da família e fundamento da sociedade. Esses pontos são amplamente observados na literatura secundária.[12]
Religião
Ver também: Teologia feminista e Diferenças sexuais na religião |
Grécia Antiga
Na obra Misogyny: The World's Oldest Prejudice ("Misoginia: O preconceito mais antigo do mundo"), Jack Holland argumenta que há evidências de misoginia na mitologia do mundo antigo. Na mitologia grega de acordo com Hesíodo, a raça humana já havia experimentado uma existência pacífica e autônoma acompanhada dos deuses antes da criação das mulheres. Quando Prometeu decide roubar o segredo do fogo dos deuses, Zeus fica enfurecido e decide punir a humanidade com uma "coisa má para seu deleite". Esta "coisa má" é Pandora, a primeira mulher, que carregou um frasco (geralmente descrito - incorretamente - como uma caixa) que lhe foi dita para nunca abrir. Epimeteu (o irmão de Prometeu) é dominado por sua beleza, ignora as advertências de Prometeu sobre ela e se casa com ela. Pandora não pode resistir a espreitar o frasco e ao abri-lo ela desencadeia no mundo todo o mal; o parto, a doença, a velhice e a morte.[32]
Budismo
Ver: Mulher no Budismo |
Em seu livro The Power of Denial: Buddhism, Purity, and Gender ("O Poder da Negação: Budismo, Pureza e Gênero"), o professor Bernard Faure da Universidade de Columbia argumentou, em geral, que "o Budismo é paradoxalmente não tanto sexista e não tão igualitário como se costuma pensar". "Muitos estudiosos feministas enfatizaram a natureza misógina (ou pelo menos androcêntrica) do budismo" e declararam que o budismo exalta moralmente seus monges enquanto as mães e esposas dos monges também têm papéis importantes. Além disso, ele escreveu:[33]
Enquanto alguns estudiosos veem o budismo como parte de um movimento de emancipação, outros o veem como uma fonte de opressão. Talvez essa seja apenas uma distinção entre otimistas e pessimistas, se não entre idealistas e realistas... Quando começamos a perceber, o termo "budismo" não designa uma entidade monolítica, mas abrange uma série de doutrinas, ideologias e práticas - algumas das quais parecem convidar, tolerar e até cultivar a "alteridade" em suas margens.
Cristianismo
Ver artigo principal: Papéis de gênero no Cristianismo |
Ver também: Complementarismo e Igualitarismo cristão |
22. As mulheres sejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor;
23. porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele o salvador do corpo.
24. Mas como a igreja é sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam a seus maridos em tudo.
25. Maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e por ela se entregou a si mesmo,
26. para que a santificasse, tendo-a purificado pela lavagem de água com a palavra,
27, a fim de que ele a apresentasse a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas que fosse santa e sem defeito.
28. Assim também devem os maridos amar a suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo;
As diferenças na tradição e nas interpretações das escrituras fizeram com que as seitas do cristianismo diferissem em suas crenças no que diz respeito ao tratamento das mulheres. Em seu livro The Troublesome Helpmate, Katharine M. Rogers argumenta que o cristianismo é misógino e lista o que ela diz que são exemplos específicos de misoginia nas Epístolas paulinas. Ela afirma: "Os fundamentos da misoginia cristã primitiva — culpa em relação ao sexo, sua insistência na sujeição feminina, seu temor à sedução feminina — estão todos nas epístolas de São Paulo".[34]
No livro de K. K. Ruthven, Feminist Literary Studies: An Introduction, Ruthven faz referência ao livro de Rogers e argumenta que o "legado da misoginia cristã foi consolidado pelos chamados Padres da Igreja, como Tertuliano, que pensava que uma mulher não era apenas "a porta do diabo", mas também "um templo construído sobre um esgoto".[35]
No entanto, alguns outros estudiosos têm argumentado que o Cristianismo não inclui princípios misóginos, ou pelo menos que uma interpretação adequada do cristianismo não deve incluir princípios misóginos. David M. Scholer, um estudioso bíblico no Seminário Teológico Fuller , declarou que o versículo Gálatas 3:28 ("Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Jesus Cristo.") é a base teológica fundamental paulina para a inclusão das mulheres e dos homens como parceiros iguais e mútuos em todos os ministérios da igreja".[36][37] Em seu livro Equality in Christ? Galatians 3.28 and the Gender Dispute, Richard Hove argumenta que - enquanto Gálatas 3:28 significa que o sexo de alguém não afeta a salvação - "permanece um padrão no qual a esposa deve emular a submissão da igreja ao Cristo (Efésios 5:21 a Efésios 5:33) e o marido deve imitar o amor de Cristo pela igreja."[38]
Em seu livro Christian Men Who Hate Women, a psicóloga clínica Margaret J. Rinck escreveu que a cultura social cristã muitas vezes permite um "uso indevido misógino do ideal bíblico de submissão". No entanto, ela argumenta que isso é uma distorção da "relação saudável de submissão mútua" que é realmente especificado na doutrina cristã, onde "O amor é baseado em um respeito profundo e mútuo como o princípio norteador de todas as decisões, ações e Planos".[39] Da mesma forma, o estudioso católico Christopher West argumenta que "a dominação masculina viola o plano de Deus e é o resultado específico do pecado".[40]
Islamismo
O Islamismo é uma das religiões mais misóginas do mundo. O Alcorão, assim como os diversos hádices, estabelecem claramente a inferioridade das mulheres, que são consideradas deficientes em inteligência e crença, podendo conduzir facilmente os homens à perdição e constituindo a maioria dos habitantes do Inferno.[41][42]
Um capítulo inteiro (ou sura) do Alcorão é chamado de "Mulheres" (An-Nisa). O verso 34 é um versículo chave na crítica feminista do Islã. O verso afirma: "Os homens são os protectores (ou guardiões) das mulheres, porque Alá fez uns superiores aos outros e porque eles gastam os seus bens para as manter. As boas mulheres são, portanto, obedientes, guardando o segredo como Alá ordenou que fosse guardado. Aquelas de quem você teme deslealdade, admoestai-as, e deixai-as sozinhas nos leitos e batei-lhes..."
Siquismo
Ver também: Mulheres no siquismo |
Os estudiosos William M. Reynolds e Julie A. Webber têm escrito que Guru Nanak, o fundador da tradição da fé sique, era um "lutador pelos direitos das mulheres" e que "de nenhum modo misógino" em contraste com alguns de seus contemporâneos.[43]
Cientologia
Ver artigo principal: Cientologia |
Em seu livro Scientology: A New Slant on Life, L. Ron Hubbard escreveu o seguinte:
Uma sociedade em que as mulheres são ensinadas qualquer coisa a mais do que a gestão de uma família, o cuidado com os homens e a criação da geração futura é uma sociedade que está fora de seu caminho.[44]
No mesmo livro:
O historiador pode fixar o ponto em que uma sociedade começa seu declínio mais acentuado no momento em que as mulheres começam a participar, em pé de igualdade com os homens, nos assuntos políticos e de negócios, pois isso significa que os homens são decadentes e as mulheres não são mais mulheres. Este não é um sermão sobre o papel ou posição das mulheres; É uma declaração de fato pura e simples.[45]
Essas passagens de Hubbard, juntamente com outras de natureza similar, foram criticadas por Alan Scherstuhl do The Village Voice como manifestações de ódio contra as mulheres.[46] No entanto, o professor J. Gordon Melton da Baylor University Escreveu que Hubbard mais tarde desconsiderou e revogou muitas das suas visões anteriores sobre as mulheres, o que Melton vê como meros ecos de preconceitos comuns da época. Melton declarou também que a Igreja da Cientologia Acolhe favoravelmente ambos os sexos em todos os níveis - desde posições de auditores — desde que a Cientologia ve as pessoas como thetans (seres espirituais).[47]
Filósofos e pensadores
Numerosos filósofos ocidentais influentes são acusados de serem misóginos, incluindo Aristóteles, René Descartes, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, Jean-Jacques Rousseau, G. W. F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Charles Darwin, Sigmund Freud, Otto Weininger, Oswald Spengler e John Lucas.[48]
Aristóteles
Aristóteles acreditava que as mulheres eram inferiores e as descreveu como "homens imperfeitos".[49][50] Em sua obra Política, ele afirma: "No que diz respeita aos sexos, o macho é por natureza superior e a fêmea o inferior, o macho governa e a fêmea se sujeita.(1254b13-14)".[50]
Jean-Jacques Rousseau
Jean-Jacques Rousseau não favoreceu a igualdade de direitos para as mulheres, por exemplo, em seu tratado Emílio, ou Da Educação, Ele escreve: "Sempre justifique os fardos que você impõe sobre as meninas, mas imponha-os de qualquer maneira... Elas devem ser frustradas desde cedo... Elas devem ser exercitadas para o constrangimento, de modo que não lhes custa nada sufocar todas as suas fantasias para se submetê-las à vontade dos outros". Outras citações consistem de "fechadas em suas casas", "deve receber as decisões de pais e maridos assim como da igreja".[51]
Charles Darwin
Charles Darwin escreveu sobre o tema inferioridade feminina através da lente da evolução humana.[52] Ele observou em seu livro The Descent of Men: "jovens de ambos os sexos se assemelham à fêmea adulta na maioria das espécies", e que "os machos avançaram evolutivamente mais do que as fêmeas". Darwin acreditava que todos os selvagens, crianças e mulheres tinham cérebros menores e, portanto, conduzidos mais por instinto e menos pela razão.[52] Tais ideias rapidamente se espalharam para outros cientistas como o professor de Ciências naturais Carl Vogt da Universidade de Genebra, que argumentou que "a criança, a mulher e o branco senil" tinham os traços mentais de um "negro adulto", que a fêmea é semelhante na capacidade intelectual e traços de personalidade tanto para bebês e as raças "inferiores", como os negros, ao chegar à conclusão de que as mulheres estão mais intimamente relacionados aos animais inferiores do que aos homens e "portanto, devemos descobrir uma semelhança maior aos símios se tomamos uma fêmea como nosso padrão".[52] As crenças de Darwin sobre as mulheres também foram reflexo de suas atitudes em relação às mulheres em geral, por exemplo, suas visões para o casamento como um jovem em que ele foi citado: "como eu deveria gerenciar todos os meus negócios se obrigado a ir todos os dias andando com minha esposa - puxa!", e que ser casado era "...pior do que ser um negro".[52] Ou em outros casos sua preocupação de seu filho se casar com uma mulher chamada Martineau sobre a qual ele escreveu: "ele não será muito melhor do que seu "negro". Imagine o pobre Erasmus um negro para uma mulher tão filosófica e enérgica... Martineau tinha acabado de voltar de uma excursão turbulenta na América e estava cheia de direitos de propriedade das mulheres casadas... A perfeita igualdade de direitos é parte de sua doutrina... Devemos orar por nosso pobre "negro".[52]
Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer tem sido notado como um misógino por muitos como o filósofo, crítico e autor Tom Grimwood.[53] Em um artigo de 2008 escrito por Grimwood no jornal filosófico Kritique, Grimwood argumenta que as obras misóginas de Schopenhauer escaparam em grande parte da atenção, apesar de serem mais perceptíveis do que as de outros filósofos como Nietzsche.[53] Por exemplo, ele observou os trabalhos de Schopenhauer, onde argumenta que as mulheres têm apenas uma razão "pobre" comparável à do "animal que vive no presente". Outros trabalhos que observou consistiu no argumento de Schopenhauer de que o único papel das mulheres na natureza é o de promover a espécie através do parto e, portanto, a mulher é equipada com o poder de seduzir e "capturar" os homens.[53]
Ele continua afirmando que o contentamento das mulheres é caótico e perturbador e é por isso que é crucial para elas exercerem obediência aos que têm racionalidade. A mulher funcionar além de seu subjugador racional é uma ameaça contra homens assim como a outras mulheres, ele anota. Schopenhauer também pensou que o contentamento das mulheres é uma expressão de sua falta de moralidade e incapacidade de compreender o significado abstrato ou o objetivo, como a arte.[53] Isto é seguido por sua citação "nunca foram capazes de produzir uma única, e realmente grande e autêntica realização nas belas artes, ou trazer para qualquer lugar no mundo uma obra de valor permanente."[53]
Schopenhauer também foi acusado de misoginia por seu ensaio Sobre as mulheres (Über die Weiber), no qual expressou sua oposição ao que chamou de "estupidez teutonico-cristã" nos assuntos femininos. Ele argumentou que as mulheres são "por natureza destinadas a obedecer", porque são "infantis, frívolas e míopes".[48] Ele alegou que nenhuma mulher jamais produziu grande arte ou "qualquer trabalho de valor permanente", e também argumentou que as mulheres não possuíam nenhuma beleza real:[48][54]
"Só a mente masculina, turvada pelo impulso sexual, poderia chamar o sexo que tem baixa estatura, ombros estreitos, coxas largas e pernas curtas de belo sexo."[55]
Misoginia da Internet
Impactos Negativos
A retórica misógina prevalece on-line e cresceu retoricamente mais agressiva. O debate público sobre ataques baseados em gênero tem aumentado significativamente, levando a apelos para intervenções políticas e melhores respostas por redes sociais como Facebook e Twitter.[56][57]
Um estudo de 2016 conduzido pelo think tank Demos concluiu que 50% de todos os tweets misóginos no Twitter vêm das próprias mulheres.[58]
A maioria dos alvos são mulheres que são visíveis na esfera pública, mulheres que falam sobre as ameaças que recebem e mulheres que são percebidas como associadas ao feminismo ou ganhos feministas. Autores de mensagens misóginas são geralmente anônimos ou de outra forma difíceis de identificar. Sua retórica envolve epítetos misóginos e imagens gráficas e sexualizadas, centra-se na aparência física das mulheres e prescreve a violência sexual como um corretivo para as mulheres alvo. Exemplos de mulheres famosas que falaram sobre ataques misóginos são Anita Sarkeesian, Laurie Penny, Caroline Criado-Pérez, Stella Creasy e Lindy West.[56]
Os insultos e ameaças dirigidos a mulheres diferentes tendem a ser muito semelhantes. Sady Doyle, que foi alvo de ameaças on-line, notou a "qualidade esmagadoramente impessoal, repetitiva e estereotipada" do abuso, o fato de que "todos nós estamos sendo chamados das mesmas coisas, no mesmo tom".[56]
Impactos Positivos
Por outro lado a internet tem servido como ferramenta para pessoas defenderem as mulheres e atacarem cultura misogina dos grandes grupos da imprensa tradicional, como por exemplo o caso recente da revista Istoé que foi acusada de machismo e misoginia.[59]
Teoria Evolutiva
Um estudo de 2015 publicado na revista PLOS ONE pelos pesquisadores Michael M. Kasomovic e Jefferey S. Kuznekoff descobriu que o status masculino medeia o comportamento sexista em relação às mulheres.[60] O estudo descobriu que as mulheres tendem a experimentar comportamento hostil e sexista em um campo dominado por homens de status baixo.[60] Uma vez que os grupos dominados pelos homens tendem a ser organizados em hierarquias, a entrada das mulheres reorganiza a hierarquia a seu favor, atraindo a atenção de homens de status mais elevado.[60] Isso permite que as mulheres tenham um status superior automático sobre os homens de status inferior,[59] o que é respondido por esses homens com hostilidade sexista a fim de controlar a perda de status. Este estudo foi uma das primeiras evidências notáveis de "inter"-competição de gênero e tem implicações evolutivas para a origem do sexismo.[60]
Teoria feminista
Ver artigo principal: Teoria feminista |
Os adeptos de um modelo dizem que alguns tipos de misoginia resultam do Complexo de Madonna-prostituta, que é a incapacidade de ver as mulheres como qualquer outra coisa senão "mães" ou "prostitutas"; pessoas com este complexo colocam cada mulher que conhecem em uma dessas categorias. Outra variante alega que uma causa de misoginia é que alguns homens pensam em termos de uma dicotomia virgem/prostituta, o que resulta em considerar como "prostitutas" as mulheres que não aderem a um padrão abraâmico de pureza moral.[61]
No final do século XX, os teóricos feministas da segunda onda do feminismo argumentaram que a misoginia é uma causa e um resultado de estruturas sociais patriarcais.[62]
O sociólogo Michael Flood argumentou que "a misandria carece da antipatia sistêmica, trans-histórica, institucionalizada e legislada da misoginia".[63]
Críticas
Camille Paglia, uma autodenominada "feminista dissidente", que muitas vezes tem estado em desacordo com outras feministas acadêmicas, argumenta que há falhas sérias na interpretação de misoginia inspirada no Marxismo que prevalecem no feminismo da segunda onda. Em contraste, Paglia argumenta que uma leitura atenta dos textos históricos revela que os homens não odeiam as mulheres, mas sim tem medo delas.[64] Christian Groes-Green argumentou que a misoginia deve ser vista em relação ao seu oposto, que ele chama de "filoginia". Criticando a teoria das masculinidades hegemônicas de Raewyn Connell, ele mostra como as masculinidades filogênicas se desenvolvem entre os jovens em Maputo, Moçambique.[65]
Modernidade
Na Modernidade um dos aspectos importantes da misoginia é a violência contra a mulher, aceita e em alguns casos apoiada pelo aparato jurídico e referendada pela separação entre público e privado.
Há também a questão do aborto selectivo em razão do sexo, praticado em nações como China e Índia.[59][66][67]
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