É o sétimo relatório desse tipo, publicado a cada quatro anos pelo Conselho Nacional de Inteligência desde 1997.
Não se trata de uma leitura relaxante para quem é um líder político ou diplomata internacional - ou espera ser um nos próximos anos.
Em primeiro lugar, o relatório foca nos fatores-chave que vão impulsionar a mudança.
Um deles é a volatilidade política.
"Em muitos países, as pessoas estão pessimistas sobre o futuro e estão cada vez mais desconfiadas de líderes e instituições que consideram incapazes ou relutantes em lidar com tendências econômicas, tecnológicas e demográficas disruptivas", adverte o relatório.
Democracias vulneráveis
O estudo argumenta que as pessoas estão gravitando em torno de grupos com ideias semelhantes e fazendo demandas maiores e mais variadas aos governos em um momento em que esses mesmos governos estão cada vez mais limitados no que podem fazer.
"Essa incompatibilidade entre as habilidades dos governos e as expectativas do público tende a se expandir e levar a mais volatilidade política, incluindo crescente polarização e populismo dentro dos sistemas políticos, ondas de ativismo e movimentos de protesto e, nos casos mais extremos, violência, conflito interno, ou mesmo colapso do estado", diz o relatório.
Expectativas não atendidas, alimentadas por redes sociais e tecnologia, podem criar riscos para a democracia.
"Olhando para o futuro, muitas democracias provavelmente serão vulneráveis a uma erosão e até mesmo ao colapso", adverte o texto, acrescentando que essas pressões também afetarão os regimes autoritários.
Pandemia, uma 'grande ruptura global'
O relatório afirma que a atual pandemia é a "ruptura global mais significativa e singular desde a 2ª Guerra Mundial", que alimentou divisões, acelerou as mudanças existentes e desafiou suposições, inclusive sobre como os governos podem lidar com isso.
O último relatório, de 2017, previu a possibilidade de uma "pandemia global em 2023" reduzir drasticamente as viagens globais para conter sua propagação.
Os autores reconhecem, no entanto, que não esperavam o surgimento da covid-19, que dizem ter "abalado suposições antigas sobre resiliência e adaptação e criado novas incertezas sobre a economia, governança, geopolítica e tecnologia".
As mudanças climáticas e demográficas também vão exercer um impacto primordial sobre o futuro do mundo, assim como a tecnologia, que pode ser prejudicial, mas também trazer oportunidades para aqueles que a utilizarem de maneira eficaz e primeiro.
Competição geopolítica
Internacionalmente, os analistas esperam que a intensidade da competição pela influência global alcance seu nível mais alto desde a Guerra Fria nas próximas duas décadas em meio ao enfraquecimento contínuo da velha ordem, enquanto instituições como as Nações Unidas enfrentam dificuldades.
Organizações não-governamentais, incluindo grupos religiosos e as chamadas "empresas superestrelas da tecnologia" também podem ter a capacidade de construir redes que competem com - ou até mesmo - driblam os Estados.
O risco de conflito pode aumentar, tornando-se mais difícil impedir o uso de novas armas.
O terrorismo jihadista provavelmente continuará, mas há um alerta de que terroristas de extrema direita e esquerda que promovem questões como racismo, ambientalismo e extremismo antigovernamental possam ressurgir na Europa, América Latina e América do Norte.
Os grupos podem usar inteligência artificial para se tornarem mais perigosos ou usar realidade aumentada para criar "campos de treinamento de terroristas virtuais".
A competição entre os EUA e a China está no centro de muitas das diferenças nos cenários - se um deles se torna mais bem-sucedido ou se os dois competem igualmente ou dividem o mundo em esferas de influência separadas.
Um relatório de 2004 também previu um califado emergindo do Oriente Médio, como o que o autodenominado Estado Islâmico tentou criar na última década, embora o mesmo estudo - olhando para 2020 - não tenha capturado a competição com a China, que agora domina as preocupações de segurança dos EUA.
O objetivo geral é analisar futuros possíveis, em vez de acertar previsões.
Democracias mais fortes ou 'mundo à deriva'?
Existem alguns cenários otimistas para 2040 - um deles foi chamado de "o renascimento das democracias".
Isso envolve os EUA e seus aliados aproveitando a tecnologia e o crescimento econômico para lidar com os desafios domésticos e internacionais, enquanto as repressões da China e da Rússia (inclusive em Hong Kong) sufocam a inovação e fortalecem o apelo da democracia.
Mas outros são mais desanimadores.
"O cenário do mundo à deriva" imagina as economias de mercado nunca se recuperando da pandemia de Covid, tornando-se profundamente divididas internamente e vivendo em um sistema internacional "sem direção, caótico e volátil", já que as regras e instituições internacionais são ignoradas por países, empresas e outros grupos.
Um cenário, porém, consegue combinar pessimismo com otimismo.
"Tragédia e mobilização" prevê um mundo em meio a uma catástrofe global no início de 2030, graças às mudanças climáticas, fome e agitação - mas isso, por sua vez, leva a uma nova coalizão global, impulsionada em parte por movimentos sociais, para resolver esses problemas.
Claro, nenhum dos cenários pode acontecer ou - mais provavelmente - uma combinação deles ou algo totalmente novo pode surgir. O objetivo, dizem os autores, é se preparar para uma série de futuros possíveis - mesmo que muitos deles pareçam longe de ser otimistas.
Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56780573
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