MULHERES E MENINAS DE ATÉ 8 ANOS SOFREM COM O ABUSO ONLINE,CRIME QUE CRESCEU EM TODO MUNDO DURANTE A PANDEMIA,SEGUNDO MOSTRA PESQUISA
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Mulheres e meninas de até 8 anos sofrem com o abuso online, crime que cresceu em todo o mundo durante a pandemia
"Ele chegou a dizer que todos sonhariam em me ter, mas que só ele teria", contou Priya (nome fictício para preservar a identidade da vítima), que vive em Mumbai, na Índia, mas foi vítima de um crime cometido contra meninas e mulheres em todo o mundo. Infelizmente, sua história é comum.
Durante 2020, ano em que o isolamento social foi exigido em muitos países para conter o novo coronavírus, o assédio online a meninas e mulheres cresceu, na maioria das vezes praticado por parceiros ou ex-parceiros trancados em casa em frente ao computador ou smartphone. Esse dado é da ONU Mulheres.
Depois de compartilhar um nude de Priya, o namorado dela passou a controlar sua presença nas redes.
"Eu pisava em ovos constantemente. Não é uma violência física, mas eu passei a sofrer slutshaming ou tinha que me preocupar se o meu comportamento online serviria como um gatilho para ele", diz Priya.
As restrições impostas pela pandemia de Covid-19 levaram mais pessoas em todo o mundo a se conectar ou a aumentar o tempo de conexão. A internet tornou-se uma necessidade incontornável, tornando mais grave o abuso online relacionado ao gênero, como explica Azmina Dhrodia, pesquisadora da Fundação World Wide Web.
"O modo como usamos a internet mudou. Não é mais um luxo, é o que nos conecta ao mundo e à vida. Mas com isso chegam os riscos, especialmente para as mulheres", diz Azmina, que pesquisa os direitos digitais de meninas e mulheres.
Mesmo antes da Covid-19, mais de metade das meninas e das jovens mulheres no mundo já tinham sofrido abuso online, de acordo com uma pesquisa global realizada pela Fundação World Wide Web, que tem entre seus fundadores, Tim Berners-Lee, o criador da internet.
O compartilhamento de imagens, vídeos ou informação privada sem consentimento, prática conhecida como doxxing (em inglês), foi o motivo de maior preocupação das mais de 8 mil pessoas ouvidas pela pesquisa.
Azmina diz que a violência online é uma manifestação da discriminação já existente contra as mulheres, então não é surpresa que tenha crescido com o isolamento social.
"É um espaço hostil e está se tornando mais hostil porque todos estamos ainda mais online", diz a pesquisadora.
Meninas, algumas delas tão jovens quando 8 anos, também têm sido vítimas de abuso online. Uma em cada cinco deixou ou reduziu o uso das redes sociais, de acordo com uma pesquisa realizada em outubro pela organização Plan International.
Cerca de metade das meninas que sofreram abuso online foram ameaçadas com violência física ou sexual, segundo a pesquisa. Muitas das entrevistadas disseram que o abuso afetou sua saúde mental e um quarto delas afirmou sentir-se fisicamente insegura.
A União Internacional da Telecomunicação, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que, embora as mulheres estejam mais conectadas do que nunca, hoje há 17% menos mulheres do que homens entre os usuários da internet.
"As mulheres se esforçaram para ter acesso à internet, agora estão online e sofrem uma violência que faz com que elas deixem a internet. No fundo, esse é o objetivo: silenciar as mulheres", afirma Neema Iyer, diretora do grupo Pollicy, que trabalha com direitos digitais em Uganda.
Muitas das mulheres vítimas de abuso online sofrem a violência de seus parceiros ou ex-parceiros, mas algumas são alvos de estranhos que hackeiam suas contas nas redes sociais em busca de fotos e informações. O uso de softwares de monitoramento cresceu durante a pandemia, como explica a advogada Akhila Kolisetty, baseada em Nova York e fundadora da organização End Cyber Abuse.
"Com as pessoas trabalhando em casa, os abusadores estão coagindo os usuários a entregar senhas e imagens íntimas, além de rastrear a vida online de suas vítimas."
Ativistas dizem que é difícil legislar sobre o abuso online, que, em muitos países, é coberto apenas parcialmente. Países como Índia, Canadá, Inglaterra, Paquistão e Alemanha já criminalizam o compartilhamento de fotos íntimas, que é considerado um abuso sexual baseado em imagens.
No Brasil, a lei 12.737, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2012, dispõe sobre a tipificação de crimes de informática. Conhecida como "Lei Carolina Dieckmann", por conta do vazamento de imagens vítimas da atriz por um estranho, prevê detenção de 1 a 3 anos para quem invadir dispositivo de terceiros sem autorização. A obtenção de informação priva por esses meios vai de 6 meses a 2 anos de prisão, mas, caso haja compartilhamento ou venda desse conteúdo, a pena pode aumentar em dois terços.
Mas, como a tecnologia avança rapidamente, os países precisam correr para legislar novas formas de abuso, como as "deepfakes", em que o rosto de uma mulher é colocado em um vídeo pornô e compartilhado em aplicativos de mensagens como o WhatsApp ou o Telegram.
Plataformas digitais como o Facebook, que é dono do WhatsApp e do Instagram, o Twitter, o TikTok e o Zoom afirmam que estão comprometidos em erradicar o assédio online.
O aplicativo Zoom, que, com a pandemia, passou de 10 milhões a 200 milhões de usuários no mundo, recebe reclamações do que ficou conhecido como "zoombombing", que é quando estranhos entram em ligações privadas. Os abusadores também se infiltram em conferências e reuniões para assediar mulheres com conteúdo sexual, sexista e ofensas raciais. O Zoom afirma que reforçou suas ferramentas de seguranças e trabalha com legisladores.
"O Zoom condena fortemente comportamentos dessa natureza", afirmou um porta-voz da emprea.
O Twitter afirma que reforçou sua segurança, permitindo que as pessoas controlem quem pode responder suas mensagens, e também age proativamente para identificar tuítes e contas de abusadores.
Cerca de dois terços, ou 64% das mulheres, afirmam terem sido assediadas, a maioria delas por estranhos, no Twitter. Já um quarto delas diz que sofreu abuso no Facebook, segundo um estudo da organização End Violence Against Women.
O Facebook afirma que automaticamente "esconde" conteúdo ofensivo ou que represente bullying e que os usuários podem facilmente bloquear ou ignorar mensagens.
Apesar disso, quase todas as mulheres que responderam ao estudo da organização End Violence Against Women afirmaram que as gigantes da tecnologia não trataram corretamente de suas experiências de abuso online.
Caroline Sinders, que pesquisa a internet no Instituto Weizenbaum de Berlim, afirma que os sistemas e as ferramentas online não facilitam a proteção das vítimas. Segundo ela, as vítimas de abuso deveriam conseguir acesso fácil a todas as mensagens abusivas que recebem para construírem um relatório para a polícia ou para levar o caso à Justiça:
"Permitir que as pessoas consigam construir um relatório robusto é chave, assim como facilitar o acesso a relatórios que foram submetidos aos moderadores de conteúdo, caso a vítimas precise levar o caso aos tribunais."
Fonte:https://oglobo.globo.com/celina/mulheres-meninas-de-ate-8-anos-sofrem-com-abuso-online-crime-que-cresceu-em-todo-mundo-durante-pandemia-24823954
Perseguição. Pornografia de vingança. Ofensa sexual. A violência contra a mulher cresce nas redes
RIO - A distância física da vítima não é mais uma barreira para os agressores de mulheres. Em ambientes virtuais, elas também são submetidas a violências como insulto, humilhação, ameaça, perseguição e ofensa sexual.
Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública com o Datafolha apontou que os casos de violência contra a mulher praticados via internet aumentaram de 1,2% das 1.051 brasileiras entrevistadas em 2017 para 8,2% das 1.092 mulheres que responderam ao questionário neste ano.
Para o levantamento, as mulheres foram questionadas sobre o tipo de local onde sofreram a violência mais grave nos últimos 12 meses. Em primeiro lugar, aparece a casa (42%); depois, a rua (29,1%); em seguida, lugar indefinido (9%); e a internet (8,2%).
— Podemos sinalizar que há uma ampliação do uso dessas ferramentas. Se antes não tínhamos tantas interações nesse ambiente, agora temos. O crescimento desse espaço virtual como espaço de interação vai reproduzir a vulnerabilidade da mulher à violência como ocorre no espaço público — avalia Cristina Neme, consultora de projetos do Fórum e uma das responsáveis pela pesquisa.
A titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias, Fernanda Fernandes, diz que o aumento no número de casos de violência virtual que chega à polícia é significativo. Entre as ocorrências mais comuns estão o “estupro virtual” — quando a vítima é coagida a produzir conteúdo sexual sob ameaça de divulgação de fotos e vídeos — e denúncias de pornografia de vingança, quando o agressor divulga vídeos íntimos das vítimas.
— Depois de alterações na lei no ano passado, tipificando por exemplo a pornografia de vingança, os casos começaram a aparecer. Vivemos em uma sociedade machista, em muitos casos a vítima era culpabilizada. Por outro lado, o aspecto positivo é que, com as redes sociais, passamos a ter a materialidade do crime. A violência doméstica acontece entre quatro paredes e muitas vezes não tínhamos provas, com a internet é importante que as vítimas façam prints desses conteúdos e guardem esses registros — afirma a delegada.
Legislação passou a incluir crime na web
No ano passado, uma lei que alterou o Código Penal tornou crime a importunação sexual — prática sem consentimento de ato libidinoso contra alguém— e também a divulgação de cenas de sexo e pornografia contra a vontade. As penas variam de um a cinco anos e, no caso da pornografia de vingança, pode ser agravada de um terço a dois terços quando o agressor manteve alguma relação de afeto com a vítima.
No caso do estupro virtual, o entendimento passou a ser usado a partir de um a alteração de 2009 no Código Penal, que ampliou o conceito de estupro. Apesar desses avanços, a advogada Tatiana Moreira Naumann afirma que a lei ainda não protege totalmente as mulheres:
— A legislação ainda é muito machista. A mulher tem uma vulnerabilidade muito grande, especialmente nas questões de família. Na disputa judicial, ela vai estar sempre desfavorecida.
Muitas vezes, no entanto, fazer a denúncia não é fácil. Clara* (os nomes das vítimas foram trocados) conta ter sido dissuadida até por advogados de denunciar a agressão que sofreu. Submetida a diversos tipos de violência na web, sofreu os maiores danos após a divulgação de um vídeo íntimo por um homem com quem se relacionou.
A veiculação das imagens ocorreu em 2010, mas até hoje ela não conseguiu retirar o conteúdo de plataformas pornográficas, sendo inclusive chantageada pelos próprios administradores dessas páginas.
— De tempos em tempos, alguém me avisa que viu o vídeo em algum site. A mulher, embora seja a vítima, sempre recebe a culpa. Afinal, por que eu fui tirar a roupa para um desconhecido? Tem ideia de quantas coisas eu deixei de fazer por medo de esse vídeo aparecer? Sou professora, e fico constantemente com medo de que esse vídeo venha à tona e eu não possa mais dar aula para crianças.
Laura sofreu violência parecida. Ela estava na casa do atual namorado quando foi surpreendida por um vídeo publicado por seu ex-marido no Facebook. Na publicação, o ex afirmava que ela havia forjado um abuso sexual contra a própria filha para incriminá-lo. Durante o vídeo, que ficou no ar por dez dias, até uma decisão judicial, ele exibia a página inicial do processo de guarda da filha e desmoralizava a ex-companheira.
— O vídeo circulou, teve mais de 6.500 visualizações, 300 compartilhamentos, e milhares de comentários dizendo que eu deveria estar morta e que eu era um monstro — conta ela, que abriu um novo processo, dessa vez por calúnia, injúria e difamação.
Fonte:https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/perseguicao-pornografia-de-vinganca-ofensa-sexual-violencia-contra-mulher-cresce-nas-redes-23506835
Internet alimenta abusos contra mulheres, alerta criador da rede mundial de computadores
A Internet "não funciona para as mulheres" e está alimentando uma nova era de abusos generalizados contra elas — alertou nesta quinta-feira (12) o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee.
Em uma avaliação negativa publicada pela World Wide Web Foundation, criada por Berners-Lee para defender uma rede livre e aberta para todos, também garantiu que existe uma "tendência perigosa" de abuso on-line que ameaça o progresso em direção à igualdade de gênero.
"A web não funciona para as mulheres e as meninas", escreveu. "O mundo fez um progresso significativo na igualdade de gênero, graças ao impulso incansável de pessoas comprometidas", afirmou.
"Mas estou seriamente preocupado com o fato de que ataques on-line enfrentados por mulheres e meninas, especialmente as de cor, provenientes de comunidades LGBT e de outros grupos marginalizados, ameacem esse progresso", advertiu.
Em uma pesquisa da Associação Mundial de Escoteiras, "mais da metade das jovens entrevistadas disse ter sofrido violência on-line", afirmou Berners-Lee. O famoso especialista em informática também destacou que a discriminação é alimentada pelo fato de muitas mulheres não terem acesso à Internet.
Assim, de acordo com um estudo de sua fundação, os homens têm 21% mais chances de usar a rede, um percentual que sobe para 52% em países menos desenvolvidos. Berners-Lee disse que essas desigualdades ameaçam o "Contrato da Web", um plano de ação global lançado por ele há um ano para evitar que a Internet se torne uma "distopia digital."
Fonte:https://oglobo.globo.com/celina/internet-alimenta-abusos-contra-mulheres-alerta-criador-da-rede-mundial-de-computadores-24300517
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