CUTIES: O QUE CRÍTICA E PÚBLICO ESTÃO DIZENDO SOBRE O FILME DA NETFLIX ACUSADO DE SEXUALIZAR CRIANÇAS
'Lindinhas': lançado na quarta-feira (9) pela Netflix, filme
francês virou pivô de polêmica sobre sexualização de crianças Foto: Divulgação
'Cuties': O que crítica e
público estão dizendo sobre filme da Netflix acusado de sexualizar crianças
Estrelado pela atriz Fathia
Youssouf, de 11 anos, produção premiada em Sundance foi lançada pela plataforma
na quarta-feira (9-09-2020); diretora diz ter sido ameaçada de morte
O filmes francês, batizado originalmente de “Mignonnes”, é protagonizado por uma atriz negra de 11 anos e vem sendo acusado de sexualizar crianças. No Brasil, seu título foi traduzido para “Lindinhas”.
Maïmouna Doucouré, diretora e roteirista da obra, afirmou, em entrevista ao site “Deadline”, já ter sido até ameaçada de morte. Há também uma petição on-line pedindo para que a Netflix retire o longa de seu catálogo.
Por outro lado, a crítica especializada vem destacando qualidades em “Cuties”, que saiu premiado do Festival de Sundance, em fevereiro, e foi exibido em Berlim.
Abaixo, confira uma explicação detalhada sobre todas as controvérsias que cercam o filme.
Qual a trama de “Cuties”?
O filme centra suas atenções em Amy, uma garota de 11 anos interpretada pela atriz Fathia Youssouf. De origem senegalesa, ela se muda com a família para a França e tem que obedecer a um regime severo de regras impostas pela mãe, marcadas por um viés religioso, além de se adaptar à realidade de uma vida em um novo país.
Tudo muda, porém, quando Amy decide entrar para um grupo de dança formado por outras meninas de sua idade, as Mignonnes. Lá, a jovem busca na liberdade dos movimentos do corpo um contraste ao conservadorismo vivenciado em casa.
A produção, exibida em Berlim este ano, rendeu à cineasta Maïmouna Doucouré um prêmio de direção em Sundance.
De família senegalesa, mas nascida e criada em Paris, Doucouré afirma ter colocado “todo seu coração” no projeto porque “esta é sua própria história”.
Antes de chegar à Netflix esta semana, “Cuties” foi lançado nos cinemas franceses em agosto.
Quais polêmicas giram em torno do filme?
Um dos estopins para todo o imbróglio foi um cartaz de divulgação lançado pela Netflix. Na peça, a protagonista está em cima de um palco, ao lado de três colegas, com trajes considerados, aos olhos de muitos, provocantes para meninas de apenas 11 anos.
O polêmico cartaz do filme, que motivou um pedido de desculpas da Netflix Foto: Reprodução
A imagem, tirada de um trecho do filme sem expor seu contexto, acabou construindo um imenso teto de vidro para a empresa. Após uma onda de críticas, a Netflix removeu o cartaz publicitários de espaços físicos e virtuais.
Mas o conteúdo de “Cuties” também vem sendo alvo de ataques. O filme é acusado de hiperssexualizar crianças, tanto ao expor o corpo de meninas de 11 anos dançando, como também ao exibir situações de convívio das crianças.
O Parents Television Council (PTC), espécie de conselho conservador formado por pais americanos que analisam conteúdo de TV, diz que “a sexualização aberta dos personagens infantis esconde uma suposta mensagem implícita sobre os perigos das redes sociais”.
Na quinta-feira (10), foi lançada uma petição on-line no site change.org, gerada por figuras do Partido Republicano nos EUA, pedindo o boicote ao filme. Em 24 horas, o documento já contava com mais de 600 mil assinaturas.
“Pornografia infantil é ilegal na América”, tweetou DeAnna Lorraine, ex-candidata republicana ao Congresso pela Califórnia. “A hiperssexualização de garotos e garotas é nojenta. É moral e eticamente repreensível”, postou o também republicano Omar Navarro, no Twitter.
Aliás, a hashtag #CancelNetflix ficou na lideranaça dos trending topics do Twitter nos EUA durante boa parte da quinta-feira.
Qual o posicionamento da Netflix e da diretora de “Cuties”?
Sobre as críticas ao cartaz de divulgação do filme, a empresa pediu desculpas e assumiu que o uso de imagens foi “inapropriado”.
Por outro lado, a Netflix saiu publicamente em defesa da obra, como ficou bem explícito em um comunicado oficial emitido pela plataforma: “Cuties é um comentário social contra a sexualização de crianças. É um filme premiado, uma história poderosa sobre a pressão que jovens enfrentam nas redes sociais e também da sociedade. Nós encorajaríamos qualquer pessoa que se preocupa com essas questões importantes a assistir ao filme”.
Já a diretora Maïmouna Doucouré, em um conteúdo extra de seis minutos que acompanha “Cuties” na Netflix, defende o caráter crítico e questionador da obra.
“Amy acredita que pode encontrar sua liberdade por meio desse grupo de dançarinas e através de sua hiperssexualização. Mas isso é realmente a verdadeira liberdade? Especialmente quando você é criança? Claro que não", analisa a cineasta.
Em outro trecho do vídeo, intitulado “Why I Made Cuties”(“Por que eu fiz Cuties”, em tradução livre), ela alerta: “As meninas veem que quanto mais uma mulher é sexualizada nas redes sociais, mais ela tem sucesso. E, sim, isso é muito perigoso”.
Qual tem sido a reação da crítica e do público?
Toda as polêmicas em torno do filme vêm afetando seu desempenho em sites de análise que contam com a participação dos espectadores.
No IMDB, por exemplo, “Cuties” já recebeu mais de 5,6 mil avaliações de internautas, numa escala de nota 0 a 10. Mais de 88% das pessoas atribuíram nota 1 ao filme, enquanto apenas 3% deram nota 10. Por lá, o longa tem média de 1,6.
No Rotten Tomatoes a situação não é muito diferente. “Cuties” tem, por enquanto, apenas 3% de resenhas positivas enviadas pelo público. No entanto, quando se joga o foco sobre a visão dos críticos, a coisa muda de figura: 88% de análises positivas.
“Merece muito ser visto. É uma obra delicada que encontra um ponto de equilíbrio cuidadoso ao retratar seu mundo”, elogia Bilge Ebiri, crítico da “New York Magazine” e do site “Vulture”.
David Fear, da “Rolling Stone”, elogia o filme e atenta para a inusitada controvérsia gerada em seu entorno: “De repente, um longa sensível sobre amadurecimento se tornou alvo de uma guerra cultural”.
No entanto, há críticas positivas a “Cuties” que não isentam a Netflix de sua culpa pela gênese das turbulências sobre seu lançamento.
A jornalista Clémence Michallon, do “Indepedent”, lamenta que o incidente com o cartaz tenha despertado muito barulho sobre o longa. E exalta o fato de que a produção premiada conta a história de uma menina negra e é dirigida por uma mulher negra, feitos que “contrariam as estatísticas”.
“Cuties é um filme sobre meninas e a cultura que as sexualiza. Não é, fundamentalmente, um filme a favor da hiperssexualização. Só porque uma obra de arte retrata algo não significa que esteja defendendo isso. Se fosse esse o caso, nenhum thriller jamais seria escrito - nenhuma cena de estupro, nem mesmo de roubo, seria retratada na tela”, pondera Michallon.
Fonte:https://oglobo.globo.com/cultura/cuties-que-critica-publico-estao-dizendo-sobre-filme-da-netflix-acusado-de-sexualizar-criancas-24634728
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