Enquanto visitantes com máscaras circulam pela nova exposição que marca os 75 anos daquela conferência, o mapa geopolítico mundial está sendo novamente redesenhado. Desta vez, o motivo é o coronavírus, que a chanceler alemã, Angela Merkel, descreveu como o maior desafio do pós-guerra.
Na metade de um ano dominado pela pandemia, as autoridades enfrentam uma crise de saúde, uma crise econômica e uma crise de legitimidade institucional — e tudo isso em um momento de maior rivalidade geopolítica. Como essas mudanças tectônicas se consolidarão nos próximos seis meses ajudará a determinar a configuração da era pós-vírus.
Tendências que já eram visíveis antes da Covid-19 se intensificaram e ganharam velocidade. Como potência em rápida ascensão, a China está mais assertiva e se envolvendo em conflitos do Canadá à Austrália. Os EUA, que se mantiveram como superpotência desde o encontro em Potsdam, estão cada vez mais voltados para dentro, enquanto o vírus massacra sua população e sua economia antes da eleição presidencial em novembro.
“Muitos problemas estruturais na ordem internacional ficaram bem mais aparentes”, disse Rory Medcalf, diretor da Faculdade de Segurança Nacional da Universidade Nacional Australiana.
Com a convergência de diversos pontos de pressão, desde falhas de liderança à falta de confiança na veracidade das informações, “isso resulta em uma espécie de tempestade perfeita”, acrescentou. “O grande teste é realmente se poderemos atravessar os próximos seis a 18 meses sem a eclosão dessas crises.”
Em Potsdam, a principal dinâmica foi a luta ideológica entre os sistemas comunista e capitalista conforme adotados por Moscou e Washington. A União Soviética de Josef Stalin saiu da guerra como uma superpotência, enquanto o presidente americano Harry Truman demonstrou a superioridade tecnológica e militar dos EUA quando deu ordem na conferência para jogar as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
O impasse atual entre os EUA de Donald Trump e a China de Xi Jinping foi comparado ao “sopé” de uma nova Guerra Fria pelo ex-secretário de Estado americano, Henry Kissinger, em novembro. Para o historiador Niall Ferguson, essa previsão já se concretizou. A eventual chegada de Joe Biden à Casa Branca dificilmente reverterá a deterioração nas relações entre EUA e China, segundo a maioria das análises.
Para Medcalf, autor de um livro sobre rivalidade estratégica intitulado “Império Indo-Pacífico” (tradução livre), a questão central agora não é apenas como os EUA respondem ao desafio da ascensão da China, mas se “jogadores intermediários”, incluindo Índia, Austrália, Japão e Europa se dispõem a correr riscos para defender a ordem internacional e a trabalhar em conjunto nesse sentido.
O problema é que não há um fórum óbvio para debater o mundo pós-pandemia. O Grupo dos Sete está no limbo enquanto o anfitrião deste ano, Trump, questiona quem deve integrá-lo. Uma cúpula entre líderes da União Europeia e Xi que estava marcada para setembro foi adiada indefinidamente. Não se sabe se acontecerá a reunião do Grupo dos 20, marcada para novembro, sob o comando da Arábia Saudita.
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi formada em 1945 para impedir novas guerras, mas se mostra disfuncional. Rússia e China, que estão entre os cinco países com poder de veto, bloquearam outra resolução nesta semana, desta vez envolvendo a Síria.
Enquanto isso, as fontes de conflito com Pequim súbita e desconcertantemente aparecem em todos os lugares.
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