É possível regenerar os neurônios: cinco hábitos que podem
ajudar
A
neurogênese não é um mito: como e em que idades acontece
Durante
décadas, foi uma verdade assumida por todos: o ser humano nasce com um
número finito de neurônios que vão se degradando e jamais são substituídos.
Fim. A vida ofertava a cada indivíduo um pacote fechado dessas células, que
deviam ser cuidadas com responsabilidade. Mas nenhuma verdade é absoluta: a ciência se
encarregou de comprovar que a geração de neurônios também é uma realidade em
outras idades e momentos do ciclo vital, não só durante a fase embrionária. É o
processo conhecido como neurogênese adulta; o cérebro fabrica
novos neurônios que completam os que cada um desenvolveu pela fusão do
espermatozoide e do óvulo dos pais. E as põe para funcionar.
Mas a mudança
de paradigma não se restringe ao fato de que esta nova verdade já esteja
comprovada. Alguns estudos apontam que esses processos de neurogênese adulta
podem criar, podendo precipitar e reforçar os neurônios, que assumem uma série
de práticas relacionadas aos hábitos e às rotinas. Por mais que haja opiniões
concordantes sobre quando, por que e com que intensidade esses processos de
produção são deflagrados, dezenas de pesquisadores comprovaram que a dieta,
os exercícios físicos e até a prática de sexo permitem fomentar a
neurogênese e dar uma mão para o sacrificado cérebro. Sempre diligente. Sempre
funcionando. E crucial para viver mais e melhor.
1.400 novos por
dia
Este é o
número quantificado por uma equipe de especialistas no Instituto Médico Karolisnka, na
Suécia, que analisou a concentração de carbono 14 no DNA dos neurônios
presentes no hipocampo de pessoas mortas. Com seu estudo, publicado pela revista Cell, constatou-se
que “os neurônios se regeneram também durante a idade adulta e isso pode
contribuir para o bom funcionamento do cérebro”.
Mas eles vão
além. Os autores adiantam que esses novos neurônios podem ter um valor
fundamental para futuras pesquisas relacionadas ao tratamento de doenças
neurodegenerativas. “Conhecer essa realidade cria uma
expectativa. Abre-se a porta para desenvolver tratamentos diversos que promovam
essa geração”, afirma Pablo Irimia, neurologista da Clínica Universidade de
Navarra, na Espanha. Afirma, porém, que esses processos de
neurogênese adulta têm um papel limitado, incapaz de corrigir lesões cerebrais
sérias, e que vão esgotando seu efeito com a idade, mas que “nos dão pistas de
que existe a possibilidade de induzir a aparição de neurônios por meio de
fármacos e tratamentos concretos”.
Outros
especialistas restringem, porém, esses pontos intensos de neurogênese adulta
aos primeiros anos de vida, até os sete anos. Durante essa primeira etapa, o
padrão genético herdado dos pais é somado a outros neurônios que estabelecem
novas redes e circuitos simpáticos, responsáveis pela aquisição de novas
habilidades. Mas a aprendizagem permite trabalhar a plasticidade
sináptica, a conexão neuronal. E também é importante cuidar deles. O álcool e
as drogas matam os neurônios e alteram a plasticidade sináptica. E o tabaco, a
poluição e qualquer elemento que afete negativamente o sistema nervoso. E também
a falta de exercício mental e a solidão. Por que os neurônios também morrem por
inatividade.
Mas vários
estudos se encarregaram de estabelecer pautas e mecanismos para promover a
neurogênese adulta. Muitos pesquisadores tentaram determinar quais são os
processos para estimular a criação de novos neurônios. E os transformaram em
conselhos, em boas práticas para ajudar o cérebro em sua tarefa silenciosa.
Como? Aparentemente, é mais fácil do que se imagina.
5 hábitos que
promovem a criação de neurônios
Sandrine Thuret, neurocientista do King’s College de
Londres, é uma das principais pesquisadores da neurogênese no mundo.
Ela afirma com contundência que o hipocampo continua gerando neurônios
fundamentais para os processos de aprendizagem e memória durante toda a vida.
Thuret também aponta, em seus estudos, que esses processos podem ser reforçados
adotando-se hábitos de vida saudáveis. E suas conclusões batem com as de outras
muitas análises que aprofundam esses temas:
1. Exercício aeróbico. Cientistas
da Universidade de Jyväskylä, na Finlândia,
descobriram que é uma das técnicas mais adequadas para aumentar a neurogênese.
A corrida ou os exercícios de resistência se revelam uma prática adequada, mas
é suficiente “caminhar a bom ritmo cinco vezes por semana”, segundo Pablo
Irimia.
2. Alimentação. Apostar na dieta mediterrânea e em planos
hipocalóricos parece ser, de novo, a decisão mais acertada. Outros estudos,
porém, dão um passo além, falando dos flavonoides como alimentos que propiciam
a neurogênese adulta. Chá verde, uvas roxas e, sem dúvida, alimentos ricos em
antioxidantes devem ser incluídos na dieta habitual por seus efeitos positivos
para evitar a degeneração celular.
3. Sexo. O estudo publicado
pela US National
Library of Medicine comprovou que o hipocampo produz neurônios
novos quando o corpo fica exposto à prática do sexo de forma continuada,
melhorando assim a função cognitiva. Mas avisam: “A experiência sexual repetida
pode estimular a neurogênese adulta desde que esta persista no tempo”. Cabe a
cada um estabelecer os horários.
4. Estresse e ansiedade sob controle.
É também fator determinante para o correto funcionamento do cérebro, para a
manutenção da plasticidade neuronal e para o fomento de processos de
neurogênese mais relevantes. Assim, cientistas da Universidade de Oregon apontam que a
meditação, entendida como um exercício que controla e elimina a tensão, é uma
prática que desencadeia a geração de novos neurônios em idade adulta. Em
conclusão: alguns minutos por dia para deixar a mente em branco ajudarão o
cérebro tanto em curto como em médio e longo prazos.
5. Mente sempre ativa. Trata-se,
talvez, do conselho mais relevante: “A aprendizagem gera conexões entre as
diferentes regiões do cérebro e por isso é fundamental para que este possa
evitar sua deterioração”, explica o neurologista Irimia, que acrescenta: “Não
se trata unicamente de ler muito, mas também de manter uma interação social
habitual e estimular constantemente o cérebro”.
O cérebro é a cada dia um pouco menos insondável.
Centenas de cientistas se ocupam dele, lutando para desentranhar seus segredos
e tentar entendê-lo para cuidar melhor dele. Qual será o próximo mistério a
desvendar, o próximo mito a derrubar? Quem sabe? Mas o que é certo é que ainda
resta muito a conhecer. E que nossos cérebros precisam estar preparados para
compreender tudo aquilo que ainda hoje eles mesmos escondem.
Comentários
Postar um comentário