What’s next? (Foto: Ilustrações: Stefânia Sangi)
A arte no futuro: o que preveem os especialistas?
Tendência é independência de artistas em relação às galerias
- RENATO DE CARA
No final da já antiga década de 1990, a internet começou a iluminar as mentes e as telas daqueles em busca de inovações. Os discursos, ressignificados entre raças, mulheres, gêneros não binários e fluxos migratórios, começaram a dar voz àqueles que, até o início deste mesmo século, ainda eram tratados como minorias inferiores, sem a possibilidade de ascensão.
O “lugar de fala” vem se impondo e possibilita ventilar reivindicações e ideias. Seja em instituições, galerias comerciais ou feiras internacionais, a luta é diária para que o “excluído” se torne o must seen. Trabalha-se para o fim das hegemonias normativas do velho século XX. Agora, definitivamente parece que adentramos – e para sempre – nos anos loucos – terminologia nascida há cem anos que designava um período de grande efervescência social, artística e cultural em Nova York, Paris, Londres e Berlim, entre outras cidades.
Fronteiras borradas é um dos jargões mais propagados em textos curatoriais inteligentes e as intersecções permitem que cada vez mais nos conectarmos culturas fisicamente distantes, mas próximas em necessidades e quereres. As grandes mostras coletivas falam de regiões longínquas, povos esquecidos e das relações nas sociedades maltratadas. E nelas podem constar pinturas, esculturas, arte popular, bandeiras, gifs virtuais ou produtos vendidos em larga escala.
Tudo que é representação interessa à documentação – artistas se tornaram pesquisadores, elencando elementos como arqueólogos em campos de estudo. Coleções viraram instalações para seus discursos políticos e assim a certeza de que novos mapeamentos vão sendo feitos, sem deixar ninguém de fora.
Mas quando a farra estava só começando, tempos sombrios voltaram a escurecer o cenário cultural.
O “lugar de fala” vem se impondo e possibilita ventilar reivindicações e ideias. Seja em instituições, galerias comerciais ou feiras internacionais, a luta é diária para que o “excluído” se torne o must seen. Trabalha-se para o fim das hegemonias normativas do velho século XX. Agora, definitivamente parece que adentramos – e para sempre – nos anos loucos – terminologia nascida há cem anos que designava um período de grande efervescência social, artística e cultural em Nova York, Paris, Londres e Berlim, entre outras cidades.
Fronteiras borradas é um dos jargões mais propagados em textos curatoriais inteligentes e as intersecções permitem que cada vez mais nos conectarmos culturas fisicamente distantes, mas próximas em necessidades e quereres. As grandes mostras coletivas falam de regiões longínquas, povos esquecidos e das relações nas sociedades maltratadas. E nelas podem constar pinturas, esculturas, arte popular, bandeiras, gifs virtuais ou produtos vendidos em larga escala.
Tudo que é representação interessa à documentação – artistas se tornaram pesquisadores, elencando elementos como arqueólogos em campos de estudo. Coleções viraram instalações para seus discursos políticos e assim a certeza de que novos mapeamentos vão sendo feitos, sem deixar ninguém de fora.
Mas quando a farra estava só começando, tempos sombrios voltaram a escurecer o cenário cultural.
Plataformas digitais pipocam todos os dias, prometendo conexões e viabilidade comercial. Mas qual será de nosso ambiente nesta próxima década? Para Janu Schwab, CEO da artboom.co, os mercados consolidados produzem riqueza e acomodação, dois elementos favoráveis à inovação pela ruptura. "Não há transformação positiva sem a perturbação do status quo. O mercado de arte ainda não passou por uma revolução. A arte será impactada por tecnologias emergentes como blockchain e machine learning, sim, mas principalmente por mudanças de comportamento de interações, de referências e de consumo de pessoas de carne e osso", reflete. "Há uma maior disposição por experiências integradas, que começam e terminam em ambiente digital, mas usam os espaços físicos como complemento de uma jornada de negociação. E a molecada, conhecida por Geração Z, fechará esse ciclo quando chegar a vida adulta", completa.
O futuro será pautado por acessibilidade e transparência que produzem conexões abertas e duradouras. Essa autonomia deslocará de vez o eixo de relevância das galerias de arte tradicionais que, assim como o que aconteceu com o Cinema e a Música, precisarão se reinventar. "Toda a mise-en-scene opaca do mercado tradicional vai ser desmontada pelos drivers de interesse e relacionamento dos futuros compradores e colecionadores. Como toda viagem para o futuro, esse é um caminho sem volta”, analisa.
Jaqueline Martins, proprietária da galeria que leva seu nome, procura ficar atenta para fazer parte do seu tempo. “Trabalho bastante com artistas que foram marginalizados a partir dos anos de 1970, que tinham interesses conceituais mas que também explicitavam às inserções das minorias. É muito recente a construção desta agenda dos negligenciados e por isso me esforço para oferecer oportunidades de trazer uma produção relevante e atemporal que dialogue com os jovens.
E a validação do tempo legitima a obra, fazendo sentido e resinificando, independente do repertório. Embora seja preciso desconfiar do oportunismo, vigiando as inserções para não cair em mera ilustração dessa pauta, não há duvida que estamos formatando uma nova relação mais justa. Cada vez mais os artistas adotrão o gerenciamento de suas carreiras, sendo mais autônomos em suas iniciativas e, para isso, a galeria precisa ter outras vocações, como administrar e inserir seus representados no sistema, numa gestão mais vigorosa institucionalmente.”
Representando essas instituições o curador Felipe Chaimovich, do MAM/SP, acredita que “as artes assumem o protagonismo experimental diante de novas tecnologias com artistas criando por meio de redes sociais e utilizando plataformas que permitem disponibilizar filmes, por exemplo, ampliando assim as possibilidade de interação com o público. Os centros tradicionais de arte somente perderão terreno se não estiverem atentos aos novos desafios de comunicação e a sua própria diferença específica, que é possibilitar a experiência do real no confronto com a cultura, por oposição à experiência do virtual.”
Os artistas Bruno Moreschi e Gustavo von Ha trabalham com provocações formais ao elaborarem suas poéticas. “É fato que vivemos em um período complexo que ameaça o futuro da humanidade. Como todos os campos do conhecimento, a arte não pode se abster na busca de transformações que barrem ou ao menos mitigam problemáticas como aquecimento global, desigualdade social e o controle social via infraestruturas digitais comerciais”, diz Moreschi.
“A meu ver, as questões devem dar espaço para uma arte inserida no contexto contemporâneo ameaçado pelo próprio sistema. O futuro deve ser visto como esse presente urgente, mais direcionado para a construção de uma linguagem sensível. Precisamos desembrutecer a sociedade com uma espécie de código potente capaz de unir as pessoas em busca de soluções que perpassam pela ideia de interdisciplinaridade, distribuição de renda e efetiva mudança econômica”, reflete.
“Para um futuro complexo, a arte pode nos oferecer um campo fértil especulativo que impulsione ações abrangentes e de fato transformadoras.”
Para von Ha o sistema precisa se atualizar, horizontalizando-se em suas relações. “Meu próprio trabalho está em diversas plataformas de circulação de imagens, como internet, salas de cinemas, comércio ambulante... operando dentro e fora do sistema. Meus interesses vão muito além das narrativas hegemônicas. Para haver arte temos que ter ambiguidade, mistério e loucura, coisas que espelham exatamente o que nós somos: um paradoxo completo!”.
Quem viver, verá!
Quem viver, verá!
O futuro será pautado por acessibilidade e transparência que produzem conexões abertas e duradouras. Essa autonomia deslocará de vez o eixo de relevância das galerias de arte tradicionais que, assim como o que aconteceu com o Cinema e a Música, precisarão se reinventar. "Toda a mise-en-scene opaca do mercado tradicional vai ser desmontada pelos drivers de interesse e relacionamento dos futuros compradores e colecionadores. Como toda viagem para o futuro, esse é um caminho sem volta”, analisa.
Jaqueline Martins, proprietária da galeria que leva seu nome, procura ficar atenta para fazer parte do seu tempo. “Trabalho bastante com artistas que foram marginalizados a partir dos anos de 1970, que tinham interesses conceituais mas que também explicitavam às inserções das minorias. É muito recente a construção desta agenda dos negligenciados e por isso me esforço para oferecer oportunidades de trazer uma produção relevante e atemporal que dialogue com os jovens.
E a validação do tempo legitima a obra, fazendo sentido e resinificando, independente do repertório. Embora seja preciso desconfiar do oportunismo, vigiando as inserções para não cair em mera ilustração dessa pauta, não há duvida que estamos formatando uma nova relação mais justa. Cada vez mais os artistas adotrão o gerenciamento de suas carreiras, sendo mais autônomos em suas iniciativas e, para isso, a galeria precisa ter outras vocações, como administrar e inserir seus representados no sistema, numa gestão mais vigorosa institucionalmente.”
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