Missão possível: como os pais podem proteger as crianças do coronavírus, física e mentalmente?
Em coluna, a psicanalista Mônica Pessanha conta como preparar seus filhos para lidar psicologicamente com a pandemia do coronavírus. "Esse é um momento em que as crianças tendem a se sentir mais angustiadas e ansiosas, principalmente se recebem muita informação do que está" acontecendo sem filtro algum.
Nos últimos dias temos sido bombardeados por informações sobre a atuação e disseminação do COVID-2019, mais conhecido como coronavírus, em torno do mundo. Toda essa situação que enfrentamos hoje nos traz alguma sobrecarga de ansiedade emocional, por isso é normal que essa ansiedade também afete nossos filhos. Para as crianças pequenas, nem sempre é fácil processar informações que veem na internet, na televisão ou que ouvem de outras pessoas. Elas são, nesse contexto, a parte mais vulnerável à ansiedade, ao estresse e à tristeza. Os pais podem ajudá-las a entender e gerenciar a situação, mantendo uma conversa aberta e tranquilizadora com elas.
Meu objetivo, aqui, é falar sobre o que os pais podem fazer para diminuir a ansiedade das crianças em relação ao coronavírus e como passar por esse tempo em que estarão com eles em casa. O ponto de partida é: como falar sobre o assunto com as crianças? Precisamos levar em consideração a faixa etária de cada um. Para aquelas que estão em idade pré-escolar, ou seja, frequentam a creche, simplesmente diga que a creche está fechada e que ela ficará alguns dias em casa porque existem micróbios que podem deixá-la doente, principalmente em lugares onde há muitas crianças. Para as crianças em idade do maternal, você pode apresentar as coisas da mesma, mas com uma linguagem ainda mais simples.
Já a reação das crianças que têm entre 5 e 7 anos será diferente. Certamente, elas farão perguntas. O melhor, nesse caso, é devolvê-las: 'E você, o que acha? O que você entendeu?' Isso evita que projetemos nelas nossos próprios medos e nos ajuda a usar as mesmas palavras que a criança para criar uma resposta que ela entenderá. Esse processo permanece relevante para crianças até os 7 anos de idade. Você pode lançar mão de sua criatividade e inventar uma história sobre o vírus e o que as pessoas fizeram para derrotá-lo. Por exemplo: “Era uma vez, o rei do vírus, com sua coroa, que queria muito conquistar o mundo inteiro...."
Depois de 7 anos, as crianças já têm uma noção melhor da realidade, pois já não lançam tanto mão da fantasia como nas faixas etárias anteriores. Nesse caso, devemos responder às suas perguntas da forma mais simples possível. No entanto, se depois de suas explicações, a criança não fizer ou fizer algumas perguntas, ela deve ser respeitada. Cada uma reage à sua maneira.
Além dessas coisas que pontuei para cada faixa etária, aconselho os pais a não deixarem que as crianças assistam as notícias na televisão ou mostrar discursos das autoridades de saúde. Muita informação causa preocupação, especialmente nos casos em que as crianças são expostas a informações da mídia e à reação não filtrada dos pais. Como falei anteriormente, esse é um momento em que as crianças tendem a se sentir mais angustiadas e ansiosas. A ansiedade acaba se transformando em medo e ele pode ser muito contagioso, por isso os pais devem filtrar suas emoções antes de falar com seus filhos.
É importante ajudar as crianças a entenderem que esse período de recolhimento NÃO é um período de férias. Isso porque não faz sentido algum, protegê-las do contato com os amigos na escola, como forma de estancar a propagação do vírus, e deixá-la descer para jogar futebol com os amigos do condomínio. Por isso, é importante estabelecer uma rotina com as crianças nesse período em que boa parte de nós terá que dar conta de home office e tomar conta delas. Minha sugestão é que escrevam em um cartaz a rotina da criança (levantar, escovar os dentes, hora do desenho, atividades escolares – muitas escolas vão providenciá-las online etc). Outras sugestões que podem ser úteis são: abusem dos jogos de cartas e tabuleiros; ajude seu filho a redecorar o quarto (nem que seja mudar os móveis de lugar); montem álbuns de fotos, construam uma história da família; envolva-o nas tarefas domésticas.
Precisamos pensar também em formas de tornar esses dias menos enfadonhos. Não que as crianças não possam experimentar um pouco de ócio, mas podemos trazer a elas mais alegria inventando um novo jogo, cantando ou dançando, ensinando truques de mágica, organizando um show com elas. Evitem cair na armadilha de deixar a criança completamente autônoma, direcioná-las nas atividades será mais eficiente.
A grande tentação desse período sem ir à escola chama-se: tela. Nesse caso os pais também precisam estar atentos, negociando com as crianças as regras relativas ao tempo de conexão. Mas também não adianta limitar o uso e não oferecer nada em troca, por isso, pensar em outras coisas para fazer que vão além de ficar conectado na frente da tela do celular ou computador é muito importante.
Acredito que essas sugestões e orientações, quando aplicadas, com certeza, ajudarão a passar por esse período difícil com nossos filhos com a esperança de que conseguiremos sobrepujá-lo.
*Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
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