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Saiba como jovens estão construindo uma ecovila na Itália
A contrarrevolução de quem busca alternativas para fugir do sistema
07/03/2018 |
POR SILVANA MARIA ROSSO | FOTOS SILVANA MARIA ROSSO E DIVULGAÇÃO
A construção de uma ecovila sempre começa com o sonho de uma vida melhor em diversos âmbitos. Convivendo por cinco dias com o pessoal da LaCasaRotta, uma ecovila no Piemonte que está há sete anos em formação, eu pude conferir que tecer uma comunidade exige planejamento e investimento – tanto financeiro quanto braçal.
A primeira proposta, focada na promoção sociocultural, surgiu em 2010 quando Michela Lenta se ocupava na associação Slow Food com programas para pequenos produtores de alimentos sustentáveis na África. "Realizar projetos dos outros é belíssimo. Mas sempre tive o desejo de trabalhar com o meu território", confessa.
Seu marido, o geólogo Claudio Rosso diz que, vivendo no campo sem ter muito contato com os vizinhos, como se morasse em um condomínio, tinha vontade de interagir com outras pessoas, inclusive na vida doméstica "para me confrontar e dividir".
Foi em 2011 que o jovem casal encontrou a propriedade dos sonhos em San Bartolomeo, uma fração de Cherasco, província do Cuneo: uma casa de 800 m2 do século XIX abandonada e em ruínas, ideal para ser reestruturada.
Em dezembro, junto com Arianna, uma amiga de adolescência, fundaram a Associação LaCasaRotta – batizada por Thommaso Noè, filho do casal, na época com dois anos. Traduzindo para o português, rota significa quebrada, assim como caminho ou direção. Sintetiza a proposta de romper com o esquema, dissolvendo formas antigas em busca de novos rumos.
Adquirido pelo custo de 80 mil euros, o imóvel começou a ser reestruturado em 2012. E, em maio, surgiram novos integrantes, Stefano Vegetabile, antropólogo, e Ivana Viberti, artista plástica, e o filho Elia, na ocasião com dois anos, que vieram com a ideia de montar a ecovila.
Em 2015, iniciaram o projeto agrícola Le Nuove Rotte, adquirindo 15 hectares, em Carpenetta di Vergne, fração de La Morra, para o cultivo de verduras, legumes, frutas e grãos antigos, e a criação de galinhas e gansos, graças ao financiamento obtido via banco.
De lá para cá, muitas pessoas contribuíram temporariamente com o grupo; Arianna seguiu um rumo diverso, mas ainda é parceira da associação; e outros integrantes estão se juntando à comunidade, que é aberta a novos participantes.
Mãos à obra
Passados seis anos, a casa ainda não está pronta, pois está sendo reformada sem patrocínio. Tudo fica por conta do grupo. É o que se chama de autoconstrução. Claudio dedica-se em tempo integral à reforma. Ivana, que trabalha em uma vinícola, colabora com a obra em parte da semana, e ainda contam com a ajuda de voluntários.
Passados seis anos, a casa ainda não está pronta, pois está sendo reformada sem patrocínio. Tudo fica por conta do grupo. É o que se chama de autoconstrução. Claudio dedica-se em tempo integral à reforma. Ivana, que trabalha em uma vinícola, colabora com a obra em parte da semana, e ainda contam com a ajuda de voluntários.
Distribuída em três pavimentos, no subsolo, a casa terá um bistrô com forno para laboratórios de pão e de tijolo. No primeiro andar, uma sala de atividades, banheiro e cozinha. E, no terceiro piso, estão sendo construídos três apartamentos para três famílias e um quarto para visitantes e voluntários.
Eles reutilizam o máximo possível a estrutura existente, recuperando materiais descartados, com o intuito de não desperdiçar. As novas paredes foram feitas com palha dos cereais cultivados na propriedade agrícola e argila. As paredes existentes receberam proteção de lã dos ovinos da região.
O piso do cantina, no térreo, foi protegido contra umidade com garrafas de vidro reaproveitadas, papelão e plástico. Os outros pavimentos receberam réguas de madeira, a maioria reciclada, proveniente de demolição ou de descarte.
O sistema de aquecimento da água do banho e do termo-sifão integrará painéis solares e caldeira a base de lenha, ainda não instalados. O sistema pluvial direcionará a água da chuva para uma cisterna antiga localizada embaixo da casa. Essa reserva será usada para irrigar a área verde.
Enquanto a ecovila não fica pronta – a previsão é até o fim do ano eles se mudarem –, Claudio, a mulher, Thommaso e a caçula Adelle de dois anos vivem em uma residência no campo, que conta com água quente e aquecimento. Stefano, Ivana e Elia moram na casa agrícola em Carpenetta, com o detalhe de que os banhos frios são usuais por ali mesmo no inverno. Os voluntários se hospedam nas duas propriedades.
Comida à mesa
Stefano carrega em seu sobrenome, Vegetabile, a missão de trabalhar a terra. É ele quem toca a horta com o auxílio de voluntariado. Tudo é plantado sem agrotóxicos, com base na permacultura, um processo que promove energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente.
Stefano carrega em seu sobrenome, Vegetabile, a missão de trabalhar a terra. É ele quem toca a horta com o auxílio de voluntariado. Tudo é plantado sem agrotóxicos, com base na permacultura, um processo que promove energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente.
O cultivo também se baseia nos conceitos da agricultura biodinâmica, que utiliza compostos dinamizados e se norteia pelos movimentos dos astros. "Com a biodinâmica é possível interconectar todos os sistemas, animais, vegetais e minerais ", alega Stefano. Graças a todos esse cuidados, a Le Nuove Rotte faz parte da rede da associação Slow Food.
O alimento sai da horta e vai direto para a mesa, lugar sagrado onde se reúnem praticamente todos os dias, pelo menos, no jantar na casa de Michela e Claudio. De lá também saem compotas, molhos e conservas que são vendidos para a comunidade local nas cestas de verduras, leguminosas e frutas. Com os cereais são preparados pães deliciosos, massas e biscoitos elaborados por parceiros.
A sobrevivência
Tudo parece lindo até aqui. No entanto, é bem difícil. A economia é comum, sem pensar nas cotas correspondentes a cada um. Além da renda que a horta proporciona, são realizados eventos, como oficinas de pães, de massas, de bioarquitetura, de terra crua, entre outras, que arrecadam fundos para bancar os custos e pagar as parcelas do financiamento.
Tudo parece lindo até aqui. No entanto, é bem difícil. A economia é comum, sem pensar nas cotas correspondentes a cada um. Além da renda que a horta proporciona, são realizados eventos, como oficinas de pães, de massas, de bioarquitetura, de terra crua, entre outras, que arrecadam fundos para bancar os custos e pagar as parcelas do financiamento.
"É um sacrifício", ressalta Michela. Mas todo esse esforço tem um fim maior: aproximar os jovem da terra e criar um futuro sustentável. "Um solo saudável é o capital das novas gerações. Após 50 anos da Revolução Verde, a nossa é a contrarrevolução para retornar ao organismo agrícola, à fazenda", conclui Stefano.
Essa experiência tinha como intuito completar o curso de Design de Sustentabilidade pela Gaia Education que fiz em 2017 com um estágio, mas confesso que deixei o Langhe – como é chamada a área montanhosa do rio Tanaro – com a sensação de que encontrei finalmente a minha terra, o meu abrigo. Piemonte, me aguarde, em breve, estarei de volta!
Depois de quase 30 anos estudando o espaço como jornalista especializada em design e arquitetura, a jornalista Silvana Maria Rosso tomou para si a missão de falar das novas fórmulas para se viver neste planeta. Por isso, ficará três meses na Itália em busca de sustentabilidade, design e cultura. Este é o nono capítulo de seu diário de bordo.
Depois de quase 30 anos estudando o espaço como jornalista especializada em design e arquitetura, a jornalista Silvana Maria Rosso tomou para si a missão de falar das novas fórmulas para se viver neste planeta. Por isso, ficará três meses na Itália em busca de sustentabilidade, design e cultura. Este é o nono capítulo de seu diário de bordo.
SERVIÇO
LaCasaRotta
www.lacasarotta.com
LaCasaRotta
www.lacasarotta.com
Fonte:https://casavogue.globo.com/Arquitetura/Cidade/noticia/2018/03/saiba-como-jovens-estao-construindo-uma-ecovila-na-italia.html
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