DANÇA DA MANDALA DAS 21 QUALIDADES DE TARA
A Dança da Mandala das 21 Qualidades de Tara é uma dança ritual oferecida em todo o mundo como uma prece de paz, proteção, sabedoria e celebração do potencial humano.
O texto utilizado na dança é baseado em uma prática de meditação (sadhana) do Budismo Tibetano, da Deusa Mãe Tara, compilada por Orgyen Dechen Chokjur Lingpa, o grande pesquisador dos tesouros tibetanos.
Diz-se que ele recebeu esta sadhana da própria Tara.
Sua Santidade o Dalai Lama e muitos grandes lamas de todas as linhagens do Budismo Tibetano deram sua benção e ofertaram preces para que essa dança fosse compartilhada da maneira mais ampla possível.
Criada por Prema Dasara, a dança tem sido praticada desde 1985 e várias Estudantes-Professoras criaram círculos de prática e oferendas públicas anuais em suas comunidades.
Ela tem sido ensinada a milhares de mulheres e homens no mundo inteiro, inclusive em vários grupos de monjas e leigas tibetanas.
Dançando para Sua Santidade o Dalai Lama em Tucson, Arizona, em 1993
O texto seguinte sobre a dança foi adaptado de um artigo escrito por Rhye Gray, uma Estudante-Professora do Tara Dhatu de Baton Rouge, no qual ela descreve a dança e seu processo.
A Dança da Mandala de Tara é uma forma única de prática meditativa.
Os participantes tornam-se Tara dançando suas 21 qualidades.
Essas qualidades são muito conhecidas entre os tibetanos, que as cantam desde a infância.
É uma de suas preces mais comuns.
Há muitas estórias folclóricas e contemporâneas de pessoas pedindo a intercessão de Tara, a Grande Deusa Mãe. Diz-se que sua resposta é rápida e efetiva.
No entanto, Tara é mais que somente uma deidade externa.
O Budismo Tântrico ensina que todas as qualidades dos bodhisattvas já estão presentes em cada ser senciente e que, como uma circunstância arquetípica, o relacionamento pode ser utilizado para estimular e fazer se manifestar essas características latentes.
A Dança da Mandala de Tara é uma demonstração perfeita disso.
Refúgio apresentado a Sua Santidade o 17º Karmapa Dharamsala, India, 2001
A prática começa com o refúgio, uma homenagem à linhagem dos mestres, aos seres iluminados, a seus ensinamentos e à comunidade de praticantes, os que estão engajados nas práticas que propiciam o advento da mente iluminada.
Ela é seguida por um voto, afirmando que o objetivo da prática, a mente iluminada, trará benefício a todos os seres.
Os praticantes não estão tentando escapar do mundo, pois se o fizessem o resultado seria um sentimento de separação, isolamento e desconexão.
O próximo passo na prática é visualizar Tara como uma presença feminina radiante, sentada no céu à frente da dançarina.
Ao imaginar Tara a sua frente, os praticantes criam um mundo no qual este ser transcendente de sabedoria e compaixão existe.
Eles trazem então este mundo transcendente para sua própria experiência.
Realizando gestos rituais com as mãos, chamados mudras, as dançarinas invocam Tara em uma mandala na forma de uma lua crescente.
Estabelecendo o ambiente como o reino puro de Tara, elas espiralam em uma série de círculos concêntricos, dedicadas a um processo de purificação para liberar negatividades.
Quando essa parte está finalizada, elas se visualizam como Tara.
“Quando as dançarinas levam as mãos sobre a cabeça e baixam-nas ao longo de seus corpos é um momento particularmente emocionante na dança, quando a purificação e revelação são completas”. (Dançando como Tara, Jessica Gray).
Preparadas para dançar como Tara, uma a uma as dançarinas nascem de uma intrincada formação de mandala para dançar uma das qualidades de Tara como um oferecimento ao mundo.
A Tara de Invencível Coragem nasce da Mandala
Essa prece de quatro linhas contém um mundo de significados, e há muitos comentários que descrevem as qualidades e os poderes que ela representa.
Dançando as Qualidades de Tara, as dançarinas revelam sua natureza interior como um aspecto da Deusa Tara.
O corpo se move e Tara surge por intermédio dos movimentos.
Não é algo canalizado do exterior, mas algo que surge de dentro.
Por intermédio da dança, as dançarinas invocam três níveis de relacionamento com Tara.
Há a Tara Buddha/Bodhisattva transcendente como um ser externo.
Há o reconhecimento que todos os seres sencientes são aspectos de Tara.
E há a convicção que a dançarina, ela própria, é Tara.
Essa experiência extraordinária se traduz então na maneira que o praticante interage com o mundo. As qualidades e preces são ferramentas que o praticante pode utilizar em sua vida cotidiana.
Depois de dançar as preces ou qualidades, um dos momentos mais significativos da prática acontece sem nenhum movimento.
As dançarinas são instruídas a “abandonar-se completamente.
Mente vasta, espaço infinito”.
Nesse momento de simplesmente existir, de quietude, o poder da prática resplandece.
A ansiedade e o sofrimento não existem.
Quando a mente está vazia, o espaço libera toda a ansiedade e revela sua maravilha.
Desse vazio fecundo, o mantra de Tara aflora.
As dançarinas desfazem a mandala cantando a prece do benefício.
A prática promete benefícios temporais e bençãos transcendentais.
Os movimentos são simples, as dançarinas congratulam-se ao se cruzarem, alegrando-se com o bem-sucedido girar da roda da mandala de Tara.
Cada palavra afirma a benção de Tara.
A música se torna mais ativa e as dançarinas iniciam a dança do mantra.
O coração da prática de Tara é o mantra de Tara:
OM TARE TUTARE TURE SOHA
OM indica tudo o que existe; TARE, Grande, Respeitada Mãe.
TUTARE a descreve como removedora de todos os obstáculos, enquanto TURE a descreve como a supridora de todas as necessidades.
SOHA é um fechamento para o mantra, explicitando que é assim, como sempre foi, e como sempre será.
Tara, Grande Mãe que Remove Obstáculos e Satisfaz Necessidades.
Que seja assim!!!
Essas sílabas sagradas, utilizadas por incontáveis gerações de praticantes de Tara, têm impacto na mente das dançarinas e no mundo a seu redor.
Os movimentos reforçam o significado das palavras.
Na parte do mantra na dança, as dançarinas entoam o mantra enquanto se concentram em receber a luz de Tara, abençoar a terra, fazer oferendas, receber bênçãos e enviá-las para o mundo para curar o sofrimento de todos os seres.
Esta meditação de compaixão encoraja a dançarina a se engajar numa ação compassiva em sua vida.
Dançando como Tara, encoraja os praticantes a agir com sabedoria e compaixão em seus relacionamentos e na maneira de ver as outras pessoas.
Enviando a luz de Tara para o mundo
Depois da parte do mantra, as dançarinas representam um ritual de “passar a luz”, reconhecendo que toda a inspiração que recebem deve ser repassada.
A prática da Dança da Mandala de Tara cria uma comunidade de praticantes.
Algumas vezes esta comunidade é literal, de dançarinas que se encontram no mesmo tempo e espaço físicos, mas há também um encorajamento para uma comunidade virtual de dançarinas de Tara de todo o mundo que se conectam por intermédio de encontros regulares, retiros e pela internet.
Há uma sensação de pertencimento a algo maior.
A dança termina com a representação da prece de dedicação …
Que Todas as Guerras e Disputas terminem para Sempre
Que a Pobreza e a Doença sejam removidas da Terra
Que a Verdade e Tudo o que é Auspicioso Aumente
Que Todos os Seres sejam Felizes
Abençoados por Aquela que Resplandece em Glória
Quando a dança é apresentada para uma plateia, há um outro nível de impacto psicológico na comunidade.
A performance pública é uma versão expandida do que acontece em termos pessoais.
O público tem a oportunidade de se conectar com as imagens de compaixão apresentadas na dança por um breve momento, e isto pode inspirar e galvanizar uma comunidade.
A Dança da Mandala de Tara foi criada especificamente para mulheres, e, nas performances, somente mulheres podem dançar as Qualidades.
Homens são convidados a dançar como protetores, apoiando cada Tara ao nascer.
A grande maioria de dançarinos de Tara são mulheres, na medida em que elas se conectam fortemente com o imaginário feminino, mas a minha experiência indica que a prática traz benefícios psicológicos para os homens também.
Ela permite que o homem se abra para seu “lado feminino”, propiciando uma integração do masculino e do feminino na psique.
Muitas das características de Tara, como proteção, sabedoria e vitória, são pensadas de maneira estereotipada como atributos masculinos no pensamento ocidental.
Ao ver estas qualidades como femininas, uma perspectiva mais equilibrada do masculino e do feminino torna-se possível.
Essa voz feminina clama por liberação no mundo, mais do que liberação do mundo, mas uma reconceitualização do aspecto sagrado da atividade diária, um chamado para o reencantamento do corpo e da fala.
A Dança da Manda de Tara permite a ambos, homens e mulheres, reconhecer o sagrado no mundo e encontrar alívio e benefício por intermédio da personificação do divino feminino.
Om Tare Dharamsala, India, 2000
O ritual da Dança da Mandala de Tara é um processo de transformação, e os praticantes utilizam este ritual para cultivar bem-estar na vida.
Como uma meditação, é uma prática para acalmar a mente, ensinando aos praticantes a habilidade de observar conscientemente os pensamentos, os sentimentos e como o corpo responde ao ambiente.
A dança é sempre ensinada com as correspondências meditativas, apesar de dançarinos a praticarem em todos os níveis de experiência.
Independentemente da experiência budista, os movimentos rítmicos por si permitem à mente relaxar na meditação.
Eles demandam um esforço tremendo para manter o foco e a concentração.
Durante a dança, não posso entregar-me a meus próprios quereres, desejos, necessidades ou pensamentos. Sem tentar resolver problemas na minha vida, encontrar saídas ou respostas, eu relaxo.
Fico energizada e revigorada.
Encontro uma sensação de paz.
Sinto-me melhor após a dança.
Ela me tira de mim mesma.
Iris Stewart, autora de Mulher Sagrada, Dança Sagrada, descreve a Dança da Mandala de Tara baseada em suas próprias experiências.
Ela diz, “A essência desse trabalho que o faz tão poderoso é o espelhamento dessas qualidades iluminadas em si própria, para você mesma.
Estudei com Prema e posso dizer que esta é uma das experiências mais ponderosas e transformadores que já tive.
Pela combinação de mente, corpo e espírito, a dançarina se transforma psicologicamente.
Esta dança dá aos praticantes a oportunidade não somente de transformar a percepção de si próprio, mas também transformar sua perspectiva do mundo.
Transformando sua perspectiva, o próprio mundo se transforma.
O movimento, nossa primeira linguagem, toca centros de nosso ser além do alcance de vocabulários racionais ou de coerção.
Ele comunica o mais profundo da alma que não pode ser verdadeiramente expresso em palavras.”
Que Todos os Seres sejam Felizes, Que Todos os Seres sejam Livres
Fonte:http://www.taradhatusulamerica.com.br/conteudo/28/o-que-e-a-danca-de-tara
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