MAGIA. QUE BICHO É ESSE?
Texto de Luis Pellegrini
Meu primeiro encontro com o que depois soube chamar-se magia ocorreu quando eu tinha sete ou oito anos e não era mais que um moleque arteiro a espalhar o terror no quintal da minha casa. Como castigo por tanta traquinagem – jurava a empregada Terezinha – nasceram-me nos dedos das mãos uma porção de verrugas. Minha mãe levou-me a uma velha benzedeira que morava na periferia. Lembro-me bem da cena: minhas duas mãos espalmadas sobre a mesa; junto delas um copo d’água coberto por um pires, uma vela acesa, uma rosa branca num pequeno vaso de vidro, um ramo de arruda que exalava cheiro forte. A benzedeira rezava a meia-voz e de vez em quando colocava as suas mãos sobre as minhas. No final, informou: “O menino estava com quebranto, mas já tirei”. E concluiu com ar de vitória definitiva: “As verrugas vão cair”. Dois dias depois, como se fosse a coisa mais natural do mundo, minhas verrugas começaram a murchar. Foram secando, até se transformarem em pequenos apêndices escuros e descarnados. E aí, um a um, todos eles se desprenderam e caíram. O caso fez furor entre vizinhos e parentes. Mas, ao saber da história, uma tia solteirona metida a filósofa, e que definia a si própria “racionalista cartesiana”, não conteve um comentário arrasador: “Isso é pura auto-sugestão. Convenceram o menino de que as verrugas iam cair e, com o poder da sua mente inconsciente, ele fez elas caírem”. Bravo, titia! Se você hoje fosse viva, certamente seria professora de sucesso num curso de controle mental. Se o seu remate era certo não sei, mas naquele instante você me fez um duplo favor: aguçou minha curiosidade de conhecer o real segredo do desaparecimento das verrugas; despertou em minha cabecinha inquieta a idéia de que a mente, consciente ou inconsciente, esconde mais mistérios e poderes do que até então supunha.
Pouco depois, a vida me apresentou mais uma ocasião para incrementar meus conhecimentos em matéria de eliminação mágica de verrugas. Meu cachorro, um vira-lata preto chamado Não! (com ponto de exclamação), desenvolveu sobre o nariz uma verruga grande quanto uma azeitona. O nome dele devia-se ao fato de que, desde pequenino, o não era a palavra que mais ouvia. Quando praticava seus divertimentos favoritos – roer pés de mesas e cadeiras, puxar roupas do varal, arrancar as penas dos rabos das galinhas – havia sempre alguém ralhando com ele e gritando: “Não, não, não!” Acabou se acostumando e, toda vez que ouvia um não! peremptório, passou a atender, de rabo abanando. Decidi testar minhas capacidades de benzedeiro sobre a verruga do Não! Preparei o mesmo ritual, com vela acesa, flor branca, copo d’água e arruda, coloquei minha mão sobre o seu nariz e rezei todas as rezas que sabia de cor: um Pai Nosso, uma Ave Maria, e uma Salve Rainha Mãe de Misericórdia quase completa. Que poder, o da memória infantil: até hoje, tantas décadas passadas, quando lembro da minha iniciação precoce como benzedeiro, sinto a grande verruga do Não! latejando sob a ponta dos meus dedos. Sim, o benzimento deu certo. Para minha sorte – ou danação – a verruga logo depois começou a secar. Virou uma espécie de horrenda uva passa pendurada no nariz do cachorro, e depois caiu, para nunca mais voltar. Como nunca mais voltou a minha inocência, definitivamente perdida naquela aventura da descoberta dos meus “poderes ocultos”.
Então é verdade: existem métodos estranhos de resolver problemas. Métodos que a gente não consegue entender nem aclarar, mas que funcionam. Existem coisas misteriosas que nem sempre podem ser explicadas pela auto-sugestão, como queria minha tia. Pois até ela, “racionalista-cartesiana” convicta, teria dificuldade em admitir que a auto-sugestão faz parte dos atributos dos cachorros. Então, a magia existe, de verdade. A um imenso conjunto de fenômenos e práticas que o ser humano pode produzir, mas que não podem ser explicados pela auto-sugestão e nem por qualquer lei da ciência e da psicologia oficiais, dá-se o nome genérico de magia. Palavra que vem do substantivo magi, nome que os antigos gregos davam aos sacerdotes persas do culto de Zoroastro. Cabe aí uma primeira definição, a do historiador francês Louis Chochod, para quem “magia é uma arte especial, baseada na existência de forças naturais, pouco ou mal conhecidas, e ordinariamente fora do alcance do poder do homem. Conhecer essas forças, canalizá-las, orientá-las e, até certo ponto, utilizá-las, esse é o objetivo da magia”. A definição de Chochod tem espectro muito amplo. Mas, se existe um assunto que em matéria de definições é terra de ninguém, esse assunto é a magia. Há definições para todos os gostos. Algumas francamente preconceituosas e cheias de superstição: “magia é a arte de conjurar demônios e espíritos para obrigá-los a servir aos interesses do mago”. Outras são pueris e inocentes, como a do ocultista francês Georges Muchery: “magia é a arte de tornar-se feliz”. Há definições complicadas como a do respeitado alquimista contemporâneo Eugene Canseliet: “Magia é antes de tudo a Arte Divina que consiste em travar contato com a alma universal e, através dela, dominar as forças espirituais invisíveis no espaço e na substância”. E ainda a do ocultista francês Eliphas Levi, pai da magia moderna, para quem “magia é a ciência tradicional que nos vem dos magos… Por meio dessa ciência o adepto se vê investido de uma espécie de poder superior relativo e pode agir de modo sobre-humano, isto é, de uma maneira que não está ao alcance do comum dos homens”. Para os magos, aqueles que praticam a magia, “viver é conhecer”. Desde que o homem existe como tal, ele tenta desvendar os segredos da natureza, levantar o véu de mistério que encobre as origens e as finalidades do mundo, da vida e da existência humana.
Através das eras, para conquistar conhecimento, o homem pensante criou diversos métodos de trabalho e desenvolveu diferentes posturas para manipular o desconhecido e dele extrair respostas. Aquilo que os religiosos chamam “Deus”, os cientistas chamam “leis”, os filósofos “preceitos”, os sábios “a natureza”, os magos chamam “conhecimento”. Mas, para todos eles, o princípio é sempre o mesmo: estudar o microcosmo (homem) para desvelar os segredos do macrocosmo (universo). A prática da magia é sem dúvida tão antiga quanto o próprio homem. Nos tempos das cavernas, quando animais eram pintados nas paredes de pedra, o que se pretendia era estabelecer uma relação mágica com o “espírito” daqueles animais para que, no momento da caça, ele fosse favorável aos caçadores. Desde então, essencialmente, poucas coisas mudaram no domínio da magia. Suas técnicas são muito parecidas nas diferentes culturas que apareceram no mundo, e sofreram relativamente poucas mudanças no transcorrer do tempo. Sugere-se muitas vezes que a magia é precursora da religião, mas estudos mais profundos mostram ser mais provável que ambas tenham sempre existido, uma ao lado da outra. Magia e religião possuem em comum a crença num poder transcendental que existe no homem e no mundo. A grande diferença entre ambas reside nas suas atitudes em relação a esse poder. A magia preocupa-se em comandar, controlar e compelir esse poder para a satisfação dos seus próprios objetivos; a religião, por seu lado, preocupa-se em adorar esse poder, suplicando a sua ajuda e aceitando resignadamente aquilo que ele dá. A primeira é ativa, “masculina”. A segunda é passiva, “feminina”.
O mago, portanto, é um aventureiro que mergulha no mistério da vida e do mundo e não se contenta apenas em observar passivamente esse mistério. Quer também compreendê-lo, conhecer suas leis, processos e finalidades, quer interferir voluntariamente nele e, numa certa medida, aprender a manipulá-lo. O mago é entendido como um ser de sensibilidade especial. Vê o universo como uma coisa viva, cuja aparência visível mascara a natureza real dos poderes que o controlam. E vê a si mesmo como participante da Natureza da Divindade, e por isso gosta de afirmar: “não existe parte de mim que não seja parte dos deuses”. O mago considera que todos nós, membros da espécie humana, somos “deuses em potencial”. A magia é a ciência-arte que nos ajuda a abrir e desenvolver esse potencial. Sonhos e visões, símbolos e alegorias, imaginação e fantasia, as viagens vertiginosas dos gênios da música, da pintura, da poesia, dizem mais ao mago sobre as realidades últimas da existência do que todas as equações da matemática, as maquinações da política, ou as espertezas do mercado financeiro. O mago é um ser complexo, uma criatura em geral ousada e até mesmo temerária. Nos tempos em que a Santa Inquisição esbanjava poder, muitas centenas deles foram assados vivos nas fogueiras, condenados por suas heresias. O veneziano Giordano Bruno é um exemplo. Foi queimado porque teimou em afirmar até o fim que era a terra a girar ao redor do sol, e não o contrário. Naqueles tempos isso contrariava as “leis” da ciência conhecida, e era portanto “heresia de mago”, punida com a morte. É mais fácil, contudo, se entender o que é um mago do que é magia. “Magia” é hoje uma palavra problemática, pois mais de um sentido é-lhe atribuído. Existe a magia do prestidigitador que tira coelhos da cartola ou dos truques de alta tecnologia de David Copperfield. Existe a magia como é entendida pelos antropólogos – superstições ingênuas, ritos primitivos de fertilidade, ou heranças curiosas do folclore.
E existe, finalmente, a verdadeira magia, aquela que nos interessa: um sofisticado sistema de conhecimento cujas origens não serão encontradas na lenda ou no folclore, mas sim na antiga tradição chamada “hermética”, de Hermes, o deus grego da inteligência e da sabedoria. As origens arcaicas dessa tradição perdem-se na noite dos tempos, mas sabe-se que ela se desenvolveu no antigo Egito, passando depois pela Grécia e Roma, e por toda a Idade Média e o Renascimento europeu. Após um período de relativa obscuridade – devido certamente ao implacável combate que lhe foi desfechado pela Inquisição – a magia ressurge em sua forma moderna no contexto da grande renascença ocultista que foi uma das características da segunda metade do século dezenove. Ressurgir das próprias cinzas nos momentos mais impensáveis, como a fênix mitológica, é uma das características da magia. Basta ver o que acontece nos dias de hoje. Nas últimas três décadas – época das mais extraordinárias conquistas da ciência tecnológica moderna, quando o homem foi à Lua, os bisturis de raio laser invadiram os hospitais e os computadores os lares e escritórios – observou-se um desconcertante reflorescimento da magia e de disciplinas correlatas, como a astrologia e o ocultismo. Um reflorescimento, portanto, de modos de conceber o mundo diametralmente opostos aos da ciência racionalista. Cada vez que a magia ressurge na história, ela o faz com novas roupagens. O corpo essencial de seus conhecimentos é sempre o mesmo, mas a linguagem por ela utilizada para operar e se comunicar pode mudar completamente de acordo com o tempo histórico e o lugar da sua manifestação. A linguagem da magia antiga era complicadíssima e inacessível aos não-iniciados. Envolvia códigos e símbolos da alquimia, da cabala, da astrologia e de outras ciências herméticas. A magia contemporânea passou por uma verdadeira revolução em sua linguagem formal, que é agora bem mais simples. Esse novo enfoque começou a ser difundido em meados do século passado através da obra de vários autores. Um dos expoentes máximos dessa geração de magos modernos foi o francês Eliphas Levi (pseudônimo de Alphonse-Louis Constant) um ex-seminarista católico. Em seu livro Dogma e Ritual da Alta Magia, publicado em 1856 e disponível em português, Levi apresenta uma teoria sobre o modo pelo qual atua a magia. É esta sua concepção que, um pouco modificada, domina o pensamento dos magos contemporâneos. As idéias de Eliphas Levi constituem uma obra prima de intuição psicológica e científica. Elas antecipam muito do arcabouço básico de muitas psicologias contemporâneas, pois explicam a ação mágica como um fenômeno baseado principalmente nas capacidades naturais – embora ainda pouco conhecidas – da mente e da psique humanas. É a partir da escola de Levi que passou-se a afirmar: “O fenômeno mágico começa na cabeça do mago”. Levi afirma que na magia existem três leis fundamentais. A primeira é a lei da vontade humana que, do seu ponto de vista, não era simplesmente uma idéia abstrata e sim uma força material “tão real”, para usar as suas próprias palavras, “quanto o vapor de água ou a corrente galvânica”.
Essa idéia, na verdade, não era exclusiva de Levi. Vários intelectuais da época a desposaram, entre eles Edgar Allan Poe que, no seu conto O caso do senhor Valdemar, faz o personagem Glanvill dizer: “É lá que repousa a vontade que não morre jamais. Quem conhece os mistérios da vontade e todo o seu vigor? O próprio Deus é uma imensa Vontade que reina sobre todas as coisas”. A originalidade de Levi estava na aplicação dessa idéia à magia ritual. Para ele, como para a maioria dos magos modernos, toda a parafernália dos acessórios do cerimonial mágico tais como incensos, velas, uso de figuras geométricas e de paramentos, são apenas suportes auxiliares, pontos de apoio e de referência destinados a ajudar o mago a concentrar a sua vontade. A segunda lei de Levi é a lei da luz astral, o “éter” dos antigos gregos e da física pré-einsteiniana, o “prana” dos hindus: um fluido imponderável que preenche todos os espaços do universo e graças ao qual o mago pode agir à distância. A luz astral, dizia Levi, é invisível e destituída de forma, porém permeia a totalidade da natureza, e pode ser moldada pela vontade humana produzindo formas visíveis. Isso explicaria, segundo ele, a maior parte dos fenômenos chamados paranormais ou mediúnicos que a ciência oficial constata mas não explica, como aqueles de materialização de espíritos, materialização de objetos, produção paranormal de sons, odores, etc. Para Levi, os médiuns de efeitos físicos, indivíduos capazes de produzir tais fenômenos, seriam uma espécie de “magos naturais”, dotados de uma capacidade inata de moldar a luz astral e produzir desse modo fenômenos capazes de impressionar os sentidos dos expectadores. A terceira lei de Levi é a lei das correspondências, ou das analogias. Trata-se na verdade de uma versão atualizada da antiga doutrina hermética do macrocosmo e do microcosmo, segundo a qual todo elemento do primeiro – o universo – teria o seu correspondente no segundo – o ser humano considerado individualmente. Por exemplo, as constelações do zodíaco que influenciam certas zonas do corpo humano. Assim, a constelação do Capricórnio corresponde aos joelhos, a dos Gêmeos aos braços e pulmões, o Escorpião aos órgãos genitais. Para Levi tais correspondências existiam realmente, mas sob uma forma menos grosseiramente física. Era menos o corpo físico e muito mais a alma humana que ele considerava como um “espelho mágico do universo”, para empregar uma expressão que os magos amam. Levi dizia que todo elemento presente no universo também poderia ser encontrado na alma humana: assim, a força cósmica que os romanos personificavam na deusa Vênus, correspondia à sexualidade física, e aquela representada pelo deus Mercúrio, à inteligência humana. Os modernos magos ritualistas acreditam que o conhecimento dessa lei das correspondências lhes permite “fazer descer” (invocar) neles todas as forças cósmicas das quais querem obter alguma coisa, ou, ao contrário, “fazer subir” (evocar) essas mesmas forças latentes em sua alma e as projetar no mundo exterior. Levi, contudo, pouco revelou em seus livros da existência de uma quarta lei fundamental para que qualquer ação mágica tenha bom êxito: a lei da imaginação. Revelou a importância desse segredo fundamental a alguns de seus discípulos mais queridos, e foram eles que, mais tarde, o ensinaram publicamente. O poder da imaginação é o verdadeiro “pulo do gato” da magia. A força da vontade é praticamente ineficaz se não for dirigida por uma imaginação poderosa – e vice-versa. “Para se praticar a magia”, escreveu Edward Berridge, discípulo inglês de Levi, “é necessário por em ação a imaginação e a vontade: elas agem em partes iguais. Ou, melhor dizendo, a imaginação deve preceder a vontade para se obter o melhor resultado possível”. Sozinha, a vontade pode, segundo essa teoria, emitir uma corrente de energia que se propaga através da luz astral, mas seu efeito será vago, impreciso e até mesmo inoperante, pois sem a criação imaginária de um objetivo bem definido a ser alcançado, a energia da vontade corre o risco de perder-se no vazio. Por seu lado, sozinha, a imaginação pode até criar uma imagem, e essa imagem terá uma duração variável; mas ela não poderá produzir nada de importante se não for vitalizada e dirigida pela vontade. “Quando as duas se conjugam, isto é, quando a imaginação cria uma imagem e quando a vontade dirige e utiliza essa imagem, é possível a obtenção de maravilhosos efeitos mágicos”, completa Berridge. Ele parece um moderno psicólogo junguiano falando da técnica da imaginação ativa! Recapitulando: na visão da magia, cada ser humano é um microcosmo – um pequeno universo que reflete, em miniatura, o macrocosmo, o grande universo do qual fazemos parte. Cada fenômeno do universo tem seu reflexo correspondente nas partes que compõem a pessoa humana – corpo físico, psique, mente pensante.
Com práticas mágicas, o mago pode transformar o mundo exterior por meio de intervenções no pequeno mundo interior. A ligação entre as duas esferas – a interior e a exterior – é feita pela luz astral, um fluido universal invisível. A manipulação da luz astral através da vontade e da imaginação humanas permite ao mago influenciar tanto o universo físico (mover objetos à distância, promover curas como no caso dos benzedores de verrugas, etc.), como também influenciar as sensações e os modos de percepção de outros indivíduos. Mas o mago está longe de ser onipotente, e seu trabalho é cheio de perigos. Pois a via de comunicação entre o microcosmo e o macrocosmo, o interior e o exterior, é obrigatoriamente uma via de mão dupla. Da mesma forma que o sangue entra e sai do coração, e o ar dos pulmões, a força mágica sai de nós, passeia pelo mundo desencadeando efeitos, e tende a regressar ao lugar de onde saiu. Da mesma forma, aquilo que vem de fora, circula em nós, e tende a voltar à origem. Portanto, se projetarmos no mundo ações mágicas boas, positivas, amorosas, certamente poderemos esperar que elas retornem para nós amplificadas e fortalecidas. Se, ao contrário, projetarmos ações nefastas… só poderemos esperar retornos péssimos. A censura do mago deriva de uma outra lei fundamental da magia: a lei do choque de retorno. O choque de retorno é o regresso de uma carga maléfica para o mago que a remeteu, em caso de fracasso de sua operação, ou caso sua magia seja desfeita por um outro mago mais forte. Na magia – como na física – toda força tem de ser descarregada, seja sobre o alvo assinalado, seja, por erro cometido, sobre o mago que a desencadeou, não importa qual seja o valor “moral” dessa força. Por tais razões é que, para todo mago sério e honesto, a observância de rígidos princípios éticos é preocupação fundamental. Esta é a única diferença entre magia branca e magia negra. Magia é sempre a mesma. É branca quando sua intenção for voltada para o bem; é negra quando for voltada para o mal. Força da vontade, imaginação, luz astral, lei das correspondências, leis da natureza, leis cósmicas, criatividade, são todos termos básicos e correntes do vocabulário da magia. São também, é importante notar, termos básicos e correntes tanto da física quântica quanto da moderna psicologia.
E onde estarão os anjos, demônios, espíritos benignos e malignos, íncubos e súcubos, silfos, salamandras, gnomos e fadas, e tantos outros entes sobrenaturais que desde sempre povoaram a imaginação das pessoas quando elas mergulhavam no universo fascinante da magia e da sua prima pobre, a feitiçaria? Todas essas criaturas existem sim, afirmam os magos. Mas não na forma visual como são habitualmente representadas. Elas são, muito mais, forças, princípios, arquétipos que compõem o intrincado universo da psique humana. Existem certamente dentro de nós. E, possivelmente, existem de algum modo misterioso também no mundo fora de nós. Caso contrário não teria fundamento a lei mágica das correspondências…
Magia não é, portanto, um conjunto de estranhas cerimônias realizadas atrás de portas fechadas, com objetivos obscuros e geralmente inconfessáveis. Magia é um jeito de se conhecer a si mesmo e ao mundo, e de agir eficazmente sobre si mesmo e sobre o mundo. Seja para eliminar verrugas, seja para tirar alguém dos buracos sem fundo das neuroses, seja para adivinhar os caminhos do nosso futuro. Ela é, em última análise, um modo de se trabalhar com as “entidades” da nossa psique, de entendê-las e dominá-las, para que elas sejam nossas fiéis servidoras, e não nossas opressivas senhoras. Magia é uma escola que nos ensina a conhecer e a controlar nossas forças e impulsos negativos, e a reverter sua capacidade destrutiva em construtiva; que nos ensina a descobrir nosso potencial criador e a incrementar suas possibilidades até os níveis máximos. A magia verdadeira é conhecimento que busca o auto-conhecimento e a auto-realização. Seu objetivo último é transformar cada um de nós no pequeno deus que todos, potencialmente, somos. E que ele seja um deus sábio, compassivo, criativo, saudável e feliz.
Fonte:http://www.luispellegrini.com.br/magia-que-bicho-e-esse/