o evangelho de malick
A Árvore da Vida é representada em diversas culturas. Para os cristãos, quem come de seu fruto tem vida eterna. Na cabala, ela é o elo entre os mundo material e abstrato, tendo o lado direito regido pelo princípio masculino e o esquerdo, pelo feminino. Já no evangelho de Terrence Malick, é preciso escolher um caminho a seguir: o da graça, universal e eterno, ou o da natureza, imediatista e que visa apenas satisfazer vontades. O herói do filme, Jack, mais velho de três irmãos, enfrenta esta batalha interna. “Pai, mãe. Vocês estão sempre lutando dentro de mim. Sempre estarão”.
Nessa meditação, o tom religioso costura o filme de forma sublime, vai desde o Big Bang até os dias modernos. No Texas dos anos 1950, uma família cresce entre a ternura da mãe e a rigidez do pai, a quem se ama e teme ao mesmo tempo. Jack (Hunter McCracken) é quem mais sente isso, admira e odeia o pai, e este sentimento vai até a vida adulta (Sean Penn). É difícil fazer uma sinopse, porque ela sempre vai parecer muito reduzida e simplista. O que posso dizer é que o filme é de uma beleza extraordinária, catártica. E mesmo assim os elogios parecem poucos. Se minhas expectativas eram altas, elas foram superadas.
A fotografia de Emmanuel Lubezki é íntima, aproxima e afasta, torna tudo muito bonito, mas sem transformar numa beleza óbvia. Há um mantra em cada combinação de luz e movimento, e que faz o filme flutuar durante os 140 minutos de duração. Numa história tão humana e espiritual, um elenco impecável é obrigatório, e este é perfeito. Brad Pitt tem os olhares e gestos precisos de um homem que não seguiu seu dom, de reprovação, que bate e depois beija, que exige o que não cumpre. Eu não conhecia o trabalho de Jessica Chastain, mas ela já é minha favorita caso seja indicada na temporada de premiações. Como na rápida cena no meio do filme, ela dança no ar. Ela é a mãe que quer seus filhos no caminho da graça. E para completar, o estreante Hunter McCracken é hipnotizante em todas as cenas. Seus olhos tentam entender tudo o que está ao seu redor, sua relação com o pai, a mãe e o irmão. É comovente a forma como ele observa o pai tocando órgão ou a mãe acalentando o irmão.
A Árvore da Vida é um filme sensorial e afetivo. Ele dialoga de diferentes maneiras com o espectador. Assim como o Jack adulto de certa forma rememora episódios de seu passado para assim encontrar sua redenção, foi inevitável não fazer o mesmo. Precisei conter uma crise de choro porque me lembrei de um abraço de despedida que até hoje me diz muito. Além dos inúmeros olhares de reprovação que já recebi e os momentos de absoluta paz. É, até agora, o melhor filme do ano, e acho difícil outro superar.
O ruim de gostar muito de um filme é que fica difícil escrever bem sobre ele, adoraria ter feito um post à altura.
Um aviso aos desavisados (é sempre ótimo avisar os desavisados): A Árvore da Vida não é um filme para todos! Tenho certeza absoluta que a maioria das pessoas que conheço odiarão o filme. Para se ter uma ideia, algumas salas americanas colocaram uma nota na porta dizendo que o filme não segue uma narrativa convencional e que eles não devolveriam o dinheiro do ingresso. Isso quer dizer que são longos momentos de contemplação, reflexão e introspecção.
Fonte:https://imbloodyibiza.wordpress.com/category/atores/page/47/
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