OS OITO NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA - THICH NHAT HANH


 
Os Oito Níveis da Consciência
Thich Nhat Hanh

O primeiro nível da consciência é a consciência do olhar. A forma é o objeto dos olhos. Quando os olhos e a forma encontram um ao outro, eles trazem a “visão” sobre a consciência do olhar. A consciência do olhar sempre tem contato, atenção e sentimentos, porque qualquer consciência tem as cinco formações mentais universais dentro dela. Elas acontecem muito rápido, talvez em menos de um milissegundo.

Da segunda até a quinta consciência temos: a consciência da audição, a consciência do olfato, a consciência do paladar, e a consciência do corpo. Corpo e toque, língua e gosto, nariz e cheiro, ouvido e som, olhos e forma. Essas consciências são um tipo de fluxo; sua natureza é um continuum, sempre passando por nascimento e morte.

É como a chama de uma vela. Nós temos a ilusão, a falsa percepção, de que é um chama, mas ao invés disso há uma sucessão de milhões de chamas juntas sem interrupção. Quando alguém desenha um círculo com uma tocha flamejante, você poderá ver um círculo de fogo. Mas isto é uma ilusão de ótica. Quando o movimento é feito muito rapidamente, você tem a impressão de que há um círculo todo de fogo ao invés de apenas uma chama.

A consciência tem a natureza da cinematografia, com uma imagem seguindo outra, dando a impressão de que é algo contínuo. Assim todas as cinco consciências operam desta maneira. Quando você vê um elefante caminhando, há uma sucessão de imagens do elefante, sujeito e objeto sempre mudando. Essas cinco consciências podem parar de operar e se manifestar de novo quando existem as condições certas. Elas não são contínuas como as outras consciências. Quando você vai dormir, talvez três, quatro, ou cinco param de operar continuamente.

De acordo com os ensinamentos budistas, quando elas operam sozinhas sem a consciência da mente, elas podem ter a oportunidade de tocar a dimensão absoluta da realidade, ou última. Não há pensamento. O primeiro momento de tocar e sentir pode ajudar essas cinco consciências a tocar a dimensão absoluta, tocar a realidade. Isto é chamado em sânscrito de pratyaksha. Há um contato direto, sem discriminação ou especulação. Mas quando as cinco colaboram com a consciência da mente, então o pensamento, a discriminação, a especulação instalam-se e elas perdem o contato com a dimensão absoluta, com a realidade.
A sexta é chamada de consciência da mente. Ela também pode ser ininterrupta, se você entrar em um coma, ou dormir sem sonhar, ou entrar em uma meditação sem pensamento, sem percepção. Se você sonha enquanto dorme, sua sexta consciência ainda opera, mas ela não obtém forma, som, etc. das cinco primeiras, mas da oitava, a consciência armazenadora. A consciência armazenadora contém as sementes de tudo, assim o mundo dos sonhos é criado a partir da consciência armazenadora.

Todas as consciências se manifestam a partir da base, das sementes armazenadas. A semente da consciência do olhar dá origem à consciência do olhar. A semente da consciência do olfato dá origem à consciência do olfato. Objeto e sujeito surgem ao mesmo tempo.

A sétima é manas, o solo para a sexta consciência (consciência da mente) se apoiar a fim de se manifestar. Manas tem uma visão errada sobre si mesmo. Está sempre buscando prazer e tentando evitar o sofrimento. Manas ignora a parte boa do sofrimento e os perigos da busca pelo prazer. Manas ignora a lei da moderação. Um praticante deve tentar instruir manas a transformar as visões erradas a respeito de si. Nós devemos instruir manas sobre o fato de que há um grande perigo na busca pelo prazer; que nós não deveríamos tentar fugir do sofrimento porque que se nós soubermos fazer bom uso do sofrimento, a felicidade verdadeira se tornará possível. Este é o trabalho da meditação.

A consciência da mente com concentração plena pode ajudar a abrir um novo caminho na consciência armazenadora. Todas as ações que nós praticamos são preservadas pela consciência armazenadora. Qualquer pensamento que nós tenhamos produzido hoje ou ontem, seja na linha do pensamento correto ou do pensamento não-correto, é sempre armazenado. Nada é perdido, e irá retornar em algum momento como retribuição.

A consciência armazenadora recebe a informação, recebe a ação, e as processa e permite que amadureçam, e se aperfeiçoem. O amadurecimento pode aparecer em qualquer momento. As sementes da informação podem se manifestar na tela da consciência da mente. O armazenamento pode ser comparado com um disco rígido, o qual mantém e armazena a informação. Mas a informação no seu disco rígido é estática, ela não está viva, enquanto todas as sementes na consciência armazenadora estão vivas e mudando a todo momento, passando por nascimento e morte, renovando-se todo o tempo; elas são coisas vivas.
Características das Sementes na Consciência Armazenadora

A bija, as sementes, tem características. A primeira característica de uma semente é Kshanakarma em sânscrito. Ela significa passar por nascimento e morte a todo momento, cinematograficamente, sempre mudando, sempre evoluindo. Não como as informações que você armazena no seu computador que permanecem as mesmas. Elas estão vivas, crescendo, amadurecendo. Sua natureza é instantânea (em sânscrito, Kshana); isto significa que elas subsistem apenas por uma unidade de tempo muito curta.

O segundo aspecto das sementes é sahabhu em sânscrito. Isto significa que a semente de uma formação mental e a formação mental coexistem, servindo como causa e efeito uma a outra. Elas estão sempre juntas como a esquerda e a direita. Por exemplo, a causa e o efeito se manifestam ao mesmo tempo. Como o sujeito e o objeto, esquerda e direita, acima e abaixo.

O terceiro aspecto das sementes é bhavangasrota em sânscrito. Isto significa que ela forma uma série contínua. Ela gera suas próprias frutas e sementes, de novo e de novo. Ela faz um continuum. Ela não é um objeto estático, ela é um fluxo. Ela tem sua própria natureza: uma semente de milho se manifesta apenas como uma planta de milho. A semente da raiva tem a raiva como a sua natureza, você não pode misturá-la com a semente da compaixão.

O quarto aspecto das sementes é vyakrta em sânscrito. Isso significa que a sua natureza como sadia, neutra ou não-sadia é determinada. Cada pensamento, palavra, ou ação que você faz pode ser classificada também como neutra, sadia ou não-sadia.

A quinta característica é que as sementes estão sempre prontas para se manifestar quando as condições são boas. A manifestação de uma semente pode ser ajudada ou bloqueada por outras condições.

A sexta natureza das sementes é que as sementes sempre dão frutos. Uma semente traz o seu próprio fruto. Esta é a lei da retribuição. Um bom ato trará um bom resultado. Um discurso feliz e compassivo trará um bom resultado. Assim a semente de milho se manifesta apenas como uma planta de milho, e não outra coisa.


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