Desde os primórdios da psicanálise, as mulheres despertaram muitos enigmas aos médicos que se propunham a atendê-las em seus consultórios ou enfermarias.
Enigmas que colocavam, cada vez mais, desafios àqueles que estudavam e se dedicavam a curar as doenças.
Havia pacientes que apresentavam sintomas intensos no corpo, como por exemplo, paralisias, sem qualquer lesão orgânica.
Como isso era possível?
Ora, se não havia lesão…
Como se daria a “cura” desse paciente?
Como saber qual a medicação que deveria ser administrada, se não havia nenhuma lesão no corpo que desse pistas que permitissem traçar a direção da cura?
Constatou-se, então, que “algo” escapava do alcance do ato/discurso médico.
Ainda bem que, Sigmund Freud, na época, médico neurologista, se deixou afetar por esses enigmas, e iniciou uma jornada a fim de descobrir qual era a causa daqueles sintomas.
Por incrível que pareça, foram esses e outros enigmas que contribuíram para a teorização e a construção, do que viria a ser, a psicanálise – tal qual conhecemos hoje.
É fundamental dizer que Freud só inaugurou uma nova abordagem dos dilemas e anseios humanos, graças a uma de suas pacientes, que em um dado momento de uma sessão, interrompe a fala de Freud, pede que ele se cale e escute o que ela tinha a lhe dizer.
Os efeitos do ato da paciente, repercutem em Freud, e o leva a rever a sua prática clínica, e a adotar uma nova postura no setting analítico:
Freud passa a retirar de cena o seu conhecimento/saber (construído com base em seus estudos científicos e suas vivências pessoais) e tem a difícil tarefa de conseguir suportar escutar os seus pacientes.
Tal atitude, possibilitou a Freud constatar que é o saber (inconsciente) vindo do paciente que aponta a direção e o manejo do tratamento ao analista. E não o contrário.
E mais do que isso, que é este saber, construído na experiência analítica, que possibilita a erradicação de alguns sintomas. Eu disse, alguns sintomas, e não todos.
O sintoma é aquilo que o sujeito tem de mais particular.
E, tem uma dupla face: representa a causa de alguns dos sofrimentos mas, também, é a sua via de salvação.
Por isso, a psicanálise propõe que a pessoa fale, para o sintoma falar.
Adoecemos do que não conseguimos falar.
E é no corpo, no próprio corpo, que esses sintomas eclodem.
O sintoma clama por nome, por voz, por uma leitura.
Aqui, temos uma inversão importante: Freud passa do ato/discurso médico para o ato/discurso analítico.
Eis que vemos os primeiros passos, o primeiro caminhar, da psicanálise.
Tempos depois, o enigma do que é o feminino permanece.
O que levou Sergio André a escrever o livro “O que quer uma mulher?”, publicado pela Editora Jorge Zahar, no ano de 1998.
André também se propôs a traçar alguns comentários sobre o “Tornar-se mulher”…
O que vai ao encontro do que a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir[1] diz em uma de suas obras:
“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”.
Hoje, sou mais um daqueles que se aventura no território enigmático do feminino.
Tal empreitada se dá, graça a algumas mulheres, para além de qualquer estereótipo ou idade cronológica que, vez e outra, trazem questões interessantíssimas para a sua análise, colocando em pauta o feminino.
Mulheres jovens, adultas e até idosas, se vêem diante de questões como:
- o gozo Feminino (dão ênfase principalmente ao orgasmo, e os efeitos que este tem no corpo da mulher e em seu ser, como mulher);
- a primeira relação sexual (as marcas de sua primeira relação sexual, sensações, o que puderam ou não dizer sobre o ato sexual, e se tinham entendimento do que estava prestes a ocorrer – coito)
- o que quer uma mulher?;
- o que é Ser uma mulher?;
- como alguém torna-se mulher?;
- o que ela, como mulher, acredita que precisa ser ou ter para habitar o desejo de um homem;
- O que têm naquele homem “x”, que desperta o desejo de uma mulher?
Estas e outras questões, tem comparecido cada vez mais nos consultórios de psicanálise.
Finalizo este texto, com as palavras de uma paciente, regado de entusiasmo e êxtase, ao falar sobre o amor e o toque de um homem:
“Quando o homem ama de verdade uma mulher… O toque de um homem é capaz de despertar uma mulher… lhe dar vida!”.
Notas
[1] A obra mais conhecida de Simone de Beauvoir é “O segundo Sexo”.
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André Bassete do Nascimento (André Nascimento). Psicólogo. CRP 16/4290. Consultório Particular: Praia do Suá, Vitória, Espírito Santo (ES). Autor, editor e idealizador do Blog Eu Tava Aqui Pensando e Escritos Psicanalíticos. Contato: (27) 999617815 (Vivo). Correio Eletrônico: dreebn@yahoo.com.br
Fonte:https://escritospsicanaliticos.wordpress.com/2016/02/19/da-serie-ensaios-sobre-o-feminino/?blogsub=confirming#subscribe-blog
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