O SER QUÂNTICO- Uma visão revolucionária da natureza humana E da consciência, baseada na nova física -Parte 1
PRÓLOGO
Como o conhecimento da nova física poderá iluminar nossa compreensão da vida diária, ajudar-nos a entender melhor nosso relacionamento com nós mesmos, com os outros e com o mundo como um todo.
Colocar o ser humano no contexto quântico, é tema central desta série,pois esse é o modo de se sobrepujar essa forma particular de alienação que infestou a vida destas últimas décadas. Tal sentido de alienação vem da sensação de que nós, seres humanos, somos de certa forma estrangeiros no Universo, meros subprodutos acidentais de forças evolucionárias cegas, e sem nenhum papel especial a desempenhar no esquema das coisas; sem nenhuma relação significativa com as inexoráveis forças que impulsionam o mundo maior da matéria bruta e insensível. Para desenvolver este tema, estaremos examinando bem de perto o relacionamento entre matéria e consciência dentro da teoria quântica, assim como propondo uma nova teoria mecânico-quântica da consciência que promete nos trazer de volta a uma associação com o universo.
COMEÇANDO EM PLATÃO
As raízes desta alienação estão fundo em nossa cultura, chegando, no mínimo, até a filosofia de Platão e sua distinção entre o âmbito das idéias e o mundo da experiência dos sentidos, e passando pelo Cristianismo, que denegriu o corpo em favor da alma. No entanto, de comum acordo, as influências mais poderosas sobre nossa cultura moderna derivam da revolução filosófica e científica do século 17, do cultivo da dúvida cartesiana e do nascimento da física newtoniana ou clássica. Ambas mudaram radicalmente o modo como vemos a nós mesmos e nossa relação com o mundo. A filosofia cartesiana arrancou os seres humanos do contexto religioso, social e familiar e lançou-os de ponta-cabeça no que chamamos de “cultura centrada no eu”, uma cultura dominada pelo egocentrismo, por uma ênfase exagerada do “eu” e do “meu”. A visão de Newton arrancou-nos da própria substância do Universo. A física clássica transmutou o cosmo vivo dos gregos e da Idade Média, um cosmo cheio de sentido e inteligência e movido pelo amor da Fonte/ Deus em benefício do homem, numa máquina morta e previsível. A revolução de Copérnico havia deslocado a Terra, e portanto os seres humanos, do centro das coisas; porém as três leis do movimento de Newton e seu modelo mecânico do sistema solar forneceram a planta para um projeto completamente despido de vida. As coisas se moviam porque obedeciam a leis fixas e determinadas. Um silêncio glacial invadiu os céus antes cheios de vida. Os seres humanos e suas lutas, toda a consciência e a própria vida tornaram-se irrelevantes ao funcionamento da vasta máquina universal. Ao longo da História, temos retirado da teoria física corrente da época, nossa concepção a respeito de nós mesmos e de nosso lugar no Universo. Assim, ao longo destes trezentos anos, físicos e não-físicos têm encontrado na coloração fria da visão newtoniana suas filosofias pessoais, seu sentido de identidade própria e suas noções de como se relacionam com o mundo e com as outras pessoas.
AS TEORIAS-MARX- DARWIN-FREUD-NEWTON
As imutáveis leis da História descritas por Marx, a luta desesperada pela sobrevivência de Darwin e as tempestuosas forças da sombria psique de Freud devem, em alguma medida, sua inspiração à teoria física de Newton. Todas, e mais a arquitetura de Le Corbusier e o completo arsenal da parafernália tecnológica que toca todos os aspectos de nossa vida diária, permearam tão profundamente nossas consciências, que todos e cada um de nós nos enxergamos refletidos no espelho da física newtoniana. Estamos mergulhados no que Bertrand Russell chamou de “desespero inarredável” ao qual ela deu origem. “O mundo que a ciência nos apresenta para que acreditemos”, escreveu Russell na virada do século, “nos diz”: Que o homem é produto de causas que não tinham nenhuma previsão do fim ao qual chegariam; que sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus amores e crenças não passam do resultado do posicionamento acidental de átomos; que nenhum heroísmo, nenhum grau de pensamento ou de sentimento pode preservar a vida individual após a morte; que toda a labuta dos séculos, toda a devoção, toda a inspiração, todo o intenso brilho do gênio humano estão destinados à extinção na vasta morte do sistema solar; e que todo o templo da conquista humana deverá inevitavelmente ser soterrado sob os escombros de um Universo em ruínas…; “Como”, pergunta-se Russell, “pode o homem, num mundo tão alienígena e desumano, manter suas aspirações imaculadas?” Em larga escala, não conseguimos. A maioria dos relatos escritos sobre nosso século e a experiência de muitas pessoas que viveram ao longo dele, mostram um quadro de considerável dissolução.
AS VÁRIAS FACETAS DA QUESTÃO
De todos os lados — moral, espiritual e estético — nossa cultura parece estar sob tensão. Muitos dos “valores antigos” e crenças geralmente aceitas deixaram de ser inquestionáveis e nos vemos alicerçados apenas em nós mesmos. A grande massa das pessoas foi compulsoóriamente obrigada a viver na era do herói existencial — audaciosamente indiferente ao “Deus morto”, tornando-se criador de seus próprios valores e guardião de sua própria consciência. Esta é a experiência do modernismo, e seu preço, tanto em termos pessoais como em termos de desenraizamento cultural,e foi alto. Em nosso relacionamento com nós mesmos e com os outros, a influência newtoniana vai muito fundo. Se não passamos de um subproduto acidental da criação e um joguete na mão de forças maiores totalmente fora de nosso controle, como podemos ter alguma responsabilidade significativa por nós mesmos ou pelos outros? Como, dotados de existência temporária e de propósitos fúteis e jogados de um lado para outro pela dinâmica do id ou pela sub-corrente genética ou ainda pela luta de classes e pela História, como realmente podemos ser responsabilizados por qualquer coisa? Grande parte da moderna sociologia, da pedagogia e toda a psicologia do Ser, derivam desta linha de pensamento, assim como nossa violência característica do século 20/21, uma reação natural diante de tamanha impotência. Foi igualmente afetada nossa atitude em relação à natureza e ao mundo material. Se nossa mente, nosso ser consciente, é totalmente diferente de nosso ser material, como argumentou Descartes, e se a consciência não tem nenhum papel a desempenhar no Universo, como sugere a física de Newton, que relacionamento podemos ter com a natureza ou com a matéria?
-UMA CRENÇA ADQUIRIDA;UM MUNDO ALIENÍGENA Á NÓS E NÓS Á ELE
Somos alienígenas num mundo alienígena, situados à parte dele e em oposição a ele, nosso meio ambiente material. Portanto, lançamo-nos à conquista da natureza para sobrepujá-la e utilizá-la para nossos próprios fins sem olhar as conseqüências disso. “O homem é um estranho ao mundo”, diz Michel Serres, “ao pôr-do-sol, ao céu, às coisas. Ele as odeia e combate. Seu ambiente é um perigoso inimigo contra o qual deve lutar, e que deve ser mantido escravo…”. A violação do meio ambiente característica do século 20 e a caótica proliferação de estruturas materiais construídas pelo homem advêm deste senso de alienação da natureza e da matéria. Mas, irônicamente, enquanto a cosmovisão newtoniana ainda domina nossas vidas e pensamentos, todo e qualquer entusiasmo pela física de Newton em si já morreu há tempos. Ela ainda é a física que move dínamos, que leva o homem à Lua, porém já não está na vanguarda do pensamento físico criativo. Nem sequer é ensinada nos cursos básicos das universidades mais avançadas, pois a consideram adequada sómente a níveis mais elementares do ensino da ciência. Em seu lugar, temos a “nova física”, a teoria da relatividade de Einstein e a mecânica quântica, ambas tendo mudado radicalmente o modo de se fazer física. A teoria da relatividade em si, embora tenha conseqüências importantes no modo como se faz uma parte da física, provavelmente não levará a uma nova visão de mundo. Embora uma leitura errônea de Einstein tenha sido animadora para a tendência a favor do “relativismo”, para certas correntes históricas e antropológicas a teoria da relatividade em si trata da física das altas velocidades e enormes distâncias. Ela se consuma numa escala cosmológica e não tem virtualmente nenhuma aplicação em nosso cotidiano, em nosso mundo de pés na terra. Assim, ainda que qualquer colegial saiba que o espaço é curvo e o tempo, da forma como o conhecemos, é muito improvável que as pessoas comuns cheguem á uma compreensão da realidade diária sob as luzes da obra de Einstein.
ARTIGOS DE AMIT GOSWAMI
as-contribuicoes-de-einstein-para-a-mecanica-quantica”
A Física Quântica e o Espiritismo
Universidade Federal de Minas Gerais-Um mundo impensável sem a Física Quântica
a-fisica-quantica-e-richard-phillips-feynman-o-mais-divertido-dos-genios”
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A Física Quântica e o Espiritismo
Universidade Federal de Minas Gerais-Um mundo impensável sem a Física Quântica
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A física quântica é diferente. Sendo a física desse minúsculo micromundo dentro dos átomos, ela descreve o funcionamento interno de tudo o que vemos e ao menos físicamente somos. Todo o mundo da matéria, incluindo nossos próprios corpos, é feito de átomos e seus componentes ainda menores, e as leis que governam esses pequenos pedacinhos de realidade básica transbordam para nossa vida diária. Um único fóton, ou “partícula” de luz, afeta a sensibilidade do nervo ótico. O princípio da incerteza que governa o comportamento dos elétrons desempenha um papel na estrutura dos acidentes genéticos que contribuem para o processo de envelhecimento e para a evolução de certos tipos de câncer, sendo que o próprio processo evolutivo talvez seja afetado de maneira semelhante.3 Ao nível da analogia, a física quântica está cheia de imagens que quase imploram aplicação na vida diária. O princípio da incerteza de Heisenberg há muito invadiu a linguagem dos sociólogos e psicólogos; a idéia do salto quântico tornou-se o jargão comum para se discutir qualquer espécie de mudança rápida ;Ao longo desta série,estaremos mostrando vários modos segundo os quais, a teoria quântica pode nos oferecer uma compreensão radicalmente nova de vários aspectos de nossa experiência, e este é o tema geral ; como uma metáfora completamente nova para esta era, ou uma nova visão de mundo, deriva naturalmente daquilo que a física quântica nos conta sobre o mundo físico e humano. As características desta visão de mundo se tornarão claras à medida que discutirmos por que a nova física é nova e percebermos como, através de uma nova física da consciência, ela pode ser aplicada à filosofia da pessoa e à psicologia dos relacionamentos humanos.
A INFLUÊNCIA DA TEORIA QUÂNTICA
Sob alguns aspectos importantes, — como a física quântica se relaciona com nossa experiência da vida diária-iremos direto ao coração do problema filosófico central da própria teoria quântica. Até agora, passados sessenta anos de sua jovem história, os físicos quânticos ainda se sentem absolutamente incapazes para explicar até mesmo como pode existir um mundo do cotidiano — o mundo de mesas e cadeiras, pedras e árvores etc. — ,quanto mais para explicar como sua ciência se relaciona com este mundo. A teoria quântica é teoria física de maior sucesso até hoje. Ela pode prever corretamente resultados experimentais com um acerto de várias casas decimais. No entanto, sua inabilidade em explicar, quer as predições, quer os resultados, significa que nenhum quadro novo, uno da realidade, emergiu de todas as equações geradas, e menos ainda uma nova visão de mundo na qual as descobertas da física quântica se enraízem para instigar a imaginação das pessoas comuns. Realmente, na maior parte dos sessenta anos passados desde que a teoria quântica se completou, o consenso entre os físicos quânticos tem sido o de que eles não podiam nem deveriam dizer coisa alguma sobre o mundo real e que sua única tarefa “segura” seria continuar prevendo resultados através de suas equações.
Essa posição “anti-realista”, que ficou conhecida como a Interpretação Copenhagen da teoria quântica por causa do físico dinamarquês Niels Bohr, seu grande defensor, está influenciada pela natureza bizarra e indeterminada dos eventos no nível quântico, onde nada em particular pode ser declarado existente em um local determinado e tudo flutua num mar de possibilidades. Isso levou a conversas absurdas entre os físicos quânticos e seus seguidores filosóficos, incluindo-se aí a negação de uma realidade no nível subatômico ou mesmo, em alguns casos, a negação da existência de qualquer realidade. Entretanto, há um mundo real onde as “coisas” existem. As cadeiras são corpos sólidos e identificáveis, sobre os quais podemos nos sentar. Para que a teoria quântica esteja realmente completa, e para que substitua, não só a física newtoniana como também toda a cosmovisão newtoniana enquanto filosofia central de nossa era, ela deve ser conduzida a um diálogo mais estreito com tais fatos do mundo cotidiano. O argumento central desta premissa é o de que nós, seres humanos conscientes, somos a ponte natural entre o mundo da experiência diária e o mundo da física quântica, e que um exame mais acurado da natureza e do papel da consciência no esquema das coisas conduzirá a uma compreensão filosófica mais profunda do dia-a-dia e a um quadro mais completo da teoria quântica.
E A CONSCIÊNCIA?
A existência da consciência foi sempre um problema. O que ela é, por que ela existe no mundo e como, de fato, pode tal coisa existir? Algumas respostas a estas questões são necessárias a qualquer compreensão da vida ainda que em seu sentido mais primário, como a “vida” de uma ameba. Num sentido mais amplo, algumas respostas são necessárias para iluminar o significado e o propósito da vida, os porquês de nossa cultura e o lugar de um único indivíduo num universo maior. Elas também são necessárias para se obter alguma compreensão do universo em si.Podemos considerar muito sériamente a possibilidade de que a consciência, assim como a matéria, emerge do mundo dos acontecimentos quânticos e que ambas, embora completamente diferentes uma da outra, têm uma “mãe” em comum na realidade quântica. Se assim for, nossos padrões de pensamento e, mais do que isto, nosso relacionamento com nós mesmos, com os outros e com o mundo como um todo, poderão em alguns casos ser explicados pelas mesmas leis e padrões de comportamento que governam o mundo de prótons e elétrons, em outros casos podem refletir essas mesmas leis e padrões. Se de fato nosso intelecto tira suas leis da natureza, segue-se que nossa percepção dessas leis deve, em alguma medida, refletir a realidade da própria natureza. Se tal possibilidade existe, então, podemos retirar dela uma visão similar àquela dos antigos gregos: Quando o homem está no mundo, é do mundo, está na matéria, é da matéria, ele não é um estranho mas um amigo, um membro da família, um igual… Os gregos viviam num Universo conciliado, onde a ciência das coisas e a ciência do homem coincidem. Podemos dizer que que temos hoje na física quântica os fundamentos de uma física sobre a qual podemos basear nossa ciência e nossa psicologia, e que através de uma comunhão da física e da psicologia também poderemos viver num Universo conciliado, um Universo em que nós e nossa cultura seremos plena e significativamente parte do esquema das coisas.
O QUE HÁ DE NOVO NA” NOVA FÍSICA”
Certa vez Einstein disse que a teoria quântica lhe sugeria “um sistema de ilusões de um paranóico extremamente inteligente, maquinado a partir de elementos de pensamento incoerentes”. Todos os adjetivos comumente aplicados a essa física são do mesmo tipo: absurda, bizarra, assustadora, incrível, inacreditável etc. Até mesmo encontrar a maneira verdadeiramente apropriada para se descrever as descobertas neste campo parece ser uma tarefa ardilosa. A nova física é tão nova que os próprios físicos quânticos ainda não se entenderam inteiramente a respeito das mudanças conceituais que ela determina, refugiando-se na linguagem menos exigente das matemáticas. Mas é justamente aí, no cunhar de uma nova estrutura conceitual para a nova física, que está o verdadeiro desafio cultural da ciência moderna. É difícil perder os velhos hábitos intelectuais. As categorias newtonianas de tempo, espaço, matéria e causalidade impregnaram tão profundamente toda nossa percepção da realidade que emprestam sua cor a todos os aspectos de nossa forma de pensar sobre a vida, e não é fácil imaginar um mundo que arremede sua realidade.Ex;- Cada vez que dirigimos um automóvel de um ponto a outro estamos, em alguma medida, conscientes do espaço entre os dois pontos e do tempo que levamos para percorrer o trajeto. O simples ato de abrir e fechar uma porta nos torna subliminarmente conscientes tanto da existência material da porta como de nossa mão, e ainda da relação de causa e efeito entre uma e outra. Como, então, lidar com a alegação de que não há espaço entre dois objetos distintos e, mais ainda, que não há objetos da forma como normalmente os concebemos e que toda a noção de “distintos” não tem nenhuma base na realidade? Como falar sobre acontecimentos ou relacionamentos se temos de renunciar a toda esta conversa de tempo e nunca dizer que uma coisa causou outra?
Da primeira vez que se apresentam tais problemas, eles provocam uma espécie de torpor intelectual a que se segue uma tentativa de lidar com eles de alguma forma conhecida. Mesmo os físicos quânticos, quando procuram entender o que suas equações estão indicando, inadvertidamente tentam colocar conceitos quânticos novos dentro de categorias newtonianas antigas, o que por sua vez faz que vejam o próprio trabalho com a mesma estranheza dos leigos. Até agora, nenhum deles conseguiu dizer realmente o que é que tudo isto significa. Ao longo desta série , tentaremos expressar os conceitos da teoria quântica numa linguagem corriqueira e em termos do dia-a-dia sem, no entanto, cair na armadilha comum de tentar colocar “pinos redondos em buracos quadrados”. A radical novidade de tudo ficará instantaneamente evidente quando examinarmos as noções básicas de ser, movimento e relacionamento no contexto da nova física, e esperamos que nossa capacidade de assimilação dessas noções como parte integrante de nossa experiência pessoal cresça nos posts posteriores.
SER- A MAIS REVOLUCIONÁRIA
A mais importante afirmação que a física quântica faz acerca da natureza da matéria, e talvez do próprio ser, provém de sua descrição da dualidade onda—partícula — a afirmativa de que todo ser, no nível subatômico, pode ser igualmente bem descrito como partículas sólidas, como um certo número de minúsculas bolas de bilhar, ou como ondas, como as ondulações na superfície do oceano. Mais que isto, a física quântica prossegue dizendo que nenhuma das duas descrições tem real precisão quando isolada e que tanto o aspecto onda como o aspecto partícula do ser devem ser levados em conta quando se procura compreender a natureza das coisas. É a própria dualidade o aspecto mais básico. A “substância” quântica é, essencialmente, ambos: o aspecto onda e o aspecto partícula simultaneamente. Esta natureza do Ser Quântico está condensada numa das colocações mais fundamentais da teoria quântica, o princípio da complementaridade, que declara que cada modo de descrever o ser, como onda ou como partícula, complementa o outro e que o quadro completo surge somente do “pacote”. Como os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, cada uma das descrições fornece um tipo de informação que feita à outra. Se, num dado momento, o ser elementar se mostra como uma ou como a outra, isso depende das condições gerais — o crucial nisso, como veremos mais adiante, pode ser que qualquer uma das duas ou que nenhuma esteja observando, ou, quando elas estão, o que estão procurando.
ONDA E PARTÍCULA-QUAL A MAIS FUNDAMENTAL?
Tal dualidade e o conceito um tanto etéreo de matéria que isso representa, não poderiam estar mais distantes da noção corriqueiramente sustentada pela física newtoniana ou clássica. Na física de Newton, como em nossa percepção comum de questões maiores, presumia-se que o ser, em seu nível mais básico e indivisível, consistia em partículas pequeninas e distintas entre si, os átomos que colidem, se atraem e se repelem uns aos outros. Eram sólidos e separados, cada qual ocupando um lugar próprio e definido no espaço e no tempo. Em contrapartida, os movimentos de onda (como ondas de luz) eram considerados vibrações que ocorriam numa espécie de “gelatina” subjacente (o éter), não sendo coisas fundamentais por si mesmas. Assim, tanto ondas como partículas tinham seu papel dentro da física newtoniana, mas as partículas eram consideradas mais básicas, e delas é que a matéria se formava. Para a física quântica, porém, tanto ondas como partículas são igualmente fundamentais. Uma e outra são modos pelos quais a matéria se manifesta, e as duas juntas são o que a matéria é. E, ainda que nenhum dos “estados” seja completo em si mesmo e ambos sejam necessários para nos dar um quadro completo da realidade, na verdade só conseguimos focalizar um de cada vez. Esta é a essência do princípio da incerteza de Heisenberg, que, como o da complementaridade, é um dos princípios mais fundamentais do ser na teoria quântica. Segundo o princípio da incerteza, as descrições do ser como onda e como partícula se excluem mutuamente. Embora ambas sejam necessárias à compreensão integral do que o ser é, somente uma está disponível num determinado momento do tempo. Consegue-se medir ou a exata posição de algo (como um elétron) quando ele se manifesta como partícula, ou seu momentum (sua velocidade) quando ele se expressa como onda, mas nunca se consegue uma medida exata de ambos a um só tempo. A charada da medição dos elétrons é um pouco como a dinâmica de uma primeira entrevista psiquiátrica na qual, idealmente, o psiquiatra gostaria de saber tanto os fatos relevantes do histórico do paciente como também estabelecer algum tipo de relação com ele. O problema é que, se o psiquiatra faz perguntas factuais para conseguir o histórico, recebe respostas factuais, e o paciente em si, seu modo de ser naquele momento, fica em segundo plano. Em contrapartida, se o psiquiatra decide abandonar as perguntas para ouvir de forma mais criativa e receptiva, conseguirá “sentir” o paciente muito bem, porém chegará ao fim da entrevista sabendo muito pouco do histórico. Colheita de fatos e criação de um relacionamento parecem se excluir e, no entanto, ambos são necessários para formar um quadro completo do estado do paciente.
NEM PARTÍCULA NEM ONDA….
Da mesma forma, a maioria dos elétrons e outras entidades subatômicas não são nem totalmente partículas nem totalmente ondas, mas, antes, uma confusa espécie de mistura das duas conhecida como “pacote de onda”, e é aqui que a dualidade onda— partícula e o mistério quântico se revelam plenamente. Embora possamos medir propriedades das ondas e propriedades das partículas, as propriedades exatas da dualidade sempre escapam a qualquer medição. O máximo que se pode pretender em relação a qualquer pacote de onda é uma leitura nublada de sua posição e uma leitura igualmente nublada de seu momentum. Este “nublamento” essencial é a incerteza à qual se refere o princípio da incerteza, e ele substitui o velho determinismo newtoniano, em que tudo da realidade física é fixo, determinado e mensurável, por um vasto “mingau” de ser onde nada é fixo nem totalmente mensurável, onde tudo permanece indeterminado, algo fantasmagórico e sempre um pouco além de nossa compreensão.
Assim como muitas vezes sentimos que nunca compreendemos inteiramente uma outra pessoa, nunca realmente conseguimos determinar sua natureza essencial, é uma verdade indubitável que nunca conhecemos plenamente uma partícula elementar. É como se estivéssemos eternamente condenados a enxergar apenas sombras em meio à neblina. A natureza total dessa indeterminação quântica vai direto ao coração do problema filosófico central levantado pela mecânica quântica — a natureza da própria realidade. Alguns teóricos quânticos, e em primeiro lugar dentre eles Niels Bohr, bem como o próprio Heisenberg, argumentam que a realidade fundamental em si é essencialmente indeterminada, que não há um “algo” nítido e fixo subjacente a nossa existência diária que possa ser conhecido. Tudo da realidade é e continua sendo uma questão de probabilidades. Um elétron pode ser uma partícula, pode ser uma onda, pode estar nesta órbita, pode estar naquela — de fato, tudo pode acontecer. Só podemos prever essas coisas com base no que é mais provável dadas as condições gerais de determinada situação experimental. Dentro desta visão, na qual a base essencial da realidade tal como a conhecemos consiste apenas em tais e tantas possibilidades, ficamos com o problema central da teoria quântica irresoluto: como podem as coisas deste mundo chegar a se tornar reais, fixas? É o exato oposto do dilema levantado pelo Universo mecânico de Newton no qual não há espaço para o novo. Lendo Newton, sentimos a necessidade de perguntar: como é que alguma coisa consegue acontecer? Com a interpretação de Bohr— Heisenberg da mecânica quântica o problema passa a ser: como é que alguma coisa consegue ser? Mas outros teóricos quânticos, liderados por um apaixonado Einstein, argumentaram que qualquer realidade tão completamente indeterminada, probabilística, não poderia ser concebida. O Todo-Poderoso, assegura-nos Einstein, não sancionaria um Universo que funcionasse como uma casa de jogo banal — “Deus não joga dados com o Universo”, disse ele. Os partidários de Einstein argumentam que o indeterminismo essencial exigido pela mecânica quântica repousa não na própria realidade, mas antes deriva do fato de que a teoria quântica em si não está completa, ou seja, da nossa inabilidade em estudar a natureza sem perturbá-la. Eles ressaltam que a teoria falha justamente no ponto em que deveria explicar a existência das coisas concretas e insistem em que o mundo concreto é tão fixo e real como sempre pensamos. Somos nós que, por causa dos métodos de medição ou das equações que empregamos, não conseguimos conhecê-lo.
PROBABILIDADES INFINITAS
Embora concordando com Einstein que a atual física quântica, da forma como está estruturada, deixa de nos dar uma explicação adequada do mundo material de nosso dia-a-dia, nossa tendência pessoal é adotar a visão de Bohr—Heisenberg á respeito da indeterminação; isto é, queremos defender a visão de que o fundamento mesmo da realidade é um labirinto móvel e indeterminado de probabilidades; Esta tendência virá mais adiante quando discutirmos a natureza da consciência e sua relação com a física quântica. O funcionamento de nossa própria mente poderá fornecer uma chave para a natureza fundamental da realidade. Por enquanto, a indeterminação quântica é, no mínimo, uma maneira metafórica muito poderosa para se perceber a realidade. Ao nível do cotidiano podemos ver o princípio da incerteza e o da complementaridade — a dualidade onda—partícula — como algo que nos oferece a chance de escolher entre diversas maneiras de se enxergar um mesmo sistema. Por exemplo, podemos pensar nas ondas como gigantescas ondulações na superfície do mar ou podemos pensar nelas como certa quantidade de “partículas” (moléculas) de água. Podemos pensar numa nação como uma entidade viva com características próprias, etnia e história, ou podemos dividi-la em cidades separadas, prédios distintos, pessoas distintas. Se levarmos isto ainda mais adiante, poderemos pensar nos tijolos que compõem os prédios ou nas células corporais das pessoas, ou mesmo nas moléculas e átomos que formam cada uma delas. Vários tipos de coisas podem ser vistos mais claramente se observados sob várias perspectivas, e quem poderá dizer qual a mais fundamental? Qual ou o que existe mais “realmente”? A teoria do campo quântico nos leva ainda mais longe, para além do Universo morto e silencioso de Newton, dando-nos um quadro vivido do fluxo dinâmico que repousa no coração de um ser indeterminado. Ali, mesmo aquelas partículas que chegam a se manifestar como seres individuais o fazem apenas rapidamente. Em níveis de energia suficientemente elevados, partículas podem surgir de um fundo de pura energia (ondas), existir por um tempo ínfimo e então dissolver-se novamente para formar outras partículas ou voltar àquele profundo oceano de energia — como os pequenos rastros de vapor que aparentemente surgem do nada, atravessam um pequeno espaço na neblina e então desaparecem novamente.
Algumas das propriedades dessas partículas individuais transitórias são conservadas — sua massa, carga e spin (movimento angular intrínseco) —, porém, para o número e tipo da população de uma nação ou a construção e declínio de suas cidades e prédios distintos, tal constância se restringe ao balanço geral do sistema como um todo. Este quadro gráfico de surgimento e desaparecimento, ou início e cessação de partículas subatômicas isoladas no nível quântico da realidade, traz profundas implicações para nossa maneira de enxergar a natureza e a função das personalidades individuais, ou a sobrevivência do ser individual.
O MOVIMENTO NA FÍSICA CLÁSSICA
O movimento parece um conceito bastante simples, familiar à nossa percepção diária, do modo como as coisas se deslocam. Um objeto, digamos, uma bola, viaja sem interrupção do ponto A ao ponto B, leva determinada quantidade de tempo para transitar de um ponto ao outro e só começa sua viagem porque alguém a jogou. Portanto, ela se move suavemente pelo tempo e pelo espaço como resultado de uma relação de causa e efeito. Todos sabemos que esta é a forma básica pela qual os acontecimentos de nosso mundo são estruturados. No entanto, ao nível quântico da realidade, todo esse quadro de movimento contínuo pelo tempo e pelo espaço se desfaz. A física quântica, conforme coloca um físico de Oxford, é uma física de “pacotes” e “pulos”. Os “pacotes” apareceram nos primeiros tempos da física quântica quando Max Planck provou que toda energia é irradiada em pacotes individuais chamados “quanta”, em vez de em correntes fluindo sobre um espectro contínuo. Os “pulos” ou “saltos” surgiram alguns anos depois quando Niels Bohr demonstrou que os elétrons pulam de um estado energético a outro por meio de saltos quânticos descontínuos, cujo tamanho depende de quantos quanta de energia os elétrons absorveram ou liberaram.
O átomo de Bohr original, atualmente um tanto obsoleto, mas ainda útil para demonstrar o efeito dos saltos quânticos, se assemelhava a um minúsculo sistema solar. Ele tinha um núcleo comparativamente grande no centro, fazendo o papel do Sol, e vários elétrons o circundavam, cada qual em sua órbita individual — cada órbita representando um determinado estado de energia que o elétron pode ocupar. No final das contas não havia nenhuma regra ou razão para um átomo pular de uma órbita a outra, ou para o tamanho do salto que ele daria. Tudo o que se podia prever era que seu caminho não seria suave e que a “distância” (diferença energética) percorrida poderia ser medida em tantos quanta inteiros. A nova descrição do movimento como uma série de saltos descontínuos foi uma das mudanças conceituais mais fundamentais que emergiram da teoria quântica. Foi como substituir o suave fluir da vida real por fotogramas como os que compõem as unidades individuais de um filme. De fato, a teoria mostrava que todo movimento — mesmo o que percebemos como suave e contínuo — está estruturado da mesma forma que a sucessiva apresentação dos fotogramas. E assim como ocasionalmente um filme pode “saltar” dentro do projetor, também as partículas subatômicas podem saltar “vários fotogramas para frente” pulando os estágios intermediários que pareceriam o caminho mais natural. As analogias que se pode fazer com processos mentais e culturais são inumeráveis.
AS QUESTÕES PRÁTICAS
Como já vimos na discussão sobre o “Ser” na teoria quântica, o princípio da incerteza de Heisenberg surgiu do problema de se tentar seguir e descrever o verdadeiro movimento de uma partícula subatômica ao longo de seu caminho descontínuo. Numa região onde a realidade parece constituir-se não de realidades fixas que podemos conhecer, mas sim de probabilidades que talvez conheçamos, quanto mais se procura analisar os movimentos de qualquer partícula, mais enganosa ela se torna. Esta qualidade enganosa é o maior problema levantado pela teoria quântica. O outro grande problema é o destino de todas aquelas probabilidades não aproveitadas. Se a realidade, no nível do cotidiano, em que normalmente a experimentamos, consiste de fato de coisas reais como corpos e escrivaninhas e cadeiras, ao passo que no nível quântico não existem “coisas” reais mas somente uma miríade de possibilidades de incontáveis realidades, o que é feito de todo este potencial? Em que estágio e por que uma das muitas possibilidades da natureza se fixa no mundo das “coisas reais”, e que papel desempenham todas essas possibilidades não aproveitadas (se é que desempenham algum papel) na realização desse estado final das coisas?
A resposta a estas perguntas será de nosso interesse mais tarde, quando discutiremos a natureza e função da Consciência. Até agora não há nenhuma boa resposta para o porquê da realidade presente — e teremos boas razões para entender isso mais tarde —, mas já se compreende melhor o papel espantoso da possibilidade na sua fixação ou mesmo na sua criação. Isto pode ser visualizado de forma impressionante nos saltos de elétrons. Quando um elétron faz uma transição de um estado de energia a outro dentro do átomo, vimos que ele o faz de forma completamente espontânea e aleatória. Súbitamente, sem aviso prévio e certamente sem “causa”, um átomo antes “quieto” poderá experimentar o caos em suas camadas de energia eletrônica. Tudo depende muito de sorte. E os elétrons podem, com igual probabilidade, fazer uma transição de um estado de energia mais alto para um mais baixo, ou de um mais baixo para um mais alto. Por isso se diz que há reversibilidade do tempo no nível quântico: as coisas podem acontecer em qualquer direção. Nesse átomo perturbado não há nenhuma sucessão conhecida de acontecimentos, com uma coisa causando a outra. As coisas simplesmente “acontecem porque acontecem”, assim como as imagens livremente reunidas num poema, onde se sucedem, uma após outra, sem obedecer a nenhuma ordem necessária. E, pior do que isso, elas acontecem simultâneamente em todas as direções, o que nos leva à questão das “possibilidades perdidas”. Quando um elétron, a pretexto de uma onda de probabilidade, pretende mudar de uma órbita para outra, ele primeiro se comporta como se estivesse “espalhado por uma ampla região do espaço”, revelando uma espécie de onipresença sobrenatural em muitas órbitas. Ele lança “sensores” temporários na direção de sua futura estabilidade, experimentando — de uma vez só — todas as novas órbitas possíveis nas quais poderá futuramente assentar-se, algo bem parecido conosco quando experimentamos uma idéia nova, criando cenários imaginários nos quais vemos suas inúmeras possíveis conseqüências.
Na teoria quântica estes “sensores” temporários são chamados “transições virtuais”, ao passo que a transição final do elétron para sua casa nova e definitiva é chamada “transição real”. No entanto, como previne o físico quântico David Bohm, não devemos tirar conclusões errôneas levados pelos termos “virtual” e “real”. Por vezes permanente (isto é, energia conservante) são chamadas transições reais, para se distingui-las das chamadas transições virtuais, que não conservam energia e que, portanto, devem ser revertidas antes que cheguem longe demais. Esta terminologia é muito infeliz, pois sugere que as transições virtuais não têm efeitos reais. Ao contrário, geralmente elas são da maior importância, porque um grande número de processos físicos resulta dessas assim chamadas transições virtuais.Ex;- A situação é um pouco parecida com aquela de uma jovem recatada que é por fim apresentada à sociedade em seu début. Antes tão serena, ela se vê excitadíssima quando confrontada com pedidos de casamento de vários pretendentes. Todo um mundo novo de possibilidades abriu-se a ela, que, naturalmente, quer realizar seu maior potencial de fazer o casamento certo com o homem de seus sonhos. No mundo real (o mundo da realidade diária) ela teria de examinar uma a uma essas diversas possibilidades, talvez saindo várias vezes com cada um dos pretendentes antes de se sentir segura de estar escolhendo o homem certo. Mas no mundo quântico a indecisa mocinha ficaria com todos os pretendentes ao mesmo tempo, talvez até montando uma casa com cada um deles simultâneamente. Se seus pais, escandalizados, quisessem lhe escrever uma carta condenando seu comportamento libertino, não conseguiriam saber onde encontrá-la. Teriam de mandar cópias da carta para todos os seus endereços já que, na verdade, ela estaria em todos eles. E, se os ninhos de amor dessa mocinha fossem suficientemente próximos uns dos outros,• ela poderia até se postar em suas várias varandas e acenar para si mesma do outro lado! Por fim, é claro, tendo explorado plenamente suas possibilidades, a moça acabaria assentando-se, casando e morando em uma casa com apenas um dos pretendentes, mas não sem deixar “traços” seus nas várias vizinhanças onde ocupou endereços temporários. Os vizinhos talvez se lembrassem dela, perguntando-se o que teria sido feito daquela moça; e, se a natureza tivesse seguido seu curso normal, haveria proles advindas de suas muitas ligações temporárias, que por sua vez cresceriam e viriam a influenciar o mundo. (Pois um grande número de processos físicos é resultado dessas transições virtuais.)
Na realidade, para a teoria quântica, as casas poderiam estar a qualquer distância uma da outra, pois as transições virtuais de um elétron influem uma na outra mesmo a uma distância infinita. A realização de múltipla escolha de fato acontece sempre que há um ponto de decisão a respeito do meio pelo qual um processo físico indeterminado poderá se resolver. Chamada “teoria dos muitos mundos”, ela sugere que há um número infinito de mundos, em cada um dos quais poderemos encontrar uma versão de nós mesmos, cada qual diferente da outra, na medida em que cada uma seguiu uma diferente corrente de acontecimentos. Segundo essa visão, não há possibilidades perdidas — podemos viver todas. No entanto, haverá razão para empregar de vez em quando as muitas analogias entre os processos psicológicos e o papel das transições virtuais quânticas. Na natureza, por exemplo, David Bohm já sugeriu que, “sob muitos aspectos, o conceito da transição virtual assemelha-se à idéia da evolução na biologia, que sugere que todas as espécies podem aparecer como resultado de mutações, mas que somente algumas espécies podem sobreviver indefinidamente, a saber, aquelas que satisfazem certas exigências de sobrevivência do meio ambiente específico daquela espécie”. As muitas espécies criadas por mutações podem ser vistas como várias possibilidades (estados virtuais) sendo exploradas pela natureza como novas formas por intermédio das quais ela procura expressar seu potencial. As possibilidades menos inviáveis acabam morrendo, como diz Bohm, mas freqüentemente não sem antes deixar algum traço de si, que perdura, tornando-se parte da trama da vida. Dois mutantes inviáveis poderão, por exemplo, cruzar e formar uma terceira espécie capaz de sobreviver por longo tempo (uma transição real). É muito provável que os seres humanos sejam resultado de tal cruzamento entre duas “espécies virtuais”, uma mutação secundária que deu certo, vinda de obscuras formas de vida conhecidas apenas como o elo extraterrestre perdido.
RELACIONAMENTO,TALVEZ….
Mais do que qualquer outra coisa, a física quântica promete transformar nossas noções sobre relacionamento. Tanto o conceito do Ser enquanto dualidade indeterminada de onda— partícula como o conceito de movimento que deriva das transições virtuais, pressagiam uma revolução em nossa percepção de como as coisas se relacionam. Coisas e acontecimentos que antes eram concebidos como entidades separadas pelo espaço e pelo tempo, agora são vistos pelo teórico quântico como tão integralmente ligados que sua ligação faz as vezes de ambos, espaço e tempo. Eles se comportam como aspectos múltiplos de um todo maior, sendo que suas existências “individuais” ganham definição e sentido através do contato com esse todo. A nova noção mecânico-quântica de relacionamento vem co mo conseqüência direta da dualidade onda—partícula e da tendência de que uma “onda de matéria” (ou “onda de probabilidades”) deve se comportar como se estivesse espalhada por todo espaço e tempo. Mas, se todas as “coisas” potenciais se estendem indefinidamente em todas as direções, como se poderá falar em alguma distância entre elas ou conceber alguma separação? Toda as coisas e todos os momentos tocam uns nos outros em todos os pontos; a unidade do sistema completo é suprema. Segue-se disto que a noção antigamente fantasmagórica do “movimento á distância”, em que um corpo influencia o outro instantâneamente apesar de inexistir troca aparente de força ou de energia, é um fato banal e corriqueiro para o físico quântico — um fato tão estranho a qualquer estrutura de tempo e espaço que permanece um dos maiores desafios conceituais levantados pela teoria quântica.
Uma visão da realidade que aceita o movimento instantâneo á distância ou a não-localidade, como é mais adequadamente chamada (princípio que diz que algo pode ser afetado mesmo na ausência de uma causa local), tem uma coloração óbviamente mística. Na verdade, ela afronta violentamente o bom senso e a física clássica. Ambos repousam no princípio intuitivo de que, em algum nível, a realidade é composta de componentes básicos, indivisíveis, inerentemente distintos entre si e que qualquer efeito experimentado por uma parte tem uma causa que a explique em outra parte. Além disso, segundo a teoria da relatividade, nenhuma causa (digamos, sinal) é capaz de viajar de um pedaço de realidade para afetar outro mais rápidamente que a velocidade da luz. Assim, quaisquer idéias de influências instantâneas deveriam estar fora de cogitação. Todo o problema da não-localidade é tão difícil que nem sequer foi levantado nos primórdios da teoria quântica, e sómente nos últimos anos é que os físicos vêm tentando entender-se com ele. Foi Einstein quem primeiro demonstrou que as equações da teoria quântica prediziam a necessidade de não-localidade instantânea. Para ele, isto era impossível (“fantasmagórico e absurdo”, como disse) e jamais sentiu-se à vontade com as implicações metafísicas mais amplas da física quântica. A previsão da não-localidade era a prova clara de que ele precisava para dizer que a teoria quântica estava “incompleta e mal pensada”, e ele se empenhou para que isso fosse reconhecido.
Num dos famosos paradoxos da física — o Paradoxo de Einstein, Podolsky e Rosen ou E.P.R. — ele demonstrou, de uma vez por todas, como supôs, que a presumida existência das influências não-locais levava a uma contradição. O teor do Paradoxo de E.P.R. pode ser compreendido se imaginarmos o destino de um hipotético par de gêmeos idênticos; nascidos em Londres, mas separados desde o nascimento. Um deles continua morando em Londres. O outro foi viver na Califórnia. Ao longo dos anos não há contato entre os gêmeos; na verdade, um ignora a existência do outro. O bom senso dirá que os gêmeos vêm levando vidas completamente distintas. Mas, apesar de sua separação e da ausência de comunicação entre eles, um psicólogo que vem estudando a vida dos gêmeos observou uma impressionante correlação em seus estilos de vida. Ambos adotaram o apelido de “Badger”, ambos trabalham como advogados no escritório de um procurador da prefeitura, ambos se vestem quase exclusivamente em tons de marrom e ambos casaram-se com loiras de nome Jane na idade de 24 anos. Como se explica tudo isso? O físico quântico não teria nenhuma dificuldade em acreditar na correlação das vidas dos gêmeos. Ele diria que suas equações sempre previram isto e que todas as ligações entre eles são satisfatoriamente explicada pelo fato de suas existências individuais serem aspectos de um todo maior. Mas Einstein achava que isto não bastava. Em sua teoria das variáveis escondidas sugeriu como alternativa (continuaremos utilizando a analogia dos gêmeos) que devia haver algum fator ; Na realidade, o Paradoxo de E.P.R. diz respeito a um experimento mental proposto por Einstein, Podolsky e Rosen no qual um físico tentaria medir posição e momento linear de dois prótons que se projetam em direções opostas partindo de uma fonte comum. David Bohm revisou isto mais tarde sugerindo que o físico medisse o spin de dois prótons, e sua sugestão tornou-se a base para experimentos de real correlação, realizados na década de 70, com fótons ou “partículas de luz”. comum, talvez o material genético comum, que predeterminava a similaridade de suas vidas. A controvérsia foi enfim resolvida por um físico chamado John Bell, que sugeriu uma experiência conhecida como teorema de Bell. Para obedecer ao teorema de Bell, que determina que se interfira com um dos elementos do par para ver o que acontece com o outro, teríamos de escolher um momento e dar um bom empurrão no gêmeo que mora em Londres, fazendo-o cair da escada e quebrar a perna. Ninguém pode sustentar que a herança genética explicaria o fato de o outro gêmeo sofrer uma queda similar lá na Califórnia. Portanto, se o gêmeo da Califórnia continuar são e salvo enquanto sua contrapartida londrina sofre o acidente, então a teoria quântica está errada e Einstein certo; porém, se o gêmeo da Califórnia cair, Einstein está errado e a teoria quântica correta.
Na verdade o que ocorre é que, quando o gêmeo londrino leva o empurrão, o da Califórnia também cai exatamente da mesma forma, no mesmo momento e também quebra a perna, embora ninguém tenha lhe dado um empurrão. Todos os aspectos de suas vidas são inseparáveis. No nível subatômico, tais experimentos de correlação foram realizados muitas vezes usando-se pares de fótons correlatos. As influências não-locais que unem seus “estilos de vida” foram provadas muitas e muitas vezes. Os padrões de comportamento dos fótons são tão extraordinariamente ligados mesmo através de qualquer separação espacial — poderia ser uns poucos centímetros ou todo o Universo — que parece não haver nenhuma distância entre eles. Experiências similares foram realizadas para provar os mesmos efeitos espantosos de correlação no tempo. Eles conseguem vencer o tempo numa espécie de dança sincronizada que desafia toda nossa imaginação tão atrelada ao bom senso;Imagine, por exemplo, o caso de dois barqueiros que transportem mercadorias de um lado para outro do rio, cada qual com seu barco. O barqueiro A com um barco, o barqueiro B com outro. Quando há muito movimento de mercadorias ambos trabalham em período integral, mas nos períodos de movimento fraco decidem trabalhar em turnos. O barqueiro A trabalha de manhã e o barqueiro B à tarde. Nos períodos de muito movimento, quando os dois trabalham o dia todo, escolhem arbitrariamente o barco que irão usar, sendo que nenhum dos dois considera um dos barcos o “seu”. Quando passam a trabalhar em turnos esta arbitrariedade na seleção dos barcos persiste — mas com uma peculiaridade decisiva. Quando o barqueiro A chega para o turno da manhã, escolhe arbitrariamente um dos barcos para usar; quando B chega para cumprir o turno da tarde sempre pega o barco que A não usou pela manhã (embora não tenha meios de saber que barco A usou). Assim, embora os dois barqueiros cheguem ao trabalho em horas diferentes durante o dia, continuam a usar os dois barcos como se ambos estivessem presentes. Seus comportamentos estão ligados, apesar da diferença de tempo entre seus turnos, de tal modo que sempre são correlatos. As correlações demonstradas por um experimento com fótons seguindo esta mesma idéia dos barqueiros hipotéticos foram sempre tão exatamente simétricas que não faz sentido dizer que o barqueiro A escolheu um certo barco prevendo que B escolheria o outro, ou que B escolheu tal barco por algum conhecimento misterioso de qual barco A escolhera antes. Só se pode afirmar que as correlações mostram que dois eventos podem estar relacionados através do tempo de tal modo que garanta que seu comportamento seja sempre “sintonizado”, sendo inútil tentar estabelecer um vínculo de causa e efeito. Tal relacionamento sincrônico é a base de todo o relacionamento mecânico-quântico, o que empresta uma nota bastante moderna à noção grega pré- socrática da “unidade do ser”. Em que medida existem influências não-locais correlatas entre dois corpos ou eventos aparentemente distintos é algo que depende da medida em que um sistema esteja num estado de “partícula” ou de “onda”. As partículas comportam-se mais como indivíduos e são menos correlatas; as ondas apresentam um padrão de comportamento correlato mais do tipo grupal. Voltarei a esta questão em capítulos posteriores ao discutirmos a identidade pessoal e as raízes da alienação. A existência de correlações quânticas não-locais abalou o mundo da física e é um dos principais fatores que impossibilitaram os físicos quânticos de dizer o que significa sua teoria. Será, então, importante nos perguntarmos se o novo conceito de relacionamento alicerçado na não-localidade não nos estará oferecendo uma chave para uma compreensão completamente nova de nós mesmos.
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Um experimento recente, que parece mostrar que a função de onda é real, está mexendo com a nossa concepção filosófica da realidade.Seguindo o caminho das partículas subatômicas até as entidades cosmológicas – lembrem-se da busca pela unificação da mecânica quântica com a relatividade -, uma das possibilidades dentre aquelas que têm sido levadas a sério pelos físicos, está a existência de universos paralelos, ou multiversos.Podemos postular até agora, o seguinte;
1-O universo no qual vivemos é apenas um de um número gigantesco de mundos. Alguns são quase idênticos ao nosso, mas a maioria é muito diferente;
2-Todos esses mundos são igualmente reais, existindo continuamente ao longo do tempo, e todos possuem propriedades definidas com precisão;
3-Todos os fenômenos quânticos emergem a partir de uma força universal de repulsão entre os mundos ‘próximos’ (ou seja, semelhantes), o que tende a torná-los mais desiguais.
A teoria quântica poderia então ser entendida como o limite contínuo de uma teoria mecânica vigorando em um número enorme, mas finito, de mundos clássicos, e os efeitos quânticos decorreriam exclusivamente de uma interação universal entre esses mundos, sem referência a qualquer função de onda.O que os físicos chamam de “mundo” é um universo inteiro, com propriedades bem definidas, determinadas pela configuração clássica das suas partículas ecampos.Isso, claro, compromete o conceito tradicional de Universo como compreendendo “tudo”. Essa questão aparentemente semântica começa então a ganhar significado prático: para manter o Universo como o “todo”, a equipe chama seus “universos individuais” de mundos.Em nossa abordagem, cada mundo evolui de forma determinística, as probabilidades surgem devido à ignorância a respeito de qual mundo um determinado observador ocupa, e argumentamos que, no limite de um número infinito de mundos, a função de onda pode ser recuperada (como um objeto secundário) a partir do movimento desses mundos.
CONTINUA…
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Bibliografia para consulta
O Universo Elegante
Brian Greene
Em Busca da Unificação
Charles W. Misner, Kip S. Thorne and John Archibald Wheeler
O Tecido do Cosmos , The HiddenReality .
Brian Greene
Muito além da velocidade da luz
Marc Seifer PhD
Física Quântica-Eisberg-Resnick
Divulgação: A Luz é Invencível
O SER QUÂNTICO- Uma visão revolucionária da natureza humana E da consciência, baseada na nova física -Parte 2
A CONSCIÊNCIA E O GATO
Os que já leram algum dos populares livros sobre mecânica quântica conhecem o gato de Schrödinger. Seu destino é o de viver e viver parcialmente. O pobre animal sofre de uma crise de identidade peculiarmente quântica, estando indefinidamente suspenso num estado intangível no qual não está nem vivo nem morto. Sua triste condição já gerou mais especulação e controvérsia do que qualquer outro problema levantado pela nova física, e não sem razão, pois ela lança a questão da consciência humana e seu possível papel na formação da realidade física.Ficou claro no último post que o enigma central a ser resolvido pela física quântica e por aqueles que gostariam de usá-la para falar sobre o mundo não é “Como é que as coisas podem acontecer?” mas, antes, “Como é que as coisas podem ser (ou existir?)” Se, como a corrente dominante dos físicos quânticos acredita, a realidade, em seu nível mais fundamental, for apenas um indefinido mingau de infinitas possibilidades, um fluxo pululante de ondas híbridas de matéria, como é que se consegue obter o mundo conhecido de objetos sólidos e definidos que vemos à nossa volta? Em que ponto e por que a matéria se torna real? Para ilustrar o problema e seu paradoxo, Irwin Schrödinger, um dos fundadores da teoria quântica, trouxe seu gato para a discussão. O gato de Schrödinger foi colocado em uma daquelas indefectíveis jaulas de laboratório usadas para experimentação com animais, só que desta vez as paredes da jaula eram sólidas. Isto é fundamental, pois para compreender onde repousa o paradoxo não se pode ver o gato até o final da história. Dentro da caixa opaca, Schrödinger arquitetou um experimento macabro. Ele colocou um pedacinho de material radioativo lá dentro, sendo que este material radioativo (para facilitar a metáfora) tem uma chance de 50% de emitir uma partícula de decaimento para baixo. Se a partícula for para cima ela encontra um detector de partículas que, por sua vez, aciona uma alavanca que libera um veneno letal para dentro do prato de comida do gato. O gato come e morre. De forma semelhante, se a partícula for para baixo é acionada uma alavanca que libera alimento e o gato sobrevive para enfrentar outra experiência.
OS RESULTADOS POSSÍVEIS
Para cima ele morre e para baixo ele vive — são os que esperaríamos no mundo do dia-a-dia. Mas as coisas não são tão simples assim para os gatos quânticos. Na verdade, elas não são nada simples, pois, segundo a corrente dominante na teoria quântica, o gato está vivo e morto ao mesmo tempo. Ele existe num estado sobreposto de ambos os estados de uma vez — como os elétrons que são considerados ambos onda e partícula ao mesmo tempo (post anterior). Assim como a libertina quântica que foi capaz de viver com todos os namorados simultâneamente(vide post anterior), o ser do gato mecânico-quântico de Schrödinger está “espalhado” pelo espaço e pelo tempo. Sua possível vida e seu possível estado de morte se “abrem” pela jaula como uma onda de probabilidade que enche o espaço do experimento. Só o que podemos fazer é descrever todos os seus possíveis estados através da função de onda de Schrödinger — isto é, com uma equação matemática que menciona suas várias possibilidades, assim como as regras do pôquer determinam os vários tipos de jogo que podemos montar e o que poderemos fazer com eles, sem, no entanto, revelar-nos que jogo sairá para nós do baralho. Isto é uma questão de probabilidades.
Nesse caso, a função de onda (a “regra do jogo”) nos diz que o gato comeu o veneno e morreu (Possibilidade I) e que o gato desfrutou de uma nutritiva refeição e vive (Possibilidade II). Sómente quando a função de onda “entrar em colapso”, no momento em que todas as possibilidades que ela descreve subitamente se solidificarem numa realidade fixa, é que poderemos obter um gato para acariciarmos ou enterrarmos.
Um colapso (ou ponto de decisão) desse tipo, óbviamente tem de acontecer mais cedo ou mais tarde pois, conforme consta na história do gato, quando abrimos a jaula e observamos o animal ele está, sem sombra de dúvida, morto; Mas por quê? O que matou o gato de Schrödinger? Esta pergunta, que se aplica não só a gatos mecânico-quânticos como também a nós mesmos e a tudo o que vemos à nossa volta, vai direto à questão: por que existe a realidade?, e ilustra o motivo pelo qual a crise de identidade do gato cria um paradoxo. Trata-se de um paradoxo, pois de um lado está o mundo repleto de gatos bastante normais, vivos ou mortos, e de outro, a física, que vem ocupando as melhores cabeças científicas de nosso século, nos diz que isto é impossível. A matemática da equação de Schrödinger argumenta no sentido de que nada tem a capacidade de decidir o destino do gato — nada pode colocar em colapso sua função de onda. Ao menos nada do mundo físico. Qualquer objeto físico posto dentro de sua jaula, como uma câmara, por exemplo, que nos dissesse se ele está vivo ou morto, seria atingido pelo toque de Midas das excessivas possibilidades. Passaria a apresentar um comportamento mecânico-quântico clássico e começaria a ser todas as coisas para todas as pessoas.
Assim, apesar do testemunho de nossos próprios olhos, a teoria quântica nos diz que o gato está — e sempre estará — tanto vivo como morto. Compreensívelmente, este paradoxo foi apelidado “o problema da observação”, porque desafia nossas observações fundadas no bom senso e porque ressalta o papel intrigante da observação (e do observador) na formação da realidade.
A REALIDADE ACONTECE QUANDO A VEMOS
Desde seus primórdios, a teoria quântica sugeria que algo muito estranho e de suma importância acontece quando observamos um sistema quântico. Fenômenos quânticos inobservados são radicalmente diferentes dos observados — este é um dos pontos principais da história que envolve o gato de Schrödinger. No momento da observação, ou da medição, elétrons préviamente inobservados que são tanto ondas como partículas tornam-se ou onda ou partícula; fótons solitários não vistos, que de alguma forma misteriosa haviam conseguido passar por duas aberturas ao mesmo tempo, de repente decidem escolher uma abertura em vez da outra, e o gato vivo e morto se torna algo com o qual podemos nos relacionar. Em suma, o momento em que uma indefinida função de onda quântica de muitas possibilidades é vista (ou medida) tem alguma coisa que a faz “colapsar” para uma única realidade fixa. O gato de Schrödinger não foi simplesmente encontrado já morto quando abrimos a jaula. De alguma maneira estranha que ninguém compreende ainda, ele morreu porque olhamos para ele. A observação matou o gato.Isto é fato quântico comprovado — algo no ato da observação (ou da medição) faz colapsar a função de onda quântica• — e este feto isolado tem implicações que examinaremos mais tarde. Mas por ser um fato sem explicação, e na verdade um fato que não deveria existir, ele deixa todas as perguntas interessantes sem resposta e leva, compreensivelmente, a um bocado de especulação quântica — e a alguma confusão quântica também.
Embora naturalmente curiosos para saber por que, afinal, o olhar pode matar, não há motivo para nos perdermos nesta confusão. Solucionar o problema do colapso da função de onda é algo bem além da intenção desta série do blog.O argumento é no sentido de que há uma física da consciência, e que esta física nos sugere muitas coisas sobre a ligação entre nós mesmos e a realidade física. A base deste argumento, contudo, é muito diferente daquela utilizada pelos que alegam que foi a própria consciência que matou o gato de Schrödinger. Sua utilização da consciência como um eficaz exterminador de gatos repousa numa compreensão inteiramente diversa da natureza da consciência do que aquela que estarei apresentando mais adiante.
Uns poucos físicos (e muitos de seus divulgadores) propõem que, pelo fato de a teoria quântica demonstrar que nada físico poderia ter exterminado o gato, deve haver alguma explicação não física para sua morte. Algum deus ex- máquina, por assim dizer, entra na história, vindo de fora das leis da física para salvar Schrödinger, seu gato e todos nós de um excesso de possibilidades. Este agente metafísico da realidade não pode ser o aparelho de medição do observador nem seu cérebro ou sua mente, que são todos do mundo físico e, portanto, previstos na equação de Schrödinger. Assim, deve ser o próprio observador quem mata o gato — isto é, a consciência incorpórea, imaterial do observador.
Segundo esta visão, proposta principalmente pelos físicos quânticos John Archibald Wheeler eEugene Wigner , a consciência humana é o elo perdido entre o bizarro mundo dos elétrons e a realidade do cotidiano. Ironicamente, esta conclusão se aproxima muito da minha, mas as razões pelas quais cheguei a ela são radicalmente diferentes, e esta diferença é importante para tudo o que vem mais adiante neste livro. Aqueles que concluem que a consciência provoca o colapso da função de onda porque sua natureza é essencialmente não física comprometem-se e comprometem a física quântica com a velha visão cartesiana de que a mente e a matéria são entidades distintas. Eles vêem a consciência como algo necessáriamente externo ao mundo físico e, portanto, como algo alheio a ele — um “fantasma dentro da máquina”. Também deixam a porta aberta para especulações anti-realistas no sentido de que “a realidade só existe na mente” e que não existe nenhum mundo se não houver alguém observando, deixando-nos a imaginar como é que nós surgimos, então. Que ser consciente estava aqui no início de tudo para provocar o colapso da primeira função de onda?
Os argumentos para sugerir que a consciência é um elo de ligação importante entre o mundo quântico e o da nossa experiência diária ,têm uma origem muito diferente. Todo o projeto de definir um novo “ser quântico” repousa na argumentação de que a física quântica, e mais especificamente um modelo mecânico-quântico da consciência, permite que vejamos a nós mesmos — nossas almas, se quiser — como parceiros integrais dos processos da natureza, “tanto na matéria como da matéria”. Este item de argumentação tem implicações muito diferentes para quem está procurando compreender como nós, criaturas conscientes, nos relacionamos com tudo o mais no Universo.
Como a realidade acontece depende de como a vemos
Já vimos que o ato de observar um sistema quântico o transforma num objeto comum. Nossa mera interferência na natureza a transforma, e este simples ato nosso exigiria que mudássemos totalmente nossa maneira de nos vermos e a nosso lugar dentro do mundo natural. Mas, ainda pior para aqueles que gostam de pensar que o mundo “é desse jeito mesmo e pronto”, nossa interferência tem uma dimensão inesperada. Não só a observação de alguma maneira traz o colapso da função de onda, ajudando-nos assim a ter um mundo, mas ocorre que o modo especial que escolhemos para observar a realidade quântica determina parcialmente o que veremos. A função de onda quântica contém muitas possibilidades e depende de nós qual delas será realizada. Um fóton, por exemplo, tem ambas as possibilidades: de posição (com sua natureza partícula) e de momentum (com sua natureza onda). Um físico poderá armar seu experimento para medir, e portanto determinar, qualquer uma delas — embora ao determinar uma delas ele perderá a outra (princípio da incerteza de Heisenberg).
O CONTEXTUALISMO
Na física quântica esta dependência do ser de uma coisa em relação a seu ambiente geral é chamada“contextualismo”, e suas implicações são muitas, tanto para nosso conceito de realidade quanto para nosso entendimento sobre nós mesmos como parceiros nesta realidade. Este contextualismo é uma das razões centrais de minha afirmação de que a teoria quântica deverá finalmente contribuir para uma nova visão de mundo, com suas próprias e distintas dimensões epistemológicas, morais e espirituais. A dimensão epistemológica — qual a natureza de nosso conhecimento e o que entendemos por verdade — foi muito bem expressa na fenomenologia do filósofo francês Merleau Ponty no que ele chamou a “verdade dentro de uma situação”:
Enquanto mantenho diante de mim o ideal de um observador absoluto, do conhecimento na ausência de todos os pontos de vista, só posso ver minha situação como uma fonte de erro. Mas, tendo reconhecido que através dele sou dirigido a todas as ações e a todo conhecimento significativos para mim, então meu contato com o social na finitude de minha situação revelou-me o ponto de partida de toda verdade, incluindo a científica, e, uma vez que temos alguma idéia da verdade, uma vez que estamos dentro da verdade e não podemos sair dela, tudo o que posso fazer é definir uma verdade dentro de uma situação.
Mal compreendido e forçado na direção errada, o fato de que o observador humano de alguma forma ajuda a evocar a realidade que observa poderia ter implicações culturais desastrosas. Poderia emprestar todo o peso da física à noção muito popular (um tanto perniciosa) de que o ser individual é o único criador dos valores — de que não há “verdade” neste mundo mas apenas a “perspectiva” de cada um.Em alguma medida, certos livros de sucesso sobre a física quântica encorajaram seus leitores a tirarem tais conclusões.
Tomemos, por exemplo, as implicações epistemológicas e morais da alegação que Fritjof Capra faz no sentido de que, como “a mente do observador cria as propriedades que o elétron tem”, tais propriedades não podem ser de nenhum modo chamadas objetivas. Em Física Atômica ele diz:
“Ao transcender a distinção cartesiana entre espírito e matéria, a física moderna não só invalidou o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza como também desafiou o mito de uma ciência livre de valores (…) Os resultados científicos obtidos [por cientistas] e as aplicações tecnológicas por eles investigadas serão condicionados por seu estado de espírito”.
A própria teoria quântica predominante encerra os perigos de tal subjetivismo (para citar a lição de Heisenberg: “Assim evaporou-se o conceito de uma realidade objetiva…”), mas Capra leva a coisa mais longe, introduzindo as noções de “valor” e de “estado de espírito”. Nada na teoria quântica em si sugere que a observação ou o observador “criam” a realidade (as propriedades das partículas subatômicas). No momento da observação, algum diálogo entre a função de onda quântica e o observador (seja homem ou máquina) evoca, dando assim forma concreta, uma das muitas realidades possíveis inerentes à função de onda. Mas já existe ali o potencial de um tipo muito definido de realidade — a função de onda de uma mesa não pode colapsar num gato ou num canguru. Só pode tornar-se uma mesa. Além do mais, uma vez que a função de onda tenha sofrido o colapso, sua realidade é tão objetiva quanto qualquer outra coisa estudada pela ciência. Se duas pessoas distintas olharem para o gato de Schrödinger concordarão que ele está objetivamente morto — não parecerá morto a um e vivo ao outro. Sua morte não é uma questão do “ponto de vista” de alguém, muito menos do “julgamento de valores” deste alguém. Ele está simples e definitivamente morto. Todo o grande conjunto de questões levantado pelo enigma do gato de Schrödinger, dentre elas o papel do observador humano na formação da realidade, e o problema da objetividade como corolário apenas ressaltam o fato de que, neste estágio, não possuímos suficiente compreensão dos observadores humanos e tampouco da física de sua consciência para chegarmos a qualquer conclusão elucidativa. O problema do gato obviamente nos incita a repensar boa parte de nossos preconceitos sobre nós mesmos e, possivelmente, sobre o propósito de nossa existência; mas, para fazer face a esse tremendo desafio, devemos encarar de frente o problema da consciência.
SERÃO OS ELÉTRONS CONSCIENTES?
O problema do gato de Schrödinger lança o enigma da participação do observador consciente na formação da realidade e sugere que talvez esta seja uma questão a ser abordada pela própria física. Mas isto, por sua vez, lança outros problemas, que afetam nossa atitude frente à biologia, psicologia, filosofia e religião — toda a vasta extensão de disciplinas que têm como objetivo a compreensão dos seres humanos e nosso lugar no Universo. A física hoje está no centro de nossas ocupações, e o problema da consciência dentro da física é um dos mais centrais. Embora aquilo que o observador vê possa ser descrito nas equações da mecânica quântica, o próprio observador não pode. Não temos uma equação para observadores, humanos ou não. Estão fora do sistema quântico. Assim, ironicamente, embora incitando-nos a transcender a antiga dualidade observador—observado, a física quântica, da forma como está expressa nos dias de hoje, na verdade apóia esta dualidade. Ela ainda está constrangedora-mente incompleta e permanecerá assim até que possamos incluir os observadores e, ao menos no caso dos observadores humanos, incluir a consciência com a qual fazem suas observações. No entanto, a consciência que se tornou questão de interesse dos físicos talvez seja mais do que somente a humana. Ao considerar a triste condição do gato de Schrödinger, por que não levar em conta como seu estranho estado parece ser ou é de fato afetado pela consciência do gato em si? Ou pela da pulga sentada em sua orelha? Ou, embora possa parecer afrontoso, pela da partícula radioativa que determina se ele vive ou morre? Algo mais amplo que a questão só do homem, ou do relacionamento do homem com a matéria, poderá estar em jogo.
A NOVA FÍSICA E A METAFÍSICA DO SER
Alguma coisa do comportamento da realidade fundamental, da forma como está expressa pela nova física, exige que façamos uma reavaliação de toda a questão da consciência, não só da sua relação conosco, mas também cogitando de sua relação com outras criaturas e coisas do Universo — talvez, como veremos mais adiante, até com os componentes mais elementares da matéria. No todo, a tradição judaico-cristã, que informa boa parte de nossa consciência cultural e de nós mesmos no Ocidente, colocou o homem numa categoria à parte como algo único neste mundo, com certeza, e possivelmente também no Universo como um todo. Segundo essa tradição, o Plenum Cósmico/Deus fez todas as criaturas segundo sua própria espécie, mas fez o homem à Sua própria imagem e lhe deu domínio sobre toda a Terra. O homem deveu sua colocação especial não a seu corpo, que era feito de mero “barro”, mas ao fato de possuir uma alma — em termos modernos, uma consciência — que de alguma forma espelhava a do Divino Ser. Em termos filosóficos modernos, tudo isso foi esclarecido e transmitido a nós no dualismo mente—corpo de Descartes, na divisão da realidade em substâncias pensantes (rés cogita) e substâncias puramente mecânicas, estendidas no espaço (rés extensa).
Tendo-se fé numa deidade transcendente, pouco importa que a alma, ou consciência, do homem possua escassa relação com as outras coisas deste mundo. Unidos ao Plenum Cósmico/ Deus, que necessidade temos de comungar com as feras e as coisas? Mas, com o advento da ciência moderna no século 17 e a retirada lenta, mas inexorável da deidade transcendental do esquema das coisas, nossa consciência humana parecia não mais espelhar nada senão a si mesma. Sem o Deus cristão, sem a fé num reino transcendental da alma, e cego para a “alma” (consciência) das coisas e criaturas, o dualismo cartesiano ateu nos deixou de mãos vazias, exceto por um grosseiro materialismo. O senso de ser único por ter sido escolhido deu lugar ao sentido de alienação comum do século 20/21, pois somos diferentes de tudo à nossa volta e estamos inexoravelmente sós.
Durante algum tempo era moda entre os modernos psicólogos e filósofos — os behavioristas e positivistas e analistas lingüísticos — reagir a esta alienação única, negando sua razão de ser através da negação de toda a importância da consciência e da relevância de todo o mundo subjetivo de pensamentos e emoções. Parece ter chegado o tempo em que a psicologia deve descartar toda menção à consciência; ela não mais precisa iludir-se e pensar que está tornando os estados mentais um objeto de observação . A psicologia do behaviorista é um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais que necessita tão pouca introspecção quanto as ciências da química e da física.Irônicamente, esta linha de pensamento é hoje tão obsoleta para a física quanto foi mutiladora para a psicologia. A visão de mundo cartesiana foi necessária ao cultivo da física de Newton e a todo o progresso tecnológico que seguiu em sua esteira, mas numa cultura pós-cristã ela é filosófica e espiritualmente estéril. Enquanto a alma do homem moderno clama por algo mais, por algum sentido de companheirismo com algo além de nós mesmos, por uma sensação de estar em casa dentro do Universo, nossa razão também exige que compreendamos melhor nossa experiência. A consciência é um fato desta experiência, e uma filosofia ou uma ciência que não consiga explicar a consciência está necessariamente incompleta. Isso tornou-se uma verdade familiar aos físicos, que vêm lutando para compreender os desenvolvimentos de seu próprio campo, mas ainda é necessário que ela se infiltre na visão dos intelectuais em geral. E se tanto o cristianismo como a ciência moderna pré-quântica estiverem errados? E se o homem não for um ser único? E se, afinal de contas, em algum grau partilhamos com outras coisas ou criaturas do Universo o fato de sermos conscientes? Fica impossível ignorar tais questões se levarmos em conta o conhecimento da moderna biologia, ou se levarmos a sério as sugestões de filósofos e físicos como Alfred North Whitehead eDavid Bohm no sentido de que mesmo as partículas subatômicas talvez possuam propriedades rudimentares de consciência. Antes de explorar nos capítulos seguintes a natureza da consciência humana, sua possível física e as implicações psicológicas e morais daí advindas, seria útil aqui apreciar novamente a questão de qual o lugar dos seres conscientes no esquema geral das coisas. O que mais podemos dizer sobre essa “consciência” à qual estamos sempre nos referindo e quem mais ou, por mais extraordinário que possa parecer, o que mais a possui? Será que nós, seres humanos, somos realmente diferentes de tudo o mais, como vem sustentando a tradição ocidental predominante, ou sob um aspecto importante será nossa consciência um contínuo com outras coisas do Universo? E, se for contínua, até que ponto se estende esta continuidade? A cães e gatos? Às amebas? Às pedras? Ou até elétrons? Já ao começar a pensar desta forma, estamos experimentando uma boa mudança de paradigma.
CONTINUA….
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Sómente os mais extremos defensores do caráter único do homem negariam a vida consciente dos mamíferos domésticos como gatos e cachorros. Eles evidentemente não estão anestesiados (insensíveis) (o critério mais elementar para a determinação de se algo é consciente). Eles se movimentam, envolvendo-se em atividades espontâneas e propositadas, têm uma capacidade indubitável de sentir prazer ou dor, aprendem de seu ambiente e adaptam-se a ele e, ao menos até certo ponto, são dotados de livre-arbítrio — eles são capazes de fazer e de fato fazem escolhas. O senso comum associa todas essas coisas à consciência, no caso dos seres humanos. Se os gatos e cães também desfrutam de uma “vida interior” como nós, ou se possuem um senso do “eu”, é algo sem resposta por parte dos defensores de ambas as teses, mas em geral não temos dificuldade para perceber que são também criaturas conscientes. À medida que nos afastamos dos mamíferos mais comuns da vida diária, descendo pela escada filogenética, a sensação de “companheirismo” se torna menos impositiva. Argumentos baseados na analogia — nós somos conscientes e, portanto, as coisas que se parecem conosco são conscientes também — perdem sua força à medida que criaturas cada vez mais estranhas surgem aos nossos olhos como nem um pouco parecidas conosco. Este é um dos problemas lançados pelo filósofo Thomas Nagel em seu ensaio muito debatido “Como É Ser um Morcego?”; Quando toda a experiência sensorial e o estilo de vida de uma criatura são tão diferentes dos nossos, fica difícil sabermos “como é ser”(pensemos nos extraterrestres,por exemplo) aquela criatura, ou seja, que tipo de vida interior ou experiência interior ela tem. Mesmo assim, parando para pensar, a maioria de nós atribuiria algum tipo de vida consciente aos morcegos, formigas, ou talvez até às minhocas, sendo que os biólogos( cuja experiência destas coisas é mais ampla que a da maioria), estão dispostos a ir mais longe ainda, encarando os organismos como a ameba e a anêmona-do-mar, também como criaturas conscientes; é provávelmente seguro supor, mesmo com as evidências que temos hoje, que quando falamos de consciência estamos falando de uma “propriedade” ou de um “processo” que nós, seres humanos, partilhamos, ao menos em certo grau, com todos os outros membros do reino animal. Esta suposição abrange nossos sentimentos intuitivos em relação a outros animais e aceita a possível validade dos argumentos filosóficos por analogia. Assim, estabelecendo graus de qualidade e complexidade, podemos admitir que, em certo sentido, todos os outros animais têm uma consciência, são capazes de um determinado grau de atividade espontânea e proposital, são sensíveis a estímulos parecidos com prazer e dor e são dotados de alguma capacidade rudimentar de livre-arbítrio;No sentido mais primitivo possível, a posse desse conjunto de qualidades também significaria que existe algum tipo de “vida interior” subjetiva nos outros animais — toda criatura deve ter seu próprio “ponto de vista”. A aceitacão disso pode muito bem afetar nossa postura moral em relação às criaturas diferentes de nós,incluindo todos os seres do universo.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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Bibliografia para consulta
O Universo Elegante
Brian Greene
Em Busca da Unificação
Charles W. Misner, Kip S. Thorne and John Archibald Wheeler
O Tecido do Cosmos , The HiddenReality .
Brian Greene
Muito além da velocidade da luz
Marc Seifer PhD
Física Quântica-Eisberg-Resnick
Divulgação: A Luz é Invencível
O SER QUÂNTICO- Uma visão revolucionária da natureza humana E da consciência, baseada na nova física -Parte 3
Pampsiquismo — pleno e limitado
A maior parte das pessoas provavelmente tem pouca dificuldade em aceitar a possibilidade de que todos os membros do reino animal possuem uma vida consciente em algum grau. Alguns de nós talvez precisem ser convencidos de que os caramujos possuem um “ponto de vista” ou de que as minhocas tenham livre-arbítrio, mas não está completamente fora de nossa capacidade imaginar que outras criaturas talvez partilhem conosco algumas das propriedades que normalmente associamos à percepção consciente. Algumas pessoas, ao menos, estão familiarizadas com a idéia — se não plenamente convencidas — de que outros seres vivos, como as plantas, também podem ser dotados de algum tipo de propriedade sensitiva rudimentar. Mas, se formos mais além, até chegar a uma posição pampsíquica, sugerindo que mesmo os objetos inanimados como pedras ou pedaços de pau (para não falar de elétrons) devem ser incluídos no conjunto de seres conscientes da natureza, estaremos indo muito além do alcance da intuição da maior parte das pessoas — ao menos daquelas influenciadas pela atmosfera intelectual dos últimos trezentos anos. Poucos dentre os que estão vivos hoje têm algum sentimento de semelhança com a terra sobre a qual caminham ou a poeira que inalam.E, no entanto, nossa intuição moderna sobre tais coisas está em dissonância com muitas plataformas de nossa história cultural pré-cartesiana e pré-newtoniana.
Tem-se alguma espécie de pampsiquismo organizado desde os tempos pré-socráticos. O Uno de Parmênides ou o Fluxo Divino de Heráclitofazem supor que todas as coisas, conscientes e materiais, derivam fundamentalmente de uma fonte comum. “Deus é o dia e a noite, o verão e o inverno, a guerra e a paz, a saciedade e a fome; mas assume várias formas, assim como o fogo quando é misturado com espécies leva um nome segundo o sabor de cada uma delas (…) O homem não sabe o quanto aquilo que sofre variação está harmonizado com ele.” Antes disso ainda, os espíritos da natureza dos animistas povoaram as árvores, montanhas e nuvens de chuvas da Grécia Antiga, da mesma forma que em muitas outras sociedades primitivas. A metáfora da Grande Corrente do Ser,10 que retratou tudo como pertencente a uma única corrente unificada e completa estendendo-se do homem às menores partículas da matéria inanimada, originada em Timeu de Platão, influenciou a visão de mundo da gente de toda a Idade Média e da Renascença. Apenas nesta era moderna é que perdemos grandemente o contato com esse antigo paradigma. Mas, apesar disso, ou mais provavelmente como reação defensiva à tendência materialista e mecanicista de nossa cultura recente, algum tipo de pampsiquismo promoveu uma tradição moderna subcultural própria. Para muitos, a motivação foi básicamente espiritual ou religiosa. Conforme está expresso na Encyclopedia of Philosophy, muitos acreditaram que “somente aceitando o pampsiquismo é que o homem moderno (que acha impossível crer nas afirmações da religião tradicional) poderá escapar às angustiantes implicações do materialismo”.
Elevando a matéria ao nível da consciência, ou ao menos enxergando algumas propriedades conscientes incipientes em toda a matéria, muitos filósofos e psicólogos modernos (Spinoza, Leibnitz, William James, Teilhard de Chardin, Whitehead etc.) entraram em contato com uma realidade subjacente não de todo alheia à sua própria experiência. “Se somos pampsíquicos”, escreveu o filósofo alemão Hermann Lotze, no século 18, “não mais contemplamos ‘uma parte do cosmo como mero instrumento cego e sem vida do cosmo usado para os fins de outra parte’, mas, ao contrário, encontramos ‘sob a superfície serena da matéria, por trás das repetições rígidas e regulares de seu funcionamento (…) o calor de uma atividade mental oculta’.” O contemporâneo de Lotze, G. T. Fechner, via a própria Terra como uma criatura viva, “um todo unitário em forma e substância, em propósito e efeito (…) e auto-suficiente em sua individualidade” — uma idéia popularizada em nossa época pelo entusiasmo nutrido pela hipótese Gaia de J. E. Love-lock. Muitos dos modernos pampsiquistas aceitavam a doutrina em sua forma mais plena, acreditando que cada montanha, árvore, flor e partícula de poeira realmente possui uma vida interior psicológica, mas este não é o tipo de pensamento pampsiquista que nos diz respeito aqui. Antes, devemos nos preocupar em ver o que a física moderna poderá lançar sobre a natureza da consciência, a fim de compreendermos o que há no relacionamento entre matéria e consciência, no nível quântico que agora faz com que alguns físicos quânticos, e mais um punhado de filósofos baseados no trabalho daqueles, sejam considerados integrantes da tradição pampsiquista.
Necessáriamente é uma forma muito mais limitada e cautelosa de pampsiquismo, já que nada na física moderna sugere que as montanhas têm alma ou que as partículas de poeira possuem uma vida interior. A lógica empregada no pampsiquismo limitado tem início no fato óbvio de que há somente um tipo básico de matéria. Segue-se daí que todas as coisas — animadas e inanimadas — são feitas da mesma coisa, e que parte desta matéria tem indubitável capacidade para a vida consciente e que, ao menos no nível quântico, há um diálogo criativo entre matéria e consciência de tal forma que a mente consciente do observador de fato influencia o desenvolvimento material daquilo que observa. Como disse o filósofo Thomas Nagel:” Cada um de nós é composto de matéria; esta tem uma história predominantemente inanimada até chegar aos códigos genéticos de nossos pais. Provávelmente já foi parte do Sol, mas a matéria vinda de uma outra galáxia faria o mesmo efeito (…) Qualquer coisa, se suficientemente decomposta e rearranjada, poderia ser incorporada a um organismo vivo. Não é preciso nenhum componente além da matéria.”
Além disso, a matéria inanimada da qual nós, seres conscientes, somos feitos está sempre mudando — no caso dos seres humanos ela muda totalmente a cada sete anos. Nenhum átomo sequer dos que agora contribuem para o feitio de meu ser físico era parte de mim sete anos atrás. Nossos corpos vivos estão em constante e dinâmico interrelacionamento com outros corpos e com o mundo inanimado à nossa volta. Então, como podem os mesmíssimos átomos ser parte de uma estrutura consciente num dado momento de sua história e parte de um objeto inanimado em outro? Em que momentos eles, ou a estrutura da qual fazem parte, adquirem consciência? Em seu trabalho sobre o pampsiquismo, Nagel chega relutantemente à conclusão de que: “…a menos que estejamos prontos a aceitar que o surgimento das propriedades mentais em sistemas complexos não tem nenhuma explicação causal, devemos aceitar a corrente epistemológica da emergência mental como uma razão para acreditar que os componentes têm propriedades que desconhecemos e que necessáriamente devem obter esses resultados.” Ou seja, devemos aceitar que, se a consciência não for algo que simplesmente aparece, emerge e se acrescenta sem causa aparente, então ela deve estar ali presente sob alguma forma desde o início, como uma propriedade básica dos componentes de toda a matéria.
Como diz Karl Popper, “a matéria morta parece ter mais potencialidades que meramente produzir matéria morta”. Mas, quando Nagel sugere que algum aspecto da mente ou consciência possa estar associado a toda matéria, está se referindo ao que ele denominou “propriedades protomentais”, uma espécie de aspecto mental elementar da realidade que só se torna própriamente consciente quando adequadamente combinado a um sistema complexo. Ele argumenta que tanto essas propriedades protomentais como a matéria elementar com a qual estão associadas talvez derivem de uma fonte comum, de um nível mais fundamental da realidade, que tem em si mesmo um potencial duplo de se tornar tanto mental como material. “Tal redutibilidade a uma base comum teria a vantagem de explicar como poderia existir conexão causai recíproca entre fenômenos físicos e mentais.” A descrição que Nagel faz de uma realidade mais fundamental que é a fonte comum de ambos, aspecto mental e material do mundo, é certamente compatível com o que se conhece da realidade quântica e da dualidade onda—partícula, e também partilhada por alguns importantes físicos quânticos. David Bohm, por exemplo, formado por sua longa carreira dentro da física e influenciado pelo pensamento pampsiquista de Spinoza e Whitehead, acredita que:” O mental e o material são dois lados de um mesmo processo global que, como a forma e o conteúdo, estão separados apenas no pensamento e não na realidade. Há uma energia que é a base de toda realidade. Nunca há divisão real entre os lados mental e material em nenhum estágio do processo global.”Para Bohm, como para Whitehead e Teilhard de Chardin, que vieram antes dele, essa visão da realidade como processo o leva a considerar a presença de propriedades protoconscientes (o protomental de Nagel) ao nível da física das partículas. Vimos nos posts anteriores que, de alguma forma desconhecida, um elétron ou fóton (ou qualquer outra partícula elementar) parecem “saber” sobre as mudanças em seu ambiente, aparentemente reagindo de acordo com elas. Isso é válido ao menos sob condições experimentais, sendo um dos dividendos mais misteriosos do problema da observação. No famoso experimento das duas aberturas utilizado para ilustrar a dualidade onda—partícula, os fótons comportam-se de forma muito diferente se antes da detecção lhes for oferecida a oportunidade de passar por uma abertura ou por duas. Se apenas uma abertura estiver livre, eles se comportam como partículas, atingindo a superfície detectora como uma corrente de disparos a bala. Se há duas aberturas, eles se comportam como ondas e criam um típico padrão de interferência na outra extremidade .
Eles parecem “saber” que aspecto de sua natureza dupla é exigido pela experiência e comportam-se de acordo com isso. Na experiência de escolha retardada com fótons feita por Wheeler, e discutida no capítulo anterior, esse “conhecimento” do ambiente experimental é verdadeiramente fantástico. Ali, o fóton tem as duas aberturas livres o tempo todo, só que mais adiante ele encontra a opção de um detector de partícula e uma tela de interferência, um dos quais foi colocado em seu caminho após ele já ter passado por uma ou duas aberturas. Mesmo nesse estágio tardio ele parece “saber” o que o espera e parece escolher quase radiativamente tanto seu trajeto como, portanto, sua natureza. Só depois de atingir um ou outro obstáculo é que podemos saber se ele passou por uma ou por duas aberturas. Bohm usa uma bela e evocativa analogia para ilustrar essas propriedades aparentemente “sábias” das partículas subatômicas. Ele compara o movimento dos elétrons no laboratório ao de bailarinos obedecendo a uma partitura musical. A partitura seria um “banco de informações comum a todos e que orienta cada um dos dançarinos à medida que executam seus passos…”
No entanto, devemos ser cautelosos. Dizer que uma visão pampsiquista limitada seja compatível com a física quântica não é afirmar que aquela é necessária a esta. Não há nada na teoria quântica desenvolvida até agora que tenha qualquer coisa a dizer sobre as origens da consciência na realidade quântica, nem sobre a existência possível de propriedades protoconscientes associadas às partículas subatômicas elementares. Mesmo a dança dos elétrons de Bohm é, no estágio atual, apenas uma metáfora envolvente. Tais possibilidades são sugeridas pelo comportamento misterioso dos fótons e dos elétrons no laboratório e pela natureza participativa do relacionamento observador—observado; porém a teoria quântica em si deve ainda abordá-los — e na verdade ela não tem como fazê-lo enquanto não alcançarmos uma melhor compreensão da natureza da consciência em si. Por fim, qualquer discussão realmente produtiva sobre as possíveis propriedades conscientes das partículas elementares ou mesmo do relacionamento de matéria e consciência entre si pede um casamento da física com a psicologia, que só pode se realizar mediante um bom modelo de como a consciência realmente funciona — um modelo da física da consciência. Tal modelo poderá, então, ser utilizado para explorar a questão de se a consciência que conhecemos e reconhecemos como tal em nós mesmos e em outros animais é uma propriedade emergente de sistemas complexos de vida ou se os sistemas complexos de vida simplesmente têm a capacidade de organizar de forma lógica as propriedades protoconscientes da matéria mais elementar.
Consciência e Cérebro: Dois Modelos Clássicos
Embora, sob muitos aspectos, a consciência seja a coisa mais conhecida e acessível que cada um de nós possui, ela continua como um dos fenômenos menos compreendidos deste mundo. Toda vez que dizemos “eu” ou “nós”, temos como suposição tácita que existe um “eu” ou “nós” consciente que está ali falando e pensando. Contudo, no mesmo momento em que tentamos focalizar este ser pensante, agarrá-lo de alguma forma tangível — como pegamos num dedo ou numa orelha — ele parece desaparecer diante de nossos “olhos”. Sabemos bastante sobre como os dedos pegam uma coisa e como os ouvidos ouvem, mas sobre a origem e a natureza daquela pessoa consciente que dá origem ao pegar, ou interpreta o que se ouviu, não temos virtualmente nenhum fato físico. Não existe nenhuma anatomia ou fisiologia da consciência, muito menos uma física. Há aqueles (os dualistas), que argumentam que jamais poderá haver nenhuma compreensão física do ser ou da mente. Eles alegam que a mente e o corpo são coisas bem distintas e que a mente é necessáriamente incorpórea — um “algo” etéreo que simplesmente nos vem de algum lugar lá fora e reside temporariamente dentro ou junto do “invólucro” do corpo. Mas há outros, em geral de tendências mais científicas, que estão convencidos de que a mente, ou consciência — como tudo o mais —, deve ter alguma explicação física. Sua fonte deve estar localizada em algum lugar do corpo, embora o local exato onde se pensa que ela esteja tenha variado consideravelmente ao longo do tempo, dando origem a todos os tipos de modelo.
O antigo filósofo grego Epicurus acreditava que havia “átomos de alma” espalhados pelo corpo, responsáveis tanto pela consciência como pela vitalidade em geral, embora muitos gregos antigos pensassem que o coração ou o peito fossem a fonte dessas coisas. Outros fizeram suposições de que a consciência brotasse do funcionamento do fígado ou residisse no sangue. Segundo os filósofos hindus, ela está concentrada nos chakras, localizados ao longo da espinha dorsal — daí nossa suposta habilidade de dominá-los através da meditação ioga. E, nos tempos mais modernos, Descartes propôs que o ponto de encontro entre corpo e alma fosse a misteriosa glândula pineal localizada no centro do cérebro. Hoje a maioria dos que procuram uma sede física para a consciência presume que sua fonte deve estar na capacidade funcional do cérebro em si. Danos provocados em outros órgãos do corpo podem ocasionar todo tipo de distúrbios, mas um violento golpe na cabeça quase sempre provoca perda da consciência, exatamente como as drogas que agem sobre o cérebro e comprovadamente alteram vários padrões de consciência. Presume-se, portanto, que existe um vínculo necessário entre os estados físicos do cérebro e a consciência ou os estados mentais, embora a natureza exata desta ligação ainda seja um dos grandes mistérios tanto da ciência como da filosofia.
HARDWARE X SOFTWARE
Nos últimos anos, a maneira escolhida para tratar desse enigma tem sido o “funcionalismo” e a tendência a comparar o cérebro com um computador, sugerindo que a mente, ou consciência, pode ser igualada aos processos que acontecem dentro do computador. Somos aquilo que podemos fazer, e o que podemos fazer é definido pelo plano detalhado de nosso circuito. O modelo do computador ainda domina a maior parte das pesquisas sobre o cérebro, que por sua vez tingem com suas cores toda forma de nos percebermos. Muitas vezes falamos em ter de “alimentar o sistema” ou estarmos com os “fusíveis queimados”, estarmos “ligados” ou “desligados” e “programados para o sucesso ou para o fracasso”. Dizemos que nosso cérebro é o hardware e nossa mente o software. Toda a biologia moderna agora opera segundo “programas comportamentais” onde antes havia um senso de propósito, ou ao menos de direção. Pensamos em nós mesmos como a “máquina mental”. O cérebro é certamente o órgão controlador central do sistema nervoso e, como tal, suas funções físicas incluem comunicação, coordenação, computação, aprendizado e memória, todas elas funções que nossos melhores computadores também possuem em algum grau. Nesse nível, as analogias entre o funcionamento cerebral e o do computador são irresistíveis. Existe indubitável semelhança entre o modo como são organizados os complexos ajuntamentos de neurônios do cérebro e o serpentear de fios que compõe o circuito elétrico de um computador, especialmente agora com a invenção dos computadores com processamento paralelo. Assim como as “células nervosas” de um computador, os 10 bilhões ou 100 bilhões de neurônios do cérebro são também um tipo de fiação elétrica com várias mensagens passando para dentro e para fora do cérebro através de impulsos eletromagnéticos que viajam pelas ligações entre os neurônios, as sinapses. O cérebro está sempre literalmente fervilhando com milhões de acontecimentos neurais altamente carregados, dentre os quais, sem dúvida, uma grande parte é responsável por nossas impressionantes habilidades de processar dados e computar.
Mas será que isso é o que entendemos por consciência? Será a computação — com toda sua diversidade e complexidade — tudo o que a mente verdadeiramente tem? Se assim for, ficamos tentados a imaginar por que os computadores não possuem mente. Sem dúvida, eles sabem fazer coisas muito sofisticadas. Conseguem analisar material genético, operar matemática complexa, ou jogar xadrez num nível razoável, embora vagarosamente. Mas até agora ninguém afirmaria que um sistema de computação eletrônico de qualquer tipo imaginável seja sequer remotamente consciente. Simplesmente não conseguimos sentir que eles são conscientes. Faltam-lhes espontaneidade e criatividade, falta-lhes imaginação, eles não riem de piadas, não desfrutam de música e não sentem dor nem fazem nenhuma das outras coisas desse tipo que normalmente associamos com a vida consciente da mente humana. Como colocou um filósofo de Oxford: “Simplesmente não saberíamos interpretar a sugestão de que um IBM 100 esteja bravo ou deprimido ou passando por uma crise de adolescência”. Talvez seja possível conceber que inventemos programas sofisticados que darão aos computadores a aparência de tal comportamento consciente — como no caso um tanto fantasmagórico de Eliza ou Doctor, o programa concebido para estimular entrevistas psiquiátricas; Mas, como alertou o autor do Eliza, há mundos de diferença entre técnica ou simulação programadas e uma verdadeira espontaneidade e empatia. Pensar de outro modo seria uma forma de insanidade, embora muito freqüentemente em nossa cultura mecanizada a insanidade passe por normalidade. Se aceitarmos a equivalência entre o ser e o fazer dos funcionalistas não há modo claro de argumentar que algo que se comporta conscientemente não seja consciente. Toda nossa forma de ver a consciência vem sendo tão tolhida pelo modelo mecânico que lhe foi imposto que perdemos de vista os fatos que ligam o desenvolvimento cerebral à consciência e ficamos cegos às características verdadeiras de nossa percepção consciente. Tornamo-nos insensíveis a nossa própria experiência e, no processo, a distorcemos. O perigo é o de que, se continuarmos a nos ver como máquinas, talvez nos tornemos máquinas — isto é, talvez venhamos a reduzir toda a riqueza de nossa vida consciente ao espectro muito mais estreito dos pensamentos e comportamentos que podem ser transpostos para programas. Este é um perigo que outros reconheceram e sobre o qual escreveram, mas se quisermos vencê-lo devemos encontrar uma forma radicalmente diferente de pensar sobre a ligação mente-cérebro, e através disso uma forma mais humana de nos percebermos.
No fim, isso só pode ser feito através de uma melhor compreensão de ambos: da fisiologia do cérebro e do fundamento físico da consciência. De fato, o cérebro humano é uma complexa matriz de sistemas sobrepostos e interligados, correspondentes às várias etapas da evolução, e o ser que dele brota é parecido com uma cidade construída ao longo das eras. Sua arqueologia inclui uma camada pré-histórica, uma camada medieval, uma camada renascentista ou elizabetana, uma camada vitoriana e alguns prédios modernos. Ela certamente não é apenas uma “cidade nova” ou uma “cidade de fronteira” construída toda de uma vez em vinte anos, como sugere o modelo do computador. Cada um de nós traz em seu próprio sistema nervoso toda a história da vida biológica no planeta, ou ao menos aquela pertencente ao reino animal. Na camada pré-histórica encontramos os animais unicelulares como ameba ou paramécio, que não possuem sistema nervoso. Toda sua coordenação sensorial e reflexos motores se dão numa única célula. Nossas células do sangue, os glóbulos brancos, ao recolher o lixo e consumir as bactérias, comportam-se no sangue de uma forma muito parecida com as amebas nos lagos. Animais pluricelulares simples, como a água-viva, não possuem sistema nervoso central, mas têm uma rede de fibras nervosas que permite a comunicação entre células para possibilitar ao animal reagir de forma coordenada. Em nosso corpo, as células nervosas do intestino formam uma rede que coordena o peristaltismo, as contrações musculares que empurram a comida. Com o passar do tempo, acrescenta-se camada sobre camada nessa “cidade” em evolução. A partir dos insetos, começa-se a encontrar uma ou mais massas de tecido nervoso que se encarregam de uma computação mais extensiva, e estas massas organizam-se cada vez mais próximas da extremidade da cabeça. Nosso reflexo de contração, que nos faz levar a mão para longe de uma panela quente, envolve apenas o cordão espinhal e assemelha-se, tanto anatomicamente quanto no comportamento, ao encontrado nas minhocas. Com o advento dos mamíferos, desenvolve-se um telencéfalo — primeiro o telencéfalo primitivo dos mamíferos inferiores governado basicamente por instintos e emoção, e depois os hemisférios cerebrais com toda sua sofisticada capacidade de computação, aquelas “células cinzentas” que a maioria de nós identifica com a mente humana. No entanto, o estado de embriaguez, o uso de drogas como barbitúricos e outros tranqüilizantes ou mesmo uma lesão do telencéfalo superior resultam numa regressão a tipos de comportamento mais primitivos, mais espontâneos, menos calculistas, como os observados nos mamíferos inferiores. Quase a totalidade da psiquiatria humana, o lado verdadeiramente médico do tratamento dos problemas que afetam a consciência, preocupa-se em regular o hipotálamo e o telencéfalo primitivo. Assim, apesar da crescente centralização e complexidade que aparecem à medida que o sistema nervoso evolui, as redes nervosas mais primitivas perduram, tanto no interior do cérebro em expansão como em todo o corpo. As fases mais recentes de nossa evolução suplantaram as fases anteriores, mas não as substituíram completamente. As experiências da ameba e da água-viva, da minhoca e da formiga estão todas plantadas em nossos tecidos nervosos, e como cada uma dessas criaturas partilhamos a capacidade de ser consciente.
CONEXÕES E PERCEPÇÕES
Conforme observou Whitehead, “a mente humana é consciente de sua herança corporal”. Portanto, o que quer que seja a consciência, não poderá ser idêntica às funções cerebrais superiores possibilitadas pelas conexões nervosas no córtex cerebral. Evidentemente a forma que a nossa consciência assume, o conteúdo de nossas percepções e pensamentos são influenciados por essas conexões, mas a capacidade de ser consciente em si, a consciência não estruturada, crua, deve ser mais elementar. Alguns animais, embora conscientes, não têm córtex,’outros somente um córtex muito primitivo. Alguns humanos que tiveram grandes regiões de seu córtex cerebral danificadas ou removidas cirúrgicamente podem apresentar perda de uma capacidade específica, como a fala, a visão ou o movimento, mas permanecem conscientes, da mesma forma como bebês recém-nascidos também são conscientes. A consciência em si, que inclui a capacidade geral de percepção e atividade propositada, deve surgir de algum mecanismo físico muito mais primitivo que o cérebro humano desenvolvido, de um mecanismo acessível a uma reles ameba. Assim, compreender de que forma isso pode acontecer — encontrar uma base para a consciência que explique a consciência de todas as criaturas vivas (e possivelmente das não vivas) — é de fundamental importância para a compreensão tanto do lugar quanto da razão de ser de uma consciência humana no esquema geral das coisas. Essas são as considerações com as quais, de um ponto de vista geral, se argumenta contra o modelo de cérebro calcado no computador, mas há também argumentos fenomenológicos. Se examinarmos atentamente certas características básicas da consciência — ao menos na forma em que são experimentadas pelos seres humanos — fica evidente que uma capacidade com essas características não poderia, em princípio, advir de tal modelo.
Todos os modelos calcados no computador partilham de uma suposição subjacente de que o cérebro em si funciona segundo as mesmas leis e princípios de uma vasta máquina de computação — isto é, que suas diferentes partes (seus neurônios) cooperam de modo ordenado, mecânico, obedecendo a todas as leis determinadas da física clássica. Num modelo assim, um estado cerebral deriva necessariamente do outro. Temos somente um grupo de neurônios estáticos e previsíveis “olhando para” outros grupos e reagindo a eles, sem nenhum lugar no cérebro onde todos esses grupos separados se integram. Não há um “comitê central” de neurônios que supervisiona o processo como um todo, dando unidade ao funcionamento cerebral e permitindo-lhe fazer escolhas livres e espontâneas. Onde está então, em meio aos trilhões de conexões nervosas e eventos deterministas, a pessoa que experimentamos como sendo nós mesmos? O que explica o “eu” que experimenta fome, que decide comer uma maçã e sente prazer após fazê-lo? Como é que chegamos a ter “a experiência” de comer uma maçã em vez de umas tantas impressões desconexas produzidas por um milhão de impulsos sensoriais distintos?
O MAPA DE CARACTERÍSTICAS DISTINTAS
O problema foi ilustrado por um trabalho recente sobre a visão humana. Quando vemos uma maçã, sabemos imediatamente que é uma maçã, um pequeno objeto vermelho, redondo, em pé dentro de uma fruteira a um metro de distância, sobre a mesa. Há outras associações ligadas à maçã em nossa percepção consciente total: que ela irá satisfazer nossa fome, que ela faz bem à saúde, que a decisão de Eva quando comeu a maçã foi a desgraça da humanidade etc. Mas essas associações não fazem parte da percepção visual, que consiste em informações sobre o tamanho, forma, orientação, cor e localização da maçã — cada uma das quais é anotada separadamente pelo cérebro. O cérebro não vê “uma maçã”, mas antes o vermelho, o redondo, o pequeno etc. A informação sobre cada uma das características está arquivada num lugar diferente, dentro de um “mapa de características distintas” e depois subseqüentemente num “plano geral de localização” . Uma vez composto o plano geral, a atenção focalizada assume o comando, olha para o plano geral e vê a maçã. A atenção faz uso desse plano geral selecionando simultaneamente, através de ligações com os diversos mapas de características, todas as características normalmente presentes numa determinada localidade . A informação integrada sobre as propriedades e relações estruturais em cada arquivo de objeto é comparada com descrições armazenadas numa “rede de reconhecimento”. A rede especifica os atributos decisivos de gatos, árvores, ovos mexidos, nossa avó e todos os demais objetos de percepção conhecidos.
A ATENÇÃO FOCALIZADA
Mas o que é esta atenção focalizada que promove a integração da informação vinda do plano geral da percepção? A unidade de nossa experiência consciente, o fio de atenção focalizada que reúne toda a miríade de impressões sensoriais, é um dado subjacente a todos os outros aspectos dessa experiência.Como as notas de uma melodia ou as várias características da maçã ou cenas visuais mais amplas, os conteúdos de nossa consciência se mantêm coesos. Eles formam um todo, um “quadro”. Cada parte desse todo deriva dele o seu significado e reflete em seu próprio ser tanto o todo como suas outras partes constitutivas. O fá sustenido que eu ouço é um “fá sustenido do Adágio de Mozart”, não está isolado em minha percepção. O arbusto que vejo da janela do meu escritório, suas folhas se agitam no horizonte,todas essas coisas estão presentes em mim ao mesmo tempo quando olho pela janela. Elas são, em sua inteireza, “minha visão da janela”. Sem esta inteireza, essa unidade, não poderia existir nenhuma experiência tal como a conhecemos, nada de maçãs, jardins, nenhum sentido do ser (identidade pessoal ou subjetividade) e, portanto, nenhuma vontade pessoal ou decisão (intenção) propositada — tudo isso são características conhecidas de nossa vida mental. A unidade é a característica mais essencial da consciência, tão básica ao que quer que chamemos consciência que a maioria de nós nem sequer se dá conta de que existe. E, no entanto, é procurando conhecer essa unidade que nos damos conta de quão profundamente misteriosa é a consciência e por que sua física nos vem confundindo até hoje. Não há unidade comparável a ela em nenhum sistema descrito pela física que conhecemos do cotidiano. Todo o corpus da física clássica e a tecnologia nela baseada (incluindo-se a dos computadores) dizem respeito apenas à separação entre as coisas, às partes que compõem as coisas e à maneira como elas se influenciam umas às outras dentro de sua separação, assim como os neurônios do cérebro agem uns sobre os outros através das sinapses.
Ainda que não houvesse outros bons motivos para rejeitar o modelo do computador para o cérebro, o argumento relacionado com a unidade da consciência por si já condenaria esse modelo. Como disse Descartes, quando se viu às voltas com o problema de como explicar a consciência em termos físicos, “há uma grande diferença entre a mente e o corpo, na medida em que o corpo é por sua própria natureza sempre divisível, enquanto a mente é totalmente indivisível”. Essa divisão aparentemente irreconhecível foi um dos argumentos que levou Descartes a seu dualismo.Filósofos mais modernos, embora ainda esperançosos de encontrar alguma maneira para explicar a consciência em termos físicos, chegaram à mesma conclusão quanto a todos os modelos físicos clássicos, até mesmo o calcado no computador.8 E, se a física do computador em princípio não consegue dar-nos uma física da consciência, não pode ser um modelo totalmente correto para demonstrar como o cérebro funciona e tampouco é, conseqüentemente, um reflexo muito acurado de nós mesmos e de como funcionamos como seres humanos. No lugar do modelo do computador, algumas pessoas, motivadas pelas deficiências desse exemplo, e divergindo de quase tudo o que sugere sobre a consciência e o ser, propuseram um tipo de modelo bem diferente para refletirmos sobre a consciência e o cérebro, um modelo que pretende partir do tema da unidade e explicá- la em termos físicos. É o modelo holográfico, ou o “paradigma holográfico”, como é por vezes grandiloqüentemente descrito. E è este novo conceito que veremos a seguir, no próximo post da série.
CONTINUA….
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Numa psicologia quântica, não há pessoas isoladas. Existem indivíduos, que possuem identidade, significado , propósito, mas, como as partículas, cada um é uma breve manifestação de uma particularidade(Consciência). Essa particularidade está em correlação não-local com todas as outras particularidades e, em certo grau, entrelaçada a elas. Tudo o que cada um de nós faz afeta todos os demais, direta e físicamente. Sou guardiã de meu irmão porque meu irmão é parte de mim, assim como minha mão é parte de meu corpo. Se machuco minha mão, meu corpo inteiro sente a dor. Ao ferir minha consciência — ocupando-a com pensamentos maliciosos, egoístas ou maldosos — estou ferindo todo o “campo” não-localmente conectado da consciência. Cada um de nós, em virtude de nosso relacionamento integral com os outros, com a natureza e com o mundo dos valores, tem a capacidade de melhorar ou piorar o Todo. Portanto, cada um de nós carrega como resultado de nossa natureza quântica uma tremenda responsabilidade moral. Eu sou responsável pelo mundo porque, nas palavras de Krishnamurti, “eu sou o mundo”. Ou, na expressão de Jung: “Se as coisas vão mal no mundo, isso é porque algo vai mal com o indivíduo, porque algo vai mal comigo”. Portanto, se sou uma pessoa sensata, vou me endireitar primeiro. Apenas responsabilidade dá significado e valor a nossa existência. Mas em que medida podemos fazer face a ela? Se uma psicologia do compromisso e da responsabilidade quiser ter algum valor em si mesma, deverá levantar a questão da liberdade humana, a questão do grau em que qualquer um de nós é livre para se comprometer como quiser ou assumir a responsabilidade que é nossa por natureza. Portanto, uma psicologia quântica deve adotar alguma posição quanto à realidade e eficácia da escolha.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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Bibliografia para consulta
O Universo Elegante
Brian Greene
Em Busca da Unificação
Charles W. Misner, Kip S. Thorne and John Archibald Wheeler
O Tecido do Cosmos , The HiddenReality .
Brian Greene
Muito além da velocidade da luz
Marc Seifer PhD
Física Quântica-Eisberg-Resnick
Divulgação: A Luz é Invencível
O SER QUÂNTICO-Uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência baseada na nova física-Parte 4
O PARADIGMA HOLOGRÁFICO
Um holograma em si é apenas um tipo especial de diapositivo fotográfico que registra um padrão de interferência da luz vinda de duas fontes após a divisão inicial de um só facho de luz . Como a técnica do holograma dispensa lentes, baseando-se no registro de intensidade e de fase da luz, seu diapositivo tem uma maneira singular de armazenar informação sobre o objeto fotografado. A informação colhida sobre qualquer parte isolada do objeto difunde-se por todo o diapositivo de modo que, se algumas partes dele forem destruídas, ainda assim se poderá projetar a imagem total do objeto. Quanto maior a área de diapositivo destruída, mais embaçada será a imagem projetada. Em outras palavras, A parte está no todo e o todo está em cada parte — uma espécie de unidade na diversidade e diversidade na unidade. O ponto-chave é simplesmente o fato de que a parte tem acesso ao todo. Há, conforme argumentam os defensores do modelo holográfico, uma “estranha semelhança” entre o modo como o cérebro e o holograma distribuem a informação por todo o sistema. Cada parte é inteirada da informação sobre o todo, embora, conforme apontaram os críticos, essa propriedade sózinha não diferencie totalmente a holografia da computação como modelo para o cérebro. As redes de nervos associativas no córtex cerebral aparentemente cumprem o papel de distribuição global da informação, e seu desenho um tanto bagunçado, sinuoso e cheio de rabinhos de porco, onde tudo parece aleatóriamente ligado a todo o resto, é a base dos novos computadores que utilizam processamento paralelo.
É uma computação diferente daquela realizada pelos antigos computadores ponto a ponto ,que imitam o desenho um para um dos neurônios no cérebro, mas continua sendo computação. No entanto, essa crítica isolada difícilmente desanimaria aqueles que abraçam tão apaixonadamente o modelo holográfico. A verdadeira força deste modelo reside em sua reação contra o modelo do computador e quase tudo o que o computador representa, contra a visão de mundo mecanicista e as muitas formas de alienação e fragmentação associadas a ele. A ênfase de seu argumento de que as propriedades aparentemente holísticas da fotografia holográfica espelham semelhantes propriedades holísticas de nossa experiência consciente, e a paixão que isso inspira, gira em torno da palavra “holismo” e da medida na qual as “verdades holísticas” vêm sendo desprezadas pela cultura ocidental predominante. Desde Platão, o Ocidente tem enfatizado o racional e o analítico, as regras através das quais formamos pensamentos e tomamos decisões, os “componentes” de nossa vida consciente. A lógica disso levou naturalmente ao modelo do cérebro calcado no computador, embora em detrimento de um outro lado do conhecimento e experiência humanos — o que se pode chamar o lado intuitivo, o lado que lida com a sabedoria, a imaginação, a criatividade etc. Em termos neurofisiológicos modernos, esses dois lados de nossa vida mental têm sido abordados sob o aspecto de uma cisão entre hemisfério cerebral direito e hemisfério cerebral esquerdo.
Utilizando uma metáfora igualmente boa vinda da física quântica, poderíamos nos referir a isso como uma cisão entre onda e partícula, dizendo que nossa cultura enfatizou o aspecto partícula da mente. Os “holistas” querem enfatizar o aspecto onda da experiência, à medida que cada elemento da consciência — na verdade cada elemento da própria realidade — se relaciona com todos os outros. O todo é algo maior que a soma das partes, ou, como coloca David Bohm — um dos principais proponentes do modelo holográfico —, a realidade é uma “inteireza não dividida”. Tudo e todos estão tão integralmente interrelacionados que qualquer menção de indivíduos ou de separação é uma distorção da realidade, uma ilusão. Este holismo dos dias de hoje tem seus antecedentes tanto no Ocidente como no Oriente.
Como é colocado no Sutra do Diamante dos budistas
Na casa de Indra diz-se que há uma rede de pérolas de tal forma dispostas que, se você olhar para uma, verá todas as outras refletidas nesta. Da mesma forma, cada objeto no mundo não é meramente ele mesmo, mas envolve todos os outros objetos, e na realidade é cada um dos outros objetos. Exatamente a mesma metáfora aparece em nossa tradição ocidental, como na Grande Corrente do Ser, que liga o microcosmo ao macrocosmo afirmando que cada pedacinho da realidade contém o todo, ou na filosofia de Spinoza, que enfatiza que tudo no mundo é feito de uma só substância. Os que sugerem o holograma como modelo para o cérebro estão procurando dar um embasamento científico a tais metáforas. Tanto o “paradigma holográfico” em geral como o modelo holográfico do cérebro em especial têm suas qualidades. Enquanto metáfora acessível à mente moderna, o holograma desempenha um papel vantajoso quando se pretende ressaltar os aspectos da consciência e da realidade que brotam do relacionamento e do processo, ajudando-nos, assim, a lembrar que somos todos partes de um todo maior. Mas, mesmo enquanto metáfora, ele vai longe demais em alguns aspectos, sendo tão extremado na ênfase a respeito da onda do ser como o modelo do computador e o mecanicismo são extremados .
A capacidade de análise e de pensamento lógico, vem quase que exclusivamente da capacidade funcional do hemisfério esquerdo do cérebro. na ênfase a respeito da partícula. A realidade, da forma como a conhecemos, consiste tanto em ondas (relacionamentos) como em partículas (individualidade), assim como a experiência que conhecemos como sendo a vida mental humana consiste tanto em consciência imediata (unidade e integração) quanto em computação (pensamento, estrutura). Um modelo realmente apropriado da natureza da consciência e de seu relacionamento com o cérebro deve ser capaz de explicar e conter os dois. Como tentativa de colocar a unidade da consciência em uma sólida base científica, o modelo holográfico falha por dois motivos. Em primeiro lugar, como o modelo calcado no computador, ele não explica o “eu” da consciência. Se “o cérebro é um holograma que percebe e participa de um universo holográfico”, quem está olhando para este holograma? O holograma em si não passa de uma fotografia diferente, que por si só não é sujeito do ato de perceber. Portanto, ao nos perguntarmos o que ou quem fornece a consciência (o “facho de atenção focalizada”), somos levados a supor que ela vem de fora, como os dualistas têm argumentado desde o início, ou então que a física do holograma é capaz de explicar a unidade da percepção consciente — coisa que ela não consegue fazer. Uma vez que o holograma é feito registrando-se os padrões de interferência das ondas de luz, e sabendo-se que tais padrões de interferência são um efeito inegávelmente clássico descrito pela teoria eletromagnética clássica, vê-se que o holograma em si é um sistema clássico. Ou seja, apesar da habilidade do holograma em armazenar informações sobre um objeto inteiro em todas as partes, ele é fundamentalmente divisível em partes. Existem várias marcas distintas sobre a chapa que, se vistas em número suficiente e a um só tempo, representam um Todo. Mas sempre se pode reduzir o número de marcas percebidas até o ponto em que não transmitam nada sobre o Todo.
Este não é o tipo de holismo capaz de fornecer uma explicação para a unidade da consciência, e, sob esse aspecto crucial, o holograma não é melhor que nenhum outro modelo clássico quando se procura explicar a base física da consciência. O “plano geral de localidades” daquele modelo bem poderia ser um holograma construído a partir de processamento paralelo de informação visual. Assim como “o facho de atenção focalizada” era o elo de ligação vital para o processo visual, ele também o é no modelo holográfico das funções cerebrais mais gerais. Não obstante, como cada vez mais pessoas sentem uma necessidade urgente de encontrar algum caminho para além do solitário isolamento e da alienação generalizada impostos pela forte pressão mecanicista de nossa cultura, um desejo por algum tipo de holismo permeia toda a atmosfera. Mas, se o holismo pretende ter algum significado de peso, algum “poder de fogo”, deve estar bem fundamentado numa verdadeira física da consciência, numa física que possa alicerçar a unidade da consciência e relacioná-la tanto à estrutura do cérebro como às características comuns de nossa percepção corriqueira. Acho que para conseguir isto devemos nos voltar para a mecânica quântica.
Há um intrigante paralelo entre a maneira como a lógica ajuda a estruturar e focalizar nosso processo de pensamento, de modo fluido e “indeterminado”, e a maneira com que as clássicas leis da física tornam possível descrever o mundo corriqueiro de objetos distintos e relacionamentos causais que se sobrepõem aos processos do nível quântico e os limitam. Sem este limite clássico não haveria um mundo sólido, “real”; sem a lógica não haveria como expressar nossos pensamentos de forma clara, como testá-los diante do mundo exterior. “Assim”, segundo Bohm, “da mesma forma que a vida, tal como a conhecemos, seria impossível se a teoria quântica não tivesse sua atual limitação clássica, o pensamento, tal como o conhecemos, seria impossível se não pudéssemos expressar seus resultados em termos lógicos.” A existência de um elo vital entre processo de pensamento e processo quântico, entre nós e os elétrons, é a suposição subjacente a todo este livro, e as inúmeras analogias entre os dois são fascinantes e sugestivas. A analogia tem sido uma poderosa ferramenta no desenvolvimento tanto da filosofia como do pensamento científico, e com base nela apenas já se tem um poderoso argumento para se esboçar o relacionamento entre processos quânticos e grande parte de nossa vida diária. Mas, se fosse possível, como o próprio Bohm sugeriu naqueles primeiros tempos, ir além da analogia, dizer mais que simplesmente “os processos quânticos são como o pensamento”, ir além e explicar a consciência sob o aspecto das características mecânico-quânticas da verdadeira estrutura e funcionamento do cérebro, estaríamos dando um passo realmente revolucionário.
Não só estaríamos muito mais perto da compreensão da base física de muitos aspectos da psicologia individual e grupal, como teríamos avançado muito na direção de um entendimento de nossa relação com a natureza e o mundo material. A construção de um modelo que demonstre um modo pelo qual a consciência poderia ser vista funcionando segundo as leis da mecânica quântica é o objetivo deste capítulo. Lançando aqui um fundamento que possa se sustentar, será possível em discussões posteriores demonstrar algumas das conseqüências filosóficas e psicológicas de uma ligação tão estreita entre a dinâmica do ser e a do elétron. Na época em que Bohm primeiro descreveu as analogias entre processo de pensamento e eventos quânticos, teria sido impossível ir mais além. Nem a neurobiologia nem a física quântica estavam suficientemente desenvolvidas a ponto de ver como qualquer aspecto de uma poderia ser fácilmente explicado em relação à outra. E, mais fundamental ainda, toda a explosão de pensamento — e perplexidade — que se seguiu na esteira da prova de que existem efeitos de correlação não-local (em termos bem grosseiros, aquelas “ações a distância”) entre partículas aparentemente separadas pelo espaço e pelo tempo, ainda estava por vir.
Sem isso, e os efeitos de unificação ainda mais fortes encontrados em algumas estruturas ordenadas maiores como os laser e os supercondutores, é impossível a compreensão física da consciência; e com eles uma abordagem mecânico-quântica torna-se atraente. Conforme foi ilustrado pelas inadequações do modelo do computador e do modelo holográfico, o problema central para se compreender a consciência em termos físicos, a rocha contra a qual se chocaram todas as teorias anteriores, é a questão da unidade da consciência, a típica indivisibilidade de nossos pensamentos, percepções, sentimentos etc. Sem isso não poderia existir a experiência tal como a conhecemos e tampouco um ser vivenciando essa experiência. Nenhum processo da física clássica origina esse tipo de unidade, e até bem recentemente ele não era um tema tão importante na física quântica.
Mas, agora que tipos especiais de unidades especificamente mecânico-quânticas estão reconhecidos, tanto os físicos como os filósofos começaram a se perguntar se estes não terão alguma relevância significativa para a unidade da consciência. Roger Penrose, de Oxford,(–Stuart Hameroff e Roger Penrose: A Teoria Orch Or ou Redução Objetiva Orquestrada) expõe o caso em nome de todos eles: A física quântica compreende vários tipos de comportamentos altamente intrigantes e misteriosos. Um dos exemplos mais expressivos disso são as correlações quânticas (não-locais) que podem ocorrer através de grandes distâncias. Parece que há uma clara possibilidade de que tais coisas desempenhem um papel nos “modos de pensar conscientes”. Talvez não seja muito fantasioso sugerir que as correlações quânticas possam estar desempenhando um papel operacional em grandes regiões do cérebro. Poderia haver alguma relação entre um “estado de consciência” e um estado quântico altamente coerente no cérebro? Estará a “unidade” ou “globalidade”, que parece ser uma característica da consciência, ligada a isso? É muito tentador pensar que sim.
Uma analogia para o tipo de correlação quântica que Penrose sugere aqui, seria um grupo de músicos tocando e gravando em salas diferentes e que, no entanto, conseguem produzir um efeito harmonioso. Ou o fenômeno dos gêmeos quânticos( discutido no primeiro post da série )que, embora separados pelo desconhecimento e por centenas de milhas, levam vidas totalmente sincrônicas. Tais sistemas quânticos, de fato, se parecem com o modo como neurônios distintos espalhados pelo cérebro todo cooperam para produzir um estado unificado de percepção consciente, ainda que essa observação em si não acrescente muito às analogias iniciais de Bohm. A primeira evidência substancial de que existe ao menos um canal de comunicação entre o mundo da física quântica e nossa percepção da realidade do dia-adia foi encontrada há quase cinqüenta anos. Naquela época, biofísicos que trabalhavam com a retina descobriram que as células nervosas do cérebro humano são suficientemente sensíveis para registrar a absorção de um único fóton (refletindo a passagem de um elétron individual de um estado de energia dentro do átomo até outro estado) — e portanto suficientemente sensíveis para serem influenciadas por toda a panóplia do estranho comportamento do nível mecânico-quântico, incluindo-se a indeterminação e os efeitos não-locais. Experiências posteriores provaram que a indeterminação quântica está embutida no funcionamento do próprio cérebro através das variações aleatórias nas concentrações químicas que circundam as conexões entre nervos (sinapses).
Essas concentrações determinam os níveis em que os neurônios “disparam”, fazem contato elétrico com outros neurônios, e que, mesmo variações muito refinadas, no nível quântico, afetam os potenciais de “disparo”. Na verdade, os níveis nos quais os neurônios disparam variam segundo uma lei estatística definida, como qualquer outro processo quântico. Dos 10 bilhões de neurônios do cérebro, cerca de 10 milhões são considerados suficientemente sensíveis para registrar fenômenos do nível quântico em qualquer momento. No entanto, o disparo de neurônios isolados está muito longe de explicar os complexos processos associados às atividades conscientes do cérebro, quaisquer que sejam eles.A necessidade de uma abordagem mecânico-quântica da própria consciência foi elaborada pela primeira vez com algum detalhamento em 1960, por Ninian Marshall , num trabalho sobre telepatia e memória. O argumento de Marshall era o de que as leis deterministas da física clássica não davam lugar ao livre jogo dos processos de pensamento, livre escolha e intenção — todos considerados características comuns da consciência. Nenhum mecanismo cerebral físico que obedeça às leis deterministas da física clássica poderia ser responsável por pensamento e vontade livres, nem por qualquer das ações livres que se seguem a eles. Um argumento muito semelhante foi recentemente elaborado pelo físico russo Yuri Orlov. Ele argumenta que, em qualquer tipo de resolução de problema ou pensamento criativo, a indeterminação quântica e os estados de probabilidades sobrepostas (estados virtuais) devem estar desempenhando um papel na abertura do cérebro a todas as potencialidades latentes na consciência — por exemplo, nossa capacidade de ver várias possibilidades ao mesmo tempo. O mecanismo descrito (a indeterminação quântica) fornece uma chave para a compreensão do pensamento criativo, com o qual uma pessoa descreve ou retrata “aquilo que na realidade não existe”.
AS ESCOLHAS
Segundo a abordagem dos posts anteriores, a pessoa “vê” potencialmente várias versões ao mesmo tempo sem perceber nenhuma delas por completo, e então uma das versões “salta” (se materializa) como resultado da livre escolha. O desenrolar simultâneo de muitas possibilidades diferentes — e eventualmente excludentes entre si — nos faz lembrar a libertina quântica que conhecemos antes, quando discutimos os estados virtuais. Assim como seu amor livre teve finalmente que ceder a um compromisso, também nosso livre jogo de pensamento e imaginação deve em algum momento reduzir-se a uma idéia definida. Sómente uma, de um dado conjunto de possibilidades quânticas, pode existir no “mundo real”, mas, antes de sua materialização, quanto divertimento o mundo quântico nos propicia. Mas, se a base física da consciência é algum tipo de fenômeno mecânicoquântico, com toda a liberdade que isso acarreta — como sugerem pessoas como Penrose, Marshall e Orlov —, então ainda resta muito para explicar. Que tipo de processo quântico seria? Que propriedades do cérebro o poderiam sustentar? Sómente ao se procurar responder a tais perguntas básicas é que um modelo da consciência fundado na física quântica poderá ganhar algum significado real. Apoiando-nos na unidade da consciência como o ponto central e mais importante para a explicação da consciência nos termos da física conhecida, poderemos ver que certos aspectos dessa unidade podem oferecer pistas sobre a natureza de algum processo físico subjacente. O pano de fundo de toda a consciência — o “quadro-negro” sobre o qual se escrevem os vários pensamentos e percepções individuais — é o que os físicos chamam de um “estado imutável”. É uniforme no espaço e persistente no tempo, qualidades necessárias para que a consciência faça seu trabalho.
Assim como não poderíamos escrever uma boa mensagem num quadro-negro cheio de calombos ou pouco durável, também os conteúdos específicos de nossa percepção consciente não seriam discerníveis se o pano de fundo contra o qual estão dispostos não fosse um estado imutável. A ordem da consciência — sua aparente estabilidade no tempo — é o que nos dá esta sensação de que vivemos num mundo em vez de dentro de experiências arquitetadas pelos caprichosos sentidos.No entanto, essa rara qualidade de ordenação da nossa consciência limita considerávelmente a escolha de explicações físicas, como pode ser inferido do fracasso de todas as tentativas de se explicar a consciência em termos clássicos. Nossa consciência tem a característica de unidade contínua. Ela se mantém coesa e permite que nossa experiência também se mantenha coesa. Esse tipo de uniformidade fixa é raro entre os processos dinâmicos da natureza, mas pode ocorrer em materiais que existem em “fase condensada”. A física (e a fisiologia) das fases condensadas parece ser, portanto, um candidato digno de maiores investigações para se saber se conseguirá fornecer alguma explicação de como a consciência pode surgir nos cérebros.
Uma fase é um “estado” ou a condição de algo, de algum sistema material, assim como uma “fase adolescente” ou uma “fase boêmia” são possíveis estados da psiquê. Em materiais naturais refere-se à quantidade de ordem existente num dado sistema. A água, por exemplo, tem três fases: gasosa (vapor), líquida (água) e sólida (gelo) e cada uma delas apresenta maior ordem de moléculas que a anterior. A sólida, o cristal de gelo, é um exemplo muito comum de uma fase condensada imprecisamente estruturada, como também os cristais de sal ou de açúcar. Há outros exemplos razoávelmente conhecidos de fases condensadas mais estruturadas na natureza física: os ímãs comuns, os superfluidos, os supercondutores, a luz laser, as correntes elétricas nos metais e a ondas sonoras nos cristais. A propriedade em comum de todas essas coisas é um certo grau de coerência, que faz com que os muitos átomos ou moléculas que compõem a substância subitamente (ou gradualmente) se comportem como um. Imagine, por exemplo, um grande número de bússolas eletromagnéticas sobre uma mesa numa sala blindada. Por causa da blindagem as agulhas não apontam para nenhuma direção em especial e, se a mesa for sacudida, elas balançam aleatoriamente em todas as direções possíveis. Um físico que quisesse descrever o movimento das agulhas teria de escrever muitas equações — uma para cada agulha. Mas, se a energia eletromagnética de todas as bússolas for aumentada, as agulhas começarão a exercer atração umas sobre as outras e lentamente irão se alinhando para formar um padrão uniforme. No ponto em que a corrente eletromagnética se tornar forte o suficiente para sobrepujar o efeito do balanço da mesa (o equivalente ao ruído térmico num sistema real, onde o calor faz com que as moléculas se agitem), produzirá o interessante efeito de fazer com que todas as agulhas apontem na mesma direção .O conjunto das bússolas se comportaria então como uma única superbússola, e o físico poderia escrever uma só equação para descrever o movimento do conjunto. Diríamos que as agulhas das bússolas entraram numa fase condensada.
Sem corrente
Se tudo isso tem alguma relevância para a questão da consciência, devemos nos perdoar a primeira reação de querer saber como os neurônios do cérebro chegariam a entrar numa fase condensada. As células vivas parecem muito diferentes sob quase todos os aspectos de algo como uma agulha de bússola imantada, e mesmo que um dos argumentos deste livro seja o de que os mundos vivo e não vivo interagem da forma previamente vista, na hora do baque parece estranho, de início, pensar na mecânica de um processo como esse no cérebro. Que tipo de mecanismo neurobiológico seria necessário para “alinhar” neurônios (ou algum de seus componentes) da mesma forma que as agulhas das bússolas de nosso exemplo se alinharam, por força de seus próprios campos magnéticos internos? E será viável um mecanismo desse tipo? Muitos já sugeriram que a consciência talvez dependa do fato de o cérebro assumir, de algum modo, as características de um superfluido ou supercondutor(veja-Fritz Albert Popp e a Comunicação Celular por meio de Fótons-Bioenergia e Bioeletrônica).
Embora qualquer um dos dois pudesse satisfazer a exigência de um estado de tipo altamente ordenado encontrado numa fase condensada, dificilmente atenderiam às condições de viabilidade. Os superfluidos e supercondutores existem apenas em temperaturas muito baixas, ao passo que o cérebro, como todos sabemos, funciona à temperatura corporal normal. Se a física das fases condensadas for realmente relevante para a consciência, então deveria existir um mecanismo desse tipo que funcionasse à temperatura normal do corpo. E, na verdade, existe um. O “sistema bombado”, descrito pela primeira vez pelo professor Herbert Fröhlich da Liverpool University na Inglaterra, há cerca de vinte anos, e sabidamente encontrado em tecidos biológicos, parece satisfazer todos os critérios necessários. O “sistema bombado” de Fröhlich é simplesmente um sistema de moléculas eletricamente carregadas e que vibram (“dipolos”, positivos numa extremidade e negativos na outra), ao qual se acrescenta energia. Os dipolos vibráteis (moléculas nas paredes celulares de tecido vivo) emitem vibrações eletromagnéticas (fótons), exatamente como radio-transmissores em miniatura. Fröhlich demonstrou que, além de certo limite, qualquer energia introduzida a mais no sistema faz com que as moléculas daquele tipo vibrem em uníssono. Elas o fazem cada vez mais até chegarem à forma mais ordenada possível de fase condensada — um “condensado de Bose-Einstein”. A característica fundamentalmente singular dos condensados de Bose-Einstein é que as inúmeras partes constitutivas de um sistema ordenado não só se comportam como um todo, mas se tornam um todo — suas identidades se fundem ou se sobrepõem de tal forma que perdem completamente a própria individualidade. Uma boa analogia seria a das muitas vozes de um coral que se fundem para tornar-se “uma só voz”, em determinados níveis de harmonia, ou a do beliscar de muitas cordas de violinos que se tornam “o som de violinos”. Essa fusão de identidades é vital para uma explicação física de como a consciência reúne várias “subunidades” numa só experiência. É sabido que uma pessoa pode ter duas ou mais “ilhas” de consciência — como, por exemplo, quando mantemos uma conversação enquanto prosseguimos dirigindo o carro —, mas a experiência de ter um campo geral de consciência é quase universal.
A INTEGRAÇÃO DO EU
São todos uma pessoa só, “eu”. No entanto, para que a pessoa que tem cada uma dessas diferentes experiências “miniconscientes” seja a mesma pessoa, para que haja um ser integrado experimentando tudo ao mesmo tempo, algo deve ser responsável pela unidade dos diferentes estados cerebrais associados a cada um dos elementos que contribuem para a experiência. Num determinado momento, em cada um desses estados, há pelo menos cem diferentes pedacinhos de informação. Para se reunir tudo isso, para se alcançar o grau de unidade necessário, é preciso que os estados cerebrais distintos pertinentes a cada elemento se tornem idênticos. Todas suas propriedades e toda sua informação devem se sobrepor completamente. Esse tipo de unidade só é encontrado nos condensados de Bose-Einstein. E sómente nesses condensados, em que a individualidade se dissolve, é que conseguimos encontrar efeitos tipicamente mecânico-quânticos em sistemas de grande escala. Um físico quântico diria que as funções de onda de todos aqueles pedacinhos anteriormente individualizados foram sobrepostas — tornaram-se indeterminadas em sua localização espacial de tal forma que cada uma delas espalha-se por todo o conjunto, da mesma forma como a libertina quântica vivia com todos os seus amantes a um só tempo, ou como o gato vivo e morto de Schrödinger espalhava seu ser ambíguo por toda a caixa que encerrava seu segredo.
Tal sincronismo quântico em grande escala existente nos laser, nos superfluidos e supercondutores é responsável pelas propriedades especiais deles, mas a importância do tipo encontrado por Fröhlich em seu sistema é que ele existe na temperatura normal do corpo. Na verdade ele só é encontrado em tecido biológico, onde os vibráteis dipolos carregados do interior das paredes celulares emitem sinais de freqüência de microondas ao vibrarem. Tais freqüências existem normalmente nos tecidos e estes, por sua vez, são influenciados por elas — por exemplo, as taxas de crescimento das células de fermento são influenciadas por radiações de microondas. Até agora, porém, a razão pela qual as células vivas geram e são influenciadas por radiações de microondas e são, portanto, capazes de conter em suas paredes as fases condensadas de Bose-Einstein continua um mistério que pede explicação. Como disse Fröhlich: “Os sistemas biológicos (…) desenvolveram-se para satisfazer a um certo propósito e, assim, nos é permitido perguntar qual o propósito de tal excitação”. Certo físico sugere que o propósito das vibrações induzidas por microondas nas células vivas talvez esteja relacionado com a forma pela qual os sistemas vivos, em oposição aos não vivos, criam ordem a partir do caos e confusão da natureza. Quando as membranas celulares vibram o suficiente para chegar a um condensado de BoseEinstein, estão criando a forma mais coerente possível de ordem existente na natureza, a ordem de uma inteireza não dividida. Este pode ser o mecanismo que permite à vida violar a segunda lei da termodinâmica (entropia), segundo a qual os sistemas inanimados estão fadados a degenerar para o caos. Outros biofísicos, alguns trabalhando em colaboração com o professor Fröhlich, outros independentemente, encontraram evidências desse mesmo tipo de coerência biológica, embora suas pesquisas sugiram que seja uma ordenação coerente de fótons no âmbito da luz visível em vez (ou além) daqueles no âmbito das microondas.
O físico alemão Fritz Popp(Para mais informações sobre o trabalho do Dr Popp acesse aqui;http://www.lifescientists.de/–Light, Cancer and Fritz-Albert Popp),descobriu que as células vivas emitem uma leve “fosforescência”, prova de radiação de fótons e sugestiva de que a presença do que ele chama de “biofótons” coerentes poderá ser de importância vital na ordenação celular. Cientistas trabalhando independentemente no Japão descobriram os mesmos efeitos que, segundo acreditam, “estão obviamente associados a uma série de atividades vitais e processos biológicos”. No mínimo, um biofísico polonês já encontrou evidência da ordenação coerente de fótons no próprio DNA, como Popp e um de seus colegas alemães. Evidência de estados coerentes (condensados de Bose-Einstein) em tecidos vivos não falta, e na interpretação de seu significado é que está o aspecto crucial de excitantes revelações para nossa compreensão do que distingue a vida da não vida. Podemos pensar que essa condensação de Bose-Einstein nos componentes dos neurônios é o que distingue o consciente do não consciente;essa é a base física da consciência.
AS TEORIAS
Se queremos sugerir que a condensação de Bose-Einstein seja a base física da consciência, devemos procurar no cérebro os aspectos necessários de um sistema do tipo Fröhlich;podemos sugerir que os disparos elétricos que ocorrem contínuamente nas fronteiras entre neurônios, sempre que o cérebro sofre um estímulo, podem estar fornecendo a energia exigida para agitar as moléculas nas paredes das células nervosas, fazendo com que emitam fótons.Fazendo uma analogia, por meio desses sinais, as moléculas de qualquer membrana celular (ou dos milhares de membranas celulares vizinhas) poderiam estabelecer comunicação umas com as outras por um “bailado” que começa a sincronizar sua vibração (ou emissão de fótons). Chegando-se a uma freqüência crítica, todas vibrariam como uma só, entrando numa fase condensada de Bose-Einstein. Os vários “bailarinos” se tornariam um bailarino, possuindo uma única identidade. Nesse ponto crítico, o ponto da “mudança de fase” para uma fase condensada, o movimento sincrônico das moléculas no interior das membranas celulares dos neurônios (ou dos fótons por elas emitidos) assumiria propriedades mecânico-quânticas — uniformidade, ausência de atrito (e daí a persistência no tempo), inteireza não dividida. Dessa forma criariam um campo unificado do tipo que se requer para produzir o estado básico da consciência. A mudança de fase, então, é o momento em que nasce “uma experiência”. Uma dentre as muitas conseqüências interessantes de se considerar a consciência nos termos do sistema de Fröhlich é que ele fundamenta a visão de que alguma consciência rudimentar pode bem ser propriedade comum a todos os sistemas vivos. Se um condensado de Bose-Einstein do tipo Fröhlich pode ser encontrado em células de fermento, seria legítimo concluir que qualquer tecido biológico — vegetal ou animal — constituído de pelo menos uma célula teria a capacidade unificadora fundamental necessária para sustentar algum tipo de percepção consciente. Contudo, um condensado de Bose-Einstein menor não teria tantos possíveis estados (excitações) e, portanto, possuiria um âmbito limitado. Assim, um caramujo teria uma consciência muito mais limitada que a nossa.
De fato, não há, em princípio, razão para se negar que qualquer estrutura, biológica ou não, que contenha um condensado de Bose-Einstein possa ter a capacidade de ser consciente, embora o tipo de consciência dessa estrutura, e as coisas que se poderiam conseguir por intermédio dela dependeriam da estrutura global do sistema. Isso deixa em aberto a possibilidade de existirem computadores conscientes e, é claro, levanta a questão da consciência alienígena em geral. Nos animais superiores terrestres conhecidos, como nós, os campos elétricos entre as membranas de células nervosas estão em constante mudança por causa das flutuações da quantidade de energia bombada para o sistema. Tais flutuações são devidas a alterações químicas no sangue, como maior ou menor taxa de açúcar, ou a estimulação externa. Por isso, a força da consciência também sofreria variação, com maior ou menor número de moléculas (de gordura ou de proteína) entrando ou saindo da fase condensada. Isso combina com nossa experiência comum, na qual nos vemos mais conscientes em alguns momentos que em outros (por exemplo, um estado de grande concentração versus um estado de sono profundo).
Combina também com aquilo que conhecemos sobre a ausência ou presença de dano cerebral e sua influência sobre a consciência. Se, como sugere o modelo de cérebro calcado no computador, a consciência surge dos mecanismos de computação do cérebro, com bilhões de neurônios interligados como numa rede telefônica, ela deveria sofrer interrupção de funcionamento sempre que um ou mais cabos são cortados, como acontece na rede telefônica. Isso, de fato, acontece a certas funções específicas do cérebro — lesão da área óptica destrói a visão, da área auditiva a audição etc. Mas a consciência em si não é afetada da mesma maneira por causa dessas avarias localizadas. Somente após lesão cerebral muito extensa, com destruição de grandes regiões do cérebro (ou mediante o uso de anestésicos), é que a consciência fica suficientemente afetada a ponto de perder sua propriedade holística, como seria de esperar no caso de a consciência ser um fenômeno quântico não-local. Numa teoria baseada no sistema bombado de Fröhlich, o aspecto mais fundamental da consciência — sua capacidade de percepção unificada — não tem nenhuma relação com as conexões de neurônios individuais no interior do cérebro. No modelo mecânico-quântico da consciência aqui sugerido, as moléculas vibráteis nas membranas das células nervosas (ou fótons a elas associados), que dão nascimento ao condensado de Bose-Einstein, são responsáveis apenas pelo estado básico de nossa percepção, o “quadro-negro” sobre o qual as coisas (percepções, experiências, pensamentos, sentimentos etc.) são escritas. O “escrever” em si seria fornecido por uma ampla gama de fontes — o código genético, a memória, a atividade das sinapses no cérebro e todos aqueles ecos filogenéticos ressoando dentro do sistema nervoso. Todos eles apareceriam individualmente ou combinados como excitações do condensado subjacente,sob a forma de padrões contidos nele mesmo, como as ondas no mar ou as bolhas na superfície de uma sopa fervendo na panela. E seriam esses padrões, cuja matemática é na realidade a matemática do holograma, o que reconhecemos como os conteúdos normais da consciência. Curiosamente, Descartes também acreditava que as percepções eram excitações de nossa alma subjacente. Esse modelo, juntamente com a idéia de que as excitações do condensado de Bose-Einstein são responsáveis pelos padrões conhecidos de nossa vida consciente, também sugere uma interpretação para os misteriosos padrões de eletrencefalograma (EEG), registrados quando se colocam eletrodos no crânio a fim de medir a atividade cerebral. As ondas típicas que vemos no EEG, supostamente representativas de oscilações abaixo do limiar (pré-disparo) das membranas das células nervosas,21 variam, dependendo de nosso estado de consciência e da atividade na qual o cérebro está envolvido. Foram reconhecidos quatro padrões diferentes até hoje: alpha, beta, delta e theta . No cérebro humano adulto normal as ondas beta, associadas ao pensamento organizado, conceituai, dominam o EEG durante as horas de vigília. As ondas delta aparecem quando o cérebro está num estado de sono profundo, sem sonhos; as ondas theta aparecem durante o sono com sonhos; as ondas alpha, em estado de relaxamento profundo, quando o cérebro está plenamente despeito porém sem se concentrar em nenhuma idéia em especial. Todo padrão geral de um EEG é estável, embora — como acontece também com as ondas em geral — os neurônios individuais que o produzem se modifiquem a todo momento. Tanto no EEG do crânio inteiro como mais drasticamente no EEG de dois neurônios individuais envolvidos no mesmo estímulo visual, os padrões de onda que representam uma excitação são sincrônicos, sugerindo que uma coerência de longo alcance liga os padrões de disparo de neurônios distintos.
É difícil explicar esse fato segundo qualquer uma das interpretações clássicas para as ligações entre neurônios, mas a sugestão de que o cérebro tem um sistema integrativo quântico facilita muito a interpretação. No modelo de consciência que proponho, o cérebro tem dois sistemas de interação — o condensado coerente de Bose-Einstein associado à consciência, e o sistema tipo computador dos neurônios individuais. A atividade elétrica observada no EEG pode ser uma ponte entre os dois — havendo excitação de um dos sistemas, produzir-se-ia um campo elétrico que agiria sobre o outro. Mas, em virtude do fator quântico, as excitações seriam sempre integradas, isto é, coerentes. Um modelo mecânico-quântico da consciência dá origem, então, a um quadro da totalidade de nossa vida mental que não é nem completamente um computador nem completamente um sistema quântico — na verdade não é nem completamente “mental”. O que reconhecemos como nossa plena vida consciente, usando a palavra consciência em seu sentido comum, é na verdade um complexo diálogo de muitas camadas ou em muitos níveis entre o aspecto quântico (o estado básico) e toda uma sinfonia de interações que provocam o desenrolar de padrões nesse estado básico — interações com nossas faculdades de computação no córtex cerebral, com nossas capacidades instintivas e emocionais no telencéfalo primitivo, com nossos apetites e espasmos (ou dores), com toda uma hoste de atividades corporais e, em certa medida, com a vida consciente de outras pessoas e criaturas. É a qualidade do desempenho de cada um dos membros dessa sinfonia o que finalmente determina a qualidade total e o conteúdo da música executada – nossa vida consciente.
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Os cientistas (Popp-Lipton-Fröhlich entre outros), já são capazes de demonstrar que assim é: que os canais energéticos que as culturas orientais conhecem há milênios e que descobriram de forma empírica, por revelações, (de forma surpreendente para os racionais ocidentais) existem na realidade científica racional a qual estamos acostumados. O que não passa por essa racionalidade e essa ciência, não existia oficialmente. Pois bem, os chakras, os canais energéticos, os meridianos, a pura energia e o reiki, inclusive a conexão entre humanos, já existem para a ciência.Em resumo: foi descoberto que a água dentro do organismo cristaliza em forma de cristal líquido (como as telas dos computadores), uma forma de cristalização que permite conservar as propriedades dos cristais óticos (sua capacidade de armazenar informação e vibrar a determinadas frequências) e dos líquidos (sua capacidade de fluir) ao mesmo tempo. Isto significa: ela é capaz de guardar memória;e aonde ? no nosso DNA, que já podemos comprovar que é pura luz.A água conduziria os biofótons (informação eletromagnética) – o CHI, o Ki, o prana -, a velocidades inimagináveis através de nosso corpo. Por nossas veias (eletromagnéticas) circula luz;O cristal líquido ficaria dentro das células e seria influenciado pelo campo magnético descrito, emitiria energia de determinados e diferentes comprimentos de onda para seu exterior, o que constituiria a aura, e captaria, como uma grande antena parabólica, informação externa.Nossas moléculas de cristal líquido serviriam como lugar de armazenagem de informação. Os cientistas já admitem que o ser humano seja formado por um corpo magnético, outro bioquímico e outro mental. Se o corpo magnético se desorienta ou danifica, deixa de proteger a estrutura bioquímica e a enfermidade surge. Se trabalhamos energéticamente sobre nosso organismo, reparamos a estrutura magnética e, conseqüentemente, a estrutura bioquímica também se recupera e, por extensão, a saúde. Constantemente, através dos chakras, nosso corpo se nutre da energia que nos rodeia para poder funcionar bioquímicamente de forma correta.Nesta época da Transição Planetária, todas essas descobertas vem provar-nos o quanto somos uma raça com potenciais inimagináveis,feitas de pura luz da Fonte , e que só temos que compreender isso em nossas entranhas,para então nos descobrirmos,abandonar os maus hábitos, as emoções distorcidas, as manipulações e nos elevarmos até Ela.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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