COMPREENDENDO AS FASES DA VIDA SEGUNDO A ANTROPOSOFIA

fases da vida achado no face

A própria vida é um caminho de iniciação, temos apenas de aprender a olhá-la e vivê-la conscientemente (Gudrun Burkhard).

Compreendendo as fases da vida


De forma geral, podemos dividir a vida em três grandes fases: até os 20 anos somos aprendizes, dos 20 aos 40 anos lutamos e dos 40 aos 60 anos nos tornamos sábios. Com o aumento da expectativa de vida, podemos pensar em uma 4ª fase, a partir dos 60 anos, quando compartilhamos nossa sabedoria até chegar o momento de partirmos.
Para uma compreensão mais detalhada, podemos dividir a vida em períodos de 7 anos, também chamados setênios. O 1º setênio, 0-7 anos, inicia-se com o nascimento, sendo marcado pelo desenvolvimento do corpo físico e forte ligação com o ambiente familiar (pessoas, cultura e hábitos). Nesta fase há o 1º lampejo de autoconsciência, quando a criança aos 3 anos começa a referir-se a si mesma como “Eu”.
O 2º setênio, 7-14 anos, é marcado pelo desenvolvimento das emoções e de relações fora do âmbito familiar, sendo a escola o ambiente principal. Nesta fase há um aprofundamento da autoconsciência aos 9 anos, quando a criança começa a se perceber como um Eu separado dos pais, da família e dos amigos. É um momento onde a criança está mais sensível, tornando-se mais medrosa, irritadiça e chorosa.
O 3º setênio, 14-21 anos, é marcado pela atuação dos hormônios sexuais e amadurecimento do sistema reprodutor, sendo uma época voltada para os amigos. A autoconsciência se consolida cada vez mais e o adolescente tem uma necessidade de afirmação desse Eu, o que é feito confrontando-se com outras pessoas, principalmente, as figuras de autoridade, como pais e professores. Para equilibrar tais confrontos é importante que as figuras de autoridade tenham desenvolvido coerência e veracidade naquilo que pensam, sentem e fazem. Essa é a forma de inspirar o adolescente a ser uma pessoa melhor e mais equilibrada.
No 4º setênio, dos 21-28 anos, tem início a vida adulta e a maioridade em todos os âmbitos legais, ou seja, a pessoa torna-se responsável por si mesma. Mas também é um momento de crise de identidade: Quem sou eu? O que realmente quero fazer? Atrás destas respostas, a pessoa busca uma série de experiências para vivenciar o mundo. É normal que se passe por diferentes experiências profissionais, de relacionamentos e viagens por lugares desconhecidos. É o momento da busca do seu lugar no mundo!
O 5º setênio (28-35 anos) tem início aos 28 anos quando uma nova crise pode ter começo, a crise dos talentos, onde a pessoa se pergunta: Fiz as escolhas profissionais corretas? Sou realmente bom naquilo que escolhi? Onde devo atuar? Passada esta crise, já por volta dos 30 anos a pessoa passa por um processo de questionar o mundo e organizá-lo, buscando sentido para a forma como as coisas são. Entre os 30 e os 33 anos é frequente o colapso de valores e um processo de mudança na forma de perceber o mundo. Assim, aos 33 anos a pessoa pode passar por um renascimento psíquico, onde transforma sua visão de mundo. É o momento da conquista de seu lugar no mundo!
Após o profundo questionamento do mundo no setênio anterior, o 6º setênio (35-42 anos) é marcado pelo autoquestionamento.  A pessoa desenvolve ainda mais sua autoconsciência e compreende que o mundo é o resultado de suas escolhas, de sua forma de agir. Se ela tem desenvolvido um caminho pouco coerente com seus talentos e sentimentos, pode emergir uma forte crise de autenticidade. É o momento da consolidação de seu lugar no mundo! Mas pode ser um novo início, na tentativa de sanar a falta de coerência e autenticidade consigo mesma. Se a pessoa segue em um caminho de incoerência, a crise pode ir se aprofundando e levar a depressões profundas. A depressão é um aviso do corpo de que há necessidade de parar, não dá mais para seguir na mesma direção. Porém, se ao invés de buscar a solução real, a pessoa apenas faz uso de anti-depressivos e outras drogas, a sensação de vazio e de frustração pode agravar-se cada vez mais.
No 7º setênio (42-49 anos) a pessoa busca fazer aquilo que de fato é essencial para ela, de acordo com suas próprias respostas para as questões que a vida foi lhe trazendo. Em um caminho de desenvolvimento consciente, nesta fase a pessoa pode doar ao mundo algo único e autêntico. É como se em toda sua trajetória ela fosse enchendo sua bagagem com tudo que a vida foi lhe oferecendo, mas aqui ela esvazia a mala, deixando apenas aquilo que lhe é essencial. A pessoa se livra dos excessos de responsabilidade, de fazeres, de objetos, se torna mais leve e tem mais consciência de como aproveitar o seu tempo e suas ações com o que de fato considera essencial.
No 8º setênio (49-56 anos) o declínio do corpo físico se faz bem mais evidente. Se a pessoa lida com isso de forma verdadeira e não com uma luta diária para vencer os efeitos do tempo, há o desenvolvimento de novos valores sobre a vida. Se antes a percepção de que ter uma bela aparência era o mais importante para ser aceito e valorizado pelos outros; aqui a pessoa pode se dar conta de que as experiências de vida, seus aprendizados, sua capacidade de empatia, de compaixão e amor são os maiores tesouros. De posse deles, a pessoa tem uma percepção real de que o tempo de vida está se acabando e com essa consciência ela se doa, contribuindo com aquilo que sente que é de fato necessário para um mundo melhor.
No 9º setênio (56-63 anos) a pessoa pode encontrar uma nova missão para sua vida. Aqui o principal impulso é fazer o bem. A pessoa já tem uma história de vida consolidada, ganhou experiências diversas, consolidou sua sabedoria e pode iluminar a vida de outras pessoas.
Após os 63 anos essa nova missão continua se consolidando e a consciência da morte se torna cada vez mais presente. Com sabedoria, a pessoa torna-se cada vez mais grata pela vida e pela oportunidade de estar com os demais, de compartilhar o que aprendeu e de continuar aprendendo e lapidando-se para o encontro derradeiro, onde mergulharemos no grande mistério.
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*Texto escrito pela Dra. Cecília Costa, Instituto SerMente Livre, baseado nos estudos da Antroposofia, especialmente nas publicações da autora Gudrun Burkhard precursora da formação de Aconselhamento Biográfico no Brasil.

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