Pierre Cardin:um museu para futuristas da moda
18/11/2014 - 19h04 - Atualizado 12h12
“Não fique por aqui por tempo demais – atravesse a rua. Este é o passado e aquele é o futuro!” disse Pierre Cardin, 92, na abertura de seu novo museu, no distrito de Marais, em Paris.
Quem além de Cardin, o eterno futurista da moda, sugeriria que eu deveria dar as costas aos minivestidos de vinil da era espacial de 1968? Ou à moda masculina que era ao mesmo tempo esportiva, ampla e unissex, à frente de seu tempo?
O estilista estava me encorajando a atravessar, indo de seu novo Museu Passado, Presente Futuro (5 Rue St-Merri 75004 Paris) até uma loja Pierre Cardin chamada Evolution, estrategicamente localizada do outro lado da rua, onde fãs podem comprar looks reformados atuais.
Pierre Cardin é um estilista que gira em sua própria órbita desde que saiu de sua elegância perfeitamente moldada, que aprendeu por trabalhar nos couturiers de Paris Dior, Paquin e Schiaparelli.
Observei um casaco estruturado escarlate de 1952, usado com luvas pretas até os cotovelos e chapéu cloche, e me perguntei como era concebível que, 15 anos mais tarde, as minissaias de Cardin parecessem prontas para a primeira aterrissagem na lua. O estilista, juntamente com André Courrèges, captaram o espírito da década de 1960.
O museu tem bastante estímulo visual, mas é bem escasso, como uma micro-mini-saia, em relação a informações. As roupas ficam em quatro andares de uma mansão, longe de sua magnificência original, que Cardin me disse ser sua antiga fábrica de gravatas. As roupas foram colocadas em manequins com acessórios, mas poucos sapatos.
Há legendas de datas, mas nada mais para colocar cada roupa no contexto de sua década ou do desenvolvimento do estilista. Não há nem detalhes sobre os tecidos, ainda que o uso contrastante de Cardin tanto de plásticos quanto das mais finas sedas de alta-costura seja intrigante.
Os visitantes podem até se surpreender que, por toda sua carreira, o estilista tenha criado roupas glamorosas de noite que poderiam enfeitar um red carpet ainda hoje. Gostei particularmente de um vestido de renda preto emoldurando costas nuas, uma obra-prima clássica.
Não descreveria este museu Pierre Cardin como um desapontamento. Todos os andares têm peças interessantes e seus móveis modernos – incluindo luzes de piso que parecem hobbits brilhantes – já são fascinantes.
É que tenho tantas memórias de Cardin que gostaria de ter visto mais textos, assistido a filmes de desfiles, ou ouvido entrevistas como registro de sua visão extraordinária.
Em 1988, fiz minha primeira viagem à China. E enquanto fazia um grande esforço em uma cultura diferente e uma barreira de idioma impenetrável, Cardin de repente apareceu como um gênio, me guiando por uma Pequim onde o público ainda usada roupas estilo Mao, até um evento enorme, organizado pelo governo, onde ele havia sido convidado para montar um desfile de moda. E isso foi depois de ele já ter sido o primeiro estilista a levar seu estilo ao Japão depois da guerra.
Sessenta e quatro anos depois de ele ter fundado sua maison de moda, Pierre me contou o que considerava sua maior realização.
“Sou dono de tudo – é tudo meu”, ele disse orgulhosamente, se referindo não apenas ao colosso de roupas e acessórios, às lojas e uma rede de licenças globais, mas à sua extraordinária posição no mundo da moda. Cardin criou uma marca – antes dessa palavra ser usada como definição comercial – e revelou cada código e plano de desenvolvimento que você encontraria em um manual sobre um gerenciamento de moda inteligente.
Queria que um dos carros futurísticos que ele desenhou na década de 1970 estivesse em exibição, junto com informações sobre seu trabalho teatral em Paris e seus projetos atuais no sul da França e em Veneza, voltando a suas raízes italianas.
Cardin sempre fez muito por estilistas jovens ou promissores. Adoraria que ele convidasse alunos com smartphones para andar com ele pelo museu, registrando as histórias excepcionais a partir de seus próprios lábios – e então usasse as informações para enfeitar os detalhes das roupas e criar um arquivo.
Nem me importaria de eu mesma fazer esses registros. Pois para cada palavra que Pierre Cardin diz, você sabe que está ouvindo uma lenda viva.
http://www.pierrecardin.com/art_spectacle_en.php
Fonte:http://vogue.globo.com/Suzy-Menkes/pt/noticia/2014/11/pierre-cardin-um-museu-para-futuristas-da-moda.html
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