1 - Desapego
Mesmo o menor pensamento, mergulha o homem em sofrimento; quando vazio de todos os pensamentos, goza de felicidade imperecível.
Da mesma forma que experimentamos a ilusão de centenas de anos em um sonho que dura uma hora, experimentamos a piada de Maya em nosso estado desperto.
Feliz o homem cuja mente é internamente fria e livre do apego e do ódio, e que contempla este mundo como um mero observador.
Quando os vasos, etc, são quebrados, o espaço interno torna-se ilimitado. Assim também, quando o corpo deixa de existir, o Ser permanece eterno e desapegado.
Nada nasce nem morre, em parte alguma em nenhum momento. É somente Brahman que ilusóriamente parece sob a forma do mundo.
O Ser é mais extenso que o espaço; é puro, sutil, incorruptível e auspicioso. Sendo assim, como poderia nascer ou morrer?
2 - Irrealidade do mundo
Assim como as árvores nas margens de um lago, refletem a água, assim também todos estes objetos variados são refletidos no grande espelho da Consciência.
Esta criação, que é um mero jogo da Consciência; surge como a ilusão de uma serpente em uma corda ( quando há ignorância ) e termina quando existe o conhecimento correto.
Similarmente, cidades, casas, montanhas, cobras etc, são todos aos olhos do homem ignorante, objetos separados. Do ponto de vista do absoluto, o mundo objetivo é o Ser mesmo. Não existe qualquer separação.
Como nuvens que aparecem de repente no céu claro e de repente se dissolvem, todo o Universo inteiro aparece no Ser e também nele ( no Ser ) se dissolve.
Da mesma maneira que a vasilha retorna à terra, as ondas à água e os ornamentos ao ouro, assim também este mundo surgiu do Ser e finalmente a ele retornam.
É somente nosso esquecimento do Ser invisível que faz surgir o mundo, assim como a ignorância da corda, faz com que apareça a serpente.
3 - Sinais daquele que é liberto.
Igual a um cristal não se mancha pelo que reflete nele, assim, um conhecedor da verdade não se vê realmente afetado pelo resultado de seus atos.
Como uma vasilha vazia no espaço, o conhecedor da Verdade está vazio tanto por dentro como por fora, e ao mesmo tempo está pleno dentro e fora, como uma vasilha imersa no oceano.
Aquele a quem nem gosta nem desgosta dos objetos que vê, e atua no mundo como quem está dormindo, se diz uma pessoa liberada.
A ideia do Ser e do não Ser é escravidão. O abandono dessa ideia é liberação. Não há nem escravidão nem liberação para o Ser sempre livre.
Oh Rama, não há intelecto, não há ignorância, não há mente e não há alma individual (jiva). Tudo é imaginado em Brahman.
Para quem está estabelecido no infinito, Consciência pura, beatitude e não dualidade sem qualificar, onde está o dilema da escravidão ou da liberação, posto que não há segunda entidade?
4 - A dissolução da mente.
A Consciência que não está dividida, se imagina objetos desejáveis e corre atrás deles. É então conhecida como a mente.
Deste Senhor Supremo onipresente e onipotente surgiu como ondas na água, o poder de imaginar objetos separados.
Quando se dissolve a mente, tudo o que é dual ou único se dissolve. O que resta depois disso é Brahman Supremo, pacífico, eterno e livre da miséria.
5 - A destruição das impressões latentes.
Igual a uma miragem de água não acontece a quem sabe, assim as impressões latentes não surgem naquele cuja ignorância foi demolida ao compreender que tudo é Brahman.
Se se compreende a unidade das coisas em toda parte, sempre permanece tranquilo, interiormente frio e puro como o espaço sem sentimento do 'eu'.
[continua...]
Extratos do Yoga Vasishta Sara - atribuído a Valmiki autor do Ramayana
6 - A meditação sobre o Ser
Eu, A Consciência pura, sem mancha e infinita, para além de maya, vejo este corpo em ação como o corpo de outro.
A mente, o intelecto, os sentidos etc, são todos um jogo da Consciência. São irreais e parecem existir somente devido a falta de discernimento;
Estou por cima de qualquer coisa; estou presente em todas as partes; sou como o espaço; sou aquele que realmente existe; sou incapaz de dizer nada além disso;
Que as ilusórias ondas do universo se elevem e caiam em mim, que sou o Oceano da Consciência infinita; não há em mim aumento nem diminuição.
Quão maravilhoso, que em mim, o oceano infinito da Consciência, ondas individuais (jivas) surjam e joguem durante um tempo e desapareçam de acordo com sua natureza.
O mundo que veio a existência, como causa da minha ignorância, igualmente se dissolveu em mim. Agora, experimento diretamente o mundo como a beatitude suprema da Consciência;
7 - O método de purificação.
Oh Raghava, seja externamente ativo, mas interiormente inativo; exteriormente um fazedor, mas interiormente um não-fazedor, e representa assim teu papel no mundo.
Queima o bosque da dualidade no fogo da convicção "eu sou a Consciência pura única" e permanece feliz.
Permanece sempre como Consciência pura, que é tua natureza constante verdadeira, mas além dos estados de vigília, sonho e sono profundo.
Não seja aquele que entende, nem aquele que é entendido; abandona todos os conceitos e permanece sendo o que és.
Quando fizer seu trabalho, faça-o sem apego, igual a um cristal que reflete os objetos que estão diante dele, mas se afeta por eles.
A convicção de que tudo é Brahman, o conduz a Libração. Rejeita completamente a ideia de dualidade, que é ignorância. Rejeite completamente;
8 - A Adoração do Ser.
O Raghava, aquele por meio do qual reconhece som, sabor, forma e cor, sabe que é seu próprio Ser, o Brahman Supremo, o Senhor dos senhores.
O conhecimento não está separado de ti, e aquele que é conhecido não está separado do conhecimento. De modo que não há nenhum sinal do Ser, e nada está separado Dele.
"Tudo é Brahman único, a Consciência pura, o Ser de tudo, indivisível e imutável" - medita desse modo.
"Não há nem eu nem nenhuma outra coisa. Só Brahman existe, sempre pleno de beatitude por todas as partes" - medita calmamente sobre isso.
9 - Exposição do Ser.
Quando tiver a firme convicção de que tudo é a Consciência semelhante ao espaço, o jiva chega a seu fim como uma lamparina de azeite.
Igual a um só rosto que é refletido como muitos em um cristal, ou na água, ou em um espelho, assim também o Ser único, se reflete em muitas mentes.
O Ser onipresente, é o substrato de tudo, não é diferente da Consciência refulgente, como o calor não é distinto do fogo. Só pode ser experimentado, não pode ser conhecido.
O Ser é Consciência absoluta. É puro, incorruptível, livre de todas as ideias de aceitação ou rejeição, e não limitado pelo espaço, tempo ou gênero.
Não há escravidão nem libertação, nem dualidade, nem não dualidade. Só há um Brahman, sempre brilhando COMO Consciência;
A ideia de uma Consciência e de um objeto de Consciência é escravidão; livrar-se dela é liberação; A Consciência, o objeto da Consciência e tudo o mais é o Ser; este é a essência de todos os sistemas de filosofia;
Aqui só existe Consciência; este universo não é senão Consciência; você é Consciência; eu sou Consciência; os mundos são Consciência; esta é a conclusão;
10 - Nirvana.
Depois de retirar tudo como "isso, não", "isso, não", a Entidade Suprema que não pode ser eliminada permanece. Pensa "eu sou isso", e seja feliz.
Quando se pensa "sou Consciência pura", a isso se chama meditação e quando se perde inclusive a ideia de meditação isso é samadhi.
O constante fluxo de conceitos mentais relativos a Brahman sem o sentido de "eu" adquirido através de uma intensa prática de auto-investigação (jnana) é o que se chama de samprajnata samadhi ( meditação sem conceitos ).
Aquilo que é imutável, auspicioso e tranquilo, aquilo no qual este mundo existe, aquilo que se manifesta como os objetos imutáveis e imutáveis, isso é a Consciência pura."
Extratos do Yoga Vasishta Sara - atribuído a Valmiki autor do Ramayana
Fonte:http://ventosdepaz.blogspot.com.br/2014/11/ensinamentos-do-yoga-vasishta-sara-12.html
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